sexta-feira, 26 de junho de 2009

Em sua última noite de vida, Michael Jackson cantou e dançou

Cantor estava atrasado e 'apático' no ensaio para os shows de Londres; astro morreu após parada cardíaca.

Michael Jackson faria 50 shows a partir de julho.

Em sua última noite de vida, Michael Jackson estava cantando e dançando, informa o site de celebridades TMZ. O cantor, que ensaiava para a série de 50 shows que faria a partir de julho, chegou ao ginásio de Los Angeles com três horas de atraso e parecia "apático", mas isso era normal, segundo pessoas envolvidas nos ensaios citadas pelo TMZ.
O porta-voz do Instituto Médico Legal de Los Angeles, tenente Fred Corral, confirmou nesta quinta-feira, 25, a morte de Jackson. Ele disse à rede de televisão CNN que o astro foi declarado morto por volta das 14h26 (horário local, 18h26 em Brasília) e que não respondeu às tentativas de ressuscitação realizadas pela equipe de resgate. Meios de comunicação informaram que o popstar sofreu uma parada cardíaca.
Corral disse que não poderia confirmar a causa da morte até que a autópsia seja realizada.

Quando Michael Jackson era negro

Chega ao País a edição comemorativa de 25 anos de ‘Thriller’, o álbum mais vendido na história.


Oito Grammys, o mesmo número de American Music Awards, três prêmios da MTV, 104 milhões de cópias vendidas, além de ter sete de suas faixas incluídas no Top 100 da Billboard. Há 25 anos, este era o cenário que Thriller, de Michal Jackson, começava a desenhar.

O álbum que marcou toda uma geração e que caminhou lado a lado com a MTV - que havia acabado de nascer na época - deixou marcado para sempre suas nove faixas produzidas pelo mago Quincy Jones. Músicas como Beat It, Billie Jean e a faixa-título derrubaram preconceitos e fizeram brancos, negros, amarelos e pardos dançarem ao mesmo ritmo.

Tanto nos Estados Unidos, como no resto do mundo, os holofotes novamente recaíam para a música negra, que havia tido o seu último respiro no início da década de 1970, com os monstros da Motown. O ‘estrago’ feito por Thriller não só podia ser escutado nas rádios americanas como serviu de alicerce para um novo canal que iniciava sua trajetória.

A MTV surgiu tendo Michael Jackson como seu rei. “Eles sempre me disseram que se não fosse por mim, a MTV não existiria”, disse Jackson à revista Ebony, que o estampa na capa em sua edição de dezembro de 2007.

Para a nova edição comemorativa que chega ao Brasil, seis faixas bônus foram adicionadas aos conhecidos clássicos lançados no inverno norte-americano de 1982 - Thriller foi lançado em dezembro daquele ano. The Girl is Mine 2008 tem participação de will. i. am, líder e produtor do Black Eyed Peas, e que trabalha desde o início de 2007 com Jackson na confecção de um inédito trabalho com o músico. A música ganha novo arranjo, aceleração e se transforma em um mutante recheado de batucadas. Em vez da voz de Paul McCartney, é a voz de will que se ouve durante toda sua execução.

O mesmo will.i.am. remixa P.Y.T. (Pretty Young Thing), outra faixa que ficava sempre na reserva entre as mais tocadas. Aliás, adquirir esta nova edição remasterizada é uma ótima oportunidade para se escutar o disco como um todo. Na época, Michael e seus hits poderosos pouco deixavam espaço para o restante do álbum que, como um todo, é fiel à excelência de sua fama.

Wanna Be Startin’ Something 2008, música que abre o disco originalmente, ganha versão melosa e sincopada do cantor Akon. Já o clássico Beat It é repaginado na voz de Fergie (Black Eyed Peas), que divide os compassos e versos com o próprio Jacko. Versão acelerada e diversão garantida.

Outro clássico do álbum, Billie Jean, ganha verniz de Kanye West, outro que participa da nova fase de Jackson, que promete lançar seu novo disco ainda este ano. A canção ganha nova atmosfera do gênio dos recortes e remixes.

Há ainda um DVD com os clipes que fizeram a imagem de Jackson se espalhar por todo o universo - incluindo o de Thriller, dirigido por John Landis (Um Lobisomem Americano em Londres). O vídeo custou U$ 800 mil. Foi em uma apresentação de Jackson no aniversário da Motown que o público viu pela primeira vez o passo chamado Moonwalk, onde arrasta os dois pés para trás como se estivesse deslizando sobre a Terra. A canção era Billie Jean e, nesse momento, o cantor já era o novo fenômeno no show biz mundial.

O The New York Times escrevia à época: “Ele é um fenômeno. No mundo da música pop existe Michael Jackson e, bem atrás, os outros”. Já o que aconteceria após o estouro de Thriller com seu protagonista, todos sabem de cor.

MARCO BEZZI, marco.bezzi@grupoestado.com.br

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Diferenças que não existem

Mousavi, embora com o mesmo teor de maluquice, tem a fala mais mansa. Propõe-se a dialogar com o Ocidente e por isso virou o queridinho de B. Hussein Obama e, por conseguinte, de toda a mídia mundial.

Para você ter ideia de como a grande mídia informa muito, mas muito mal, analisemos a eleição iraniana sob a óptica dos jornalistas brasileiros:

1) De um lado temos Mahmoud Ahmadinejad com toda a sua loucura e negação do Holocausto. Tem uma tara toda especial pelo programa nuclear iraniano. Ele, segundo a mídia brasileira, é consevador, embora conte com o apoio de toda a esquerda mundial. Seria, então, uma espécie maluca de conservador marxista?

2) Do outro, Mir Housein Mousavi, considerado por toda a mídia um reformador, um sujeito moderado. Ele não nega o Holocausto porque acredita que "não lhe diz respeito". Apóia um programa nuclear iraniano desde quando serviu à administração de Akbar Hashemi Rafsanjani, que proclamava precisar de "somente uma bomba atômica para destruir Israel". Mas o destaque no seu currículo é ter comandado, como primeiro-ministro, o massacre em massa de dissidentes e estudantes em 1988.

3) Sobre os dois, paira o aiatolá Ali Khamenei. E, diferente da imprensa mundial, o líder supremo não está preocupado com o vencedor das eleições no seu país, já que todos conjugam dos mesmos ideais..

Mousavi, embora com o mesmo teor de maluquice, tem a fala mais mansa. Propõe-se a dialogar com o Ocidente e por isso virou o queridinho de B. Hussein Obama e, por conseguinte, de toda a mídia mundial.

Em verdade, toda essa confusão no Irã só serve para tirar do foco a questão nuclear. Se Mousavi vencesse, teria meios mais eficazes para enrolar o Ocidente quanto ao programa nuclear. Já Ahmadinejad - sob as bênçãos de Khamenei - terá tempo de sobra para aprimorar sua tecnologia atômica, enquanto o mundo se preocupa com uma democracia que nunca existiu no Irã. Em ambos os casos, quem sai perdendo é a paz.

Notas:

1 - The 1988 Iran massacre: crimes against humanity (http://www.americanthinker.com/2004/09/the_1988_iran_massacre_crimes.html) [volta]

2 - Amnesty Document - Iran: the 20th Annniversary of 1988 "Prison Massacre". - http://www.amnesty.org/en/library/asset/MDE13/118/2008/en/f5123dcd-6de3-11dd-8e5e-43ea85d15a69/mde131182008en.htm [volta]

3 - Iran: Students question Mousavi about his Role in 1988 Massacre - http://eastkurd.blog.co.uk/2009/05/21/iran-students-question-moussavi-about-his-role-in-1988-massacre-6154875/ [volta]

4 - Iran Press Service: Massacre of 1988 in Iran - http://www.iran-press-service.com/ips/articles-2007/september-2007/massacre_88_11007.shtml [volta]

5 - NewsMax - Khamenei: Iran Won't Stop Nuke Enrichment - http://archive.newsmax.com/archives/articles/2005/8/19/132420.shtml

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Começo do Fim do Mundo

1982 foi o ano em que o movimento punk explodiu em São Paulo. Era o lugar certo na hora certa. Aquele ano todo, desde o começo, com os punks recolocando a Galeria do Rock e o Largo de São Bento no mapa da mídia, São Paulo, uma das cinco maiores cidades do planeta (ao menos em densidade demográfica), e com lançamento do primeiro vinil punk brasileiro, o "Grito Suburbano", entre outros acontecimentos punks, 1982 fez o movimento explodir. Tretas, desavenças e desacordos sobravam, mas também - e sobretudo - muita união e fraternidade. O país ainda sob o regime militar, e na ignorância da polícia e dos desinformados em geral, as forças punks se uniram, se fez notícia o tempo todo e o ano só podia culminar gloriosamente com o mais perfeito festival no gênero faça-você-mesmo até então realizado no planeta. Nos dias 27 e 28 de novembro, no recém inaugurado SESC Pompéia, "O COMEÇO DO FIM DO MUNDO". O festival já impactava pelo título. Que profecia era aquela, que "fim de mundo" era aquele? A mídia queria saber. A mídia e o povo. Conclamadas todas as bandas punks de São Paulo e do ABC, 20 bandas, o festival serviu também para apaziguar as rivalidades territoriais do movimento, rivalidade muitas vezes sanguinolenta. Este primeiro festival punk irá se tornar tão lendário na história da cidade e do punk quanto a dos cavaleiros da távola redonda na legenda arturiana. Tretas, claro, no festival rolaram algumas - e bastante teatrais para que a polícia montada aparecesse para fazer seu número e a mídia sensacionalista manchetar, com destaque no Fantástico e nas primeiras páginas dos jornais. De resto, o festival e o movimento punk paulistanos foram notícia na imprensa do mundo inteiro. Mas o que deixou o pessoal lá fora perplexo e fascinado foi a imagem de que no Brasil os punks se entendiam, era de fato um movimento e com certeza fariam forte presença no fim do mundo pois se mostrara presença una e fortíssima no começo desse fim.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Entenda quem é quem na política iraniana

O aiatolá Ali Khamenei seria partidário de Ahmadinejad.
O líder supremo do Irã é a figura mais poderosa do país.

Ele nomeia o chefe do Judiciário, seis dos 12 membros do Conselho dos Guardiões, os comandantes de todas as Forças Armadas, líderes das orações das sextas-feiras e o chefe da rádio e da televisão estatais. Ele também confirma o resultado da eleição presidencial.

Khamenei foi figura-chave na Revolução Islâmica e um confidente próximo do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica. Ele foi presidente do Irã entre 1981 e 1989 antes de se tornar líder supremo em caráter vitalício.

Presidente Mahmoud Ahmadinejad


Ahmadinejad já foi prefeito de Teerã
Mahmoud Ahmadinejad, na Presidência do Irã desde 2005, esteve ativamente envolvido na Revolução Islâmica e foi um dos fundadores do grupo estudantil que ocupou a embaixada dos Estados Unidos em Terã em 1979. Ele nega ter sido um dos sequestradores de reféns americanos feitos à época por revolucionários na embaixada.

Ahmadinejad foi um dos primeiros não integrantes do clero a ser eleito presidente do Irã desde 1981, ao derrotar o então presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, em eleições em junho de 2005.

É linha-dura tanto em casa - onde não aprova o desenvolvimento ou reforma de instituições políticas - como no exterior, onde tem mantido uma postura anti-Ocidente e atitudes combativas no que se refere ao programa nuclear do Irã.

Muito do apoio que recebe vem de setores mais pobres e religiosos da população iraniana. A maior parte dos que o apóiam vive fora da capital, Teerã.

Houssein Mousavi


Mousavi fez campanha junto com sua esposa, algo incomum no Irã
O ex-primeiro-ministro, com 68 anos de idade, está fora da política há alguns anos, mas retornou para concorrer como um candidato moderado.

Ele nasceu no leste do Azerbaijão e se mudou para Teerã para estudar arquitetura.

É casado com Zahra Rahnavard, ex-chanceler da Universidade de Alzahra e assessora política do ex-presidente iraniano Mohammad Khatami.

Um dos seus aliados mais próximos nessa eleição foi Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente do Irã, hoje à frente de dois dos órgãos mais importantes do governo: o Conselho de Expediência, que julga disputas sobre legislação, e a Assembléia de Especialistas, que nomeia e, em teoria, substitui, o líder supremo.

Os reformistas


Khatami é amigo e conselheiro de Houssein Mousavi
O movimento de reforma iraniano é um movimento político liderado por um grupo de partidos políticos e organizações que apóiam os planos de Mohammad Khatami de introduzir maior liberdade e democracia.

Em 1997, Khatami foi eleito presidente com promessas de de maior liberdade de expressão, assim como medidas para combater o desemprego e acelerar privatizações. Entretanto, muitas de suas medidas de liberalização foram bloqueadas pelas instituições conservadoras do país. Khatami concorreu inicialmente às eleições de 2009, mas depois se retirou da disputa e apoiou Hossein Mousavi.

Outras figuras importantes do movimento pró-reforma são Hossein Mousavi, Mohsen Mirdamadi, Hadi Khamenei, Mohsen Aminzadeh e Mostafa Tajzadeh.

A Guarda Revolucionária e o Exército


A Guarda Revolucionária tem influência na polícia do Irã
As Forças Armadas são compostas pela Guarda Revolucionária e pelas forças comuns, todas sob um comando geral único.

O Corpo da Guarda da Revolução Islâmica do Irã foi criado logo após a revolução para defender o sistema islâmico do país e para oferecer um contrapeso para as Forças Armadas. Desde então, tornou-se uma importante força militar, política e econômica no Irã, com fortes vínculos com o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, um de seus ex-membros.

Calcula-se que a força tenha 125 mil tropas ativas. Ela tem suas próprias tropas terrestres, marinhas e aéreas, e controla as armas estratégicas do Irã.

A guarda também tem uma presença poderosa em instituições civis e, acredita-se, controla cerca de um terço da economia do Irã por meio de uma série de subsidiárias.

As milícias


As milícias Basij servem como força auxiliar no Irã
A Guarda Revolucionária também controla a Força de Resistência Basij, uma milícia voluntária islâmica com cerca de 90 mil homens e mulheres e capacidade adicional de mobilizar quase um milhão de pessoas.

Em tempos de crise, a Basij, ou Mobilização dos Oprimidos, é chamada com frequência às ruas para acabar com a discórdia por meio da força. Ela possui núcleos em todas as cidades do país.

O clero


Clérigos conservadores têm papel político importante no Irã
O clero domina a sociedade iraniana.

Apenas membros do clero podem ser eleitos para a Assembléia dos Especialistas, que nomeia o líder supremo, monitora sua atuação e pode, em teoria, retirá-lo do cargo se ele for considerado incapaz de cumprir suas funções. Atualmente, a assembléia é chefiada pelo aiatolá Ali Rafsanjani, tido como um conservador pragmático.

O ex-presidente Mohammad Khatami acusou o clero de bloquear as reformas e alertou para os perigos do "despotismo religioso"

O clero também domina o Judiciário, que é baseado na lei islâmica, ou sharia.

Nos últimos anos, conservadores de linha-dura vêm usando o sistema Judiciário para minar reformas, aprisionando personalidades reformistas e jornalistas, assim como fechando jornais pró-reformas.

Análise: Crise no Irã vai além do resultado das eleições

A crise após as eleições presidenciais no Irã se desenvolveu em uma velocidade tão vertiginosa que ainda é difícil entender as suas possíveis implicações. Até cerca de duas semanas atrás, o presidente Mahmoud Ahmadinejad podia alegar que o Irã era um país "quase completamente livre".

Já havia céticos então. Agora, a imprensa estrangeira no país está sendo obrigada a trabalhar sob algumas das mais duras restrições do mundo.

Cabe perguntar onde esta crise pode chegar e o que quer a oposição.

Até o momento, os manifestantes iranianos exigem apenas uma coisa: a convocação de novas eleições, já que eles acreditam que o opositor Mir Houssein Mousavi teria vencido o pleito da semana passada, enquanto os resultados oficiais apontam para uma vitória de Ahmadinejad.

Quando os manifestantes gritam nas ruas "morte ao ditador", não dizem a quem exatamente estão se referindo. Eles podem não apenas estar se dirigindo ao presidente Ahmadinejad, mas também ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Mesmo assim, isto não é um desafio aberto ao sistema islâmico que governa o país desde a Revolução de 1979, pelo menos até agora.

As mulheres que participam dos protestos, por exemplo, ainda não estão tirando os véus que cobrem suas cabeças, embora muitas não gostem de ser obrigadas a usá-los.

Os manifestantes também costumam gritar "Deus é grande", querendo ressaltar que eles são tão religiosos quanto aqueles que apoiam o governo.

Dignidade e prisões
O governo reage aos protestos com uma exibição de dignidade ferida, como se a ideia de que ele pudesse ter fraudado as eleições fosse impensável, embora a oposição veja a fraude como bastante evidente.

Embaixadores estrangeiros são convocados um a um e censurados até mesmo por ousarem criticar a morte de manifestantes.

Enquanto isso, as autoridades enviam seus "brutamontes", os Basijis - membros da milícia pró-governo - para intimidar os oposicionistas.

Dormitórios estudantis são revirados, manifestantes são detidos durante os protestos.

Blocos de apartamentos de onde os iranianos gritam palavras de ordem são invadidos e carros destruídos.

A onda de prisões chegou a um ponto em que até um dos mais próximos assessores do aiatolá Khomeini, Ebrahim Yazdi, foi detido.

Até agora, nenhuma decisão foi tomada pelo governo para realmente controlar a crise, mas isto deve acontecer cedo ou tarde.

Luta de gigantes
Enquanto isso, uma disputa de poder está acontecendo no topo do sistema iraniano.

O aiatolá Ali Khamenei apostou sua carreira política no apoio inequívoco à vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad nas eleições.

Khamenei tem muitas cartas nas mãos. Ele é o comandante supremo das Forças Armadas, além de ser apoiado fielmente pelo Conselho dos Guardiões, que está revisando os resultados do pleito.

Até agora, ninguém ousou questionar sua autoridade, pelo menos não abertamente.

Mas, do outro lado, está o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, que tem apoiado as campanhas oposicionistas.

Desde o início da campanha, ficou claro que ele desejava se vingar de Ahmadinejad, que o venceu nas eleições presidenciais de 2005.

Além disso, há provavelmente uma rivalidade mais profunda com o líder supremo do país. Rafsanjani apoiou Khamenei quando ele sucedeu Khomeini, em 1989.

Esta rivalidade veio à tona quando, durante um debate televisionado, Ahmadinejad acusou a família de Rafsanjani de corrupção.

Muitos iranianos acreditam que as acusações podem ser verdadeiras, mas maneira como foram feitas por Ahmadinejad causaram escândalo.

A acusação fez com que Rafsanjani escrevesse uma carta sem precedentes para o líder supremo, pedindo que ele agisse a respeito e fazendo ameaças.

Rafsanjani escreveu que, se nada fosse feito, "os vulcões que queimam dentro de peitos flamejantes aparecerão na sociedade, como vemos nas reuniões a que assistimos nas ruas, praças e universidades".

Estas "chamas", disse Rafsanjani na carta, podem se "espalhar pelas eleições e além delas".

Akbar Hashemi Rafsanjani também tem armas poderosas.

Ele é o líder da Assembleia dos Especialistas, o grupo de clérigos responsável por eleger, supervisionar e até substituir o líder supremo do país.

Uma ação do grupo contra Khamenei seria inédita. Mas Rafsanjani recentemente foi reeleito para o cargo com uma grande maioria. Além disso, Khamenei também tem muitos inimigos entre os clérigos.

Rafsanjani também lidera o Conselho de Discernimento, que é responsável por mediar as disputas entre os órgãos do governo.

Além disso, a conhecida riqueza de Rafsanjani não pode ser subestimada.

Futuro
Pode ser que existam partidários do governo que estejam ficando encorajados pelas manifestações, mas há também muitos que têm uma adoração genuína por Ahmadinejad.

Entre os oposicionistas, a crise após as eleições fez com que anos de frustração contra o sistema viessem à tona.

Os dois lados podem estar discutindo agora a questão das eleições. Mas a verdadeira discussão é sobre o futuro do Irã. Esta é uma batalha importante, gigantesca, cujo resultado ninguém pode prever.

Da BBC Brasil Direto para o Mensageiro da Realidade

O começo dos anos 80 não foi nada propício para o rock.

O que dominava era a MPB de FM, e apesar da relativa abertura política, a sombra da repressão e a censura desanimavam que tentava ser mais ousados. O "som jovem" que rolava era o pop-rock de gente como Guilherme Arantes, Marina, Ney Matogrosso, 14 Bis, Eduardo Dusek, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, A Cor do Som e Rádio Táxi. Mas ainda assim a rapaziada queria que temas como amor, diversão, trabalho e família fossem tratados de forma mais clara. Com o rock básico e os cabelos curtos e espetados da new wave, o Rock Brasil começa a se renovar no início da década. Ligado nas novidades, o jornalista e discotecário Júlio Barroso fundou a Gang 90 & As Absurdetes, no Rio de Janeiro. O estouro aconteceu no Festival Shell de MPB de 1981, quando tocaram "Perdidos na Selva", um reggae que fala de um acidente de avião com final feliz. Era só uma mostra do que estaria por vir nos próximos anos. Seguindo os mesmo passos da Gang 90, o integrante do grupo de teatro carioca Asbrúbal Trouxe a Irreverência, Evandro Mesquita, junto com o baterista Lobão, tiveram a idéia de montar uma banda de rock teatral. O nome da banda foi dado por Lobão: Blitz, já que eles sempre eram parados pelas batidas policiais. A banda trouxe junto ao humor praieiro do grupo Asdrúbal um rock básico e uma dupla de belas vocalistas, Márcia Bulcão e Fernanda Abreu. No verão de 1982 abriu na praia do Arpoador um espaço para shows: o Circo Voador, aonde a banda se apresentou inúmeras vezes. Em junho do mesmo ano, a Blitz gravou um compacto com a música "Você Não Soube Me Amar", que vendeu 100 mil cópias em 3 meses. Em setembro foi lançado o disco "As Aventuras da Blitz", o que transformou a banda em fenômeno nacional, mas um pouco depois do lançamento do disco, Lobão deixa a banda para lançar seu primeiro disco solo, "Cena de Cinema", aonde começa uma das mais importantes carreiras do rock brasileiro, de um artista sempre inconformista. Ainda em 1982 apareceriam outros artistas de relevância do Rock Brasil, como Eduardo Dusek com seu disco "Cantando no Banheiro", que contava com a participação de uma banda carioca que fazia um rock estilo anos 50 com muito bom humor: João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, que tinha entre seus integrantes um excelente compositor, Léo Jaime, que escreveu o sucesso do disco, "Rock da Cachorra". João Penca seguiria depois sem Dusek e sem Léo Jaime, que fez uma carreira solo de sucesso. No mesmo ano ainda surgiria Lulu Santos, Barão Vermelho (que não foi tão bem acolhido na época) e a Rádio Fluminense, grande divulgadora das fitas e dos discos dos artistas do rock nacional. Paralelamente, em São Paulo, ocorria o festival "O Começo do Fim do Mundo", com bandas punk como Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco. Em 1983, o rock já havia ganho seu espaço na Música Popular Brasileira (MPB), fazendo com que as gravadoras perdessem o medo de contratar bandas deste gênero. Foi lançado o disco "Rock Voador" (parceria do Circo Voador com a rádio Fluminense), que revelou o Kid Abelha e Seus Abóboras Selvagens. Uma das bandas que tinha sua fita divulgada na rádio, Os Paralamas do Sucesso, gravaram um compacto que, com seu relativo sucesso, levou a gravar no fim do ano seu primeiro disco, "Cinema Mudo". Mas quem arrebentaria um sucesso naquele ano foi um inglês, chamado Ritchie, com a música "Menina Veneno", cujo compactoo vendeu mais de 800 mil cópias, levando o cantor a gravar um disco, Vôo de Coração, que vendeu mais de 1 milhão de cópias, batendo naquele ano até o grande recordista de vendas da gravadora, Roberto Carlos. O Rock Brasil ganhava respeito comercial. Fenômeno predominando o Rio de Janeiro, o rock começa a ferver também em São Paulo em 83. A cidade já estava sendo sacudida pelos punks e também pela música de vanguarda (Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque, Língua de Trapo), revelou uma das grandes bandas do rock brasileiro: os Titãs, um octeto que misturava new-wave e tropicalismo com o rock e ficava cada vez mais popular. Ainda tinha bandas do rock paulistano como Magazine (tendo Kid Vinil como um dos integrantes), o pós-punk Ira! e a irreverência do Ultraje a Rigor. 1984 foi o ano de grandes lançamentos em disco. "Titãs" (seu primeiro disco), "Seu Espião" (estréia do Kid Abelha), "O Passo do Lui" (segundo disco dos Paralamas), "Tudo Azul" (Lulu Santos), "Ronaldo Foi Pra Guerra" (Lobão), "Maior Abandonado" (último disco do Barão com o vocalista Cazuza) e "Phodas 'C'" (Léo Jaime). As bandas cada vez mais apareciam em programas de auditório na TV e até no cinema, com o filme "Bete Balanço", com música-tema do Barão Vermelho. Se até então o Rock Brasil tinha uma cara romântica e idealista, iria mudar apartir de janeiro de 1985, graças a um evento: o Rock In Rio 10 dias de muito som num terreno na Barra da Tijuca, no maior concerto de rock de todos os tempos, com um público aproximado de 1 milhão e meio de pessoas. Ao lado de grandes nomes da música mundial da época, como Queen, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Scorpions, Yes, AC/DC, entre outros, estavam artistas consgrados da MPB e a nova rapaziada: Blitz, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Lulu Santos e Kid Abelha. No maior palco de suas carreiras iniciantes, as bandas não tremeram na base. O resultado foi que o rock entrou de vez na música brasileira, as bandas internacionais incluíram o Brasil em suas turnês e os nossos roqueiros aprenderam muito com verdadeiros profissionais da música. O jovem público viu as bandas nacionais fazerem bonito junto aos ídolos estrangeiros e ainda presenciaram a eleição de Tancredo Neves como o primeiro presidente civil do país desde o golpe militar de 1964. O Rock Brasil emergiu desde então, com um jeito ousado, contestador e geograficamente disperso. De São Paulo apareceu dois dos maiores êxitos comerciais do ano. Um deles, "Nós Vamos Invadir Sua Praia", álbum de estréia do Ultraje a Rigor, que tinha a música "Inútil", que foi tocada pelos Paralamas no Rock In Rio e comentada pelo senhor Diretas Já Ulysses Guimarães, causou um certo comentário sobre sua letra. Quase todas as músicas foram sucesso no rádio. O outro êxito foi o RPM, com a música "Louras Geladas" estourada nas rádios, lançou o disco "Revoluções Por Minuto", que teve várias outras faixas de sucesso. O empresário Manoel Poladian foi responsável por uma super produção para a banda: o show "Rádio Pirata". Nunca se havia visto nada igual no Brasil: efeitos de raio laser, gelo seco e sofisticado equipamento de som. O show percorreu o Brasil, aumentando cada vez mais a popularidade do grupo, que foi forçado pela gravadora a gravar um álbum ao vivo, com a versão de "London, London" (de Caetano Veloso) que já começava a tocar nas rádios. Lançado em 1986, "Rádio Pirata Ao Vivo", tornou-se o recordista de venda de todos os gêneros no Brasil: 2,2 milhões de cópias. Em pouco tempo, com toda a pressão de sua popularidade e o uso abusivo de drogas, o grupo gravou mais 1 álbum e acabou sem muito alarde em 1989. Em 1º de Janeiro de 1985, uma banda de Brasília lançava seu disco de estréia - um disco que marcaria a história do nosso rock. Legião Urbana mostrava ao país a poesia de Renato Russo, em letras que mostrava os anseios, medos e reivindicações de uma geração. Conhecida pela música Química (que os amigos Paralamas gravaram em seu primeiro álbum), a Legião ganhou o público com aquele disco cheio de energia rock´n´roll e sentimentos à flor da pele. Era a primeira das bandas de Brasília influenciada pelo punk-rock, que tomariam conta da mídia. As outras foram Capital Inicial e a Plebe Rude. Também de origem punk e fora do eixo Rio-São Paulo, os baianos do Camisa de Vênus, liderada por Marcelo Nova, apareceriam em 1985. Depois de um álbum sem repercussão, ganharam seu lugar com o som "Eu Não Matei Joana D´arc". Depois disto o país chegou a conhecer outras músicas como "Bete Morreu" e o "Adventistas", de seu álbum anterior. Em São Paulo, os ecos do punk seriam responsáveis por uma outra banda de talento a aparecer, com seu álbum de estréia, Mudança de Comportamento: o Ira!, do guitarrista Edgard Scandurra (um dos melhores do Brasil até hoje) e o vocalista Nasi. Enquanto isso o underground paulistano fervia, com bandas inspiradas no pop-rock inglês. Luiz Calanca lançou neste mesmo ano o selo Baratos Afins, que lançou os discos de todo esse underground paulistano, antecipando em pelo menos 10 anos a realidade dos pequenos selos que ajudaram a fazer o rock alternativo um fenômeno. No Rio de Janeiro, houve uma separação no Barão Vermelho, saindo Cazuza para sua bem sucedida carreira solo, e o guitarrista Roberto Frejat assumindo os vocais. Tivemos ainda no Rio o lançamento de excelentes disco. "Sessão da Tarde", de Léo Jaime, que voltava ao rock dos anos 50 e à Jovem Guarda; "Educação Sentimental", segundo disco do Kid Abelha e no fim do ano o disco-solo de Cazuza. 1986 foi o ano da consolidação artística e da fartura de lançamentos. Graças ao Plano Cruzado e a explosão de consumo que ele causou, as gravadoras contratavam qualquer banda que cheirasse a rock. A coletânea "Rock Grande do Sul", só com bandas de Porto Alegre revelou os Engenheiros do Hawaii, que no mesmo ano lançou seu disco de estréia com o irônico título "Longe Demais das Capitais". E com a música "Surfista Calhorda", Os Replicantes com influência punk-hardcore, lançaram seu disco: "O Futuro é Vortex". Também estrearam naquele ano os cariocas do Biquíni Cavadão ("Cidades em Torrente"), a Plebe Rude ("O Concreto Já Rachou"), Capital Inicial ("Capital Inicial") e os Inocentes ("Pânico em SP", primeiro disco do punk brasileiro a sair por uma grande gravadora). Três álbuns marcaram naquele ano o Rock Brasil até hoje. Com "Selvagem?", os Paralamas fizeram uma ousada conexão Brasil-Jamaica-Inglaterra-África via música negra. "Dois", disco da Legião revelou-se mais lírico e acústico, com faixas que até hoje fazem a história da banda. Finalmente, "Cabeça Dinossauro", dos Titãs (que recentemente foi considerado o melhor disco do Rock Brasil), que deram uma guinada punk em sua música, que mais pareceria um risco, mas que deu bons resultados artisticos e comerciais para a banda. A boa fase do rock nacional continuaria em 1987, com a explosão de Lobão (com o LP "Vida Bandida") e outros álbuns. "A Revolta dos Dândis" (Engenheiros), "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" (Titãs), "Que País é Este" (Legião) e "Sexo!" (Ultraje a Rigor). Houve a surpresa com o aparecimento do carioca Fausto Fawcett e seus Robos Efêmeros, com "Kátia Flavia". Outra surpresa foi o selo Plug, da RCA, que apostou em discos de novíssimos nomes do rock brasileiro que não faziam nada parecido com as outras bandas. Estrearam os cariocas Picassos Falsos e Hojerizah, o paulistano Violeta de Outono, os gaúchos do De Falla, TNT e o Nenhum de Nós, entre outros. Das raras exceções que deram certo, está o Nenhum de Nós, que estourou com a música "Camila, Camila", e depois em 1989, com "O Astronauta de Mármore", versão de "Starman" de David Bowie. De 1988 em diante, o Rock Brasil passa por um período de baixa, com as bandas com dificuldades para recuperar as baixas vendagens e execução. Mas mesmo assim, existe discos clássicos desta época. "Ideologia", de Cazuza, que já luta contra a Aids, e aos 16 anos de idade, Ed Motta chega com pinta de veterano, injetando soul no rock nacional, com seu disco de estréia com a Conexão Japeri. A Legião experimentou um sucesso estrondoso com "Faroeste Caboclo" naquele ano, mas viu o inverso da moeda num show em 18 de junho, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Confusão total, com Renato Russo sendo atacado por um fã no palco e a polícia descendo o pau na platéia, que saiu revoltado do show (que foi interrompido). O incidente bateu forte na Legião que ainda teve a perda do baixista Negrete, que deixou a banda, mas mesmo assim, em 1989, finalizou seu quarto disco, "As Quatro Estações", com a maior vendagem em disco da banda e a maior nos últimos anos do Rock Brasil. Em 7 julho de 1989, o clima era de luto: Cazuza havia morrido e em 21 de agosto do mesmo ano, morreria Raul Seixas. Era o fim de uma era do Rock Brasil.

Revoluções nas ondas paulistanas

Se existe um disco que causou pânico em São Paulo foi Revoluções por minuto, do RPM, de 1985. Hoje, esse disco é visto por duas óticas antropológicas: trash (no sentido cool da coisa) e lixo (no sentido cu da coisa). Mas por trás desses pré-conceitos, existe um grande disco. Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Paulo Pagni e Fernando Deluqui cometeram um disco sintonizadíssimo com o que de mais moderno estava sendo feito no pop-rock de então. Os toques neo-romantics, o verniz new-wave, o clima pós-punk e as letras bem construídas de Paulo Ricardo - com um toque até adulto, em contraste com a temática adolescente quase dominante.

Eu ganhei o Revoluções por minuto no meu aniversário de 10 anos, de presente do meu pai – que contrabandeava eletro-eletrônicos da Zona Franca de Manaus (“pirataria nas ondas do rádio”) – junto com um gravador portátil com um deck toca-fitas e rádio am/fm. Logo de cara, fui pego com músicas como “Louras geladas” e “Revoluções por minuto”, de um apelo pop muito forte, sem serem totalmente descartáveis e bem produzidas, com um apuro instrumental inédito para o padrão. O clima remetia a um cenário de revoluções, de abertura, de juventude.

Era um disco quase onipresente (Rádio pirata ao vivo era onipresente) e toda hora você ouvia alguma em algum lugar. As garotas alucinavam quando viam Paulo Ricardo. Os homens sentiam inveja e os adolescentes – como eu – queriam ser ele. Não somente por ser um rock star, tendo as suas músicas cantadas por todo mundo, mas também por ser o sortudo que ia para casa com a modelo-ninfeta Luciana Vendramini, uma das maiores musas dos pubescentes da época.

Essas influências modernas Paulo Ricardo trouxe de Londres. Passou seis meses na terra da Rainha, em 1983, vendo shows de bandas então iniciantes, como Depeche Mode, Culture Club, Spandau Ballet, Echo & The Bunnymen... Foi vendo essas bandas que começou a delinear o ainda não batizado RPM. De Londres, começou a se corresponder com o Schiavon (lembra que já existiu um negócio chamado carta?), explicando a ligação da guitarra com o tecnopop e o new romantic.

O RPM logo causou pânico no underground paulistano, em casas como Madame Satã, Raio Lazer e Tiffon. Chegaram a ser banda residente no Satã. O RPM acabou se consolidando no underground, recebendo críticas entusiasmadas de vários jornalistas culturais respeitados na época. Poucas bandas usavam os teclados da maneira que eles, encurtando o abismo entre o progressivo e o pop. O set, mesmo curto, era puxado para o underground e muitas pessoas definiam o som do RPM na época como “um meio caminho entre Echo & The Bunnymen e Gang Of Four”.

E Revoluções Por Minuto é realmente muito bom. Tem a depressão em "Juvenilia", o rock em "A fúria do sexo frágil contra o dragão da maldade", "Estação no inferno", a agonia de "A cruz e a espada". Em seguida, lançaram um disco ao vivo, o famigerado Rádio pirata ao vivo, que vendeu milhões, causou histeria coletiva e o escambau.

Foi o primeiro disco de uma banda brasileira de rock a vender mais de um milhão de cópias. Em 1986, era item obrigatório em quase todos os lares brasileiros. De acordo com a Sony, detentora dos direitos da antiga CBS, de 86 até hoje o disco vendeu mais de 2,7 milhões de cópias. A febre fez com que o grupo iniciasse uma turnê de 15 meses ininterruptos. A estafa da estrada causou um abalo nas relações entre os quatro. Abalo que durou até o ano passado, quando tentaram mais uma volta - e enterraram, de vez, qualquer aura cult que o nome RPM poderia ter.

A invenção do jovem brasileiro moderno

O sucesso estrondoso desse disco afetou a sua aura cult. Mas, sem exagero algum, Nós vamos invadir sua praia é um dos primeiros clássicos instantâneos da música jovem brasileira. Um álbum irretocável. Que apareceu na hora certa, no momento certo, no contexto perfeito.

O Brasil vivia o início da abertura política. A ditadura já não era tão dura quanto antes, mas não era bom dar bobeira. Naquela época, entre 1983 e 85, era preciso ter cultura para mijar na escultura. Ou seja, dava para meter a boca, desde que fizesse isso com inteligência, refinamento, sagacidade, coisas que os censores não entendiam.

Musicalmente, o cenário brasileiro sentia uma efervescência, uma coceira atrás da orelha. Alguma coisa estava acontecendo, tinha gente se mexendo, acenderam o fósforo, colocaram fogo no pavio curto. Lá vinha explosão.

O jovem se preocupava, de maneiras equivalentes, com a namorada que queria sair sozinha e o deixava morrendo de ciúmes, com sua falta de auto-estima, com a decepção de uma brilhante seleção brasileira ante ao futebol pragmático (que vinha para ditar as regras do esporte bretão no mundo, mais adiante), com a vontade de votar, com uma gravidez indesejada, o bon-vivant que não quer casar, com o direito de saber escolher presidente. Diretas já, Democracia Corintiana, Sócrates, Falcão, Zico, Casagrande, Chulapa, Ulisses Guimarães, Marcelo Rubens Paiva, Partido dos Trabalhadores, Lula. O Brasil estava mudando.

E tudo isso povoava a cabeça da rapaziada. E, infelizmente, o país não ouvia nada disso no rádio. A música popular jovem praticamente não existia. O rock dava seus primeiros passos, mas ainda não tinha poder de identificação suficiente. A MPB de então, com o ego inflado, caminhava desesperadamente rumo ao erudito, ao altar das vacas sagradas, comemorando gols do passado e não fazendo por merecer toda idolatria. Esqueceu para quem falava, para quem cantava. Compunha para si mesma, não para o público. Ninguém entendia nada.

Antena privilegiada, senso crítico apurado, QI acima da média, o garoto Roger Rocha Moreira soube captar tudo que estava acontecendo, todos os temas que estavam rondando a cabeça dos brasileiros. Juntou sua banda, chamou os conhecidos, os mais chegados, e gravou o disco que faltava para aquela multidão que pedia voto e liberdade cantar em uníssono lá na Praça da Sé. “Inútil, a gente somos inútil”.

Em 13 de janeiro de 1984, o principal nome das campanhas da Diretas, conhecido como Sr. Diretas em pessoa, deputado federal Ulysses Guimarães, declarou que ia mandar o compacto de "Inútil" para o presidente João Figueiredo. A letra dizia, entre outras coisas, que "a gente não sabemos escolher presidente / A gente não sabemos tomar conta da gente". A citação ratificava o jovem rock nacional como trilha sonora da década.

Sem querer (querendo), Roger compôs alguns hinos de sua geração. Nós vamos invadir sua praia é mais do que um disco de carreira, é um verdadeiro “grandes sucessos”. Da faixa 01 a 11, com exceção de “Jesse Go”, todas tocaram muito no rádio e todos nós cantamos junto. O disco certo na hora certa.

Na verdade, o disco, lançado em 85, já estava na cabeça de Roger há algum tempo. Já amargara uma inesperada “geladeira” em 1983 quando o compacto de “Inútil” (com “Mim Quer Tocar” no lado b) foi lançado e a canção já se havia se tornado um grande sucesso e tema das Diretas. Nesse meio tema, o guitarrista Edgard Scandurra (autor do brilhante riff de abertura da música) saiu da banda para se dedicar inteiramente ao Ira! e a formação do Ultraje se estabilizou com Roger (vocal, guitarra, sax alto), Carlinhos (guitarra), Maurício (baixo e vocal) e Leôspa (bateria e percussão).

No ano seguinte, lançaram outro compacto, com "Eu me amo” / ”Rebelde sem causa". "Eu me amo" foi bem nas rádios, impulsionado um pouco pela polêmica coincidência de refrões com a música “Egotrip”, da Blitz. Mas foi o lado b do compacto que começou a tocar nos primeiros meses de 85 e que detonou a explosão do Ultraje. Aí o produtor Liminha se convenceu de que era hora de lançar um disco “cheio”.

E acertou na mosca. Nós vamos invadir sua praia foi o primeiro LP de rock nacional a conseguir discos de ouro e platina. O primeiro sucesso foi “Ciúme”, faixa 5 do LP e talvez o maior hit single já composto em língua portuguesa. Os valores estavam mudando, o Brasil estava mudando, e as mulheres brasileiras começavam a gozar, muito mais livremente, de direitos conquistados no mundo no começo dos anos de 1970. As mulheres já tomavam a iniciativa, ocupando cargos importantes e influindo diretamente no relacionamento. Diante disso, os defeitos de todos os homens ficavam escancarados: machismo, insegurança, “direito de posse”. Todo mundo se identificou: os homens e as mulheres. E todos cantaram juntos, “mas eu me mordo de ciúme”, e tudo se resolveu.

Com isso, Roger e o Ultraje penetravam (ops!) na classe jovem e estabeleciam um novo tipo de artista na música brasileira. O artista “gente como a gente”. Os quatro do Ultraje pareciam sofrer dos mesmos problemas que atingiam todo mundo, encaravam os obstáculos com bom humor, tiravam sarro de si mesmos e falavam na língua que todos entendiam.

E usavam do humor. Sutil, ácido, tipicamente paulistano – diferente do deboche escrachado carioca, estampado na Blitz. Um humor que vem de uma tradicional escola paulistana, de Joelho de Porco e Premeditando o Breque. Tem muito dessas duas bandas na letra de Roger.

Talvez, seja por isso que deu tão certo. Poucos conhecem rock como Roger. Tudo de bom que o gênero produziu – e derivados - pode ser ouvido em “Nós vamos invadir...”. Rockabilly, new wave, punk, mod, reggae, Chuck Berry, Beach Boys, Beatles, Clash e Pistols. E, graças a Deus, Roger é brasileiro. Tem a malandragem do samba paulistano, a melancolia do compositor de rua, dos bares. Irresistível.

E veio a cachoeira de sucessos. “Rebelde sem causa” criticava duramente a classe média branca que não tinha contra quem se rebelar, já que tinha tudo e não precisava sofrer para conquistar nada. Mesma classe que Roger pertencia.

A falta de lugares e apoio para novos músicos, a dureza do underground vinha em “Mim quer tocar”, sonhando ainda com uma utópica era em que se poderia ganhar dinheiro com música. Havia a monogamia e a vontade de ficar livre de “Zoraide”, o nonsense de “Marylou”, a ânsia de ficar famoso a qualquer custo em “Jesse Go” (antecipando uma realidade em 20 anos), afirmação da auto-estima com “Eu Me Amo”, “Nós vamos invadir sua praia”, a faixa-título, criticando duramente os cariocas da Zona Sul que não queriam se espremer dentro do ônibus para a praia com os chamados “farofeiros” (com direito a participação dos cariocas Lobão, este cantando “cadê a minha farofinha, Roger?” e Léo Jaime), “Se Você Sabia”... O grito de liberdade “Independente Futebol Clube”, “Eu não sou seu / Eu não sou de ninguém / Você não é minha / Eu não tenho ninguém/ Nós somos livres”...

A censura cismou com “Marylou”, mas não adiantou proibir a execução, fez sucesso assim mesmo. Um ano depois, gravaram um EP chamado "Liberdade para Marylou", com uma versão remixada de "Nós vamos invadir sua praia", o "Hino dos Cafajestes", e a música "Marylou" gravada em ritmo de carnaval e com as frases censuradas substituídas por frases de trombone. "Marylou" arrebentou nos bailes de carnaval daquele ano e até hoje continua sendo tocada quase como um clássico carnavalesco. Fato inédito, vindo de uma banda de rock.

O disco foi um dos melhores lançamentos de 85, no Brasil e no mundo. Um álbum de estréia com um padrão de qualidade altíssimo; uma obra-prima instantânea, elevado a um patamar difícil de ser batido. Até mesmo pelo próprio Ultraje a Rigor.

Alexandre Petillo é jornalista. Acabou de editar o livro Noite passada um disco salvou minha vida (Geração Editorial), em que 65 músicos e jornalistas falam sobre seus discos favoritos. Trabalhou no Notícias Populares, no Agora SP e criou a revista Zero. É colunista do jornal Diário da Manhã (GO) e colaborador da Folha, do Estado de S. Paulo e de diversas publicações brasileiras, como a Bravo! e a Outracoisa.

O dia eterno do Violeta

Existem alguns artistas que só poderiam ter nascido em São Paulo. Pode ser o trânsito caótico, o clima sufocante, a falta de perspectiva, a distância da praia, o pensamento recorrente de estar perdendo tempo em um lugar quando coisas interessantes acontecem em outro ou o senso de incapacidade diante do gigantismo de tudo que existe na maior cidade do país. Talvez seja tudo isso que faz com que um grupo de amigos resolva se juntar para fazer um som. Uma música que os agrade, pouco importa público, mercado, break even, o escambau.

Somente em São Paulo nasceria uma banda como o Violeta de Outono. Um grupo que bebe aos gargalos no rock progressivo, mas suas canções são curtas. Gostam de improvisos e prezam a técnica, mas posam de power trio e capricham em distorções. Esse é o Violeta, que conquistou uma aura cult no circuito musical brasileiro e até hoje nenhum artista semelhante apareceu no país.

A grande esperteza do Violeta de Outono foi justamente filtrar todas essas influências da sua maneira - do jeito brasileiro. Os caras sempre ouviram música estrangeira, mas perceberam que não fazia sentido somente repetir o que era feito lá fora. Pegaram o prog, a new wave, o pós-punk, a psicodelia, o hard rock e o então emergente estilo dark (sedimentado em bandas como Cure e Echo & The Bunnymen) e moldaram tudo ao seu jeito, cantando sempre em português.

Claudio Souza, Fabio Golfetti e Angelo Pastorello escaparam da repetição e por isso colocaram no mercado, pelo menos, um disco clássico: o homônimo, de 1987.

A capa não diz muito sobre o grupo, mas explica o som. O clima etéreo, uma sensação de melancolia. Um friozinho de outono. "Outono" que abre o disco, com um refrão triste, que diz "Canto do extremo do mundo / Espero em silêncio profundo". Está em nossos corações o frio do outono.

O sucesso do álbum também era a melancolia. O contraponto que sempre caracterizou o Violeta. Sob um riff de guitarra poderoso ouve-se "Silêncio em mim / Espelhos planos / Saídas falsas, vôo, solidão / Só esperando / Vagando em seu olhar / Tudo é deserto, estranho lugar / Você sabe que não temos tempo / Dia eterno, noite escura adentro".

Tudo no disco é movido pela paixão e pelos delírios do vocalista, guitarrista, compositor e produtor Fabio Golfetti. Uma paixão que manteve sempre fiel um séquito respeitável de fãs no Brasil - com maior destaque para São Paulo. Talvez seja essa paixão (ou delírio) que fez com que eles recusassem colocar "Outono" na abertura de uma novela global e se arriscarem a passar pela prova das paradas de sucesso populares. Temiam não agradar o grande público e, ao mesmo tempo, trair as expectativas da sempre conservadora opinião do underground. Como não se sabe o amanhã, fincaram pé no mito, que também é totalmente merecido. Esse primeiro disco do Violeta é tão bom até hoje e mantém a sua sonoridade única de forma intacta. Intacta como a presença no rol de melhores covers dos Beatles já feita em qualquer língua. O disco fecha com "Tomorrow never knows", um resumo de tudo que o Violeta teve de melhor: ousadia, criatividade e paixão pela música.

Alexandre Petillo é jornalista. Acabou de editar o livro Noite passada um disco salvou minha vida (Geração Editorial), em que 65 músicos e jornalistas falam sobre seus discos favoritos. Trabalhou no Notícias Populares, no Agora SP e criou a revista Zero. É colunista do jornal Diário da Manhã (GO) e colaborador da Folha, do Estado de S. Paulo e de diversas publicações brasileiras, como a Bravo! e a Outracoisa.

Os 10 melhores discos de Rock-Brasil Anos 80

por Bruno Cavalcanti

Se os dez melhores discos do mês passado causou muita confusão por aqui, desta vez parti para uma vertente mais séria do rock nacional, incluíndo os grandes nomes que fizeram a cabeça de uma geração (e, na falta de qualidade de hoje em dia, continua fazendo a cabeça de mais uma de tabela!) e outros que ainda não fizeram, mas pela qualidade, um dia ainda irão fazer...

Diga-se a verdade: grande parte dos melhores discos são de Brasília, e muito se deve ao fato de terem sido, em sua maioria, apadrinhados pela EMI-Odeon, que já tinha anos de conhecimento do assunto (em solo estrangeiro), enquanto as outras gravadoras, principalmente as nacionais, se complicavam para entender o tipo de som que "surgia" por aqui, sem saber exatamente como lançar.

Não inclui aqui gente como Raul Seixas, já que nos anos 80 ele já era um mito, e seus melhores trabalhos datam da década anterior. Também deixei de lado o Lobão, pois está na lista anterior. Também evitei discos genuinamente punks, pois já fiz uma lista exatamente com esse tema. E por aí vai...

E, finalmente, qual o critério que usei na minha seleção? Na edição passada selecionei os dez discos nacionais que te fazem levantar da cadeira, arrastar o sofã, e se descabelar na sala. Já desta vez, são os discos que te levam de volta à cadeira, e te fazem escutar as músicas com atenção.

Com vocês, os 10 melhores discos de rock-Brasil anos 80 (dos que te botam pra pensar...):


Legião Urbana Legião Urbana (1985)

Que melhor forma de se começar uma lista do que com eles? Renato Russo, o melhor vocalista de toda a música brasileira, porém, com um time de músicos ordinários, e todo mundo influenciado por Joy Division, The Smiths e The Cure. O primeiro disco, que iria se chamar "O Futuro Do País" e deveria conter a faixa "Que país é esse?" (limada pela censura da própria gravadora), é um apanhado de sucessos, e foi o grande abre-alas do rock candango. As letras sobre os anseios da juventude definiria a banda como porta-voz da adolescência, alcunha que sempre irritou Renato. Muitos críticos colocariam o cantor no top dos gênios da MPB, o que não significa muito coisa...

Titãs Cabeça Dinossauro (1986)

(A ShowBizz colocou este como o maior disco de rock nacional de todos os tempos. Aí já é demais!) A banda começou com o nome Titãs do Iê-Iê-Iê, gravou dois discos de pop new wave sem tanta inspiração, e, quando tudo indicava que o conjunto estava fadado ao fracasso, lança um disco espetacular! Uma mistura única de punk rock e hard rock, que, aliada à refinada poesia concretista de Arnaldo Antunes, caracterizaria o Titãs como uma das mais originais bandas de rock do país (nos anos 80, claro, quando Arnaldo Antunes ainda estava da banda!) Aqui estão grandes clássicos como "AA UU", "Igreja", "Polícia", "Estado violência", "Bichos escrotos", e a inigualável "Porrada".

Camisa de Venus Batalhões de Estranhos (1985)

Aqui, em seu segundo disco, a maior banda de rock do país flertaria com a new wave, lançando um disco genial. A banda alcançaria as rádios com o atentado às feministas "Eu não matei Joana D'arc" e o hit do malaco injuriado "Hoje". "Cidade fantasma" é um típico ska inglês, e "Batalhões de estranhos" é a trilha sonora ideal para o livro Farenheit 451, de Ray Bradbury. O grito de guerra "Bota pra fudê!" ecoaria pelos quatro cantos do país, e a banda alcançaria sucesso sem precisar fazer playbacks em programas da tevê. Depois deste disco, a banda lançaria o primeiro disco ao vivo do Brasil, o "Viva!", um divisor-das-águas no conceito de censura fonográfica no país.

Plebe Rude O Concreto já Rachou (1985)

O melhor disco da Plebe Rude, com um nível que a banda nunca conseguiria atingir em seus trabalhos decadentes posteriores (salvo, talvez, "Nunca fomos tão brasileiros", de 1987). Com letras excelentes ("Proteção" e "Minha renda") e temas obscuros ("Sexo e karatê" - que muitos dizem se tratar de "Sexo e cocaína" - e "Seu jogo"), este disco foi uma dádiva aos jovens rebeldes de meados dos anos 80 e à EMI, que ganhou uma fortuna em cima dos caras em função de cláusulas de contrato! Deveria ser o único disco da banda, que renderia ao grupo o estigma de mito do rock nacional. Mas não, Philippe Seabra & cia. continuariam por anos, plagiando cada vez mais o Killing Joke...

Ira! Mudança de Comportamento (1985)

Edgard Scandurra foi figura das mais importantes do rock paulista. Formou o Ultraje à Rigor!, tocou no Smack, e fez grande parte das músicas das Mercenárias. Além disso, é um dos grandes guitarristas do país. Nasi também não ficou pra trás, lançando a primeira coletânea de rap do país, nos anos 80. A banda copiou o primeirão do The Jam na cara dura neste disco, e copiaria a carreira-solo de Paul Weller com o Style Council nos discos seguintes. Mas eles foram felizes, principalmente porque se transformaram na grande sensação de mod rock do país. Apesar que a música "Pobre paulista", contra a emigração de nordestinos para sampa, queimou o filme dos caras...

Legião Urbana Dois (1986)

O segundo disco do Legião Urbana deveria se chamar "Mitologia e Intuição" e seria duplo, com as músicas "Mitologia e intuição", "Faroeste caboclo", "Tédio", "Conexão amazônica", "Química", "O Grande inverno da Rússia" e "Juízo final". Mas a EMI achava que ainda não era hora e limou 50% do trabalho dos caras. A capa, o nome e a arte interna perderam o sentido sem a faixa-título, e em última hora montaram uma arte ordinária que resultou no "Dois". No ano seguinte, lançariam "Que País É Esse?", sendo que metade do disco seria composto por essas músicas, além da faixa-título que havia sido censurada do primeiro trabalho da banda. É, coisas de terceiro-mundo...

Patife Band Corredor Polonês (1987)

Umas das coisas mais esquisitas que surgiu nos anos 80. Uma mistura entre samba, funk, jazz, hard rock, punk, num andamento nervoso e ágil, com letras paranóicas e psicóticas. Toda essa insanidade não é por nada, pois a banda tinha em seu front o músico Paulo Barnabé, irmão do tresloucado e famoso Arrigo Barnabé. Ele pegou o experimentalismo "dodecafônico" do irmão mais velho e embalou num formato mais... pop! Não há destaques, pois cada música é melhor que a outra, de tão bizarras que são! Só pra se ter uma idéia da morbidez, "Tô tenso" foi regravada pelo Ratos de Porão, e "Vida de Operário", pelo Pato Fu! Enfim, essencial e obrigatório...

Capital Inicial Capital Inicial (1986)

Esse disco vendeu horrores no ano em que foi lançado, levando até o Disco de Ouro - apesar de que as músicas que emplacaram nas rádios foram justamente as de Renato Russo, feitas com os irmão Flávio e Fê Lemos ("Música urbana" e "Fátima"). As músicas compostas por Dinho Ouro Preto são as mais irrelevantes do disco. Os destaques ficam para "Psicopata", "Veraneio Vascaína" e, principalmente, para a profunda "Tudo Mal". Dinho saiu da banda no meio dos anos 90, gravou um disco solo inútil em 95, e retornou ao grupo em 98. Ele realmente cantava muito bem, mas com o tempo sua voz acabou, e a prova definitiva está no cd Acústico MTV da banda, de 2000.

Inocentes Pânico em SP (1986)

...e então os punks dos Inocentes gravaram um disco pela grandiosa Warner... E daí?!? O que importa nesse momento é que eles conseguiram lançar um bom disco em mini-Lp (formato tão em voga nos anos 80!) Não é pra menos, pois foi produzido por quem entende de música - Branco Mello e Pena Schmidt. A despeito da capa mais horrível que se tem notícia, o som é excelente, e o disco contém as melhores viradas de bateria do punk nacional! Este é o segundo disco da banda, e o mais perto que conseguiram chegar de um bom disco. Os grandes momentos ficam por conta de "Ele disse não" e "Pânico em SP". Faltou só "Desequilíbrio" para se tornar o disco definitivo da banda.

Fellini O Adeus de Felini (1985)

Fellini é aquele tipo de banda que todo mundo já ouviu falar, mas ninguém escutou. Eles sempre foram bem-vindos junto a crítica especializada, mas nunca venderam nada! Eles gravariam ainda três discos até encerrar suas atividades, em 1990, e depois retornarem, alguns anos depois. Esse primeiro disco é o mais criativo de todos, já que o veneno letárgico da banda estava sendo disseminado pela primeira vez. Depois, as coisas foram perdendo a graça, e a banda fez bem em acabar (e porque voltou?) As letras do disco são muito estranhas, e as músicas mais ainda: mistureba seminal entre rock e MPB, em temas rápidos e curtos. Original, realmente, mas pra poucos ouvidos...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Rock nos Anos 80

Talvez não haja período na história do rock que tenha sido tão execrado pela crítica musical quanto os anos 80.

Apedrejamento tão grande só é possível encontrar nos arquivos de revistas e jornais, no tópico referente à corrente denominada "rock progressivo".

Entretanto, um olhar mais acurado para esse período, que nasceu da efervescência punk, mostrará mais que uma década de decadência, anos de fermentação. Como se diz por aí: "a época da muda".

Os anos 80 foram responsáveis pelo surgimento de grupos como: Smiths, R.E.M e U2. Armados de guitarra, baixo e bateria, esses grupos resgataram um pouco do puro rock.

O mínimo que se falou daqueles tempos não tão distantes, foi que o "espírito yuppie padrão" havia varrido o rock’n’roll da face da Terra. Definitivamente, a vitalidade primal do rock, consegue enfrentar (com vantagem) tendências tão díspares como o rap, hip-hop, tecno-pop, acid, industrial noise, e outras baseadas nos avanços tecnológicos e na parafernália high-tech, que envolve a produção musical atualmente.

Além disso, os anos 80 trouxeram à tona uma outra faceta: a explosão visceral do thrash metal como símbolo da violência, que grassa em todo o planeta. O barulho ensurdecedor e a velocidade supersônica, feito metáfora da vida atual, expandiu ao limite do impossível a brutalidade desencadeada por grupos como: Iron Maiden, Motorhead e Venom. Nesse contexto, o aparecimento de bandas como Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax, para ficar apenas no "Big Four", foi o germe do que viria a seguir nos anos 90.

Como se vê, apesar de certo descaso por parte dos críticos, não foi tão ruim assim.

Ana Flávia Miziara e Marcelo Costa

I Terror SP - Festival de Cinema Fantástico

O escritor americano Stephen King é um dos autores de horror mais adaptados para o cinema. Uma dessas transposições sempre aparece entre os cinco maiores clássicos do gênero: "O Iluminado", estrelado por Jack Nicholson. É com a experiência de grande manipulador de emoções que ele afirma: "Quando sentamos nas primeiras filas do cinema para ver um filme de horror, estamos desafiando o pesadelo."



MISTURAS O filme sueco "Deixe ela Entrar" (acima) cruza vampirismo e drama. Produção francesa, "Éden Log" tem um lado de ficção científica
Outro mestre do gênero, Alfred Hitchcock, ia mais longe. Dizia com seu humor britânico: "O que eu faço é filantropia. Dou às pessoas o que elas querem. E elas adoram ser aterrorizadas, pagam para ter prazer com o medo." São duas explicações possíveis para a popularidade de filmes de vampiros, monstros, mortos-vivos, fantasmas, espíritos e ameaças de todas as espécies.

Desde que o cinema começou a se aventurar no reino do medo e do sobrenatural, no início do século passado, tem sido assim. E isso explica por que, de todos os gêneros do cinema, o terror é o que mais tem festivais no mundo. A partir da quinta-feira 25 São Paulo também vai contar com o seu. Nesse dia será aberto o I Terror SP - Festival de Cinema Fantástico, que acontece nas salas do Reserva Cultural.

Com duração de uma semana, o SP Terror começa pequeno, mas ambicioso. Entre as atrações, a grande maioria inédita, estão títulos como o americano "Halloween - o Início", de Rob Zombie, refilmagem do clássico de John Carpenter sobre um psicopata encarcerado por matar familiares no Dia das Bruxas. Ele foge da prisão para ir ao encontro da irmã sobrevivente .

Outra produção aguardada vem do clima gelado da Suécia. Trata-se de "Deixe ela Entrar", de Tomas Alfredson, que acompanha a trajetória de um garoto atormentado pelos colegas de escola. Ele encontra apoio numa menina de comportamento estranho, um tipo recorrente nessas produções. Esse filme está se tornando um fenômeno de causar calafrios: foi premiado em 28 festivais, entre eles o de Sitges, na Espanha, e o de Amsterdã, na Holanda, o terceiro mais antigo do mundo, criado em 1986.


SUSPENSE O longametragem "Humanos" mostra uma expedição perdida nos Alpes
Foi como frequentadora desses eventos que a produtora cultural Betina Goldman, dona da distribuidora One Eyed Films, sediada em Londres, teve a ideia de criar o SP Terror. Representante no Exterior dos filmes de Zé do Caixão, ela conhece bem o apelo de mostras parecidas:

"A maior parte dessa produção estava indo direto para DVD, mas sempre acreditei que existe público para ela. O público é formado por jovens informatizados e urbanos e engloba tribos diferentes como metaleiros, góticos e emos." Como os fãs, o horror também não é homogêneo. O gênero ganhou força com o expressionismo alemão, cujos diretores eram obcecados por monstros - de vampiros como Nosferatu a criaturas como Golem, ser moldado de argila por um rabino.

Depois evoluiu para as vertentes psicológicas ("Psicose"), demoníacas ("O exorcista") ou apocalípticas ("Invasores de Corpos"). Mais recentemente incluiu as metamorfoses corporais de David Cronenberg, ou o mundo do invisível de M. Night Shyamalan. Segundo Betina, o festival tentou englobar esse leque: "Vamos ter até o horror político, representado pelo filme espanhol 'Os Aparecidos', e a comédia de horror com a produção argentina '36 Passos', de Adrian Bogliano". E claro, o terror brasileiro, que tenta a todo custo se livrar da pecha de ser mesmo um horror.

sábado, 20 de junho de 2009

Nevermind: O disco que mudou a música

Nevermind foi o disco certo na hora certa. Todos os álbuns clássicos que moldaram o jovem fã de rock Kurt Cobain, como Never Mind the Bollocks, dos Sex Pistols, Led Zepellin II e Back in Black do AC/DC, tinham por característica trazer um hit atrás do outro. Por isso, Kurt não se imaginava guardando boas músicas para espalhar ao longo de seus futuros discos. Ele sabia que tinha nas mãos hits para os próximos 15 anos e bastava que usasse dois por álbum para manter o sucesso. Mas não foi assim que aprendeu. Despejou tudo de uma só vez e Nevermind se tornou um mito.

Conquistou críticos quarentões que já tinham ouvido de tudo e jovens espinhentos de 14 anos, que viam nas canções uma válvula de escape para a rebeldia que pedia para ser libertada. Smells Like Teen Spirit virou o hino dessa geração. E Nevermind continua ganhando o topo de listas de melhores discos de todos os tempos. Come as you are, Lithium, Drain you, Polly, Something in the Way e todas as outras permanecem atuais, apesar de seus quase 20 anos. O rock se dividiu entre antes e depois de Nevermind.

E uma música, em especial, foi o ponto de partida da revolução. Smells Like Teen Spirit não nasceu por acaso. Kurt tinha a pretensão de escrever o maior hit pop de todos os tempos. Tocou o riff de quatro acordes e o baixista Krist Novoselic o considerou ridículo. Mesmo assim, o líder do Nirvana fez com que a banda tocasse o embrião da música durante uma hora. Para a melodia, seguiu a fórmula que o grupo usou em vários clássicos da breve carreira: o início calmo, os instrumentos numa crescente e o refrão rasgado e explosivo – um clichê batido, mas eficiente.

O último mito do Rock

Um gênio atormentado e um viciado que não consegue suportar a pressão. As faces se encontram diante do espelho e percebem que o rosto é o mesmo. A vida não faz mais sentido. Ele já fez o que devia e já não acredita mais naquilo. É melhor queimar de uma vez do que desaparecer aos poucos. Essa última frase é de Neil Young, que a imortalizou nos versos de Hey, Hey, My, My. Mas foi na carta de suicídio de Kurt Cobain que ela fez mais sentido.

Há 15 anos morria o último mito do rock. O líder do Nirvana, a banda que com um disco mudou a música para sempre, preferiu uma bala na cabeça aos 27 anos do que a ilusão de viver sem mais ter convicção sobre o que estava fazendo. Kurt Donald Cobain nasceu em fevereiro de 1967 no Estado americano de Washington. Foi em Seattle que ganhou a dimensão que nunca buscou, mas teve a partir do momento que mostrou seu trabalho ao mundo. O vocalista, guitarrista e compositor é o responsável por uma das obras-primas da música, o divisor de águas Nevermind, de 1991.

Depois desse disco o underground passou a ganhar atenção e a maneira como o rock era visto mudou. Drogado, impulsivo, avesso a regras, Cobain não foi o que se chama de um bom exemplo. Mesmo assim, deixou um legado tão grande quanto poderia imaginar quando tocou os primeiro acordes de Smells Like Teen Spirit à guitarra. Elevado à condição de ídolo maior, de gênio, salvador, não resistiu muito tempo – ou não quis resistir.

Até hoje ainda há fãs que não acreditam que o que ocorreu naquele 5 de abril de 1994 tenha sido suicídio. As suspeitas recaem sobre a viúva, Courtney Love. Considerada por muitos uma espécie de “Yono Ono do grunge”, a cantora é apontada, entre outras coisas, como a responsável pelo recrudescimento do consumo de drogas ingeridas por Kurt, pelo distanciamento dele com os amigos e, logicamente, também pelo fim da banda.

Anos antes de morrer, Kurt definiu seu início e fim, sua vida e obra, em uma frase: “Punk é liberdade musical. É dizer, fazer e tocar o que você quer. E nirvana significa liberdade do sofrimento, da dor e do mundo exterior”. O jovem músico, que dizia se entupir de heroína para mascarar as dores crônicas de estômago que o faziam cuspir sangue no palco, buscava o nirvana. O Magazine traz um pouco da conturbada existência de Kurt Cobain para explicar o mito. Depois dele, não surgiu outro assim.

Mensagem da Mãe Maria

Amados filhos,

No amor incondicional, a Luz se faz presente para que todos os reinos busquem, através da devoção, a chama maior da misericórdia. Nesses momentos de transformações, onde a ancoragem da energia da chama gêmea traz a luz crística da devoção, que possais preencher vossos corpos em amor incondicional e verdade, certeza de reequilíbrio e paz, harmonia e co-criação para que todos os reinos possam ser o resplandecer energético da verdade e possam assim conceber as forças máximas do reequilíbrio para que a paz planetária seja uma realidade rapidamente em todos vós.

Visualizeis o planeta Terra transpassado em uma grande rosa rubi/dourada para que todos os reinos em consciência possam atingir a chama da devoção e possam se abrir para este momento único, no arauto de uma única manifestação, na força que se ergue diante da maestria, na iluminação das forças dos patamares máximos da bem-aventurança para que todos co-criem uma nova realidade dimensional através da luz da glória excelsa de Deus-Pai-Mãe sobre a Terra.

Visualizeis em vossos corações físicos uma grande rosa rubi/dourada que se expande, se expande, se expande cada vez mais tornando-se maior que vossos corpos tridimensionais para que possais reverenciar vossos poder e a vossa onipotência, a vossa luz e a vossa bem-aventurança, o vosso equilíbrio e a conclamação de vossos ideais para que todos os seres retornem e possam assim continuarem concebendo as forças máximas de iluminação e paz através da consciência unificada.

A chama da alma gêmea está acessa há éons e mais uma vez retorna na energia maior da irradiação que traz a sintonia do poder único do amor incondicional e da liberdade para que todos os seres, na chama da intuição, possam atrair o potencial energético, a força que conclama, a irradiação que complementa a plenitude para que todos manifestem a força da abundância e do poder através da luz crística e da responsabilidade em servir a chama da própria alma.

Todos os seres na Terra vieram para que pudessem continuar sendo concebidos pela Luz maior do Altíssimo. Através da Onipresença da chama de Deus-Pai-Mãe, a força de Alfa e Ômega se manifesta através do dia-a-dia. Hoje a humanidade ouve a voz interna e busca através da lei da intuição o autoperdão, a misericórdia e a devoção, a chama da vida e a força que se faz presente para que todos se ergam através do direcionamento na energia maior do poder através da luz crística universal.

Amados filhos, que possais conclamar todas as forças elementais da natureza, todas as chamas maiores de consciência, todas as forças da vida, para que todos os reinos reorganizem suas vidas e possam buscar - através da consciência unificada - o discernimento, a luz e possam qualificar o momentum onde todos deverão atingir assim a maestria na força da esfera maior do amor incondicional e da liberdade plena.

Visualizeis vossos lares transpassados em uma grande rosa rubi-dourada e que todos os reinos encarnados readministrem o poder e possam ativar a consciência maior através da luz.

Amor e Luz,
Eu Sou Vossa Maria, Vossa Mãe.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Paixão bilionária

Consultoria avalia impacto da Copa de 2014 no PIB brasileiro
Evento também se mostra grande em proporções econômicas, gerando lucros e desenvolvimento interno

SÃO PAULO - "Mais que um evento esportivo, a Copa do Mundo é um evento econômico", esta foi a frase utilizada pelos economistas da Pezco PesquisaConsultoria para abrir seu relatório que revela, em números, as vantagens de sediar um evento de tamanha dimensão.
Não é por acaso que a cada quatro anos vemos uma lista de países se candidatando para serem sede da próxima Copa do Mundo. Mais do que poder ter os melhores jogadores atuando em campos nacionais, o evento proporciona ao país-sede uma oportunidade de realização de lucros associada ao desenvolvimento interno. Sendo assim, em que o Brasil deverá sair ganhando na Copa de 2014?
Segundo os economistas, existem dois vieses para responder a esta questão, ambos são utilizados para se ter uma ideia do PIB (Produto Interno Bruto) que é gerado em um evento de grandes dimensões como a Copa.
Lado bom e ruim do evento
A primeira forma, mais otimista, pode ser calculada através da multiplicação dos valores esperados para o número de visitantes, da permanência de cada um em cada local e do seu gasto médio. Fazendo este cálculo seria possível chegar ao montante que equivale ao impacto econômico direto no País, entretanto, há também que se fazer uma avaliação dos impactos indiretos, usando procedimentos relativamente mais complexos, como a matriz de insumo-produto, ou métodos de equilíbrio geral computável.
Mesmo sendo uma conta que demonstra resultados muito próximos à realidade, os economistas ressaltam que devem ser considerados também os benefícios intangíveis, de mensuração mais complicada. Logo, também há uma outra possibilidade de se chegar aos números, que considera os fatos de forma retrospectiva, permitindo uma avaliação mais realista, portanto, um tanto mais pessimista frente ao viés anterior.
Nesta forma, deve-se avaliar minuciosamente detalhes do fluxo de dinheiro que chega ao País com o evento. Por exemplo, parte dos recursos gastos na Copa é deslocada de outros setores econômicos ou beneficiam outras nações, como no caso de licenças e importações.
Números
Falando em números, os economistas calcularam os valores baseados nos dois cenários, o mais otimista e o mais pessimista, e chegaram a duas cifras pouco diferentes, porém, bastante expressivas.
No primeiro cenário, considerando a multiplicação dos valores e quantidades estimados, obteve-se o montante de R$ 373,69 bilhões para o PIB mensal de julho de 2014. Para o ano, a estimativa chega a R$ 4,605 trilhões.
No segundo, por sua vez, a cifra alcançou os R$ 347,01 bilhões para julho e R$ 4,277 trilhões para 2014, levando-se em conta a análise detalhada dos impactos indiretos na economia brasileira.
A consultoria destaca ainda que o cálculo dos pesos sazonais que embasou a projeção do PIB mensal de julho de 2014 foi realizado no software SAS, pelo pesquisador Mario Antonio Margarido.
Como gastar?
Segundo a Pezco, os resultados tendem a ser menos espetaculares quando calculados de acordo com a segunda forma de análise. Isso indicaria que muitas vezes, o otimismo inicial acaba não sendo traduzido nos resultados esperados. Sendo assim, os benefícios que um evento como a Copa do Mundo podem trazer ao Brasil são inúmeros, mas caberá ao País saber como utilizar corretamente as cifras bilionárias que serão geradas em 2014.
"Por isto, é preciso encarar com realismo os benefícios da Copa, para que estes não sepercam em projetos superestimados. Desta forma, o Brasil poderá ganhar muito coma Copa. Restará torcer, apaixonadamente, para que, além disto, o Brasil tambémganhe a Copa. Em casa.", concluíram os economistas.


InfoMoney
11 junho 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

UMA CRÔNICA EMOCIONANTE DE ELIANE BRUM

Na segunda-feira, 1° de junho, peguei um táxi para me levar à redação da ÉPOCA, em São Paulo. Eu vou cedo, para fazer a última revisão no texto desta coluna, antes de enviar para a equipe de ÉPOCA online botar no ar. Depois, participo da reunião de pauta das 10h, onde são tomadas as primeiras decisões sobre a próxima edição da revista. O taxista estava nervoso. “Você viu o que aconteceu? Um avião desapareceu”. Foi assim que eu soube da tragédia do Air France. O motorista precisava compartilhar seu horror com alguém. Relatou-me todos os detalhes que ouvira pelo rádio até chegar ao prédio da Editora Globo. Meia-hora de trânsito paulistano depois, eu sabia que mais de duas centenas de pessoas haviam sumido em algum momento depois das 23h15 do domingo, 31/5. Para além disso, só havia incerteza.

Logo depois da minha chegada à redação, o diretor de ÉPOCA, Helio Gurovitz, me alcançou. “Você vai para o Rio”. Eu pedi uns minutos para terminar a coluna, levantei e fui. De avião, claro. Na hora, é sempre um misto de excitação e de medo, pelo menos para mim. Excitação porque eu sou, como diz minha família, um “bicho repórter”. Eu sofro se não estou onde as coisas estão acontecendo. E medo porque eu sabia que teria de entrar em contato com uma dor sem nome. Cheguei à sucursal do Rio no início da tarde e comecei a localizar os parentes das vítimas, junto com outros quatro colegas. Como você fala com alguém que acabou de saber que o corpo da pessoa que mais amava possivelmente está em algum lugar do oceano Atlântico?

Tarde da noite, no hotel, meu marido me ligou. “Como você está?”. Eu disse: “Estou bem. Acho que depois de 20 anos de reportagem já consigo lidar melhor com isso”. É incrível como a gente, por mais que se esforce, se conhece menos do que gostaria. Na semana que passou eu estava particularmente muito iludida comigo mesma. Naquela noite dormi mal. Tive pesadelos, depois insônia. Uma rotina que se repetiu pelas noites seguintes. Só agora, uma semana depois, acordo da primeira noite sem sonhos ruins.

Peguei um táxi para me levar à sucursal logo cedo, na terça-feira. O Rio de Janeiro continuava lindo, as pessoas caminhavam ao sol, sem ligar para o vento de junho. Na minha cabeça, ecoava sem parar a frase de Joan Didion, uma brilhante jornalista americana: "A vida se transforma rapidamente, a vida muda num instante, você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente". Joan a escreveu no livro “O Ano do Pensamento Mágico” (Nova Fronteira, 2006), em que elabora, com uma grande reportagem, o luto pela perda repentina de seu marido, vítima de um acidente coronariano fulminante.

Eu tinha um longo caminho até a sucursal. O trânsito do Rio não chega perto do caos de São Paulo, mas ainda assim é difícil. Concentrei-me em pensar no que eu estava sentindo, em entender aquela noite de sonhos ruins, em me entender naquele dia que começava. Por que eu, que tanto me interessava pela tragédia humana, rejeitava tanto aquela cobertura (para além da dificuldade óbvia, claro)? Porque é um vazio, concluí. Ainda que o piloto possa ter errado ou o avião ter algum problema mecânico, não há desejo ali. No assassinato, alguém quis matar, ainda que por um segundo. Na guerra, há intenção. Nas mortes desejadas por alguém há drama humano. Há cobiça, há inveja, há maldade, há até – ou principalmente – paixão. Mas na queda de um avião, se ela não for causada por uma bomba, não. Pelo menos era o que eu acreditava nesse ponto de minhas divagações.

Tragédias como essa comovem tanto as pessoas todas, mesmo as que não tiveram nenhuma perda, mesmo as que nunca voaram, porque esse tipo de fatalidade nos coloca em contato com aquilo que mais tememos: a certeza de que pouco controlamos o nosso destino. É provável que quase todos os passageiros do voo 447 estivessem perfeitamente saudáveis, nem remotamente ameaçados por uma doença. Apesar de toda a empáfia, de conseguirmos até mesmo cortar os céus com asas de metal, a verdade é que toda a certeza de controle não passa de ilusão. Nossa vida muda em um segundo, para o bem e para o mal, sem que pouco ou nada possamos fazer para evitar.

Saiba mais

* »Leia as colunas anteriores de Eliane Brum

Suspeito que a impossibilidade de controlar o que realmente importa, como a nossa vida, é o que mais tememos em nossa época, toda ela supostamente dominada por uma parafernália eletrônica que nos parece tão precisa, tão poderosa, tão segura. Tão nossa. Descubro então, antes de chegar à Cinelândia, no centro do Rio, que esse talvez seja o maior de todos os dramas humanos.

Catástrofes como a do voo 447 confrontam-nos de imediato com nossa verdade mais profunda: não controlamos quase nada do que é essencial, menos ainda a morte. E sobre isso há pouco a dizer. Ninguém desejou a morte de 228 pessoas que carregavam seus sonhos para Paris. Aconteceu. É esse o vazio com que temos de lidar. A culpa não é do outro, como nos assassinatos que mobilizam a opinião pública. Não há um psicopata tão supostamente diferente de nós que podemos acreditar que estamos a salvo de toda loucura. Não há leis nem cadeia para isso. Não há como evitar por completo falhas e erros. Ainda que a causa seja um erro humano ou uma falha mecânica, isso sempre poderá um dia acontecer. Não há como prever ou escapar totalmente das tempestades da vida. E é esse o tipo de calamidade que mais nos evoca a tragédia maior, aquela com a qual já nascemos, que é a certeza da inevitabilidade da morte.

No caso do voo 447 não podemos nos iludir de que não seremos afetados, de que o drama está longe de nós – ou mais perto do outro. Não. Essa é a fatalidade que pertence à verdade essencial da vida de cada homem, de cada mulher. Não há controle. A vida muda rápido, a vida muda num instante, você senta na poltrona de um avião para uma viagem que você planejou nos mínimos detalhes e a vida que você conhecia acaba de repente.

Pensando tudo isso que agora escrevo, comecei a chorar no banco de trás do táxi. Não um choro convulso, mas lágrimas lentas e intermitentes. Eu sofria pela perda de todas as óperas que o maestro Sílvio Barbato não comporia, pelas frases musicais que jamais seriam criadas; pelas descobertas que o cientista Octavio Augusto Ceva Antunes deixaria de fazer numa área tão importante como a dos medicamentos contra o HIV; pelo que Deise Possamai jamais saberia sobre si mesma, porque a viagem que fazia à Itália em busca de suas raízes nunca seria completada; pelos amigos que Adriana Van Sluijs, que nasceu para ser amiga de alguém, não teria. Percebi naquele instante, enquanto olhava para o mar do Rio de Janeiro, o quanto o mundo acabara de ficar mais pobre por todas as vidas que deixaram de existir de repente.

E pelo menos umas duas lágrimas abriram um rastro na camada de protetor solar que cobria meu rosto, por todas as possibilidades perdidas por aqueles que tiveram o curso da vida alterado, ainda que indiretamente, pela queda do avião da Air France. Como o rumo da existência havia mudado de forma abrupta. Até mesmo para mim. Pensei na semana que eu tinha planejado com tantos detalhes. Que consequências teria essa mudança de curso na minha vida, a longo prazo? Que acontecimentos em cadeia foram suspensos e que outra série foi acionada porque eu estaria no Rio e não em São Paulo, fazendo isso e não aquilo? Eu nunca saberia, já que não há como saber o que poderia ter sido. Mal podemos ter a pretensão de saber o que é.

Quando cheguei à sucursal, liguei para o amigo de um dos passageiros do voo 447. Perguntei a ele se achava que uma das filhas gostaria de falar sobre o pai para o perfil que eu estava fazendo. Ele disse: “Não vou perguntar isso a elas, eu tenho de ser sensível. Sei que vocês, jornalistas, não têm sensibilidade nessa hora”. Minha garganta arranhou. Por ela emergiu uma resposta malcriada, mas tive a sensatez de prendê-la ainda no esôfago. “Nós, repórteres”, como as pessoas gostam de dizer, convivemos com as certezas alheias a nosso respeito. As pessoas parecem sempre saber quem somos e o que sentimos: ou seja, somos seres sedentos de sangue, sem nenhuma espécie de limite, prontos a desrespeitar a dor de alguém para dar uma notícia sensacionalista. É verdade que alguns são assim mesmo. Mas também é verdade que a maioria dos jornalistas que conheço não tem nada a ver com esse perfil. Naquele momento, minha colega Martha Mendonça enchia os olhos de lágrimas ao desligar o telefone depois de tentar falar com a mãe de uma vítima. Escreveu um post no blog Mulher 7X7: “Jornalista não pode chorar?”

Contar a história das tragédias faz com que nós, jornalistas, entremos em contato com uma frequência não desejada com aquilo que a maioria tenta esquecer para conseguir tocar a vida. Nos meus primeiros 11 anos de reportagem, trabalhei no jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Lá, eu era conhecida como uma repórter competente para “contar histórias humanas”. Isso fazia com que sempre fosse escolhida para cobrir todo o tipo de drama, de assassinatos a acidentes. Num ano, a RBS, grupo ao qual pertence o jornal, fez uma campanha para reduzir os acidentes de trânsito. Foi determinado então que todos os choques com vítimas fatais virassem notícia no jornal. Todos.

Era eu a primeira a ser escalada. Minha missão era contar quem eram aquelas pessoas cuja vida acabara de se interrompida, quais eram seus sonhos suspensos num átimo, além de todos os detalhes das circunstâncias que as levaram até ali. Lembro que à meia-noite de um domingo eu me vi numa estrada, a 200 quilômetros de Porto Alegre, diante dos corpos carbonizados de quatro crianças no banco traseiro de um carro. Comecei a perceber o óbvio: cada pessoa, rica ou pobre, velha ou jovem, preta ou branca, era movida por um sonho, todas elas estavam indo fazer alguma coisa quando morreram de repente, todas tinham alguma circunstância que poderia ter evitado que estivessem naquele carro, naquele quilômetro, naquele exato instante. E que todos os pequenos detalhes do cotidiano que, em circunstâncias normais sequer são registrados na memória, ganham sentido e relevância na fatalidade. Alguns até mesmo se revestem de premonição.

Logo comecei a detectar todos esses detalhes e fluxos de acontecimentos na minha própria vida. Cada acontecimento trivial tinha potencial de profecia. Se eu perdia um ônibus, eu já imaginava o lide (como é chamado o primeiro parágrafo de uma matéria): “Eliane Brum correu para pegar o ônibus tal, mas as portas se fecharam diante do seu rosto. Ela ainda gritou para o motorista, mas ele seguiu. Um passageiro tentou fazê-lo parar, mas...” É claro que o ônibus seguinte explodiu. Ou, ao contrário, era esse que tinha explodido. As circunstâncias que levaram à morte poderiam ser as mesmas que levaram a escapar da morte. “Eliane Brum correu para pegar o ônibus tal, mas as portas e fecharam diante do seu rosto. Ela ainda gritou para o motorista, mas ele seguiu. Ela xingou mentalmente sua mãe, que havia telefonado na hora em que ela abria a porta de casa para sair. Mas, não fosse o telefonema, ela hoje estaria morta...”.

Ou seja. Sempre pode ser qualquer coisa. E foi isso que começou a me apavorar. Eu cobria um acidente por semana. No mínimo. Fiquei tão aterrorizada com a total falta de controle sobre o destino, o meu e o de todos os outros, que passei a narrar mentalmente reportagens sobre a minha vida. Ou morte. Tudo o que eu fazia – ou deixava de fazer – soava como premonição. No segundo seguinte, a depender de alguma decisão prosaica, eu poderia estar morta ou escapar da morte. Mas como saber? Era um mergulho radical demais na essência da matéria da vida. Porque é exatamente assim: num segundo podemos estar mortos ou escapar da tragédia, e isso é determinado por uma decisão circunstancial, banal. Como mostraram todas as reportagens com aqueles que embarcaram no voo 447 – e com aqueles que “quase” embarcaram.

Mas pensar o tempo todo que podemos estar mortos daqui a um segundo nos impede de viver. Não lembro como lidei com isso para não ficar totalmente paranóica. Revivi essas lembranças agora, ao narrar as histórias dos passageiros do avião. Me surpreendi, no voo de volta, escrevendo mentalmente um lide. Nele, a repórter que cobrira a tragédia do Air France morrera na queda do avião que a levava de volta para casa. Em seguida lembrei que o mesmo imponderável que poderia me levar à morte repentina já havia me levado ao encontro de um grande amor. O mesmo imponderável foi o que determinou a combinação genética que fez de mim o que sou. É feita da mesma matéria a tragédia e o grande encontro, o melhor e o pior, o começo e o fim da vida. Exausta, acabei dormindo.

Tempos atrás vivi a pior turbulência que passei a bordo de um avião, do tipo que a bagagem despenca na nossa cabeça e as pessoas gritam. Rapidamente fiz um balanço da minha trajetória. Pensei: “Eu não quero morrer agora. Mas vivi intensamente a minha vida até aqui”. E eu sentia isso profundamente, nos ossos.

Quando a turbulência passou, mas ainda assim o avião não pôde descer porque os ventos eram muito fortes, e tivemos de voltar porque o combustível poderia ser insuficiente, peguei um pedaço de papel e escrevi para a minha família: “Não se preocupem. Eu vivi intensamente a minha vida. Vivam as suas vidas e sejam felizes, porque eu fui”. Eu queria libertá-los da minha perda trágica, mas também queria me libertar para a morte sem tragédia. Guardei esse pedaço de papel junto com os documentos, na esperança de que fossem encontrados. Mas o avião conseguiu abastecer, os ventos cessaram e eu cheguei em casa pronta para mais vida, outras reportagens, novos medos.

Agora, no instante em que escrevo, cruza pela minha cabeça o pensamento: “E se essa coluna for premonitória?”. Mas logo essa ideia vai embora, levada pelo cheiro absurdamente delicioso do cordeiro que o João prepara na cozinha para o almoço de domingo, receita secreta e imbatível que alegra prosaicamente nossas vidas.

Espero que, se deu tempo para pensar em algo ao perceber a iminência da morte, cada um dos passageiros do voo 447 tenha lembrado de que viveu intensamente a sua vida. E que essa certeza possa tornar não mais fácil, mas menos pesado, o luto de quem os amava.

Só consegui contar suas histórias porque percebi que era disso que se tratava: a memória de uma vida que valeu a pena, seja por pequenos ou grandes feitos, tanto faz. O que escrevemos ao contar a trajetória dos passageiros do voo 447 não foi uma narrativa de morte, mas de vida. É só a vida que pode dar algum conforto na morte, é só a vida que dá sentido à morte. E é só isso que torna possível ser repórter e fazer bem o nosso trabalho diante de uma dor impossível de alcançar por palavras.

Diante da consciência da falta de controle sobre nosso destino, só nos resta viver bem a nossa vida enquanto ela existir. E isso não é pouco.

ELIANE BRUM Direto para o Mensageiro da Realidade
ebrum@edglobo.com.br
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo)

O DIA DOS NAMORADOS

Juliana Politti nos mandou mais um presente para festejar o Dia dos Namorados: Beatles.

Em muitas partes do mundo o dia dos namorados é chamado Dia de São Valentim, em referência a um santo católico excluído pela Igreja em 1969 por conta de controvérsias em torno da sua existência. Transformada em lenda, a história de Valentim conta a saga de um bispo romano que desobedeceu a ordem do imperador Claúdio II. O soberano proibiu a realização de casamentos, acreditando que, desta forma, consegueriria arregimentar um legião de soldados que, sem laços familiares ou afetivos, formariam um poderoso e destemido exército. O bispo Valentim continuou celebrando casamentos em segredo. Uma vez descoberto, foi preso e condenado à morte. Nos seus anos de prisão, recebeu homenagens de jovens que diziam ainda acreditar no amor e se apaixonou pela filha do carcereiro, uma jovem cega. São Valetim foi decapitado em 270 d.C, mas sua história, a despeito da falta de registros confiáveis, resistiu ao tempo e foi uma das primeiras a inspirar a manutenção da concepção do amor romântico no Ocidente. Livros, filmes, peças teatrais e obras de arte de variadas espécies fomentaram o imaginário coletivo em torno dessa idéia. Nem os “garotos de Liverpool” resistiram. “And I Love Her” foi escrita por Paulo McCartney em 1964.

Paulo Moreira Leite, da revista Época direto para o Mensageiro da Realidade

sábado, 6 de junho de 2009

Antropocentrismo literário

"Reportagem social". Assim define o jornalista, Bernardo Kucinski, o conteúdo da revista Realidade. Criada em abril de 1966, em plena ditadura militar, a revista abordava assuntos questões sociais que, até então, eram ignorados por outros veículos e pela própria sociedade. Kucinski acrescenta que era um "jornalismo com ambições estéticas, inspirados no new journalism norte-americano, numa técnica narrativa baseada na vivência direta do jornalista com a realidade que se propunha a retratar".

Mas outra marca relacionada à revista era o "jornalismo texto". Terezinha Fernandes menciona em sua tese que com a criação da revista, o "repórter podia finalmente criar modos de representação verbal diferentes dos modelos importados". Ela ressalta também que o trabalho do jornalista era participar da vida do personagem, de maneira que o próprio repórter se transformava num personagem. Isso explicava a riqueza dos detalhes na narrativa. Em outras palavras, o trabalho da Realidade era transformar em texto acontecimentos sociais.

O que pode parecer uma conclusão óbvia, não é, se analisada a época em que a revista foi lançada. O preconceito e o moralismo eram muito fortes. Os militares censuravam tudo e todos. As pessoas não podiam deixar transparecer um pensamento que, suspeitava-se, ser esquerdista ou qualquer coisa que pudesse perturbar a "ordem e os bons costumes" da sociedade no contexto em que o Brasil vivia.

Roberto Civita, editor da revista - o primeiro foi seu pai Victor Civita - tinha um lema: priorizar o lado positivo do Brasil. Victor Civita, no editorial do primeiro exemplar, disse que queria comunicar a "fé inabalável no Brasil e seu povo". Isso nem sempre era possível, mas sempre procuravam fazer. Roberto era um editor autoritário. O repórter José Hamilton Ribeiro, um dos pioneiros da revista, relembra o apelido dado ao editor: 51%, porque no final era sempre sua opinião que predominava. Salvo esse autoritarismo, que na maioria relevavam, os repórteres tinham autonomia em suas reportagens.

Humanizando a reportagem

"O homem era o centro dos fatos" em Realidade. É possível observar isso em praticamente todas as reportagens. Ao descrever uma floresta, uma cidade, o espaço, enfim, isso somente ganhava vida quando os pés descalços do seu Sebastião, ou aquela pobre e desmazelada criança entrava em cena. A paisagem, por mais bela e detalhada que fosse pelo jornalista, na maioria, era apenas o palco, o cenário para o personagem principal: a realidade.

Victor Civita, no primeiro editorial, informou aos leitores qual seria o objetivo e a linha editorial do veiculo: "O Brasil vai crescendo em todas as direções. Voltado para o trabalho e confiante no futuro, prepara-se para olhar de frente os seus muitos problemas a fim de analisá-los e procurar solucioná-los." Victor continuou delimitando que a revista fora criada para "homens e mulheres inteligentes que desejam saber mais a respeito de tudo".

Paulo Patarra era o redator-chefe, apoiado por Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Luiz Fernando Mercadante, Woile Guimarães, Alessandro Porto e os fotógrafos Roger Bester e Walter Firmo. Os repórteres José Hamilton Ribeiro, Carlos Azevedo, Eurico Andrade, Audálio Dantas, Múcio Borges da Fonseca, Roberto Freire, Roberto Pereira, entre outros, reforçavam o time. As edições ainda contava com personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Nélson Rodrigues, Adoniran Barbosa, Carlos Lacerda, Paulo Francis e Plínio Marcos. Até Frank Sinatra cedeu uma contribuição a revista fotografando uma luta ímpar de Muhammad Ali, acompanhado do repórter, ator e político Norman Mailer.

Falando em fotografias, esse era um ponto forte de Realidade. Fotos grandes, algumas ocupavam duas páginas, reforçavam ainda mais o assunto. Muitas vezes elas chocavam. Como no caso de uma reportagem sobre a mulher brasileira, em que um parto foi fotografado - de um "angulo ginecológico". Essa edição foi apreendida dois dias depois de ir às bancas a pedido de dois juizes de Menores. Outro fator que impediu a circulação foi o conteúdo da reportagem. Nela, muitas mulheres quebraram tabus e falaram sobre infidelidade, sexo, virgindade, casamento e aborto. Os juizes julgaram o "conteúdo indigesto". Foi uma das edições mais polêmicas da revista. O caso se arrastou por 20 meses, até que a edição foi liberada.

Uma inovação da medicina foi mostrada na matéria de abril de 1966, intitulada "Os dias da criação". O fotógrafo sueco, num trabalho que demorou sete anos, fotografou um feto de quatro meses e meio dentro do útero. Uma imagem realmente fascinante para a época.

Comparando com as revistas atuais, e guardada as devidas proporções históricas, nenhuma chocou tanto quanto Realidade. Se levada em consideração à época, o choque é maior ainda. Mas esse era o objetivo da revista, mostrar a realidade, nua e crua. Algumas vezes ela vinha nua, como numa reportagem sobre seios da edição de junho de 1972, "Normalmente há sempre 1 de cada lado", em que mostrava muitos seios. Aquilo para a sociedade era um escândalo. Outra vezes era crua. A reportagem sobre a Amazônia mostrava imagens de uma onça totalmente sem a pele e ensangüentada, em carne viva.

Exercendo a função de reportagem social, muitos assuntos como fome, miséria, guerras, religião e política sempre eram pautados. A edição de outubro de 1969 trouxe um ensaio fotográfico mostrando o sofrimento da população, maior vítima da guerra na África.

Mas nenhuma experiência foi tão vivenciada pelo jornalista como na edição de maio de 1968, "Estive na Guerra". O repórter José Hamilton Ribeiro participou da cobertura da guerra do Vietnã, e acabou fatalmente pisando numa mina terrestre perdendo parte da perna esquerda. O repórter descreve todo o sofrimento e recuperação. A matéria mostrava uma foto do jornalista ferido.

Reconhecimento

Em seus 10 anos de existência, oito prêmios Esso foram conquistados: "Brasileiros go home" (1966), "Os meninos do Recife" (1967), "A vida por um rim" (1967), "Eles estão com fome" (1968), "Do que morre o Brasil" (1968), "Marcinha tem salvação: amor" (1969), "Amazônia" (1972) e "Seu corpo pode ser um bom presente" (1973). E ainda ganharam o Prêmio Sudene, pelo especial sobre o Nordeste. Entre esses, três foram conquistadas por José Hamilton Ribeiro.

O repórter José Hamilton Ribeiro lembra outro reconhecimento atribuído ao periódico. "Em Portugal, a revista tinha sido adotada em classe 'como livro de texto de português'." Estava sendo criada uma "geração Realidade".

Falecimento

Em 1968, veio então o temido AI-5 e, junto com ele, a sentença de morte da revista. Como a Realidade "era então uma forte 'instituição política'" sofreu forte censura. Os assuntos polêmicos que costumavam abordar em cada edição foram proibidos. Nessa época, a tiragem da revista chegava aos 500 mil exemplares. Roberto Civita tinha como objetivo chegar a um milhão de exemplares. Se não fosse o AI-5, provavelmente teria alcançado.

Com a decadência e a censura controlando as pautas e os textos, os jornalistas foram se demitindo, até que toda a equipe se desmanchou. Aproximava-se o fim.

Uma última tentativa foi feita para reerguer a revista. Conseguiram reunir alguns integrantes da antiga equipe. Na nova fase, era dirigida por Luís Fernando Mercadante, Luís Carta e José Hamilton Ribeiro. Entretanto, ela não tinha o mesmo brilho. Era apenas "uma revista a mais. Não era mais importante. E não era útil, nem necessária. Por que, então, haveria o leitor de procurá-la?", indaga Woile Guimarães.

Woile Guimarães, um dos editores da "segunda fase" da revista, comenta que os leitores pararam de comprar porque "a revista os traiu, porque eles já não encontravam nela as leituras de antes".

Ribeiro achava que a "editora devia ter fechado Realidade que, apesar de tudo, ainda tinha imagem e uma sensação de carisma. E fechado dignamente, explicando exatamente porque o fazia, que engrandeceria a Editora". Fazendo isso, "Realidade morreria com dignidade".

O exemplar de janeiro de 1976, "1976, Excepcional", teve uma tiragem de apenas 120 mil exemplares. Dois meses depois, a revista seria fechada. Como explicação, a Abril disse que faria o lançamento de outra revista. Mas esse lançamento nada teria em comum com, a partir daquele momento, extinta Realidade. Era o fim de uma revista que marcaria um período da história. Um período de uma dura realidade.

Por Vanessa Candia

Leituras da Revista Realidade

Impressões de um periódico pioneiro
A contribuição e participação do leitor na revista Realidade

Criada em abril de 1966, a revista Realidade marcou época no jornalismo brasileiro. Inspirada no conceito norte-americano de new journalism e com reportagens ousadas em sua forma e conteúdo, obteve sucesso imediato, mesmo em um país sem grande tradição de leitura como o Brasil. Enfrentou tabus, cobriu guerras e abordou questões sociais até então pouco discutidas por outros veículos de mídia e pela própria sociedade. Ao mesmo tempo impulsionada e influenciada pelas manifestações políticas e de contracultura do fim da década de 60, a revista também sofreu com a repressão da ditadura militar que na época se consolidava no Brasil.

Em Leituras da revista Realidade, Letícia Nunes de Moraes se debruça sobre o relacionamento da publicação com os leitores, a forma como estes reagiam às matérias veiculadas - em sua maioria de grande impacto, e não raro, escandalizando certos setores da sociedade. A participação do leitor é evidenciada pelas mais de 700 cartas analisadas pela autora, todas elas datadas da primeira (e mais importante) fase da revista, que vai de seu surgimento em abril de 1966 até a instituição do AI-5 pela ditadura militar em dezembro de 1968.

Haveria espaço hoje para periódicos nos moldes da Realidade? Quais são os rumos do jornalismo hoje tal como ele se encontra? Estas e outras são apenas algumas das diversas reflexões que a obra desperta no leitor, além de ajudar entender como e o quê tinha essa revista para que edições com tiragens de 200 mil exemplares se esgotassem em apenas três dias.

Sobre a autora: Letícia Nunes de Moraes é formada em Jornalismo pela PUC-SP e em História pela USP.