sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A aposentadoria do Hubble



Após duas décadas de operação, o telescópio que mais enriqueceu a história da astronomia será desligado pela Nasa




REPAROS CONSTANTES Em 1999, o astronauta Steven Smith instalou novos equipamentos no Hubble

Uma das maiores vedetes da astronomia sairá do ar. Com missão mais que cumprida no espaço, ela vai ser aposentada. Essa vedete, a rigor, começou mal a sua trajetória, mas agora a encerra com brilhantismo - e é o orgulho de pesquisadores e astrônomos de todo o mundo. Trata-se de um telescópio, o mais potente que a ciência já construiu e que frequentou, pelo menos uma vez por mês e ao longo de 19 anos, o noticiário de publicações leigas ou especializadas de diversos países.

O seu nome? Todos nós estamos familiarizados com ele: Hubble. E essa é a sua história. Em 1990, quando foi lançado dos EUA, sobrou constrangimento na base da Agência Espacial Americana (Nasa): assim que rompeu a barreira da atmosfera, problemas nas dimensões do espelho distorciam e embaçavam as imagens que nos transmitia. Montou-se então uma operação de emergência para repará-lo no próprio espaço e uma equipe de astronautas- mecânicos viajou até o ponto sideral em que ele estava. Tudo deu certo. E esse pode ser considerado, de fato, o início da jornada desse gigante de 12 toneladas.

O Hubble começou então a produzir registros históricos que hoje somam 800 mil observações e meio milhão de imagens de mais de 25 mil objetos com os quais se deparou no cosmos. O telescópio realizou cerca de 100 mil viagens em torno da Terra e percorreu aproximadamente 3,8 milhões de quilômetros - distância equivalente à viagem de ida e volta a Saturno. Orbitando a 650 quilômetros de distância de nosso planeta, se tornou, por exemplo, a "janela tecnológica" mais poderosa para que pudéssemos entender, por meio de imagens enviadas à Nasa, como se dá o nascimento de estrelas.

Um de seus maiores feitos, no entanto, é o de ter mostrado misteriosos buracos negros e provado, a partir de registros que exibem o "apagamento" de estrelas bem maiores que o Sol, que o universo está se expandindo cada vez mais rápido e isso pode causar a sua destruição. Os olhos do Hubble também registraram, em tempo real, o efeito devastador de um cometa se chocando contra Júpiter. É natural, portanto, que agora esses olhos estejam cansados. O Hubble está a demandar uma infinidade de reparos e esse investimento não compensa para a Nasa. Assim se decidiu pela sua aposentadoria.

Fossem outros tempos, que não este de profunda crise econômica mundial a que a Nasa não está imune, e talvez se prolongasse a missão do Hubble - que já consumiu US$ 8 bilhões. Ocorre, no entanto, que já em 2010 ela desativará os ônibus espaciais Discovery, Endeavour e Atlantis, justamente os que mais socorreram o Hubble transportando astronautas para repararem os inevitáveis defeitos que surgiram com o trabalho diuturno ao longo de duas décadas - e sem essa manutenção periódica os giroscópios e baterias do telescópio não resistirão. "Enfrentamos tremendas dificuldades", diz Preston Burch, diretor de projeto do telescópio espacial. Segundo ele, o Hubble receberá sua derradeira revisão nos próximos meses, com a substituição de componentes que têm vida útil determinada. "Também trocaremos alguns instrumentos científicos por outros mais modernos", diz Burch.

O esforço da Nasa é para que o Hubble tenha uma saída de cena paulatina - e triunfal - até 2013, quan do um foguete será lançado em sua direção: uma espécie de guincho cósmico que o trará para a Terra, mais especificamente para o mar. "Uma grande parte dele irá se desintegrar no momento em que entrar na atmosfera", diz Burch. "O que sobrar cairá em um oceano que ainda escolheremos. Ainda que seja somente um pedaço, será bom tê-lo conosco. Estamos com saudade do Hubble."

ÁLBUM DO HUBBLE

Em quase duas décadas, o Hubble acumula 800 mil observações e nos enviou 500 mil imagens de mais de 25 mil objetos com os quais se deparou no cosmos. Por meio dele foi possível ultrapassar barreiras e conhecer planetas, estrelas e galáxias.

Luciana Sgarbi de Istoé para o Mensageiro da Realidade

Alfred Hitchcock completaria 110 anos em 2009

Você pode ir ao cinema rir, chorar ou até mesmo para se assustar. Neste último caso, não há como negar: o mestre atende pelo nome de Alfred Hitchcock. Se hoje os filmes recheados de mistério e enigmas fazem sucesso nas bilheterias, tenha certeza que a influência do cineasta neste fato é indiscutível.
Em 13 de agosto 1899, há exatos 110 anos, nascia um dos maiores ícones que o cinema já conheceu. Sir Alfred Joseph Hitchcock, ou simplesmente o "Mestre do Suspense", como o próprio se autodenominava. O apelido não era só um slogan para atrair atenção, mas também fez jus ao estilo de cinema criado por esse genial diretor, de personalidade forte, domínio de técnicas e, claro, muita criatividade.
Muitos podem indagar ao ouvir seu nome, Hitchcock não ficou marcado na história pela pessoa que era, e sim por clássicos que deixou entre os seus quase 70 filmes produzidos ao longo da carreira.
Mesmo para quem não é fã das escuras salas de cinema, com certeza já viu esta cena memorável: uma mulher tomando banho, uma mão segurando a faca, suspense, a mão misteriosa abre as cortinas do chuveiro, a mulher grita, o sangue escorre pelo ralo. Tudo isso ao som de um dos temas que mais marcaram na história do cinema.
A cena, interpretada por Janet Leigh, é o marco de "Psicose", filme de 1960, que consagrou seu idealizador como um mestre do gênero. Até hoje essa sequência é lembrada e recriada, em forma de paródia ou como uma singela homenagem, pelo cinema contemporâneo. O estilo "claustrofóbico" criado por Hitchcock mantém sua influência e, sem muito procurar, é possível descobrir uma série de vestígios da sua arte no que temos de mais atual na produção cinematográfica.
A imagem do homem encorpado, sempre bem vestido e que, por vezes trazia um corvo posado em seu ombro, virou lenda ao longo dos anos. Era o retrato de um gênio que adorava tirar o fôlego de seu público.
Sem os litros de sangue que os filmes de horror normalmente apresentam em sua composição, o "Mestre do Suspense" trazia uma trama que prendia o espectador dentro de um clima incômodo e tenso, com os cenários sombrios e a música forte, que só mesmo o cineasta conseguia reproduzir. O segredo era deixar o público avisado de todos os perigos que o personagem iria passar. Aos poucos, a platéia acompanhava, ansiosamente, o desdobramento da história.
Os roteiros assinados por Hitchcock, aliás, eram por si só nada convencionais. Uma pacata cidade atacada por pássaros violentos em "Os Pássaros", de 1963; uma secretária se esconde em um hotel onde ocorre uma série de mistérios em "Psicose", de 1960; um policial que sofre de acrofobia é encarregado de vigiar uma jovem com tendências suicidas em "Um Corpo que Cai", de 1958; fatos estranhos acontecem em frente da janela de um fotógrafo engessado em "Janela Indiscreta", de 1954; marido planeja a morte de sua mulher para herdar fortuna e vingar-se de uma antiga traição em "Disque M para Matar", de 1954.
Isso só para citar alguns exemplos do vasto universo do cineasta. Outra característica bem "hitckcockiana" em suas produções foram as famosas "pontinhas" do diretor em suas obras, o que, mais tarde, se tornou um verdadeiro passatempo para seus fãs, que analisavam meticulosamente cada cena de seus filmes, a procura das participações do ídolo.
Vitimado por insuficiência renal, Hitchcock faleceu em 29 de Abril de 1980. Os frutos deixados por seu trabalho permanecem ativos nas mãos de grandes diretores contemporâneos, que não se cansam de homenagear o mestre.
A linguagem inconfundível de Hitchcock, hoje, pode ser vista presentes em produções de diretores como George Romero, Quentin Tarantino e M. Night Shyamalan. Cineastas que normalmente abordam histórias com muito mistério em sua fórmula.
Shyamalan, por exemplo, faz uso constante da técnica de prender o espectador dentro de um suspense, que aos poucos vai se revelando, enquanto a trama se desenvolve, como fez em "O Sexto Sentido".
Uma forma mais refinada de fazer cinema também pode ser encontrada, ainda que de forma menos direta, nos trabalhos de Francis Ford Coppola, Mel Brooks e Brian De Palma, só para citar alguns entre tantos outros profissionais.
Para se ter idéia de sua importância, é possível encontrar vestígios de Hitchcock até em histórias em quadrinhos. A Turma da Mônica, aqui do Brasil, também foi "vítima" da influência do "Mestre do Suspense". O personagem Bidu, um simpático cachorro da publicação, chegou a interpretar alguns personagens famosos dos filmes de Hitchcock em tirinhas de Mauricio de Souza.
Confira abaixo mais curiosidades:
O primeiro emprego
Sua paixão pelo cinema começou cedo, aos 21 anos. Nascido em Leytonstone, Londres, Hitchcock teve seus primeiros contatos com o universo da sétima arte quando fazia os cartazes das falas em filmes mudos daquela época. Isso ocorreu no seu primeiro emprego na área, já na Paramount Pictures, grande estúdio de Hollywood.
O primeiro filme
Em 1925, após os donos dos estúdios perceberem que da cabeça do aspirante poderia sair coisa boa, conseguiu produzir seu primeiro filme, "The Plesure Garden". Mas foi no ano seguinte que obteve merecido destaque com "The Lodger". Neste longa, baseado nas histórias de morte do famoso Jack, O Estripador, o cineasta deu início ao que de melhor sabia fazer nas telas: suspense, gênero que o consagrou.
Oscar
Já nos Estados Unidos, produziu "Rebecca - A Mulher inesquecível", que de cara recebeu o Oscar de melhor filme naquele ano. Apesar de tanto reconhecimento, é curioso que Hitchcock jamais tenha recebido a estátueta por melhor diretor ou produtor, categoria na qual foi indicado por seis vezes. Apenas foi agraciado, em 1968, com um prêmio honorário da Academia pelo seu conjunto de obra.

Por Karen Lemos