quinta-feira, 9 de julho de 2009

Recital marca 7 anos sem Patativa


Aniversário de morte foi lembrado, ontem, na margem do Açude Canoas com recitais de poesias e peças teatrais

“Conheço que estou no fim/e sei que a terra me come/mas fica vivo o meu nome/para os que gostam de mim”. O verso da Patativa do Assaré, antevendo a própria morte, confirma a admiração e a saudade dos amigos e parentes. “Sete anos depois de sua morte, o mito parece maior do que a realidade”, afirmou o professor e advogado Fábio Sales de Luna, ressaltando os valores morais e éticos de Patativa, um homem pobre que, lembrou, foi além das fronteiras do Brasil.

O aniversário de morte do poeta, que faleceu no dia 8 de julho de 2002, foi lembrado, ontem, na margem do Açude Canoas, conseguido por ele para matar a sede dos seus conterrâneos e irrigar o Vale do Cariús, uma das fontes de sua inspiração poética.

Foi um encontro de confraternização, com direito a recitais de poesias e peças teatrais, tendo como enredo os seus poemas, que reuniu filhos, netos, sobrinhos e amigos de Patativa. O violeiro Miceno Pereira, um dos últimos repentistas que cantaram com Patativa, lembrou os desafios, que vararam as madrugadas, na casa do poeta maior, enquanto o sobrinho de Patativa, Geraldo Alencar, apontado como um dos melhores poetas populares da região, mostrou que a escola “patativana” ainda funciona na região, espalhando romantismo e denunciando injustiças.

O encontro foi promovido pela Universidade Patativa do Assaré (UPA), uma Organização Não-Governamental que, segundo o seu diretor Francisco Palácio Leite, tem como objetivo dar continuidade ao trabalho educativo de Patativa, que fez de seus poemas um instrumento de educação dos sertanejos. “A poesia foi a arma que ele utilizou para denunciar as injustiças e mitigar as dores dos seus irmãos nordestinos”, disse o diretor da UPA.

Na oportunidade, a UPA entregou à família de Patativa 500 calendários, contando em versos, a vida do poeta, que serão distribuídos com os amigos. Os poemas transcritos evidenciam o amor telúrico do poeta por Assaré, sua terra natal e, principalmente, pela serra de Santana, onde nasceu.

Em meio a emoções, alegrias e tristezas, as lembranças de uma vida marcada pelo sofrimento. O filho mais novo de Patativa , Pedro Gonçalves , recorda com saudade, as viagens que ele fazia com o pai na garupa do cavalo “mimoso”, da serra de Santana para o sitio Araçá, onde Patativa pegava um “misto” (caminhão com três cabines) que transportava passageiros e mercadorias.

Pedro lembra do outro cavalo de Patativa de nome “canivete”. “O pobre do animal era tão magro que parecia um canivete”, diz Pedro Gonçalves , acrescentando, por outro lado, que apesar da pobreza, Patativa que, na época, era chamado de “Senhorzinho” nunca reclamou das amarguras da vida.

Pedro Gonçalves recorda que a base alimentar da família era feijão e milho. Arroz era difícil. Carne, só nas quatro festas do ano, quando ele abatia um porco criado no chiqueiro. “Hoje, Patativa está recebendo as homenagens que merece”, diz a estudante de Comunicação Social da Universidade de Fortaleza Marília Pedrosa.

Do jornal Diário do Nordeste direto para o Mensageiro da Realidade.