quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Anjo Pornográfico desaparecido há 30 anos


Nelson Rodrigues nasceu da cidade do Recife - PE, em 23 de agosto de 1912, quinto filho dos catorze que o casal Maria Esther Falcão e o jornalista Mário Rodrigues puseram no mundo. Os nascidos no Recife, além do biografado, foram Milton, Roberto, Mário Filho, Stella e Joffre. No Rio de Janeiro nasceram os outros oito: Maria Clara, Augustinho, Irene, Paulo, Helena, Dorinha, Elsinha e Dulcinha.

Seu pai, deputado e jornalista do Jornal do Recife, por problemas políticos resolve se mudar para o Rio de Janeiro, onde vem trabalhar como redator parlamentar do jornal Correio da Manhã. Em julho de 1916, d. Maria Esther e filhos chegam ao Rio de Janeiro num vapor do Lloyd.
Haviam vendido tudo no Recife para cobrir as despesas de viagem, e tiveram que ficar hospedados na casa de Olegário Mariano por algum tempo. Em agosto de 1916 alugaram uma casa na Aldeia Campista, bairro da Zona Norte da cidade, na rua Alegre, 135, onde a família Rodrigues teve seu primeiro teto na cidade.

Nelson ia sendo criado dentro do clima da época: as vizinhas gordas na janela, fiscalizando os outros moradores, solteironas ressentidas, viúvas tristes, com as pernas amarradas com gazes por causa das varizes. Naquela época os nascimentos eram assistidos por parteiras de confiança e eram feitos em casa. Os velórios também eram feitos em casa, usava-se escarradeira e o banho era de bacia. Nelson registrava em sua memória esse cenário. Daí sairiam os personagens de sua obra literária.

Com o autor vivendo seu quarto ano de vida, um fato pitoresco: uma vizinha, d. Caridade, invade a sua casa e diz para sua mãe: "Todos os seus filhos podem freqüentar a minha casa, dona Esther. Menos o Nelson." Como ninguém entendesse a razão de tal proibição, ela afirmou: vira Nelson aos beijos com sua filha Odélia, de três anos, com ele sobre ela, numa atitude assim, assim. Tarado!
Aos sete anos, em 1919, pediu a sua mãe para ir à escola. Foi matriculado na escola pública Prudente de Morais, a dois quarteirões de sua casa. Aprendeu a ler rapidamente e era por isso elogiado por sua professora, d. Amália Cristófaro. Infelizmente não era muito asseado e vivia sendo repreendido por ela. O que, no entanto, causava espécie, era sua cabeça — desproporcional em relação ao tronco — e suas pernas cabeludas.


Em 1920 ocorreu um fato que, depois, se transformou num dos favoritos do escritor: o do concurso de redação na classe. D. Amália passou a lição: cada aluno deveria escrever sobre um tema livre. A melhor redação seria lida em voz alta na classe. Finda a aula, as composições foram entregues. A professora quase foi ao chão com o trabalho de Nelson: era uma história de adultério. O marido chega em casa, entra no quarto, vê a mulher nua na cama e o vulto de um homem pulando pela janela e sumindo na madrugada. O marido pega uma faca e liquida a mulher. Depois ajoelha-se e pede perdão. A redação, apesar do espanto que causou em todo o corpo docente, não tinha como não ser premiada, muito embora não pudesse ser lida na classe. A professora inventou um empate e leu a outra composição.

Nesse período, Nelson presenciou grandes discussões entre seus pais, causadas por ciúmes que seu genitor tinha de sua mãe. Influenciado por seus irmão mais velhos, passou a ter a leitura como passatempo, saindo rapidamente do Tico Tico para romances mais "pesados" como Rocambole, de Ponson du Terrail, Epopéia do Amor, Os Amantes de Veneza e Os Amores de Nanico, de Michel Zevaco, O Conde de Monte Cristo e as Memórias de um Médico, de Alexandre Dumas, os fascículos de Elzira, a Morta-Virgem, de Hugo de América, e outros mais. Mudavam os autores, mas no fundo era uma coisa só: a morte punindo o sexo ou o sexo punindo a morte.
Foi em 1919 que o autor descobriu o Fluminense. Foi o primeiro ano do tricampeonato do tricolor, muito embora nem ele nem seu irmão Mário Filho, posteriormente famoso como jornalista esportivo e que teve seu nome escolhido para ser o nome oficial do estádio do Maracanã, tivessem dinheiro para sair da rua Alegria e se deslocarem até Laranjeiras para ver o seu time jogar.

Consolidado seu prestígio junto a Edmundo Bittencourt, do Correio da Manhã, Mário Rodrigues junta sua família e muda-se para a Tijuca, fato que, na época, era mostra de nítida melhora de padrão de vida. Estávamos em 1922.
O autor seguia sua vida, sentindo a ausência do pai, sempre envolvido com a política e o jornalismo. No ano de 1926 foi expulso do Colégio Batista, na Tijuca, na segunda série do ginásio, por rebeldia. Nelson vivia contestando seus professores, em especial dos de Português e História. Foi, então, matriculado no Curso Normal de Preparatórios, na rua do Ouvidor, pois seu pai esperava que ele futuramente prestasse exames no famoso Colégio Pedro II.


Para compensar a falta de contato com os filhos, Mário Rodrigues permitia sua ida ao Correio da Manhã para visitá-lo. Dizem que jamais sonhou em ter seus filhos jornalistas: as meninas seriam médicas, os meninos advogados. Afinal, a vida que levava não era nada fácil: nomeado diretor do jornal, meteu-se numa batalha entre Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, o que lhe custou um ano de cadeia, em 1924. O motivo: denunciou que usineiros pernambucanos (eles já existiam!) haviam dado um colar no valor de 120 contos de réis à esposa do então presidente Epitácio Pessoa, d. Mary. Negando-se a fugir do país, ficou preso no Quartel dos Barbonos, na rua Evaristo da Veiga, no Rio de Janeiro. A partir da data de sua prisão o jornal que dirigia — Correio da Manhã — foi silenciado pelo governo por oito meses.

Antes de seu pai ser preso, Nelson e família haviam mudado para uma casa na rua Inhangá e eram vizinhos do hotel Copacabana Palace. Ali, aos doze anos, o autor aprendeu a nadar. Mas, aos poucos, à medida em que entrava na adolescência, foi sendo possuído por uma indolência melancólica, ficando depressivo, suspirando pelos cantos e dizendo: "Eu sou um triste!".
Durante o tempo em que esteve preso, Edmundo Bittencourt cortou o salário de Mário Rodrigues, dando à mãe de Nelson apenas o suficiente para pagar o aluguel da casa. Mário foi ajudado financeiramente, nessa época, por Geraldo Rocha (proprietário do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã), sem o que sua esposa e a penca de filhos por certo teriam passado fome. Ao ser libertado, volta ao jornal e é surpreendido com a notícia de que não haveria mais um diretor permanente, cargo esse que detinha. Seria feito um rodízio de diretores. Mas pior do que isso foi o fato de tomar conhecimento de que Edmundo estava tentando se aproximar de seu desafeto Epitácio Pessoa. Mário, em carta desaforada, pediu demissão a Edmundo, dizendo que em breve voltaria para esmagá-lo. Daí surgiu seu próprio jornal, A Manhã.

Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação.

Ali reuniam-se colaboradores ilustres: Antônio Torres, Monteiro Lobato, Medeiros e Albuquerque, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Maurício de Lacerda e José do Patrocínio. Além desses, havia a turma da casa: Danton Jobim, Orestes Barbosa, Renato Viana, Joracy Camargo, Odilon Azevedo e Henrique Pongetti. Outra figura de A Manhã era Apparício Torelly — Apporely — que mais tarde se autodenominaria "Barão de Itararé" e fundaria seu próprio jornal, A Manha.

O autor impressiona os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou-se em descrever pactos de morte entre jovens namorados, tão constantes naquela época.

Na zona preta do Mangue, na rua Pinto de Azevedo, estavam concentradas as prostitutas mais pobre e esculhambadas, negras na maioria, a dois mil réis por alguns minutos. Mas o autor preferiu as da rua Benedito Hipólito, mais asseadas e que ficavam em ambientes melhores, embora o preço subisse para cinco mil réis. Ali, aos catorze anos, Nelson foi pela primeira vez com uma mulher para dentro de um quarto. Ficou freguês.

O indomável escritor cria um tablóide de quatro páginas intitulado Alma Infantil,nascido da troca de cartas com seu primo Augusto Rodrigues Filho, que não conhecia pessoalmente e que morava no Recife. Ele queria ser como seu pai, um espadachim verbal. Depois de cinco números e muitos ataques a políticos pernambucanos e a cariocas, Nelson desiste do tablóide.


A irmã Dorinha morre em setembro de 1927, aos nove meses, de gastrenterite. Em 1928 a família se transfere para uma nova e luxuosa casa na rua Joaquim Nabuco, 62, em Copacabana. Viviam um momento de muito dinheiro e muita fartura.

Nessa época, o autor e seus irmãos mais velhos trabalhavam no jornal A Manhã: Milton era o secretário, Roberto ilustrava algumas reportagens, Mário Filho começou como gerente, indo depois para a página literária e depois a de esportes. Nelson havia abandonado desde 1927 a terceira série do ginásio no Curso Normal de Preparatórios. Nunca mais voltou à escola, apesar do esforço desenvolvido por seu pai.

Tendo garantido uma coluna assinada na página três do jornal — a página principal — o escritor publica seu primeiro artigo, em 07 de fevereiro de 1928. Tinha o título de "A tragédia de pedra...", com as solenes reticências. Depois vieram "Gritos Bárbaros", "O elogio do silêncio", "A felicidade", e "Palavras ao mar", todos de grande sensibilidade poética. Seu lado monstro só apareceu na crônica de 16 de março, "O rato..." (com as famosas reticências), em que ele conta como viu um rato morto, achatado por um carro, defronte à Biblioteca Nacional. Para desespero de seu pai, começa a "bater" em Ruy Barbosa. No segundo artigo em que esculhambava o "Águia de Haia", antevendo o que aconteceria, Nelson achou que se safaria de seu pai se saísse bem cedo de casa, antes que o "velho" lesse o jornal. Enganou-se. O castigo foi mais duro do que ele imaginava: foi rebaixado, saindo da página três e retornando à seção de polícia, onde trabalhou nos cinco meses seguintes.

Mal teve tempo de voltar à terceira página e o pior acontece. O jornal, mal administrado, está cheio de dívidas. O sócio de seu pai, Antônio Faustino Porto, que há tempos vinha arcando com os pagamentos urgentes, torna-se sócio majoritário e oferece o emprego de diretor a Mário. Este aceita, mas fica só um dia. A intervenção do novo dono em seus artigos faz com que ele e a família deixem o jornal.

Amigo de Melo Viana, vice-presidente da República, no dia em completava 43 anos, 21 de novembro de 1928, e apenas 49 dias depois de perder A Manhã, Mário Rodrigues lançou seu novo jornal de grande sucesso: Crítica, que chegou a ter uma circulação de 130.000 exemplares.
O tenente-coronel Carlos Reis manda a polícia prender todos os Rodrigues que encontrasse, sob a alegação de que um deles era o mandante do assassinato do argentino Carlos Pinto, repórter de A Democracia. Foram, pai e irmãos, todos presos. Nelson escapou por não se encontrar no Rio, em viagem para o Recife, única forma encontrada pela família para tentar livrá-lo da depressão em que se encontrava. Cheio de paixões, ora por Lilia, ora por Carolina e ora por Marisa Torá, estrela da companhia teatral de Alda Garrido.

Ao lado dos primos Augusto e Netinha (com quem mantinha há algum tempo namoro epistolar), conheceu Recife e Olinda, a praia da Boa Viagem e, com Augusto, a zona de mulheres do Cais do Porto, considerada a maior da América do Sul. Sua prima, não se sabe como, tirou-o da depressão, fazendo-o voltar a todo vapor para a redação da Crítica.


Em 26 de dezembro de 1929 o jornal estampa matéria, na primeira página, sobre o desquite de Sylvia e José Thibau Jr. Foi a fórmula encontrada para o diário não sair sem assunto, já que era o primeiro dia após o natal. No dia 27, pela manhã, Sylvia entra na redação da Crítica procurando por Mário Rodrigues. Não o encontrando, pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um tiro no estômago. Nelson viu e ouviu aquilo tudo. Com dezessete anos e quatro meses, era a primeira cena de violência brutal que presenciava. Seu irmão faleceu no dia 29.

Ninguém conseguirá penetrar no teatro de Nelson Rodrigues sem entender a tragédia provocada pela morte de Roberto. No mesmo dia do enterro, toda a família pôs luto. Os homens ainda podiam sair à rua de terno escuro ou com o fumo na lapela, mas suas irmãs se cobriram de preto da cabeça aos pés. Milton, o irmão mais velho, ia para o porão do palacete, antigo território de Roberto, apagava as luzes e ficava horas no escuro — à espera de um milagre que o fizesse vê-lo e ouvi-lo. Nelson apenas chorava. Joffre, de catorze anos, ganhou um revólver de Mário Rodrigues e passou a andar armado pela cidade à noite. Sabia que Sylvia tivera sua prisão relaxada. Se a encontrasse, a mataria.

Apenas 67 dias após a morte do filho, Mário Rodrigues sofre, aos 44 anos, uma trombose cerebral. Faleceu dias depois de encefalite aguda e hemorragia. Diante de tão sentidas perdas a família não encontra mais condições de morar na mesma casa. Mudam-se para outra casa na rua Sousa Lima, também em Copacabana. Um bafo de sorte surge: Júlio Prestes, que fora elogiado e defendido pela Crítica, vence Getúlio Vargas nas eleições para a presidência da República. Mas o que eles queriam era destruir quem matara Roberto e, por conseqüência, Mário. Sylvia foi absolvida por 5 a 2. O julgamento foi encerrado no dia 23 de agosto, exatamente quando Nelson completava 18 anos.

Estoura a revolução, em 3 de outubro, no Rio Grande do Sul, Minas e quase todo o Nordeste. Crítica, num erro de avaliação, continua a atacar os rebeldes. Em 24 de outubro Washington Luís é deposto e a turba saiu cedo para acertar as contas com os jornais do velho regime. As redações e oficinas de diversos jornais são invadidas e empasteladas. Dentre elas, a do jornal dos Rodrigues. De todos eles só um não voltaria a circular: Crítica. Isso sem contar que Milton e Mário Filho foram novamente presos, porém logo libertados.

Os irmãos começam a procurar emprego, coisa que para eles não estava nada fácil. Foram meses batendo em portas fechadas. Começaram a vender tudo o que tinham para poder sobreviver e, devido ao aluguel sempre atrasado, eram obrigados a mudar de casa a cada três meses. Até que um dia uma porta se abriu para Mário Filho e os outros irmãos penetraram por ela.

Irineu Marinho havia fundado o jornal O Globo em 1925, mas, apenas 21 dias após o jornal circular pela primeira vez, morreu de enfarte. Roberto Marinho, filho de Irineu, era o sucessor natural mas achou-se muito inexperiente para comandar um jornal. Chamou um velho companheiro de seu pai, Euricles de Matos, para tocar o negócio. Mas, em maio de 1931 Euricles também faleceu e Roberto Marinho convida Mário Filho para assumir a página de esportes de O Globo. Mário aceitou, desde que pudesse levar seus irmãos Nelson e Joffre. Roberto Marinho deu seu "de acordo" com a condição de só pagar o ordenado a Mário Filho.

Nelson trabalhou alguns meses no jornal O Tempo. Joffre foi para A Nota, onde já trabalhava o outro irmão, Milton. O escritor era chamado de "filósofo" pelos colegas de O Globo, tinha um aspecto desleixado, um só terno e não vestia meias por não tê-las. Com a ajuda de Mário Martins e o beneplácito de Roberto Marinho, Mário Filho lança seu jornal, Mundo Esportivo, justo no fim do campeonato de futebol. Sem ter assunto, inventaram algo que seria uma mina de dinheiro anos depois: o concurso das escolas de samba.

Em 1932 o autor teve sua carteira assinada em O Globo, um ano após começar a trabalhar naquele diário, com um ordenado de quinhentos mil réis por mês. Entregava todo o dinheiro para sua mãe e recebia uns trocados de volta para comprar seus cigarros (média de quatro carteiras por dia). Em compensação, economizava pois voltava de carona com o "Dr. Roberto" para casa. Para arranjar mais algum dinheiro, trabalhou como redator da firma Ponce & Irmão, distribuidora no Rio dos filmes da RKO Radio Pictures. Criava textos para os anúncios dos filmes nos jornais.

Nesse meio tempo, tinha suas paixões: por Loreto Carbonell, argentina de olhos azuis, bailarina do Municipal; por Eros Volúsia, filha da poetisa Gilka Machado, também bailarina, linda e jovem morena. Dividia com seu irmão Joffre a paixão por ela. Depois vieram Clélia, uma estudante de Copacabana e Alice, professora de Ipanema.

A tosse seca e uma febre baixa, porém persistente, ao por do sol, foram os avisos dados a Nelson, além de sua magreza. Sua irmã Stella, já médica, arranjou uma consulta. O médico pediu que ele dissesse "33" e verificou sintomas de tuberculose pulmonar, o grande fantasma do ano de 1934. Por falta de um diagnóstico precoce, o autor já havia, com apenas 21 anos, arrancado todos os dentes e posto dentadura, numa tentativa de debelar a febre que insistia em não ir embora.

Vai, então, para Campos do Jordão - SP, local recomendado para tratamento, sozinho, sem saber se voltaria. Foi a primeira de uma série de seis internações. Roberto Marinho, sabendo das dificuldades da família, continuou pagando seu ordenado normalmente. Nelson passou 14 meses no Sanatórinho, de abril de 1934 a junho de 1935. Durante esse período só os irmãos Milton e Augustinho foram visitá-lo uma única vez. Compensava a ausência de parentes e amigos com cartas, muitas delas para Alice, a professorinha.


Contam que, em 1935, um doente propôs encenarem um teatrinho. O biografado foi encarregado de escrever a comédia, um "sketch" cômico sobre eles mesmos. Logo nas primeiras cenas a platéia começou a gargalhar e, com isso, surgiram os ataques de tosse que quase fizeram vítimas. Foi a primeira experiência "dramática" de Nelson.

O autor pede ao secretário do jornal O Globo que o transfira da página de esportes para a de cultura. Queria escrever sobre ópera. Com a ajuda de Roberto Marinho consegue a transferência e começa arrasando a "Esmeralda", ópera brasileira do compositor Carlos de Mesquita. Foi sua única incursão nessa área.

Em abril de 1936, a terrível doença atacou seu irmão Joffre, com 21 anos, que foi levado para o Sanatório em Correias - RJ. Nelson ficou a seu lado durante sete meses. No dia 16 de dezembro de 1936 Joffre faleceu.

Em 1937 a redação do jornal só tinha homens. Após muita conversa Roberto Marinho concordou em contratar Elza Bretanha, apadrinhada do diretor administrativo, como secretária de Henrique Tavares, gerente de O Globo Juvenil. Voltando de sua segunda estada em Campos de Jordão, Nelson foi informado da presença de Elza, "dezenove anos, moradora do Estácio e dura na queda." Ele, então, sentenciou: "Está no papo." Errou.

Nelson se aproxima de Elza, expõe sua situação de penúria de saúde e financeira, e fala em casamento. Consultada sua família, não encontrou objeção. Afinal, já tinha 25 anos. A mãe de Elza, d. Concetta, siciliana das boas, quase teve um ataque, tendo a honra de ter sido acompanhada nisso por Roberto Marinho. Ele disse a Elza: "Está sabendo que vai se casar com um rapaz muito inteligente e de grande talento, mas pobre, absolutamente preguiçoso e doente? Sua mãe está coberta de razão!" Mesmo assim marcaram para se casar no dia do aniversário de Elza: 08 de maio de 1939. Se fosse preciso, fugiriam. Porém, em 13 de maio, mandou para a noiva um recado que dizia: "Amor, estou com a alma cheia de pressentimentos tristes". Era a tuberculose que o atacava novamente.

Nos quatro meses em que ficou internado, Nelson mostrou seu lado ciumento. Vivia atormentado com isso e, na volta, acabou desfazendo o noivado. Mas o coração falou mais forte do que o infundado ciúme e marcaram novamente o casamento, contrariando a mãe da noiva e o patrão de ambos.

No dia 29 de abril de 1940, sem externar qualquer anormalidade, Elza saiu para trabalhar, foi para a casa de uma amiga onde trocou de roupa e casou-se no civil, diante do juiz. Depois, foram comemorar tomando uma média com torrada na leiteria "Palmira". Voltaram para O Globo Juvenil e trabalharam normalmente. Haviam acertado, por vontade de ambos, que a noite de núpcias só aconteceria após o casamento religioso.

Os irmãos de Elza ficaram sabendo e falaram até em matá-lo. Nelson, com a alma leve, alugou uma casinha no Engenho Novo. Era sua volta ao subúrbio. Compraram móveis de segunda mão e Mário, o irmão, lhe deu de presente a cama de casal e a penteadeira. Finalmente d. Concetta dá o "de acordo" e o casamento religioso se realiza, em 17 de maio, após o autor, com quase 28 anos, ter sido batizado, fazer a primeira comunhão e estudado o catecismo, como manda a santa madre Igreja.

Após seis meses de casamento, certa manhã Nelson acorda e comunica a Elza que estava cego. Não enxergava nada. Descobriu, indo ao médico, que se tratava de uma seqüela da tuberculose. Tomou muito antiinflamatório, melhorou, mas 30 por cento de sua visão estava perdida para sempre, nos dois olhos. Apesar do estado de penúria em que se encontravam, o focalizado pediu a Elza que deixasse o emprego quando se casassem. Logo que pode comprou um telefone e ligava para ela de hora em hora. Saudades ou ciúme? Nelson procurava uma saída para seu aperto financeiro. Elza estava grávida e seu salário estava estagnado nos 500 mil réis mensais. Um dia, ao passar em frente ao Teatro Rival, viu uma enorme fila que se formava para assistir "A família Lerolero", de R. Magalhães Júnior. Alguém comentou: "Esta chanchada está rendendo os tubos!" Uma luz se acendeu na cabeça do autor: por que não escrever teatro?

No meio do ano de 1941 escreveu sua primeira peça, A mulher sem pecado. Nessa época as peças ficavam, no máximo, duas semanas em cartaz. Nelson oferece sua peça para dois grandes artistas de então: Dulcina e Jaime Costa, mas eles a recusam. O autor, necessitando de dinheiro, começou a se mexer: submeteu a peça a Henrique Pongetti, Carlos Drummond de Andrade e ao crítico Álvaro Lins. Mas não conseguiu encená-la.

Nasce Joffre, seu primeiro filho. O autor, por ordens médicas, não podia ficar perto do filho. Descobre que foi premiado com uma úlcera do duodeno. O médico lhe prescreve regime alimentar e manda que ele pare de tomar café e de fumar, coisa que nunca fez. Depois de muita luta, em 09 de dezembro de 1942, A mulher sem pecado foi levada à cena pela "Comédia Brasileira", com direção de Rodolfo Mayer, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Lá ficou por duas semanas e não teve repercussão nenhuma perante o público. Alguns críticos e amigos elogiaram, e isso bastava ao autor.

Em janeiro de 1943 Nelson escreve sua segunda peça teatral: Vestido de Noiva. Elza, sua mulher, fez mais de vinte cópias datilografadas para serem entregues a jornalistas, críticos e amigos. O primeiro a receber foi Manuel Bandeira. Ele gostou. Como outros, escreveu sobre ela e elogiou. Os jornais e suplementos falavam sobre Vestido de Noiva mas o autor não conseguia encená-la. Todos diziam que era uma peça que exigia cenário complexo e teria custo muito alto. Só Thomaz Santa Rosa, um pernambucano ex-funcionário do Banco do Brasil, cantor lírico, desenhista, músico e poeta, achou que era possível. Falou então com um polonês recém-chegado ao Brasil: Zbigniew Ziembinski.

O grande ator e diretor leu a peça e disse: "Não conheço nada no teatro mundial que se pareça com isso". O autor conhece o diretor e tem início a epopéia do grupo "Os Comediantes": oito meses de ensaios, oito horas por dia. Às 20h30 do dia 28 de dezembro de 1943, os portões foram abertos e 2.205 espectadores viram a peça. Duas horas depois a peça chegou ao fim. O silêncio foi total na platéia. Nos bastidores ninguém sabia o que fazer. Ziembinski, entre palavrões em polonês, manda subir o pano. Os artistas surgem e o aplauso é ensurdecedor. O diretor aparece e o teatro delira. Alguém grita na platéia: "O autor, o autor". Nelson estava escondido em um camarote, lutando contra a dor de sua úlcera, e não foi visto por ninguém. Disse, depois, que sofreu naquele momento, sentindo-se "um marginal da própria glória". Quando o autor, após as comemorações com a família na leiteria "Palmira", pegou o bonde de volta para casa já eram quase duas da manhã de 29 de dezembro de 1943. Naquele momento completavam-se catorze anos da morte de seu irmão Roberto.

Apesar da fama que a peça lhe deu — o ano de 1944 foi cheio de acontecimentos — ele continuava sendo mal pago pelo O Globo Juvenil. Em fevereiro de 1945 é convidado por David Nasser, de O Cruzeiro, para uma conversa com Freddy Chateaubriand. Foram almoçar, além do autor, Freddy Chateaubriand, Millôr Fernandes e David Nasser. A oferta era inacreditável: cinco contos de réis (já nessa época cinco mil cruzeiros) — mais de sete vezes o que lhe pagava Roberto Marinho.


Para ele estava fechado, mas pediu para falar com o dr. Roberto, a quem devia favores. Esse não só não se opôs como desejou-lhe boa sorte e deu-lhe dez mil cruzeiros. Nelson foi para seu novo emprego: diretor de redação das revistas Detetive e de O Guri. Como a função lhe tomava pouco tempo, o autor ficava perambulando pela redação da revista O Cruzeiro, que era no mesmo andar. Sempre procurando fazer "bicos" que permitissem um ganho extra — continuava a ajudar sua mãe financeiramente — soube que Freddy Chateaubriand estava querendo comprar um folhetim francês ou americano para O Jornal, que estava com uma tiragem de apenas 3.000 exemplares por dia e sem anúncios. Nelson ofereceu-se para escrever o folhetim. Daí nasceu Suzana Flag e Meu destino é pecar.

Cada episódio tomava uma página inteira de O Jornal e tinha uma ilustração de Enrico Bianco. Foram 38 capítulos que elevaram a tiragem do jornal para quase trinta mil exemplares. Apesar de estar ganhando um extra por capítulo, o autor não gostava que soubessem que escrevia com pseudônimo feminino. Quando a história terminou, o sucesso foi tão grande que foi lançado um livro pelas Edições O Cruzeiro. Calcula-se que a venda tenha ultrapassado a trezentos mil livros. Isso provocou o começo de outro folhetim, Escravas do amor, cujo sucesso foi também retumbante.

Em março de 1945 é atacado, novamente, pela tuberculose. O ano anterior havia sido ótimo: além do lançamento em livro do Vestido de noiva, ele via seu filho crescer com saúde e Elza esperava um novo filho. Resolveram ir todos para Campos de Jordão, inclusive a sogra, d. Concetta. Depois de uma semana viram que aquilo não fazia sentido e a família retornou. Em junho teve alta e, face à proximidade do parto de sua mulher, voltou correndo para o Rio. Nasceu, então, Nelsinho. Vale dizer que os Associados arcaram com todas as despesas de seu empregado no Sanatórinho. Nos dois últimos meses de 1945 e nos dois primeiros meses de 1946 o grupo "Os Comediantes" encenou Vestido de noiva e A mulher sem pecado no Teatro Phoenix, com lotação esgotada. Começa a escrever, então, Álbum de família. Em fevereiro de 1946 o texto é submetido à censura federal e os censores ficam de cabelos em pé. A peça foi proibida de ser encenada. As opiniões se dividiam entre os intelectuais, os críticos e os jornalistas da época, uns a favor da liberação outros contra. Venceram os contra, pois a peça só foi liberada em 1965 e levada pela primeira vez em julho de 1967.

Outro sucesso de 1946 foi a publicação de Minha Vida, uma "autobiografia" de Suzana Flag. Como das vezes anteriores, além de publicada em O Jornal, virou livro e vendeu horrores.
Anjo negro, estréia em abril de 1948. Como sempre, gerou comentários polêmicos. Os ganhos com a peça permitiram que o autor comprasse uma casa no Andaraí, que teve parte financiada no IAPC (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários). Nelson tinha 36 anos e ficara livre do aluguel. Senhora dos afogados é proibida em janeiro de 1948. Com duas peças interditadas, o autor luta como um mouro para tentar liberá-las. Não conseguindo, escreve Dorotéia, em 1949, que muitos consideram seu melhor trabalho teatral.

Ainda em 1948 é publicado mais um folhetim, Núpcias de fogo, ainda como Suzana Flag.
Uma mulher chama a atenção do autor nas coxias do Teatro Phoenix, quando da encenação de Anjo negro: era Eleonor Bruno, conhecida como Nonoca, linda "mingnonne", tímida, recatada e soprano lírico, que estava ali para tomar conta de sua filha de apenas 13 anos, Nicete, que estreava como atriz. Embora nunca reclamasse, seu casamento não ia bem, e ele foi aceito por Nonoca e por toda sua família. Alugou um apartamento pequeno em Copacabana, em sociedade com o amigo Pompeu de Souza, para servir-lhes de "garçonnière", até que num dia de 1950 sua esposa Elza bateu na porta, fez um escândalo e ele voltou com o rabo entre as pernas para casa. Seu romance com Nonoca terminou ali.

Em 1949 Freddy Chateaubriand vai comandar o jornal "Diário da Noite" e leva Nelson consigo. Para trás fica Suzana Flag, que o autor não agüentava mais. Em seu lugar surgiu Myrna, a nova máscara feminina do biografado. A diferença é que Myrna respondia a cartas de leitoras.
Nelson escreveu a comédia Dorotéia para Nonoca. Foram duas as estréias como atrizes: de Nonoca e da irmã do autor, Dulcinha, aos 21 anos, no papel de Das Dores. Com medo de que a censura o atingisse novamente, o autor submeteu-lhe o texto como sendo um "original de Walter Paíno" — cunhado de Nonoca. A peça foi aprovada e estreou no dia 07 de março de 1950. Ao fim da apresentação, metade da platéia (onde estavam os convidados) aplaudiu e a outra saiu calada. Ficou 13 dias em cartaz.

Em 1950 o autor dá adeus a Freddy Chateaubriand e aos "Diários Associados" e fica esperando convites de outros jornais. Ficou um ano esperando... Nesse período, salvam a família as economias de Elza e um "bico" no Jornal dos Sportes de seu irmão Mário Filho. No ano seguinte sai do buraco e vai para a Última Hora e "A vida como ela é...". Começou com um salário de dez mil cruzeiros, considerado não tão ruim, tendo em vista seu baixíssimo prestígio naquela época.
Em junho Nelson estréia uma nova peça, "Valsa nº. 6", um monólogo estrelado por sua irmã Dulcinha. Ficou quatro meses em cartaz e foi outra desilusão para seu autor.

Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora tinha algo em comum com o biografado: a tuberculose. Propõe ao autor que escreva, com pagamento extra, uma coluna diária sobre um fato real. Poderia se chamar "Atire a primeira pedra". Nelson sugeriu "A vida como ela é..." e, sugestão aceita, foi para a máquina escrever a primeira coluna. O sucesso foi estrondoso. Em 1951 relançou Suzana Flag em "O homem proibido".

Um dia, na rua Agostinho Menezes, onde então Nelson morava, um marido banana que era chutado como um cão pela esposa e ainda a bajulava, cansou-se do tratamento que vinha recebendo e, no meio da rua, deu uma sova de cinto na cara-metade. É claro que a vizinhança correu para ver o fato, sendo que as mulheres gritavam: "Bate mais, bate mais". O marido bateu até se cansar, parou, e então o inesperado aconteceu: a mulher atirou-se aos seus pés, aos beijos. E, desde aquele dia, passou a desfilar com o ex-banana, de braço dado e nariz empinado, toda orgulhosa. Ao ouvir os comentários das vizinhas que tinham apoiado maciçamente a surra, Nelson concluiu: "Toda mulher gosta de apanhar".

Em 08 de junho de 1953 estréia no Teatro Municipal do Rio a peça "A falecida". Chamada de "tragédia carioca" era, na verdade, uma comédia. Foi escrita em 26 dias. Nessa época Nelson mantinha um romance com Yolanda, secretária de um radialista da rádio Mayrink Veiga. Esse caso durou cinco anos e rendeu três filhos: Maria Lúcia, Sônia e Paulo César, que ele não reconheceu como seus. Com tudo isso acontecendo, o autor produziu o último folhetim de "Suzana Flag", que chamou-se "A mentira" e foi publicado no semanário "Flan", lançado por S. Wainer.

Carlos Lacerda queria derrubar o presidente Getúlio e, para tanto, batia firme em Samuel Wainer e no jornal Última Hora. Nelson não escapava da pancadaria e era chamado de "tarado" por ele. Outro que também o atacava era o católico Gustavo Corção, da Tribuna da Imprensa.


"Senhora dos Afogados" é encenada no Rio, em 1954, com direção de Bibi Ferreira. A platéia, ao final, dividiu-se e uma parte gritava "GÊNIO" e a outra "TARADO". O autor não agüentou e reagiu à platéia, gritando do palco: "BURROS! BURROS!".

Em março de 1955 a família Rodrigues ganha uma ação contra o governo de indenização pela destruição do jornal "Crítica". Em 1956 recebem o equivalente a US$1.800.000,00. A parte que coube ao autor foi utilizada na compra de um apartamento em Teresópolis em nome dos filhos e de um carro para Elza. O que sobrou, investiu no teatro.

"Perdoa-me por me traíres" teve, também, problemas de liberação com a censura, em 1957 — sofreu cortes. Outra surpresa ocorreu na estréia: Nelson interpretava o personagem Raul. Mais uma vez as vaias e os que aplaudiam pediam para o autor falar. Ele não se fez de rogado: "BURROS! ZEBUS!". Ninguém esperava, mas aconteceu: um tiro! Na discussão entre prós e contras, o vereador Wilson Leite Passos sacou de seu revolver e deu um tiro para amedrontar alguém que o havia chamado de "palhaço". Tumulto geral. No dia seguinte a censura proibiria a peça.

"Viúva, porém honesta" estreou em 13 de setembro do mesmo ano. Dizem que nela o autor procurava atingir aos críticos que atacaram "Perdoa-me por me traíres". Um dos atores era Jece Valadão, cunhado do autor.

Dercy Gonçalves estréia "Dorotéia" em São Paulo. Ficou um mês em cartaz. Nelson não gostava dos "cacos" que a atriz introduzia no texto.
Em 1958 estréia "Os sete gatinhos", também com Jece Valadão no elenco. Apesar de malhar o presidente da República da época, Juscelino Kubitschek, Nelson vai até ele pedir um emprego. Consegue um cargo de tesoureiro em um instituto de aposentadoria e pensões (IAPETEC), mas é reprovado no exame de vista. Pede, então, a vaga para Elza. Juscelino queria agradar Mário Filho e a nomeia.

O autor teve sério problema de vesícula e, após a operação de alto risco, ficou três meses sem publicar sua coluna no jornal de Wainer. Sua coluna em "A Manchete Esportiva" deixa de ser publicada de novembro de 1958 a março de 1959.

De agosto de 1959 a fevereiro de 1960, centenas de milhares de leitores acompanharam a história de Engraçadinha e sua família em "Asfalto Selvagem". Foram publicados dois livros, intitulados "Engraçadinha — seus amores e seus pecados dos doze aos dezoito" e "Engraçadinha — depois dos trinta".

O autor almoçava com sua mãe quase todo dia. Tomava o ônibus na Central do Brasil e ia até o Parque Guinle. Um dos motoristas gostava de exibir-se: tinha vinte e sete dentes na boca, mas eram todos de ouro. Nelson juntou esse fato ao bicheiro do submundo carioca, Arlindo Pimenta, e dai surgiu o "Boca de Ouro".

A peça, como todas as demais, teve problemas com a censura. Foi levada para estrear em São Paulo e foi um retumbante fracasso. Ziembinski insistiu em viver o papel principal e não deu certo. Em janeiro de 1961, com Milton Morais no papel do "Boca de Ouro", estréia no Rio com grande sucesso.

Ainda no final de 1960 o autor entrega a Fernanda Montenegro e a seu marido Fernando Tôrres a peça "Beijo no asfalto". O espetáculo estava a um mês e meio em cartaz quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República. Ficou sete meses em cartaz, pelo Brasil. Ela provocou a saída de Nelson da "Ultima Hora", pois nela fazia referências pouco positivas à imagem do jornal. Voltou ao "Diário da Noite" com "A vida como ela é" e, após dez meses, em julho de 1962, foi para "O Globo", com a coluna de futebol, "À sombra das chuteiras imortais".

Apresentado por sua irmã Helena, Nelson conhece Lúcia Cruz Lima, que logo passa a ser sua namorada. Só que desta vez a coisa era séria. Casada e bem casada, mãe de três filhos, ela logo se apaixona, deixa o marido e volta a viver com os pais. Ele demora dois anos para se separar de Elza. Seus amigos Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Cláudio Mello e Souza ficam chocados. Nos primeiros meses de 1963 nada impedia a separação do autor. Já havia alugado um pequeno apartamento e Lúcia estava grávida. Após um almoço de despedida, após o qual Elza tentou suicidar-se, ele partiu de malas e bagagens para o apartamento de sua mãe. Ia ficar lá uns tempos até acertar tudo.

Na marquise do Teatro Maison de France, no Rio, piscava o título da nova peça de Nelson: "Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária". Otto quase morreu de susto e ficou profundamente irritado. Ela ficou por cinco meses em cartaz. O autor só não se conformou de Otto não ter ido assistir ao espetáculo. Ele adorava essas brincadeiras e fez o mesmo com Fernando Sabino e com Cláudio Mello e Souza.

Lúcia deu um trato na aparência do escritor, já que ele participava desde 1960 do programa esportivo "Grande resenha Facit" na TV Rio, por obra e graça de Walter Clark, e era, portanto, um artista! Ela teve uma gravidez nada normal e um parto difícil. Daniela, a filha, nasceu com 1,5 quilo, e não conseguia respirar. Perdeu minutos de oxigenação no cérebro até que conseguissem fazer seus pulmões funcionarem. Daniela passaria o primeiro ano de sua vida numa tenda de oxigênio, tinha má circulação nas pernas, chorava sem parar em virtude das dores que sentia. Devido à paralisia cerebral nunca conseguiu andar ou articular um movimento e era irreversivelmente cega.

Nelson escreveu para Walter Clark a primeira novela brasileira de todos os tempos: "A morte sem espelho". Apesar do grande elenco — Fernanda Montenegro, Fernando Tôrres, Sérgio Brito (que também respondida pela direção), Ítalo Rossi, Paulo Gracindo (que estreava na TV), música de Vinícius de Moraes — não foi autorizada a sua apresentação às oito e meia da noite. Foi empurrada para o horário das vinte e três e trinta. Walter Clark apelou, sem sucesso, até para D. Helder Câmara. Conseguiu, finalmente, autorização para o horário das dez horas, que não compensava financeiramente. Nelson foi convidado a encerrá-la rapidamente.

Ficou claro nesse episódio que o problema era o nome do autor. Na sua novela seguinte, "Sonho de Amor", em 1964, seu nome apareceu mas ela foi anunciada como 'uma adaptação de "O Tronco do Ipê"', de José de Alencar". Sua última novela para a TV foi "O Desconhecido", com direção de Fernando Tôrres e Jece Valadão, Nathalia Timberg, Carlos Alberto, Joana Fomm e outros mais, que só foi liberada graças ao poder de convencimento de Walter Clark.

Depois de ser renegada por muitas atrizes, "Toda nudez será castigada" estréia no dia 21 de junho de 1965 e é um sucesso. Os artistas são aplaudidos em cena aberta, os ingressos são avidamente disputados e fica em cartaz por seis meses no Teatro Serrador e em excursão pelo Brasil. Após três anos de apresentações no Rio, São Paulo, Porto Alegre e Salvador, a peça é proibida em Natal - RN.

Em 1966 o autor muda-se, a convite de Walter Clark, para a TV Globo. Em situação financeira apertada — como sempre — aceitou até aparecer como "tradutor" dos romances de Harold Robins, publicados pela Editora Guanabara. Foi uma forma de receber mais algum dinheiro. A TV Globo era a "lanterna" na preferência dos telespectadores naquela época. No programa "Noite de gala" o autor apresentava o quadro "A cabra vadia", onde entrevistava pessoas. O primeiro foi João Havelange, presidente da CBD - Confederação Brasileira de Desportos.

Nessa época é chamado por Carlos Lacerda, ocasião em que é informado da criação da Editora Nova Fronteira. Lacerda, que o malhou por tanto tempo, pediu-lhe um romance e deu-lhe um cheque de dois milhões de cruzeiros. Era algo em torno de novecentos dólares, mas para quem estava pendurado, foi ótimo. Ele escreveu "O Casamento". Quando Lacerda leu o livro, ficou assustadíssimo Era um carnaval de incestos e perversões às vésperas de um casamento. Vendeu-o para Alfredo Machado, da Editora Eldorado. O livro vendeu 8.000 exemplares nas primeiras duas semanas de setembro de 1966, empatando com as vendas do novo romance de Jorge Amado, "Dona Flor e seus dois maridos". A morte de seu irmão, Mário Filho, impediu por algum tempo que ele fizesse a divulgação da obra. Quando reanimou, o livro teve sua venda proibida pelo ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva. Sua venda foi liberada novamente em fevereiro de 1967.

Indignado com o apoio dado pelo jornal "O Globo" à proibição da venda de seu romance, Nelson começa a estudar sua mudança para o "Correio da Manhã". Avisa que não pode deixar a TV Globo e, para sua alegria, é informado que não precisaria deixar nem o jornal "O Globo". O que o "Correio" queria dele eram as suas "Memórias". A estréia ocorreu em 18 de fevereiro de 1967 em grande estilo. Fez um sucesso enorme.

Paulinho Rodrigues, irmão do autor, morava com a família num prédio em Laranjeiras. Chovia a cântaros, dias antes, e Nelson disse a Cláudio Mello e Souza no Maracanã, assistindo o time do Santos ganhar do Milan: "Esse é um mau tempo de quinto ato do "Rigoletto'". Cláudio sabia que o "Rigoletto" não tinha quinto ato e que acabava no terceiro ato, como a maioria das óperas. Mas entendeu o que o autor queria dizer. No dia 21 de fevereiro de 1967 o prédio onde seu irmão morava desabou devido às chuvas. Morreram Paulinho, a esposa, filhos e mais alguns parentes que lá se encontravam para festejar o aniversário da cunhada do escritor. Em dezembro desse mesmo ano a viúva de seu irmão Mário se suicida.

Raphael de Almeida Magalhães, que já atuara como advogado de Nelson, é eleito governador do Estado da Guanabara. A pedido de Otto, e por insistência do biografado, finalmente libera "Álbum de Família", que estava interditada desde 1946. Só em julho de 1967 foi levada à cena e, apesar do carrossel de incestos, foi aplaudida no final. Já não tinha o impacto de tempos atrás.

Ele volta ao jornal "O Globo" passa a publicar "À sombra das chuteiras imortais" e "As confissões" (já que não podia usar "Memórias"), cada uma patrocinada por um banco. Como recebia uma comissão por esses patrocínios (mais que o dobro de seu salário), estabilizou sua situação financeira. A primeira "Confissão" foi publicada em 04 de dezembro de 1967.

Uma de suas manias era implicar com os pessoas conhecidas e com amigos. Era do seu estilo alimentar-se periodicamente de certas obsessões. Como dizia Cláudio Mello e Souza, Nelson era a "flor de obsessão". Ora Otto, ora Alceu de Amoroso Lima, ora D. Helder, ora Hélio Pellegrino, ora Cláudio Mello e Souza e quem mais estivesse por perto.

1970 marca o início dos anos duros da ditadura militar no Brasil. Nelson, conhecido e admirado pelos militares, luta para tirar da prisão Hélio Pellegrino e Zuenir Ventura. Com mais de 57 anos, ele se sentia desgastado, sem espaço — seu apartamento vivia lotado de enfermeiras por causa de sua filha, enfim, era chegada a hora de se separar de Lúcia, o que ocorreu sem traumas.

Logo em seguida vai morar com Helena Maria, que era 35 anos mais nova que ele, e que trabalhava com ele no jornal. Em 1972 começa nova luta: seu filho, Nelsinho é um dos terroristas mais procurados pelas forças armadas. "Prancha" (seu codinome) foi apanhado em 30 de março de 1972. Dois anos antes, quando seu filho já vivia na clandestinidade, Nelson consegue com o presidente da República, Gal. Medici, que ele saísse do país. Nelsinho não aceita o privilégio. O drama de Nelsinho se desenrolava longe dos olhos do autor. Apesar disso, face a seu prestígio e contatos com os militares, era muito procurado para ajudar pessoas em apuros com o regime militar. De 1969 a 1973 ele teve participação ativa na localização, libertação ou fuga de diversos suspeitos de crimes políticos. Após a prisão de Nelsinho, começa a luta para localizá-lo e procurar mantê-lo vivo, pois a tortura corria solta.

Nelson escreve "Anti-Nelson Rodrigues" no final de 1973. Em 1974, a peça fazia bela carreira no teatro do Serviço Nacional do Teatro. O autor faz alguns exames e é levado de imediato para São Paulo para ser operado de um aneurisma da aorta. Passou por duas operações, quase morreu, retornou ao Rio e, apesar de terminantemente proibido pelo médico, voltou a fumar. Em abril de 1977 é internado com uma arritmia ventricular grave e nova insuficiência respiratória. Elza volta para casa e voltam a viver juntos. Na verdade, já se encontravam há tempos quase todas as noites no restaurante "O bigode do meu tio", em Vila Isabel, de propriedade de Joffre.

O autor escreveu sua grande e última peça — "A Serpente" — em meados de 1979, pouco antes de seu filho Nelsinho iniciar greve de fome com treze companheiros, os últimos presos políticos cariocas, com a finalidade de transformar a anistia ampla em anistia total e irrestrita. Finalmente, no dia 23 de agosto, dia do aniversário do autor, Nelsinho é autorizado a deixar a prisão e assistir ao nascimento da filha Cristiana. No dia 16 de outubro Nelsinho recebeu a liberdade condicional mas não pode ver seu pai: estava inconsciente no hospital Pró-Cardiaco.

Nelson Rodrigues faleceu na manhã do dia 21 de dezembro de 1980, um domingo. No fim da tarde daquele dia ele faria treze pontos na loteria esportiva, num "bolo" com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo". Dois meses depois, Elza cumpriu o seu pedido — de, ainda em vida, gravar o seu nome ao lado do dele na lápide, sob a inscrição: "Unidos para além da vida e da morte. É só".

Matéria exclusiva do site: http://www.releituras.com/

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Há 40 anos, morria de Gaulle


Morreu o general de Gaulle. A França ficou viúva". Com estas palavras, lidas com a voz trêmula de emoção, o presidente Georges Pompidou anunciou no dia 10 de novembro de 1970 a morte do homem que libertou a França do nazismo, presidiu o país durante 11 anos e lhe devolveu a grandeza.

A notícia da morte, ocorrida na noite anterior, levou quatorze horas para ser divulgada. Mas, quando Pompidou leu a mensagem, às 8h41 da manhã, o anúncio comoveu a França. A primeira reação da população foi de surpresa e incredulidade. O país inteiro ficou paralisado pela consternação. O presidente reuniu o gabinete e decretou luto oficial por três dias.

No parlamento, com lágrimas nos olhos, o líder do partido gaullista, Marc Jacquet, lamentou "meus amigos, o pai morreu". A sessão foi suspensa e os deputados passaram a discutir a morte do general. "Para muitos dentre nós, cuja vida foi marcada por este grande homem, a sensação é realmente a de ter perdido um pai", declarou o ex-ministro Maurice Herzog.

Os adversários de De Gaulle não se deixaram abalar. O político liberal Jean Lecanuet afirmou "A morte não muda sua vida. Grandes conflitos de ideais nos separavam. Mas eu penso na inesquecível grandeza do seu apelo de 18 de junho de 1940. Por isso, venero sua memória".

Estudantes esquerdistas ergueram vivas ao ser anunciada a morte do estadista, em que enxergavam um símbolo da "velha ordem" que precisa ser destruída. Centenas de estudantes desfilaram pelo campus da Universidade de Vincennes conduzindo cartazes com os dizeres: "De Gaulle estava morto desde 1968".

Georges Marchais, líder do Partido Comunista Francês, declarou ao Estado, "De Gaulle representava a política contra a qual lutamos". Entretanto, o general associou seu nome á resistência francesa que lutou contra os invasores nazistas. "É disto apenas que desejo me lembrar neste momento", acrescentou.


De Gaulle foi sepultado no dia 12 de novembro no túmulo da família em Colombey, ao lado de sua filha Anne. Transportado ao cemitério sobre uma carreta, o caixão, envolto na bandeira francesa, foi baixado a terra por um grupo de jovens de Colombey.

Pouco antes, representantes oficiais de quase todo o mundo participaram de uma missa solene celebrada na catedral de Notre Dame, em Paris, em homenagem ao líder francês que deixou seu nome escrito na história.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A história da propaganda




Os principais fatos históricos e avanços no campo da propaganda sempre estiveram ligados de uma forma ou outra à Igreja ou as guerras...

Da antigüidade a revolução industrial.

Apesar de existirem relatos da utilização da propaganda no antigo estado Romano e até por ser uma expressão natural de um ser pensante e social, e que por tanto acompanhou a nossa ra�a em sua trajetória desde o inicio das formações dos primeiros agrupamentos humanos. Foi na Igreja Católica do século XVII que o termo “propaganda” foi utilizado pela primeira vez. Isto aconteceu quando o papa Gregório XV criou a Sagrada Congregação Católica Romana para a Propagação da Fé ou “sacra congregatio christiano nomini propaganda”.

Durante este período a igreja católica concentrava grande poder e a propaganda foi utilizada como ferramenta de propagação e manutenção da fé além de ser utilizada para conversão de povos pagãos. O entendimento que temos hoje sobre propaganda como sinônimo de semear e incutir idéias e ideais, vem deste período.

Com a reforma protestante, o surgimento da imprensa, das classes mercantis e mais tarde com a revolução industrial. A igreja passa a não ser mais a única a propagar idéias. As organizações não católicas começam a utilizar a propaganda como ferramenta de difusão de suas doutrinas e ideais.

A Primeira Guerra Mundial.

Foi a partir da Primeira Guerra Mundial que começamos a observar a propaganda sendo utilizada de forma mais ampla como uma ferramenta de guerra. O jornalista “Walter Lippman” e o psicólogo “Edward Bernays” foram contratados pelo governo Norte Americano para “trabalhar” a opinião pública de seu país. Os Americanos deveriam querer, desejar a entrada de seu país na guerra, ao lado de Inglaterra e contra a Alemanha.

O trabalho desenvolvido pelos dois foi um sucesso, atingiu plenamente os objetivos, foi criado em apenas seis meses um imenso repúdio ao povo alemão. Vendo o potencial da propaganda de massa em influenciar e controlar a opinião pública. “Edward Bernays” deu maior ênfase aos estudos da ciência e desenvolveu conceitos como: "mente coletiva" e "consenso fabricado", conceitos estes que se tornaram importantes na criação e prática da propaganda de massa a partir de então.

A Segunda Grande Guerra.

Durante a Segunda Guerra Mundial os conceitos de propaganda obtiveram grande avanço. Tanto por parte do ministério da propaganda Nazista (Ministério da Conscientização Pública e Propaganda) que tinha como primeiro ministro “Paul Joseph Goebbels”. Como pelo Comitê de Guerra Político-Executivo inglês que fez um ótimo trabalho.

Nos Estados Unidos à propaganda ficou por conta do Departamento de Informações de Guerra, criado como meio de divulgação dos esforços de guerra e órgão de censura as informações. De todos os lados havia forte censura e até as correspondências particulares eram vasculhadas.

Tanto os Ingleses quanto Norte Americanos, veiculavam propaganda preconceituosa visando instigar os soldados contra o inimigo. Certas peças de comunicação, por exemplo, retratavam os soldados japoneses e Alemães como pessoas sádicas, desprovidas de emoções e até estupradores. Este tipo de propaganda difundida sistematicamente para as forças aliadas, pode ser chamada de princípio da desumanização do inimigo. A propagação da idéia do inimigo não humano, incentiva o ódio e elimina responsabilidades, estimulando em conseqüência a prática de atrocidades.

No lado Alemão, mesmo antes da guerra com a tomada do poder pelo partido Nazista, houve forte censura aos meios de comunicação e artistas. As peças de propaganda, geralmente veiculadas em orquestração para melhorar sua efetividade, falavam sobre a superioridade racial Ariana e de todos os problemas causados para economia Alemã e mundial pelos povos judeus. Os judeus eram responsabilizados pela derrota na primeira guerra e descritos como usurpadores, racistas e estupradores.

Durante a guerra à propaganda alemã enfatizava o progresso das tropas no front e a superioridade de seus soldados, destacando a humanidade com que eram tratados os povos conquistados. E assim como os aliados, tentavam criar a idéia do inimigo desumano, os ingleses eram descritos como monstros, covardes e assassinos e Norte Americanos como bandidos de filme de “bang-bang”. Internacionalmente a propaganda Alemã sempre tentou afastar e colocar os aliados uns contra os outros, e principalmente tentava colocar o mundo contra os soviéticos.

No final da guerra e com o comando Alemão praticamente sem esperanças, as peças de comunicação começaram a ter como tema armas milagrosas que poderiam destruir o inimigo de uma só vez, um belo exemplo são os foguetes V1 e V2, chamados armas da vingança. Tentavam com este movimento levantar o moral de suas tropas ao mesmo tempo em que colocavam o medo dentro das linhas inimigas.

São atribuídas ao então ministro da propaganda “Paul Joseph Goebbels” frases como: “Para convencer o povo a entrar na guerra, basta fazê-lo acreditar que está sendo atacado...” “Se uma mentira se repete suficientemente, acaba por converter-se em verdade...” “Toda propaganda deve ser popular, adaptando seu nível ao menos inteligente dos indivíduos.” “Quanto maior seja a massa a se convencer, menor há de ser esforço mental a realizar.” “A capacidade receptiva das massas é limitada e sua compreensão escassa...” “As massas tem grande capacidade para esquecer...”

Uma das mais fortes armas da propaganda Nazista era a orquestração: As peças deveriam ser veiculadas ordenadamente em vários meios de comunicação, atingindo intensivamente o target com a mesma mensagem, varias vezes ao dia. A mensagem poderia sofrer alguma transformação, mas seu conteúdo deveria ser o mesmo. O cidadão deveria ser atingido pela mensagem de todos os lados, varias vezes ao dia.

Ainda é atribuído a Goebbels uma peça de comunicação veiculada logo após o suicídio do Führer, na qual era narrada a morte heróica de Hitler a frente de uma de suas derradeiras tropas e em defesa de sua nação. Logo depois, Goebbels comete suicídio juntamente com sua esposa e filhos.

Propaganda na Guerra Fria.

Durante a Guerra Fria a propaganda foi utilizada largamente pelos dois regimes a idéia era projetar ao mundo a superioridade das propostas sociais dos regimes, ao mesmo tempo em que incutia a idéia de medo pelo regime oposto. Era normal em filmes Norte Americanos vermos o homem Soviético retratado de forma estereotipada como frio, forte e desumano, enquanto Americanos lutavam como heróis e venciam a batalha final, sempre com a imagem da bandeira nacional ao fundo.

Os Estados Unidos exaltavam seu estilo de vida livre. A idéia a ser propagada era: Norte-americanos são os representantes do bem e da liberdade lutando pelo mundo contra o mal e a opressão, representados pela URSS. A propaganda de governo Soviético por sua vez ressaltou a superioridade do seu regime frente ao imperialismo capitalista, com discurso sempre otimista com temas como: Sucesso nacional e produtividade.

A importância da propaganda já era exaltada por Lênin. As grandes construções e esculturas reforçavam a idéia da autoridade do estado e sucesso do regime. Havia forte censura em toda mídia. Filtravam-se notícias internacionais, chegando até a introduzir falsas noticias em seus noticiários.

Nas Américas, a Rádio Habana Cuba, por sua vez difundia a propaganda recebida da Rádio Moscou. A guerra do Vietnã foi um "prato feito" para campanhas anti-Americanas, dentro e fora de seu pais.

Atualmente.

Como já foi dito, os principais fatos históricos da propaganda sempre estiveram ligados à igreja ou as guerras. A Igreja Católica como precursora da propaganda continua a arrebanhar fieis com suas ferramentas. Reformulando e adequando sua linguagem e posicionamento através dos tempos.

No Brasil vemos Igrejas Evangélicas utilizando constante e sistematicamente a propaganda como forma de arrebanhar novos fieis. Algumas igrejas utilizam o “boca a boca” e outras lançam mão da propaganda de massa, veiculando programações inteiras na televisão. Existem princípios como o de células "G12", onde a doutrina é propagada para pequenos grupos de 12 pessoas ligadas a um líder, posteriormente estas formarão novas células como líderes, arrebanhando mais e mais seguidores.


Prof. Dennys Monteiro
E-mail: contato@rg9.org

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Botinada: acervo do punk paulista


DVD Botinada reúne a turma do punk paulista para fazer justiça ao movimento musical no Brasil


O DVD "Botinada - A Origem do Punk no Brasil", de Gastão Moreira, que conta a história do punk em São Paulo, chega num momento em que se completa 30 anos do nascimento da música punk. Isto é, se considerar o surgimento da banda inglesa Sex Pistols, em 1976, como início do gênero. Por aqui, sendo o assunto restrito a poucas imagens e livros publicados, o documentário faz justiça ao movimento nascido na periferia paulistana e comprova que o punk foi uma articulosa ação entre amigos.

Do Clemente, da Vila Carolina, que conheceu Redson, do Capão Redondo que, juntos, começaram a manter contato com Ariel e Robson. Todos das regiões periféricas de São Paulo, desempregados e pobres por excelência. Em comum também há o fato de todos eles, quando adolescentes, terem vivido um rito de passagem no final dos anos 1970 com a descoberta das bandas punks inglesas. Quando se percebeu, esses amigos já eram uma pequena multidão estilizada de preto, alfinetes e correntes pelo corpo que freqüentavam a Galeria do Rock, o Largo São Bento e organizavam pequenos shows nos salões da periferia.
Numa época em que a troca de informação, a gravação de discos e a divulgação estavam longe de atingir as facilidades encontradas por qualquer banda que surge hoje em dia, o movimento punk paulista foi, preponderantemente, dependente da coletividade. O "faça você mesmo" dos jovens suburbanos era organizado em uma espécie de cooperativa que ajudava a multiplicar discos raros em fitinhas cassetes. Da primeira coletânea da revista POP, em 1977 ("A Revista POP apresenta o Punk Rock"), dos discos importados vendidos na loja Wob-Bop, até as primeiras bandas Restos do Nada, AI-5, Condutores de Cadáveres e Cólera.

O inimigo comum era, obviamente, o rock complicado do progressivo, os solos intermináveis do Led Zeppelin e a onda da discoteca que tomava conta das casas noturnas no final dos anos 70, além da famigerada MPB. Num manifesto de repúdio à música brasileira, Clemente, do Inocentes, atacou numa paulada só Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa e os ícones da música de protesto brasileira: Chico Buarque e Vandré. "Nós estamos aqui para revolucionar a MPB. Para pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar nas flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer", diz ele em um trecho do documentário.

Assim como lá fora, os parcos acordes, o inconformismo e as críticas a uma sociedade alienada e burguesa (combinados com um visual rebelde), reuniram ingredientes necessários para um grito primal musical e estético. Se o Sex Pistols teve Malcolm McLaren a frente do marketing da banda, o Brasil contava com seus impulsionadores, como Fábio, da loja e seIo independente New Face e da loja Punk Rock Discos; o escritor Antônio Bivar, autor do seminal livro "O que é Punk?", e Kid Vinil, que trazia as novidades do gênero em seu programa na rádio Excelsior.

Se já era difícil para aqueles jovens comprar um instrumento - muitos nem sabiam tocar - imagine gravar um disco. A saída foi, mais uma vez, usar o espírito de coletividade para quebrar essa barreira, com a gravação da coletânea "Grito Suburbano", em 1982. Esse primeiro registro reuniu as bandas Inocentes, Cólera e Olho Seco. Outras localidades esboçaram seus pequenos movimentos punks. O Grupo da Colina, de Brasília, capitaneado pelo Aborto Elétrico, a polêmica Camisa de Vênus, bahiana e liderada por Marcelo Nova, que já no fim dos anos 70 veiculava, em seu programa na FM Aratu, músicas de Sex Pistols.
Além do mérito de reunir os remanescentes do punk paulista, o documentário de Gastão Moreira garimpou imagens raríssimas das primeiras apresentações. Como a da banda Cólera num programa de calouros da TV Tupi e o inusitado show do Inocentes no sofisticado reduto burguês Gallery, até desembocar no festival que marcou aquela geração - "O Começo do Fim do Mundo", no Sesc Pompéia. Momento em que o punk paulista encontrou sua dispersão. A rivalidade entre os punks da capital e do ABC, na Grande São Paulo, as brigas de gangues e a o próprio fim da inocência daqueles jovens ajudou a desestabilizar o movimento.

Levar botinada, ser preso e ter seus shows interrompidos pela polícia já era rotina dos seus adeptos. Rotulado de violento e marginal, demonizado por uma parcela da mídia e pela classe média, o punk paulista se auto-imolou. A excursão de Clemente pelas delegacias inspirou a música "Maldita polícia", do Inocentes ("São nossos inimigos ou não/Não posso confiar em quem tem uma arma na mão"). Muitas bandas sobrevivem até hoje, mas sem a união que as caracterizaram. O final de 1982 e o ano seguinte marcariam o início de uma outra fase com a ascensão de outras bandas. Era o rock brasileiro que abriria os cofres do mercado fonográfico para músicos com caras de bonzinhos e letras mais acessíveis. Ficou a lição de uma causa, da vontade em desenvolver suas próprias idéias e de um estilo musical que ainda alimenta o som dos jovens roqueiros brasileiros.


"Botinada - A origem do Punk no Brasil"
(BRA/2006 110 minutos)
Direção: Gastão Moreira
Com depoimentos de Clemente, Ariel, Índio, Redson, Tina, Vladi, Wander Wildner, João Gordo, Marcelo Nova, Kid Vinil, Fábio, Antonio Bivar, entre outros
Lançamento ST2 Vídeo
Legenda: Português / Inglês / Espanhol
Preço médio: R$ 50

sábado, 24 de julho de 2010

“CERTAS COISAS você deve dizer, ou vai lamentar depois.”

Quem está dizendo essa verdade absoluta é Paul McCartney. É uma daquelas noites soberbas do verão inglês, em que uma brisa fresca neutraliza o calor de quase 30 graus. É domingo. Paul está no palco do Hyde Park, em Londres, e eu a alguns metros, de pé na grama que convida a deitar, no meio de milhares de pessoas de todas as idades que, como eu, riem infantilmente ao ver e ouvir Paul. Me dei conta, ali no Hyde, de que, sobretudo quando se tratava de canções dos Beatles, minha risada era fácil, genuína, tola mesmo. Igual à que tenho quando falo com minha caçula Camila pelo Skype.

É um concerto beneficiente, em prol do combate ao HIV na África. Boa parte dele está no vídeo acima, do YouTube.

Paul se refere, na sua reflexão de vida prática, a John Lennon. Foram parceiros incomparáveis. Compartilharam a glória precoce e os excessos que ela sempre traz. Basicamente, no caso deles, drogas, sexo e rock’n roll. E depois se separaram com amargor. Escreveram canções duras um para o outro.

Fazia dez anos que os Beatles tinham acabado quando John foi assassinado em frente de seu prédio em Nova York, pouco depois de lançar um disco de retorno de um silêncio de cinco anos. John e Paul estavam ressentidos um com o outro.

Paul não disse, depois, certas coisas que gostaria de dizer a John. As balas destruíram essa possibilidade. E ele então transformou essa frustração em arte. Escreveu a homenagem a John mais bonita entre tantas que foram feitas: a comunidade do rock estava de joelhos naquele final de 1980. Era como se tivesse morrido a música, e não John.

A resposta de Paul foi Here Today. A jornada de ambos é relembrada sob uma melodia triste e linda, as marcas essenciais de Paul, expressas em canções como Yesterday, Eleanor Rigby, The Long and Winding Road e Let it be. É uma conversa imaginária.

“E se eu dissesse que realmente amei você e fiquei encantado porque você apareceu no meu caminho?” Esse é meu verso predileto.

Quantas vezes gostaríamos de dizer coisas assim e simplesmente perdemos a chance, por orgulho, vaidade, ou simplesmente por acreditarmos que teremos muitas oportunidades sem considerar a precariedade de tudo?

Em escala menos dramática, pensei nisso ao dizer a Paul, numa entrevista em Londres no final do ano passado, o quanto sou grato a ele, por ter me proporcionado e proporcionar tantos momentos bons. Não sei de teria outra chance, e aproveitei.

Paul é, evidentemente, um homem feliz com seu ofício. Troca de instrumento constantemente no palco, e você tem a sensação de que ele ficaria tocando a noite toda se pudesse. Vai bem em tudo, do piano à guitarra solo, mas é no baixo que excede. É o maior baixista do rock, e quase que por acaso: alguém tinha que tocar baixo quando Stu Sutcliff deixou a banda, e George era muito bom e John acabara de comprar uma guitarra nova. Logo … Ninguém tem que insistir muito para um bis, e outro. Agradece os aplausos a cada música. Empunhou no Hyde uma bandeira da Inglaterra, uma forma de confortar um país que acabara de ser massacrado na Copa do Mundo e logo por quem — os alemães, que os ingleses abominam, um sentimento plenamente correspondido e alimentado em campos de batalha ao longo de séculos. Mexe nos cabelos pintados e talvez implantados como se fosse na cabeleira que mesmerizou o mundo nos anos 60, o célebre mop top, a franjinha. Duas vezes ele olha para o céu azul de Londres no concerto. Uma é quanto canta Jet, da época do Wings.

Outra é quando fala em John antes de Here Today. Encerro com ela, abaixo. E sugiro que esse texto seja lido com a música que, por alguns minutos e ao mesmo tempo para sempre, reúne os dois meninos de Liverpool que num certo dia se encontraram numa festinha de igreja para imensa sorte de todos nós, John Winston Lennon e James Paul McCartney.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Análise da Psiquiatria - Dr. Freud


ROTEIRO.
1-Introdução.
2- Uma breve cronologia da época de Freud.
3- Fragmentos da Pré-história dos sonhos.
4- Fragmentos da Teoria de Interpretação dos Sonhos.
5- Sonhos transcritos de um livro com a interpretação dada. Retirados do livro Interpretação dos Sonhos - Freud.
5.1- Relato de Freud de um sonho de um adulto.
5.2- Relato de Freud de um sonho de uma criança.
5.3- Relato de Freud de um sonho de uma senhora.
6- Relato de um sonho com a interpretação dada, acrescentando minha interpretação.
6.1-O segundo sonho de Dora (Freud, Obras Psicológicas Completas - Volume VII).
6.2-Complemento da interpretação de Freud realizado baseado na discussão do caso.
7-Apresente um sonho de um paciente ou de uma pessoa conhecida dando uma interpretação.
8-Apresente um sonho seu com a devida interpretação.
8.1- Um sonho que eu tive com a minha interpretação.
9-O significado simbólico dos sonhos e as origens dos nomes.
9.1-O significado simbólico dos sonhos.
9.2- Origens dos nomes.
10-Bibliografia.


1-INTRODUÇÃO.
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua obra-prima A Interpretação dos Sonhos (Die Traumdeutung) . O livro levou dois anos (1898 e 1899) para ser escrito e nele Freud edificou os principais fundamentos da teoria psicanalítica , constituindo como o ponto de apoio para todo o desenvolvimento posterior da sua obra.. Para Freud, a essência do sonho é a realização de um desejo infantil reprimido. E foi a partir desse princípio que ele elaborou as bases do método psicanalítico.
Antes de Freud, os sonhos eram considerados apenas símbolos, analisados como se fossem premonições ou manifestações divinas. Freud , por meio da análise dos sonhos, mostrou a existência do inconsciente e transformou algo tido pela ciência como o lixo do pensamento, no caso os sonhos, em um instrumento revelador da personalidade humana. Os sonhos mostram uma clara preferência pelas impressões dos dias imediatamente anteriores. Têm à sua disposição as impressões mais primitivas da nossa infância e até fazem surgir detalhes desse período de nossa vida que, mais uma vez, parecem-nos triviais e que, em nosso estado de vigília, acreditamos terem caído no esquecimento há muito tempo.
Para que um sonho seja interpretado é necessário que não tentemos entendê-lo de uma só vez, na sua totalidade, pois devido a ser formado no inconsciente só existe afetos e fragmentos da realidade, logo muito confuso no primeiro momento. Devemos dividi-lo em partes de acordo com o contexto do paciente e vamos decifrando-o lentamente sem adotar um critério cartesiano, pois o mesmo fragmento de um conteúdo pode ocultar um sentido diferente quando ocorre em várias pessoas ou em situações diferentes.
O sonho é justamente o fenômeno da vida psíquica normal em que os processos inconscientes da mente são revelados de forma bastante clara e acessível ao estudo. Na concepção freudiana, o sonho é um produto da atividade do Inconsciente e que tem sempre um sentido intencional, a saber: a realização ou a tentativa de realização - mais ou menos dissimulada, de uma tendência reprimida. Assim, os sonhos revelam a verdadeira natureza do homem, embora não toda a sua natureza, e constituem um meio de tornar o interior oculto da mente acessível a nosso conhecimento.
O sonho e as histéricas iniciam a psicanálise, dão-lhe, com Freud, o sopro inicial. Na Teoria dos Campos, é claro, também se pensa o sonho. Despertos, nossos atos, idéias, sentimentos arranjam-se segundo as linhas de força que, ao dormir, emergirão como um episódio onírico. Nossa identidade, com seus “Eus” em diálogo ou disputa, é composta de enredos que melhor se apreciam nos sonhos. As personagens de tais enredos povoam também nossa realidade, esgueirando-se entre os objetos do dia a dia, encarnando-se num amigo, numa pessoa que nos desperta a paixão, em nós mesmos. Sonho após sonho se fazem presentes; até que um desses nos permita interpretar seu sentido e despertar do sonho em que estávamos imersos.
O sonho pode deixar-nos tocar a rosa que vemos — e, ainda assim, estaremos sonhando. Existe um critério para determinar se estamos sonhando ou acordados, e esse é o critério puramente empírico do fato de acordarmos. Tudo o que experimentamos entre adormecer e acordar é ilusório quando, ao despertar, verificamos que estamos deitados na cama. Durante o sono, tomamos as imagens oníricas por imagens reais graças ao nosso hábito mental (que não pode ser adormecido) de supor a existência de um modo externo com o qual estabelecemos um contraste com o nosso ego.
Assim sendo, a interpretação dos sonhos desvela, sobretudo, os conteúdos mentais, pensamentos, dados e experiências que foram reprimidos ou recalcadas, excluídos da consciência pelas atividades de defesa do ego e superego e enviadas para o inconsciente. A parte do id cujo acesso à consciência foi impedido, é exatamente a que se encontra envolvida na origem das neuroses. Portanto, o interesse de Freud pelos sonhos teve origem no fato de constituírem eles processos normais, com os quais todos estão familiarizados, mas que exemplificam processos atuantes na formação dos sintomas neuróticos. Surge o sonho, via de regra, numa zona congestionada do entrelaçamento dos campos, de onde resulta que seu conteúdo exprima regras atinentes a distintos temas psíquicos simultaneamente; por isso não possui um só sentido latente, mas uma rede de significações emocionais, o sonho é um momento diagnóstico por excelência, identifica o sujeito.
Não é absurdo pedir explicações e associações ao paciente que conta um sonho, quer dizer, tratar o sonho como episódio distinto e fenômeno isolável. Faça isso quando achar oportuno, mas não se esqueça que a forma pela qual o sonho foi narrado e o conjunto inteiro das idéias que o cercam, ainda e sobretudo se não lhe parecem conectadas, são associações também, potencialmente. Com o sonhador, o analista sonha empaticamente, deixando-se levar pela iluminação que o sonho propicia, sem pressa, esperando que a precipitação insemine-lhe as idéias, para poder operar no mesmo ritmo do campo onírico.
O sonho é uma defesa do sono, a isso pode acrescentar-se que o sonho aberto, essa história visual que se vive de noite e se conta de dia, é a oportunidade para sair de um sonho, da surda corrente subterrânea dos temas de que o sonho trata, cuja lógica preside ocultamente a vigília, até que se possa manifestar num episódio constituído, ganhando estatuto de consciência. Segundo Freud, não existe nenhum fundamento nos fatos de que os sonhos tem o poder de adivinhar o futuro e nos sonhos não existem sentimentos morais.
Como existe uma forte tendência a se esquecer um sonho, por obra da resistência, e quase todos assim se perdem, a função do analista é também de recordação. Ele tem a função de manter o sonho à tona por um tempo mais longo do que espontaneamente se daria e por acompanhar seu movimento de disseminação e nova concentração, e não é uma tarefa fácil, pois em nós também operam resistências.


2- UMA BREVE CRONOLOGIA DA ÉPOCA DE FREUD.
1856 - Em 6 de maio nasce Sigmund Freud, o fundador da psicanálise e autor da obra A Interpretação dos Sonhos, na cidade Freiberg, Morávia (hoje Pribor), na atual República Tcheca, então parte do Império Austríaco. Filho de Jacob Freud, comerciante de lãs, e de Amalia Nathanson, sua terceira esposa, é registrado com o nome Schlomo Sigismund. Aos 22 anos ele muda o prenome para Sigmund.
1873 - Freud ingressa na Universidade de Viena para estudar medicina. Forma-se oito anos depois. Nasce o psiquiatra e psicanalista húngaro Sandor Ferenczi, que virá a ser o discípulo preferido de Freud e também o clínico mais talentoso da história do freudismo. Nasce também Juliano Moreira, médico baiano que, depois de se formar em psiquiatria dinâmica na Europa, será um dos introdutores das idéias freudianas no Brasil.
1875 - Nasce o psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica Carl Gustav Jung. Fundador da escola de psicoterapia, especialista em psicoses e interessado pelo orientalismo, sua obra será tão abundante quanto a de Freud.
1876 - Freud desenvolve trabalhos em neurologia e fisiologia.
1879 - Nasce o psiquiatra e psicanalista inglês Ernest Jones, de grande importância para a história política do freudismo. Será o fundador da psicanálise na Grã-Bretanha e criador do Comitê Secreto, círculo formado por discípulos de Freud para discussões de temas ligados à psicanálise. Pioneiro da historiografia psicanalítica e da tradução inglesa da obra freudiana. Terá uma longa correspondência de 671 cartas com Freud. Fará um grande trabalho de implantação das idéias freudianas no Canadá e nos EUA.
1882 - É criada uma cátedra de clínica de doenças nervosas, da qual o médico e fisiologista francês Jean Martin Charcot é o titular. A neurologia passa assim a ser reconhecida como uma disciplina autônoma pela primeira vez. Charcot, ligado à história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise, é o último grande representante da psiquiatria dinâmica.
1885 - Freud viaja a Paris para iniciar um estágio com Charcot. Este terá papel fundamental na formação do jovem Sigmund. As várias cartas que trocaram estão traduzidas no livro "Lições da terça-feira".
1886 - Freud volta a Viena, onde se estabelece como médico e dirige o Departamento de Neurologia, primeiro instituto público para crianças. Entre 1886 e 1890 exerce medicina como especialista em doenças nervosas. Freud se casa com Martha Bernays, com quem terá 6 filhos. Anna Freud, a filha mais velha, se tornará psicanalista e fundará sua própria corrente. No ano seguinte, inicia estudos com hipnose.
1892 - Freud elabora o método das associações livres (técnica usada pela psicanálise na qual o paciente deve esforçar-se a dizer tudo que lhe vier à cabeça, principalmente aquilo que ele se sinta tentado a omitir).
1893 - Início da correspondência entre Freud e Wilhelm Fliess, seu amigo íntimo e médico voltado a estudos relacionados à sexualidade. A correspondência entre eles terá uma enorme importância no desenvolvimento de teoria psicanalítica de Freud. Charcot morre neste ano.
1895 - Publica com Josef Breuer Estudos sobre a Histeria. Freud faz a primeira interpretação de um sonho seu: "A injeção de Irma", que parece ser a encenação de um romance familiar das origens e da história da psicanálise.
1896- Surge pela primeira vez o termo psicanálise, para nomear um método específico da psicoterapia. No mesmo ano, a correspondência entre Fliess e Freud apresenta a expressão "aparelho psíquico" e seus três componentes: consciente, pré-consciente e inconsciente.
1897 - Através de correspondência com Wilhelm Fliess, Freud inicia o que ele chamaria de sua auto-análise. Freud escreve a Fliess dizendo que está abandonando a teoria da sedução, segundo a qual a principal causa das neuroses são os traumas causados nas crianças pelos adultos. Freud começa a redigir A Interpretação dos Sonhos. Primeira interpretação de Freud da tragédia de Édipo Rei, de Sófocles.
1899 - Publicação de A Interpretação dos Sonhos, de Freud (sua edição, porém, é datada de 1900).
1900 - Nasce o médico fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Durval Ballegardi Marcondes. Marcondes toma conhecimento das obras de Freud aos 20 anos.
1901 - Nasce o psiquiatra e psicanalista francês Jacques Lacan, responsável por reformular a obra freudiana, dando-lhe um caráter mais filosófico e tirando-lhe o substrato biológico. Lacan elaborará inúmeros conceitos (imaginário, simbólico, real, significante, sujeito, psicologia dos povos) que enriquecerão as formulações clínicas. Será considerado o único verdadeiro mestre psicanalista da França.
1902 - Criada a primeira sociedade psicanalista do mundo, em Viena, com o nome de Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras.
1903 - Freud analisa uma criança de 5 anos. É a primeira psicanálise feita em crianças.
1906 - Início das correspondências entre Freud e Jung. Amigo e discípulo de Freud até 1913, Jung estabelece com ele uma forte correspondência que chegou a 359 cartas. Jung já tinha uma concepção de inconsciente e do psiquismo quando decidiu se aproximar de Freud. O que o levou ao pai da psicanálise foi o fascínio por uma obra na qual acreditava encontrar a confirmação de suas hipóteses sobre as idéias fixas subconscientes, as associações verbais e os complexos.
1907 - Jung cria a Sociedade Freud em Zurique. Mais tarde, esta se torna a Associação Psicanalítica de Zurique.
1908 - Sandor Ferenczi visita Freud pela primeira vez, depois de ler A Interpretação dos Sonhos. A partir deste encontro, trocam cerca de 1.200 cartas durante 25 anos. Acontece o Primeiro Congresso Internacional de Psicanálise em Salzburgo, com o título: "Encontro dos psicólogos freudianos". Neste congresso, em que 42 membros de 6 países estiveram presentes, Freud encontra-se com Ernest Jones pela primeira vez. Acontece também o Primeiro Congresso sobre Psicanálise em Salzburgo, Áustria. Hermine von Hug-Hellmuth se torna a primeira mulher psicanalista de crianças.
1910 - Criada a a International Psychoanalytical Association (IPA), no II Congresso Internacional de Psicanálise de Nuremberg, sendo Carl Jung eleito seu primeiro presidente. A IPA virá a ser uma organização internacional responsável por reunir as sociedades de diferentes países. O médico chileno German Greve apresenta as teses freudianas pela primeira vez na América Latina, em um congresso de medicina em Buenos Aires.
1912 - Ernest Jones cria a American Psycoanalytic Association (APsaA).
1913 - Início do conflito entre Jung e Freud, após Jung tentar convencer Freud a dessexualizar sua doutrina. O conflito resultará, mais tarde, na ruptura definitiva entre eles.
1920 - A filha mais velha de Freud, Sofia, veio a falecer e depois o seu neto, filho de Sofia.
1921 - No Brasil, em São Paulo, Durval Marcondes começa a se orientar para a psicanálise.
1923 – Costata um câncer no maxilar de Freud, o que o leva a 33 cirurgias e a perder o maxilar superior, tendo de instalar aí uma prótese para separar a boca. Primeira difusão das obras de Freud em espanhol na América Latina. Publica O Ego e o Id. Surgem os primeiros sinais de câncer de boca.
1924 - A Sociedade Psicanalítica de Moscou passa a ser filiada à IPA, apesar de não receber o apoio de Ernest Jones. A filiação é defendida por Freud desde 1922.
1925 - Instauram-se as regras da psicanálise didática, que devem ser seguidas por todos os integrantes da IPA. Freud publica a sua auto-biografia.
1927 - Durval Marcondes e Franco da Rocha criam, em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Psicanálise, a primeira sociedade freudiana da América Latina. Inicia-se o conflito entre europeus e americanos quanto à admissão de não-médicos na IPA.
1928 - O conflito leva à fundação da Associação Médica de Psicanálise em Paris, reservada apenas aos médicos. A Associação jamais se filiará à IPA. Publicação da primeira revista brasileira de psicanálise, sob responsabilidade de Durval Ballegardi.
1929 - A Sociedade Brasileira de Psicanálise é admitida na IPA.
1933-1939 - A terminologia freudiana é banida do vocabulário da psiquiatria e da psicologia da Alemanha. A psicanálise é considerada como uma ciência judaica. Neste período há uma grande emigração de psicanalistas alemães para a Argentina, Inglaterra e Estados Unidos. Os livros de Freud são queimados na Alemanha.
1934 - Jung é denunciado por excluir judeus de uma sociedade composta por psiquiatras e psicoterapeutas. É o início da polêmica da adesão de Jung ao nazismo.
1935 - Muitos titulares judeus de sociedades de psicanálise têm que se demitir para "salvar a psicanálise na Alemanha".
1936 - Adelheid Lucy Koch vem ao Brasil. Ela é a primeira psicanalista didática, responsável por iniciar Durval Marcondes e outros na psicanálise. Também contribuirá para que a Sociedade Brasileira de Psicanálise seja reconhecida pela IPA.
1938 - Fugindo do nazismo, fixa residência em Londres com a esposa e filhos. Com a ascensão do nazismo, os seus livros são queimados em praça pública. Os nazistas revistam sua casa e levam seus objetos de coleção de antiguidades.
1939 - Em 23 de setembro, Freud morre de um câncer de mandíbula, do qual padeceu durante 16 anos.
Depois deste período ocorrem muitas controvérsias, resultando no desdobramento da psicanálise em várias correntes. Até 1997, o freudismo estaria implantado em 41 países do mundo. O país que mais possui psicanalistas por habitante é a França, seguido pela Argentina, a Suíça, os Estados Unidos e o Brasil.


3-FRAGMENTOS DA PRÉ-HISTÓRIA DOS SONHOS.
A visão pré-histórica dos sonhos sem dúvida ecoou na atitude adotada para com os sonhos pelos povos da Antiguidade clássica. Eles aceitavam como axiomático que os sonhos estavam relacionados com o mundo dos seres sobre-humanos nos quais acreditavam, e que constituíam revelações de deuses e demônios. Não havia dúvida, além disso, de que, para aquele que sonhava, os sonhos tinham uma finalidade importante, que era, via de regra, predizer o futuro. A extraordinária variedade no conteúdo dos sonhos e na impressão que produziam dificultava, todavia, ter deles qualquer visão uniforme, e tornava necessário classificá-los em numerosos grupos e subdivisões conforme sua importância e fidedignidade. A posição adotada perante os sonhos por filósofos isolados na Antiguidade dependia, naturalmente, até certo ponto, da atitude destes em relação à adivinhação em geral.
Nas duas obras de Aristóteles que versam sobre os sonhos, ele já se tornaram objeto de estudo psicológico. Informam-nos as referidas obras que os sonhos não são enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são “demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina. Os sonhos, em outras palavras, não decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem as leis do espírito humano, embora este, é verdade, seja afim do divino. Definem-se os sonhos como a atividade mental de quem dorme, na medida em que esteja adormecido.
Aristóteles estava ciente de algumas características da vida onírica. Sabia, por exemplo, que os sonhos dão uma construção ampliada aos pequenos estímulos que surgem durante o sono. “Os homens pensam estar caminhando no meio do fogo e sentem um calor enorme, quando há apenas um pequeno aquecimento em certas partes.” E dessa circunstância infere ele a conclusão de que os sonhos podem muito bem revelar a um médico os primeiros sinais de alguma alteração corporal que não tenha sido observada na vigília.
Antes da época de Aristóteles, como sabemos, os antigos consideravam os sonho não como um produto da mente que sonhava, mas como algo introduzido por uma instância divina; e, já então, as duas correntes antagônicas que iremos encontrar influenciando as opiniões sobre a vida onírica em todos os períodos da história se faziam sentir. Traçou-se a distinção entre os sonhos verdadeiros e válidos, enviados ao indivíduo adormecido para adverti-lo ou predizer-lhe o futuro, e os sonhos vãos, falazes e destituídos de valor, cuja finalidade era desorientá-lo ou destruí-lo.
Nos sonhos está a verdade: nos sonhos aprendemos a conhecer-nos tal como somos, a despeito de todos os disfarces que usamos perante o mundo, sejam eles enobrecedores ou humilhantes. O homem honrado não pode cometer um crime nos sonhos, ou, se o fizer, ficará tão horrorizado com isso como com algo contrário à sua natureza. Um imperador romano poderia condenar à morte um homem que sonhara ter assassinado o governante pois estaria justificado em fazê-lo, se raciocinasse que os pensamentos que se têm nos sonhos também se têm quando em estado de vigília. A expressão corriqueira ‘eu nem sonharia em fazer tal coisa’ tem um significado duplamente correto, quando se refere a algo que não pode encontrar guarida em nosso coração nem em nossa mente. Platão, ao contrário, considerava que os melhores homens são aqueles que apenas sonham com o que os outros fazem em sua vida de vigília.
“É impossível pensar em qualquer ato de um sonho cuja motivação original não tenha passado, de um modo ou de outro — fosse como desejo, anseio ou impulso —, através da mente desperta.” Devemos admitir, prossegue Hildebrandt, que esse impulso original não foi inventado pelo sonho; o sonho simplesmente o copiou e desdobrou, meramente elaborou de forma dramática um fragmento de material histórico que encontrou em nós; meramente dramatizou as palavras do Apóstolo: “Todo aquele que odeia seu irmão é assassino.” [1 João 3, 15.] E embora, depois de acordarmos, conscientes da nossa força moral, possamos sorrir de toda a elaborada estrutura do sonho pecaminoso, mesmo assim o material original de que derivou a estrutura não conseguirá despertar um sorriso. Sentimo-nos responsáveis pelos erros do sonhador — não por sua totalidade, mas por uma certa percentagem. “Em suma, se compreendemos, nesse sentido quase incontestável, as palavras de Cristo, de que ‘do coração procedem os maus pensamentos’ [Mateus 15, 19], dificilmente escaparemos à convicção de que um pecado cometido num sonho traz em si pelo menos um mínimo obscuro de culpa.
Robert descreve os sonhos como “um processo somático de excreção do qual nos tornamos cônscios em nossa reação mental a ele”. Os sonhos são excreções de pensamentos que foram sufocados na origem. “Um homem privado da capacidade de sonhar ficaria, com o correr do tempo, mentalmente transtornado, pois uma grande massa de pensamentos incompletos e não elaborados e de impressões superficiais se acumularia em seu cérebro e, por seu grande volume, estaria fadada a sufocar os pensamentos que deveriam ser assimilados em sua memória como conjuntos completos.” Os sonhos servem de válvula de escape para o cérebro sobrecarregado. Possuem o poder de curar e aliviar.
Até meados do século XIX, os sonhos eram interpretados de acordo com os códigos das tradicionais "Chaves dos sonhos" que os viam como uma previsão do futuro. Seria necessária a intuição de alguns médicos alienistas e a audácia de alguns escritores para pressentir que o sonho fala sonhador sobre ele próprio. Mas antes de Freud, o conteúdo da mensagem permanecia indecifrável.
Por seu título e conteúdo, onde os sonhos são vistos como uma linguagem premonitória sobrenatural, ele se inscreve numa leitura tradicional do onírico. No passado, a leitura encontra sua fonte na crença de que os sonhos são enviados por Deus, pouco a pouco colado a uma dimensão mágica (na melhor das hipóteses) ou satânica (na pior). A etimologia da palavra "cauchemar" (pesadelo) é reveladora desse deslocamento, "cocher" significa em francês arcaico "chevaucher" (cavalgar): o corpo do sonhador possuído pelo pesadelo é cavalgado pelos demônios. Incluído nesse feixe de superstições, o sonho é estranho ao sonhador, ele é enviado por um "outro", cuja identidade não é nunca conhecida. Ele tem o papel de mensageiro que força a olhar o futuro através de seu prisma.
Esta vitalidade de práticas ligadas à superstição revela certa inércia de idéias. Ela prova um desconhecimento completo da natureza do imaginário noturno. Só a reflexão teológica sobre a responsabilidade moral do sonhador (assaltado de maus pensamentos ou de imagens eróticas que provocam ejaculações noturnas) tem o mérito de relacionar o indivíduo e o sonho que ele forma, tão estranhos um ao outro nas crenças populares.
Quanto ao povo, este recorre aos ciganos, que eram perseguidos por ler os sonhos e punidos pelo código penal com uma multa de onze a quinze francos e prisão de cinco dias em caso de reincidência.
No entanto, a moda da oniromancia declina na segunda metade do século. Várias razões podem, com cautela, ser levantadas. A mestiçagem das populações sob o efeito da revolução industrial e o êxodo rural que se segue contribuem para cortar a ligação com as crenças ancestrais. O progresso da instrução trabalha para desenraizar as superstições. A descristianização e recristianização contribuem ambas para matar a figura de Satã e seus acólitos.
Por fim, todo um arsenal legislativo reforça a proibição de interpretar sonhos suscetíveis de favorecer os delírios de grandeza e as revoltas. As adivinhadoras perdem assim seu mistério: elas não são mais perseguidas por exercício de bruxaria, mas por abuso de confiança. Uma precaução política que priva o sonho de toda qualidade sobrenatural, sem, por isso, lhe fornecer uma nova identidade.
Através da droga, atingir o sonho, uma escapada bem voluptuosa. Mas também se trata de ultrapassar a condição humana e alimentar a criação. "O haxixe será, para as impressões e os pensamentos familiares do homem, um espelho exacerbador, mas um puro espelho", escreve Baudelaire. A precisão da transcrição nos diários, as trocas epistolares, exprimem o interesse profundo e crescente pelo onírico. Essas narrativas desenham um caminho que leva à descoberta do inconsciente, mas ela é lenta pois vai de encontro às resistências cristalizadas em torno da suscetibilidade narcísica do sonhador.
Freud no livro A Interpretação dos Sonhos relatou, “É difícil escrever uma história do estudo científico dos problemas dos sonhos porque, por mais valioso que tenha sido esse estudo em alguns pontos, não se pode traçar nenhuma linha de progresso em qualquer direção específica. Não se lançou nenhum fundamento de descobertas seguras no qual um pesquisador posterior pudesse edificar algo; ao contrário, cada novo autor examina os mesmos problemas de novo e recomeça, por assim dizer, do início.”.


4-FRAGMENTOS DA TEORIA DE INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.
Foi no decorrer dos estudos psicanalíticos que Freud se deparou com a interpretação dos sonhos. Seus pacientes assumiram o compromisso de lhe comunicar todas as idéias ou pensamentos que lhes ocorressem em relação a um assunto específico, e entre outras coisas, narravam os seus sonhos. Assim ensinaram a Freud que o sonho pode ser inserido na cadeia psíquica a ser retrospectivamente rastreada na memória a partir de uma idéia patológica. Freud disse que todo psicólogo é obrigado a confessar até mesmo suas próprias fraquezas, se acreditar que assim lança luz sobre algum problema obscuro.
Enquanto Freud tratava Frau Emmy von N., em 1889-1890, descobriu que ela apresentava espontaneamente os seus sonhos um material descritivo significativo. Tendo já descoberto a transferência, a resistência e a necessidade de um ego autônomo em terapia, Freud abandonou a hipnose, que criava distorções e adicionava complicações a esses fatores essenciais, e voltou-se para a livre associação e o método que conhecemos como psicanálise. Freud usou então o sonho como ponto de partida para associações que, em última instância, conduziam até as idéias inconscientes que se ocultavam atrás de sintomas e sonhos e eram responsáveis por ambos. Pela primeira vez, o significado dos sonhos era cientificamente abordado.
Todo material que compõe o conteúdo de um sonho é derivado, de algum modo, da experiência, ou seja, foi reproduzido ou lembrado no sonho. É possível que surja, no conteúdo de um sonho, um material que, no estado de vigília, não reconheçamos como parte de nosso conhecimento de nossa vigília, ou de nossa experiência. Lembramo-nos, naturalmente, de ter sonhado com a coisa em questão, mas não conseguimos lembrar se, ou quando, a experimentamos na vida real. Ficamos assim em dúvida quanto à fonte a que recorreu o sonho e sentimo-nos tentados a crer que os sonhos possuem uma capacidade de produção independente. Então, finalmente, muitas vezes após um longo intervalo, alguma nova experiência relembra a recordação perdida do outro acontecimento e, ao mesmo tempo, revela a fonte do sonho. Somos assim levados a admitir que, no sonho, sabíamos e nos recordávamos de algo que estava além do alcance de nossa memória de vigília.
As emoções profundas da vida de vigília, as questões e os problemas pelos quais difundimos nossa principal energia mental voluntária, não são os que costumam se apresentar de imediato à consciência onírica. No que diz respeito ao passado imediato, são basicamente as impressões corriqueiras, casuais e `esquecidas’ da vida cotidiana que reaparecem em nossos sonhos. As atividades psíquicas mais intensamente despertas são as que dormem mais profundamente. Isso nos chama a atenção para o fato de os afetos nos sonhos não poderem ser julgados da mesma forma que o restante de seu conteúdo; e nos confrontamos com o problema de determinar que parte dos processos psíquicos que ocorrem nos sonhos deve ser tomada como real, isto é, que parte tem o direito de figurar entre os processos psíquicos da vida de vigília.
Existem quatro tipos de fontes de sonho:
1-Excitações sensoriais externas (objetivas): todo ruído indistintamente percebido provoca imagens oníricas correspondentes (ex.: trovoada, cantar de um galo, etc.…); sensações de frio, calor, etc.…(ex.: vontade de urinar, partes do corpo descobertas, etc..).
2-Excitações sensoriais internas (subjetivas) dos órgãos dos sentidos: excitações subjetivas da retina, alucinações hipnagógicas ou fenômenos visuais imaginativos.
3-Estímulos somáticos internos (orgânicos): distúrbios dos órgãos internos (ex.: causa sonhos de angústia)
4-Fontes psíquicas de estimulação : material importante para chegar no inconsciente, necessário para o tratamento psicanalítico.
Existem diversas causas para o nosso esquecimento dos sonhos. Geralmente esquecemos o que ocorre somente uma vez. Temos dificuldade em se lembrar o que é desordenado e confuso. Não damos importância significativa aos nosso sonhos. Consideramos o sonho algo enigmático e inexplicado.
Embora seja verdade que os sonhos devem uma parte do seu conteúdo ao evento mental corrente, o resíduo do dia não é suficiente para produzí-los. Um sonho só se forma quando o evento corrente estabelece contato com um impulso do passado, especificamente com um desejo infantil. A experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o despertar, chamamos de sonho, é apenas o resultado final de uma atividade mental inconsciente durante esse processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir com o próprio sonho. Ao invés de acordar, a pessoa sonha. Dormimos porque sonhamos em vez de sonhamos porque dormimos.
Os sonhos das crianças pequenas são freqüentemente pura realização de desejos e são, nesse caso, muito desinteressantes se comparados com os sonhos dos adultos. Não levantam problemas para serem solucionados, mas, por outro lado, são de inestimável importância para provar que, em sua natureza essencial, os sonhos representam realizações de desejos. É possível que os sonhos aflitivos e os sonhos de angústia nos adultos, uma vez interpretados, revelem-se como realizações de desejos.
O sonho é a realização de um desejo, um temor realizado, uma reflexão ou uma lembrança. O sonho de conveniência, satisfaz seus desejos e necessidades. A transformação de representações em alucinações não é o único aspecto em que os sonhos diferem de pensamentos correspondentes na vida de vigília. Os sonhos constroem uma situação a partir dessas imagens; representam um fato que está realmente acontecendo, eles “dramatizam” uma idéia. Mas essa faceta da vida onírica só pode ser plenamente compreendida se reconhecermos, além disso, que nos sonhos — via de regra, pois há exceções que exigem um exame especial — parecemos não pensar, mas ter uma experiência: em outras palavras, atribuímos completa crença às alucinações. Somente ao despertarmos é que surge o comentário crítico de que não tivemos nenhuma experiência, mas estivemos apenas pensando de uma forma peculiar, ou, dito de outra maneira, sonhando. É essa característica que distingue os verdadeiros sonhos do devaneio, que nunca se confunde com a realidade.
Vamos ver um exemplo de sonho de desejo interpretado por Freud : Aventurei-me a interpretar — sem nenhuma análise, mas apenas por meio de um palpite — um pequeno episódio ocorrido com um amigo meu que freqüentara a mesma classe que eu durante todo o nosso curso secundário. Um dia, ele ouviu uma palestra que proferi perante um pequeno auditório sobre a idéia inédita de que os sonhos eram realizações de desejos. Foi para casa e sonhou que perdera todos os seus casos (ele era advogado), e depois me contestou nesse assunto. Fugi à questão, dizendo-lhe que, afinal de contas, não se podem ganhar todos os casos. Mas pensei comigo mesmo: “Considerando que, por oito anos a fio, sentei-me no banco da frente como primeiro da classe, enquanto ele ficava ali pelo meio, ele dificilmente pode deixar de alimentar um desejo, remanescente de seus tempos de escola, de que mais dia menos dia, eu venha a me tornar um completo fracasso.”
O trabalho do sonho está sujeito a uma espécie de exigência de combinar todas as fontes que agiram como estímulos ao sonho numa única unidade no próprio sonho. Os sonhos nunca dizem respeito a trivialidades: não permitimos que nosso sono seja perturbado por tolices. Os sonhos aparentemente inocentes revelam ser justamente o inverso quando nos damos ao trabalho de analisá-los. A fonte de um sonho pode ser:
a) Uma experiência recente e psiquicamente significativa, que é diretamente representada no sonho.
b) Várias experiências recentes e significativas, combinadas numa única unidade pelo sonho.
c) Uma ou mais experiências recentes e significativas, representadas no conteúdo do sonho pela menção a uma experiência contemporânea, mas irrelevante.
d) Uma experiência significativa interna (por exemplo, um lembrança ou um fluxo de idéias), que é, nesse caso, invariavelmente representada no sonho por uma menção a uma impressão recente, irrelevante.
Os sonhos muito freqüentes, por terem como tema a frustração de um desejo ou a ocorrência de algo claramente indesejado, podem ser reunidos sob o título de “sonhos com o oposto do desejo”. Estes sonhos podem ser elaborados, quando um paciente se encontra num estado de resistência ao analista. O segundo motivo para os sonhos com o oposto do desejo está estabelecido em um componente masoquista na constituição sexual de muitas pessoas, que decorre da inversão de um componente agressivo e sádico em seu oposto, pois os sonhos desprazerosos são, ainda assim, realizações de desejos, pois satisfazem suas inclinações masoquistas. Após estas explicações chegamos a conclusão que o sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo (suprimido ou recalcado.)
Os sonhos de angústia são abordados como uma subespécie particular dos sonhos de conteúdo aflitivo. A angústia neurótica se origina da vida sexual e corresponde à libido que se desviou de sua finalidade e não encontrou aplicação. Os sonhos de angústia são sonhos de conteúdo sexual cuja respectiva libido se transformou em angústia. É também instrutivo considerar a relação desses sonhos com os sonhos de angústia. Um desejo recalcado encontrou um meio de fugir à censura — e à distorção que a censura implica. O resultado invariável disso é que se experimentam sentimentos dolorosos no sonho. Da mesma forma, os sonhos de angústia só ocorrem quando a censura é total ou parcialmente subjugada; e, por outro lado, a subjugação da censura é facilitada nos casos em que a angústia já foi produzida como uma sensação imediata decorrente de fontes somáticas. Assim, podemos ver claramente a finalidade para a qual a censura exerce sua função e promove a distorção dos sonhos: ela o faz para impedir a produção de angústia ou de outras formas de afeto aflitivo.
A “angústia de prestar exames” dos neuróticos deve sua intensificação a esses mesmos medos infantis. Os sonhos com o Vestibular geralmente ocorrem nas pessoas que tem sido aprovadas, e nunca nas que foram reprovadas nele.
Quando o sonho é do tipo que se chama “recorrente”, é quando o sujeito teve um sonho pela primeira vez na infância e depois ele reaparece constantemente, de tempos em tempos, durante o sono adulto.
Os sonhos típicos sobre a morte de parentes queridos, encontramos realizada a situação extremamente incomum de um pensamento onírico formado por um desejo recalcado (da morte), que foge inteiramente à censura e passa para o sonho sem modificação.
As fontes somáticas de estimulação durante o sono (isto é, as sensações durante o sono), a menos que sejam de intensidade incomum, desempenham na formação dos sonhos papel semelhante ao desempenhado pelas impressões recentes, mas irrelevantes, deixadas pelo dia anterior. Ou seja, creio que elas são introduzidas para ajudar na formação de um sonho caso se ajustem apropriadamente ao conteúdo de representações derivado das fontes psíquicas do sonho, mas não de outra forma. Dessa maneira, podemos explicar o fato de o conteúdo onírico proporcionado por estímulos somáticos de intensidade não incomum deixar de aparecer em todos os sonhos ou todas as noites.
Quando alguma coisa num sonho tem o caráter de discurso direto, isto é, quando é dita ou ouvida e não simplesmente pensada (e é fácil, em geral, estabelecer a distinção com segurança), então isso provém de algo realmente falado na vida de vigília — embora, por certo, esse algo seja meramente alterado e, mais especialmente, desligado de seu contexto.
O fenômeno da distorção dos sonhos: quando nós temos um sonho e não queremos interpretá-lo ou lembrá-lo é porque estamos tentando esconder ou não queremos enfrentar algo que estávamos combatendo, estava recalcado no nosso inconsciente. Nos casos em que a realização de desejo é irreconhecível, em que é disfarçada, deve ter havido alguma inclinação para se erguer uma defesa contra o desejo; e, graças a essa defesa, o desejo é incapaz de se expressar, a não ser de forma distorcida. Podemos, portanto, supor que os sonhos recebem sua forma em cada ser humano mediante a ação de duas forças psíquicas (ou podemos descrevê-las como correntes ou sistemas) e que uma dessas forças constrói o desejo que é expresso pelo sonho, enquanto a outra exerce uma censura sobre esse desejo onírico e, pelo emprego dessa censura, acarreta forçosamente uma distorção na expressão do desejo.
Quando temos em mente que os pensamentos oníricos latentes não são conscientes antes de se proceder a uma análise, ao passo que o conteúdo manifesto do sonho é conscientemente lembrado, parece plausível supor que o privilégio fruído pela segunda instância seja o de permitir que os pensamentos penetrem na consciência. Nada, ao que parece, pode atingir a consciência a partir do primeiro sistema sem passar pela segunda instância; e a segunda instância não permite que passe coisa alguma sem exercer seus direitos e fazer as modificações que julgue adequadas no pensamento que busca acesso à consciência. Convém notar que o afeto vivenciado no sonho pertence a seu conteúdo latente, e não ao conteúdo manifesto, e que o conteúdo afetivo do sonho permaneceu intocado pela distorção que se apoderou de seu conteúdo de representações.
Quando nos referimos aos sonhos num sentido teórico, temos em mente três entidades distintas: o sonho manifesto, os pensamentos oníricos latentes e o funcionamento do sonho. Aquilo que o paciente recorda e relata como o seu sonho, o sonho manifesto, é uma mensagem críptica que exige decifração. Subjacentes ao sonho manifesto estão idéias e sentimentos, alguns dos quais pertencem ao presente, alguns ao passado, alguns dos quais são pré-conscientes, outros inconscientes: é o conteúdo latente. Os pensamentos latentes, dão origem ao sonho manifesto, e estamos interessados no método pelo qual esses pensamentos latentes são transformados nas imagens recordadas como sonho. O conteúdo latente é a parte mais importante do sonho. Os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçaram acordar a pessoa são denominados como conteúdo latente do sonho.. Toda a significação, desejos, problemas, neuroses e até predisposições psicóticas estão nesta parte. As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto, damos o nome de elaboração do sonho, também chamada dramatização. O processo responsável por essa transformação, que Freud considerava a parte essencial da atividade onírica, é o funcionamento do sonho.
A primeira coisa que se torna clara para quem quer que compare o conteúdo do sonho com os pensamentos oníricos é que ali se efetuou um trabalho de condensação em larga escala. Os sonhos são curtos, insuficientes e lacônicos em comparação com a gama e riqueza dos pensamentos oníricos. Se um sonho for escrito, talvez ocupe meia página. A análise que expõe os pensamentos oníricos subjacentes a ele poderá ocupar seis, oito ou doze vezes mais espaço. O que é claramente a essência dos pensamentos do sonho não precisa, de modo algum, ser representado no sonho. O sonho tem, por assim dizer, uma centração diferente dos pensamentos oníricos — seu conteúdo tem elementos diferentes como ponto central.
O que aparece nos sonhos, poderíamos supor, não é o que é importante nos pensamentos do sonho, mas o que neles ocorre repetidas vezes. No trabalho do sonho, está em ação uma força psíquica que, por um lado, despoja os elementos com alto valor psíquico de sua intensidade, e, por outro, por meio da sobredeterminação, cria, a partir de elementos de baixo valor psíquico, novos valores, que depois penetram no conteúdo do sonho. Assim sendo, ocorrem uma transferência e deslocamento de intensidade psíquicas no processo de formação do sonho, e é como resultado destes que se verifica a diferença entre o texto do conteúdo do sono e o dos pensamentos do sonho. O processo que estamos aqui presumindo é nada menos do que a parcela essencial do trabalho do sonho, merecendo ser descrito como o “deslocamento do sonho”. O deslocamento do sonho e a condensação do sonho são os dois fatores dominantes a cuja atividade podemos, em essência, atribuir a forma assumida pelos sonhos. A conseqüência do deslocamento é que o conteúdo do sonho não mais se assemelha ao núcleo dos pensamentos do sonho, e que este não apresenta mais do que uma distorção do desejo do sonho que existe no inconsciente. Na distorção do sonho, descobrimos sua origem está na censura que é exercida por uma instância psíquica da mente sobre outra. O deslocamento do sonho é um dos principais métodos pelos quais essa distorção é obtida. Podemos presumir, portanto, que o deslocamento do sonho se dá por influência da mesma censura — ou seja, a censura da defesa endopsíquica.
Os sonhos não têm a seu dispor meios de representar as relações lógicas entre os pensamentos do sonho. Em sua maioria, os sonhos desprezam todas essas conjunções, e é só o conteúdo substantivo dos pensamentos do sonho que eles dominam e manipulam. O que é reproduzido pelo aparente pensamento no sonho é o tema dos pensamentos do sonho e não as relações mútuas entre eles, cuja asserção constitui o pensamento. Quando ocorre uma contradição num sonho, ou ela é uma contradição do próprio sonho ou uma contradição oriunda do tema de um dos pensamentos do sonho. Uma contradição num sonho só pode corresponder a uma contradição entre os pensamentos do sonho de maneira extremamente indireta. Alguns sonhos desprezam completamente a seqüência lógica de seu material, outros tentam dar uma indicação tão completa quanto possível dela. Ao fazê-lo, os sonhos se afastam ora mais, ora menos amplamente do texto de que dispõem para manipular.
Nos sonhos a categoria dos contrários e dos contraditórios são simplesmente desconsideradas. O “não” não parece existir no que diz respeito aos sonhos. Eles mostram uma preferência particular por combinar os contrários numa unidade ou por representá-los como uma só coisa. Os sonhos se sentem livres, além disso, para representar qualquer elemento por seu oposto imaginário, de modo que não há maneira de decidir, à primeira vista, se qualquer elemento que admita um contrário está presente nos pensamentos do sonho como positivo ou negativo.
A imagem onírica pode ser composta de traços visuais pertencentes, na realidade, em parte a uma pessoa e em parte à outra. Ou, ainda, a participação da segunda pessoa na imagem onírica pode estar não em seus traços visuais, mas nos gestos que atribuímos a ela, nas palavras que a fazemos pronunciar, ou na situação em que a colocamos. Nesse último caso, a distinção entre a identificação e a construção de uma figura composta começa a perder sua nitidez.
Todo sonho versa sobre o próprio sonhador. Os sonhos são inteiramente egoístas. Sempre que nosso próprio ego não aparece no conteúdo do sonho, mas somente alguma pessoa estranha, podemos presumir com segurança que nosso próprio ego está oculto, por identificação, por trás dessa outra pessoa; posso inserir nosso ego no contexto. Em outras ocasiões, quando nosso ego de fato aparece no sonho, a situação em que isso ocorre pode ensinar-nos que alguma outra pessoa jaz oculta, por identificação, por trás de nosso ego. Uma conclusão no sonho representa uma conclusão nos pensamentos oníricos.
Um afeto experimentado num sonho não é de modo algum inferior a outro de igual intensidade sentido na vida de vigília. A análise nos mostra que o material de representações passou por deslocamentos e substituições, ao passo que os afetos permaneceram inalterados. A inibição do afeto, por conseguinte, deve ser considerada como a segunda conseqüência da censura dos sonhos, tal como a distorção onírica é sua primeira consequência.
Em geral, é necessário buscar outra fonte de pensamentos do sonho, uma fonte que esteja sob a pressão da censura. Em resultado dessa pressão, essa fonte normalmente produziria, não satisfação, mas o afeto contrário. Graças à presença da primeira fonte do afeto, porém, a segunda fonte fica habilitada a subtrair do recalque seu afeto de satisfação e a permitir que ele funcione como uma intensificação da satisfação da primeira fonte. Assim, parece que os afetos nos sonhos são alimentados por uma confluência de diversas fontes e sobredeterminados em sua referência ao material dos pensamentos oníricos. Durante o trabalho do sonho, as fontes de afeto passíveis de produzir o mesmo afeto unem-se para gerá-lo.
O sonho não só apresenta as formas e facetas de resistência, mas pode tornar-se um veículo para a expressão da força que se opõe à análise. A mesma resistência que usa o sonho para absorver uma hora inteira, fornece uma variação quando atrasa a apresentação para os últimos minutos. O analista não tem por que se sentir perdido quando um sonho é relatado tardiamente demais para que possa ser abordado na sessão.
A transferência, positiva ou negativa, pode converter-se numa fonte de resistência obstinada, sendo que uma e outra podem caminhar de mãos dadas. O impulso infantil inconsciente é suscetível de dotar a transferência de uma tal intensidade que a realidade da situação analítica será completamente obliterada e a aliança terapêutica viciada. Para que o trabalho da análise progrida, uma tal transferência, com suas implicações de resistência, tem de ser interpretada sem esperar que se definam as condições ótimas. Quando a transferência toca esse rumo, o sonho pode ajudar com aviso prévio da necessidade de interpretação antes do paciente representar dramaticamente a sua última resistência, abandonando a análise (vide caso Dora).
Quanto mais o paciente aprende da prática de interpretação de sonhos, mais obscuros, geralmente, se tornam seus sonhos posteriores. Os sonhos corroborativos, sua tradução simplesmente apresenta o que o tratamento já inferiu, durante os últimos dias, do material das associações diárias, é como se o paciente houvesse sido amável o bastante para trazer, sob forma onírica, o que lhe havíamos estado “sugerindo” antes. Porém a grande maioria dos sonhos antecipa-se à análise, de maneira que, após subtrair deles tudo que já é sabido e compreendido, resta ainda uma alusão mais ou menos clara a algo que até então estivera oculto.
Uma fantasia consiste num desejo inconsciente trabalhado pela capacidade do pensamento lógico a fim de dar origem a uma expressão disfarçada e a uma satisfação imaginária do desejo pulsional. O bebê sonha com seus desejos que se tornam em fantasias de suas expressões diretas das pulsões e impulsos, pois as pulsões dão origem às fantasias. No adulto, o simples fato de fantasiar é para fugir de realidades dolorosas.
Descrevemos o elemento dos pensamentos oníricos como uma “fantasia”. O “sonho diurno” [ou devaneio] é algo análogo a fantasia na vida de vigília. O estudo das psiconeuroses leva à surpreendente descoberta de que essas fantasias ou sonhos diurnos são os precursores imediatos dos sintomas histéricos, ou pelo menos de uma série deles. Os sintomas histéricos não estão ligados a lembranças reais, mas a fantasias construídas com base em lembranças. A função de “elaboração secundária” que atribuímos ao quarto dos fatores envolvidos na formação do conteúdo dos sonhos mostra-nos em ação, mais uma vez, a atividade que consegue ter livre vazão na criação de sonhos diurnos sem ser inibida por quaisquer outras influências. Poderíamos simplificar isso dizendo que este nosso quarto fator procura configurar o material que lhe é oferecido em algo semelhante a um sonho diurno. No entanto, se um desses sonhos diurnos já tiver sido formado na trama dos pensamentos oníricos, esse quarto fator do trabalho do sonho preferirá apossar-se do sonho diurno já pronto e procurará introduzi-lo no conteúdo do sonho. Há alguns sonhos que consistem meramente na repetição de uma fantasia diurna que talvez tenha permanecido inconsciente.
Tem sido demonstrado, por pesquisadores do sono e do sonho, que todas as pessoas sonham regularmente durante todo o seu período de sono. Por isso dizermos que o “sonho é o guardião do sono”. O sonho é o fiel guardião da nossa saúde psíquica, da nossa alegria de viver, uma vez que a vida não passa, em essência, de uma contínua procura de prazer, contrariada pela realidade (Teoria do Princípio do Prazer). As pessoas que “não sonham, quando analisadas, apresentam recalques afetivos profundos. Porém quando uma pessoa, efetivamente, não sonha, é porque possui problemas estruturais graves, ou seja, são psicóticas, e por isso difícil de serem analisadas. Os sonhos acordados surgem por meio de representações, que fantasiamos à nossa maneira, segundo o curso que damos às nossas fantasias.
A única maneira pela qual podemos descrever o que acontece nos sonhos alucinatórios é dizendo que a excitação se move em direção retrocedente. Em vez de se propagar para a extremidade motora do aparelho, ela se movimenta no sentido da extremidade sensorial e, por fim, atinge o sistema perceptivo. Se descrevermos como “progressiva” a direção tomada pelos processos psíquicos que brotam do inconsciente durante a vida de vigília, poderemos dizer que os sonhos têm um caráter “regressivo”.
Nossa discussão não pode ser levada adiante sem examinarmos o papel desempenhado pelos afetos nesses processos; neste contexto, porém, só podemos fazê-lo de modo imperfeito. Assim, presumamos que a supressão do Ics. seja necessária, acima de tudo, porque, se o curso das representações no Ics. ficasse por sua própria conta, geraria um afeto que foi originalmente de natureza prazerosa, mas tornou-se desprazeroso depois de ocorrido o processo de “recalcamento”. O propósito, bem como o resultado da supressão, é impedir essa liberação de desprazer. A supressão se estende ao conteúdo de representações do Ics., já que a liberação de desprazer pode começar a partir desse conteúdo. Isso pressupõe uma suposição bastante específica quanto à natureza da geração do afeto. A característica essencial dos sonhos de punição, portanto, seria que, em seu caso, o desejo formador do sonho não é um desejo inconsciente derivado do recalcado (do sistema Ics.), mas um desejo punitivo que reage contra este e pertence ao ego, embora seja, ao mesmo tempo, um desejo inconsciente (isto é, pré-consciente).
Caso se pergunte se é possível interpretar todos os sonhos, a resposta deve ser negativa. Não se deve esquecer que, na interpretação de um sonho, tem-se como oponentes as forças psíquicas que foram responsáveis por sua distorção.


5. SONHOS TRANSCRITOS DE UM LIVRO COM A INTERPRETAÇÃO DADA. RETIRADOS DO LIVRO INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS- FREUD.

5.1- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UM ADULTO.
A paciente, um moça de pouca idade, assim começou: “Como o senhor deve estar lembrado, minha irmã só tem agora um menino — Karl; ela perdeu o filho mais velho, Otto, quando eu ainda morava com ela. Otto era meu favorito; de certa forma, eu o criei. Também gosto do menorzinho, mas, é claro, nem de longe tanto quanto gostava do que morreu. Então, ontem à noite, sonhei que via Karl morto diante de mim. Estava deitado em seu caixãozinho, com as mãos postas e velas a seu redor — de fato, exatamente como o pequeno Otto, cuja morte foi um golpe tão forte para mim. Agora me diga: que pode significar isso? O senhor me conhece. Será que sou uma pessoa tão má a ponto de desejar que minha irmã perca o único filho que ainda tem? Ou será que o sonho significa que eu preferiria que Karl estivesse morto, em vez de Otto, de quem eu gostava muito mais?”
Assegurei-lhe que esta última interpretação estava fora de cogitação. E, depois de refletir um pouco, pude dar-lhe a interpretação correta do sonho, posteriormente confirmada por ela. Pude fazê-lo porque estava familiarizado com toda a história prévia da autora do sonho.
Essa moça ficara órfã em tenra idade e fora criada na casa de uma irmã muito mais velha. Entre os amigos que freqüentavam a casa, havia um homem que deixou uma impressão duradoura em seu coração. Por algum tempo, pareceu que suas relações mal admitidas com ele levariam ao casamento, mas esse desenlace feliz foi reduzido a cinzas pela irmã, cujos motivos jamais foram plenamente explicados. Depois do rompimento, esse homem deixou de freqüentar a casa e, pouco depois da morte do pequeno Otto, para quem ela voltara sua afeição neste ínterim, minha paciente fixou residência própria sozinha. Não conseguiu, contudo, libertar-se de seu apego pelo amigo da irmã. Seu orgulho ordenava que o evitasse, mas ela não conseguiu transferir seu amor para nenhum dos outros admiradores que se apresentaram posteriormente. Sempre que se anunciava que o objeto de suas afeições, que era por profissão um homem de letras, ia proferir uma palestra em algum lugar, ela estava invariavelmente na platéia; e aproveitava todas as oportunidades possíveis de contemplá-lo à distância em campo neutro. Lembrei-me de que ela me dissera, na véspera, que o Professor iria a um certo concerto, e que ela pretendia ir também para ter o prazer de dar uma olhadela nele mais uma vez. Isso ocorrera na véspera do sonho, e o concerto iria realizar-se no dia em que ela o relatou a mim. Foi-me portanto fácil construir a interpretação correta, e perguntei-lhe se podia pensar em alguma coisa que tivesse acontecido após a morte do pequeno Otto. Ela respondeu de pronto: “Naturalmente; o Professor veio visitar-nos de novo depois de uma longa ausência e eu o vi mais uma vez ao lado do caixão do pequeno Otto.” Isso era exatamente o que eu esperava, e interpretei o sonho desta forma: “Se o outro menino morresse agora, aconteceria a mesma coisa. Você passaria o dia com sua irmã, e o Professor certamente viria apresentar seus pêsames, de modo que você o veria mais uma vez nas mesmas condições que na outra ocasião. O sonho significa apenas seu desejo de vê-lo mais uma vez, um desejo contra o qual você vem lutando internamente. Sei que você tem na bolsa uma entrada para o concerto de hoje. Seu sonho foi um sonho de impaciência: antecipou em algumas horas a visão que você vai ter dele hoje.”



5.2- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UMA CRIANÇA.
Uma criança com menos de quatro anos de idade contou ter sonhado que vira um prato enorme com um grande pedaço de carne assada e legumes. De repente, toda a carne foi comida — inteira e sem ser destrinchada. Ela não viu a pessoa que a comeu.
Quem teria sido a pessoa desconhecida cujo suntuoso banquete de carne constitui o tema do sonho do menininho? Suas experiências durante o dia do sonho devem esclarecer-nos sobre o assunto. Por ordem médica, ele fora submetido a uma dieta de leite nos últimos dias. Na noite do dia do sonho ele se mostrara travesso e, como castigo, fora mandado para a cama sem jantar. Ele já havia passado por essa cura pela fome numa ocasião anterior e se portara com muita bravura. Sabia que não conseguiria nada, mas não se permitia demonstrar, nem mesmo por uma única palavra, que estava com fome. A educação já começara a surtir efeito nele: encontrou expressão em seu sonho, que exibe o início da distorção onírica. Interpretação: Não há nenhuma dúvida de que a pessoa cujos desejos eram visados nessa generosa refeição — de carne, ainda por cima — era ele próprio. Mas, como sabia que isso não lhe era permitido, ele não se aventurou a sentar-se pessoalmente para desfrutar a refeição, como fazem as crianças famintas nos sonhos. A pessoa que se serviu da refeição permaneceu no anonimato.


5.3- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UMA SENHORA.
Quando jovem ela se destacara por sua inteligência viva e sua disposição alegre; e essas características ainda podiam ser observadas, pelo menos nas idéias que lhe ocorriam durante o tratamento. No decorrer de um sonho um tanto longo, essa senhora imaginou ver sua única filha, de quinze anos de idade, morta “numa caixa”. Estava parcialmente inclinada a utilizar essa cena como uma objeção à teoria da realização dos desejos, embora ela própria suspeitasse de que o detalhe da “caixa” devia estar apontando para outra visão do sonho.
No decorrer da análise, ela lembrou que, numa reunião na noite anterior, falara-se um pouco sobre a palavra inglesa “box” e as várias formas pelas quais se poderia traduzi-la em alemão — tais como “Schachtel” [“caixa”] “Loge” [“camarote de teatro”], Kasten [arca], “Ohrfeige” [“murro no ouvido”], e assim por diante. Outras partes do mesmo sonho nos permitiram descobrir ainda que ela havia pensado que “box”, em inglês, se relacionava mesmo com o “Büchse” [“receptáculo”] em alemão, e que depois fora atormentada pela lembrança de que “Büchse” é empregado como termo vulgar para designar os órgãos genitais femininos. Fazendo uma certa concessão aos limites de seus conhecimentos de anatomia topográfica, poder-se-ia presumir, portanto, que a criança que jazia na caixa significava um embrião no útero. Após ter sido esclarecida quanto a esse ponto, ela não mais negou que a imagem onírica correspondesse a um desejo seu. Interpretação: Como tantas jovens casadas, ela não ficara nada satisfeita ao engravidar, e, mais de uma vez, tinha-se permitido desejar que a criança que trazia no ventre morresse. De fato, num acesso de cólera após uma cena violenta com o marido, ela batera com os punhos cerrados no próprio corpo para atingir a criança lá dentro. Dessa forma, a criança morta era de fato a realização de um desejo, mas de um desejo que fora posto de lado quinze anos antes. Dificilmente se pode ficar admirado com o fato de um desejo realizado após uma demora tão prolongada não ser reconhecido. Muitas coisas haviam mudado nesse intervalo.


6- RELATO DE UM SONHO COM A INTERPRETAÇÃO DADA, ACRESCENTANDO MINHA INTERPRETAÇÃO.

6.1-O SEGUNDO SONHO DE DORA (FREUD, OBRAS PSICOLÓGICAS COMPLETAS -VOLUME VII).
Algumas semanas depois do primeiro sonho ocorreu o segundo, com cuja resolução interrompeu-se a análise. O estado anímico de Dora, preencheu uma lacuna de sua memória e permitiu obter um profundo conhecimento da gênese de outro de seus.
“Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até meu quarto e ali encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de casa sem o conhecimento de meus pais, ela não quisera escrever-me que papai estava doente. `Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir.’ Fui então para a estação [Bahnhof] e perguntei umas cem vezes: `Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: `Cinco minutos.’ Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, e ali fiz a pergunta a um homem que encontrei. Disse-me: `Mais duas horas e meia.’ Pediu-me que o deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente e não conseguia alcança-la. Aí me veio o sentimento habitual de angústia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. A criada abriu para mim e respondeu: `A mamãe e os outros já estão no cemitério [Friedhof]’”.

Carta despedida Dora; A cena do Lago; O pai morto sem repressão
…Com isso chegamos ao conteúdo da carta no sonho. O pai estava morto e ela saíra de casa por seu próprio arbítrio. A partir dessa carta, relembrei prontamente a Dora a carta de despedida que ela escrevera aos pais, ou que pelo menos fora composta para eles . Essa carta se destinava a dar um susto no pai para que ele desistisse da Sra. K., ou pelo menos a se vingar dele, caso não fosse possível induzi-lo a isso. Estamos diante do tema da morte dela ou da morte do pai (cf. cemitério, mais adiante no sonho). Acaso estaremos no caminho errado ao supor que a situação constitutiva da fachada do sonho correspondia a uma fantasia de vingança contra o pai? ...De onde proviria a frase “se você quiser”? A propósito disso ocorreu a Dora o adendo de que, depois da palavra “quiser”, havia um ponto de interrogação, e com isso ela também reconheceu essas palavras como uma citação extraída da carta da Sra. K. que contivera o convite para L (o lugar junto ao lago). De maneira estranhíssima, após a intercalação “se você quiser vir”, havia nessa carta um ponto de interrogação colocado bem no meio da frase.
Assim, estamos outra vez de volta à cena do lago e aos enigmas ligados a ela. Pedi a Dora que me descrevesse essa cena minuciosamente...Mal compreendeu do que se tratava, deu-lhe uma bofetada no rosto e se afastou às pressas. Eu queria saber que palavras ele empregara, mas Dora só se lembrou de uma de suas alegações: “Sabe, não tenho nada com minha mulher.” Naquele momento, para não tornar a encontrá-lo, ela quisera voltar para L contornando o lago a pé, e perguntou a um homem com quem cruzou a que distância ficava. Ante a resposta “duas horas e meia”, desistiu dessa intenção e voltou em busca do barco, que partiu logo depois. O Sr. K. também estava lá novamente, aproximou-se dela e lhe pediu que o desculpasse e não contasse nada sobre o incidente. ...O pai estava morto e os demais já tinham ido para o cemitério. Ela podia ler calmamente o que bem lhe aprouvesse. Não significaria isso que uma de suas razões para a vingança era também a revolta contra a coerção exercida pelos pais? Se seu pai estivesse morto, ela poderia ler ou amar como quisesse.

A governanta do Sr.K e a última seção de Dora
Agora conheço o motivo daquela bofetada com que você respondeu à proposta do Sr. K. Não foi a afronta pela impertinência dele, mas uma vingança por ciúme. Quando a mocinha lhe contou sua história, você ainda pôde valer-se de sua arte de pôr de lado tudo o que não convinha a seus sentimentos. Mas no momento em que o Sr. K. usou as palavras “Não tenho nada com minha mulher”, que ele também dissera à senhorita, novas emoções foram despertadas em você e fizeram pender a balança. Você disse a si mesma: “Como se atreve ele a me tratar como uma governanta, uma serviçal?” A esse orgulho ferido somaram-se o ciúme e os motivos de prudência conscientes: definitivamente, era demais. Para provar o quanto você ficou impressionada com a história da governanta, relembro suas repetidas identificações com ela no sonho e em sua própria conduta. Você contou a seus pais, o que até aqui não havíamos compreendido, tal como a moça escreveu aos pais dela. Está-se despedíndo de mim como uma governanta, com um aviso prévio de quatorze dias. ...Você compreendeu muito bem a pobre moça. Ela não queria ir-se de imediato porque ainda tinha esperanças, porque esperava que o Sr. K. voltasse a lhe dar sua ternura. Esse deve ter sido também o seu motivo. Você aguardou esse prazo para ver se ele renovaria suas propostas; daí teria concluído que ele estava agindo a sério, e que não queria brincar com você como fizera com a governanta....Será que não pensou que ele queria divorciar-se da mulher para se casar com você.... As relações entre seu pai e a Sra. K., que provavelmente você só apoiou por tanto tempo por causa disso, davam-lhe a certeza de que se conseguiria o consentimento da mulher para o divórcio, e com seu pai você consegue o que quer. Na verdade, se a tentação em L houvesse tido outro desfecho, essa teria sido a única solução possível para todas as partes. Penso também que por isso você lamentou tanto o outro desenlace e o corrigiu na fantasia que se apresentou como uma apendicite. Assim, deve ter sido uma grande decepção para você que, em vez de uma proposta renovada, suas acusações tenham tido como resultado as negativas e as calúnias do Sr. K. Você admite que nada a enfurece mais do que acreditarem que você imaginou a cena do lago . Agora sei do que é que não quer ser lembrada: é de ter imaginado que a proposta estava sendo feita a sério e que o Sr. K. não desistiria até que você se casasse com ele.

6.2-COMPLEMENTO DA INTERPRETAÇÃO DE FREUD REALIZADA BASEADO NA DISCUSSÃO DO CASO.
“`Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: `Cinco minutos.’”.
Esta frase está cheia de sentido transferencial de Dora para com Freud. Onde fica a estação, é a busca de Dora responder aos seus anseios e questionamentos. O papel de Freud que posteriormente ele diz “Será que eu poderia ter conservado a moça em tratamento, se tivesse eu mesmo representado um papel, se exagerasse o valor de sua permanência para mim e lhe mostrasse um interesse caloroso que, mesmo atenuado por minha posição de médico, teria eqüivalido a um substituto da ternura por que ela ansiava?” , porém este é o lado negativo da transferência. Posteriormente Freud reconhece, “Assim, fui surpreendido pela transferência e, por causa desse “x” que me fazia lembrar-lhe o Sr. K., ela se vingou de mim como queria vingar-se dele, e me abandonou como se acreditara enganada e abandonada por ele.”
Aí Dora no sonho se refere aos “Cinco minutos”, que eu posso associar com os “cinquenta minutos da análise”.


7- APRESENTE UM SONHO DE UM PACIENTE OU DE UMA PESSOA CONHECIDA DANDO UMA INTERPRETAÇÃO.
Como nós sabemos, os sonhos isoladamente, não autoriza ao psicanalista a fazer um diagnóstico e menos ainda a instituir um tratamento. Só em mãos bastante destras, tornam-se eles capazes de oferecer índices proveitosos e de revelar alguma coisa mais que a simples análise de um sonho comum. Porém, nos foi solicitado uma interpretação e com este objetivo vos apresento o relato que se segue.
Na aula do dia 23/03/2001 com o Professor Heitor, uma colega relatou um sonho na sala de aula, na presença de todos os alunos. O sonho era repetitivo e tinha acontecido a um tempo atrás quando a sua mãe tinha morrido, porém ela não conseguia interpretar este sonho até o momento. “ Minha mãe tinha morrido . Ela estava no meio das nuvens, feliz, dançando e dizia que era um lugar bom e me chamava. Eu estava lá embaixo, como se fosse o fim de uma escada. Eu não queria ir.” Neste instante a minha colega fez um gesto com a mão dizendo “não” junto com sua voz e negativa.
O professor ouviu seu sonho e emitiu um comentário de que provavelmente, no seu sonho a mãe na realidade não era sua mãe e deu prosseguimento a aula. A partir deste momento eu disse, vou interpretar este sonho. Comecei a pensar, porque a “mãe” no seu sonho estava “feliz” ? Qual a necessidade da colega ter de reforçar o “não queria ir” com gestos marcantes ? Qual o objetivo da escada ou caminho?
Pensei e veio uma percepção clara e objetiva sobre os meus questionamentos. No intervalo, procurei a colega, tocando no seu ombro. Ela virou-se com surpresa, nós não nos conhecíamos (só de vista). Neste instante eu falei, “ você poderia me dar um minuto, eu interpretei o seu sonho.” Chamei no lugar mais reservado, sem ninguém ao redor e expliquei que estava estudando e lendo A Interpretação dos Sonhos de Freud (e discutindo o caso Dora). Solicitei que caso a interpretação não fosse lógica, pois não tinha sua anaminese nem a conhecia, poderia não levar em conta a minha interpretação, mas que no meu conceito o sonho estava esclarecido.
Eu disse então na interpretação :“Você tinha um desejo de suicídio”.
No início ela ficou calada, “surpresa” e tive a percepção de alguma resistência. Porém logo em seguida se emocionou enchendo os olhos com lágrimas que não chegaram a cair, me confirmou e falou “ realmente faz sentido, na época além de minha mãe morrer, eu estava me separando do meu marido. Provavelmente, tivesse realmente ter sentido esta emoção e o desejo.” Neste instante me senti bem por ter ajudado uma pessoa a decifrar e resolver algo que estava lhe incomodando no seu inconsciente e que ela “não sabia o que era”.
A minha interpretação partiu do seguinte raciocínio: A morte era uma coisa boa pois a sua mãe, ou alguém (quem sabe ela mesma) estava feliz apesar da morte. O caminho estava traçado. O seu sentimento olhando e dizendo “não” com gestos marcantes, tinha um sentido, “um afeto” muito forte como se estivesse sendo “gratificada” com a situação, ou seja ... dizendo “sim”.



8. APRESENTE UM SONHO SEU COM A DEVIDA INTERPRETAÇÃO.

8.1- UM SONHO QUE EU TIVE COM A MINHA INTERPRETAÇÃO.
Quando eu tinha 16 anos, estava cursando o 3ºano do 2ºgrau e estudava para o vestibular de Engenharia. Gostava bastante de Física e Matemática, e em uma noite estava resolvendo questões relativa a estas matérias. Em determinado momento me senti cansado, fato que foi agravado devido a tentativa de não conseguir resolver uma questão. Resolvi dormi e acordar cedo para continuar estudando.
De repente me vejo tentando resolver a questão, porém não conseguia, tentava novamente e não conseguia, tentava, tentava, tentava. Comecei a achar estranho pois nunca tinha tentado tanto e não conseguia resolver. Tudo começou a parecer um pesadê-lo, um mal estar geral tomou conta de mim. Em determinado instante…. acordei ! É, tinha sonhado, tive um sonho “com o resto do dia” , continuando algo que não tinha finalizado. Algo que era importante para mim, o vestibular. A questão foi a sintetização deste desafio (vestibular) e a minha meta era de superá-lo.
Quando acordei de madrugada, busquei retomar e resolver a questão. Resolvi e fui dormir novamente, mas agora sem este peso do desafio não resolvido. O sono neste instante foi agradável e tranquilo. Há, no fim do ano, passei no vestibular na Ufba, para Engenharia Mecânica, e agora…um Psicanalista em Formação.

9-O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS E AS ORIGENS DOS NOMES.
Vamos fazer uma referência aos símbolos, agora Freud adverte : o significado dos símbolos deve ser somente utilizado como um método auxiliar. As associações do paciente com o elemento onírico (sonho) determina a preferência em todos os casos, a interpretação correta só pode ser alcançada, em cada ocasião. Os elementos podem ser modificados inclusive demonstrando ser o oposto, devemos sempre investigar o contexto.
Muitas vezes, um símbolo tem de ser interpretado em seu sentido próprio, e não simbolicamente, ao passo que, em outras ocasiões, o sonhador pode tirar de suas lembranças particulares o poder de empregar como símbolos sexuais toda sorte de coisas que não são comumente empregadas como tal.


9.1-O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS.
- Sentimento convicto de que já se esteve em um lugar antes: esses lugares são, invariavelmente, os órgãos genitais da mãe de quem sonha.
- Atravessar espaços estreitos ou estar na água: baseiam-se em fantasias da vida intra-uterina, da existência no ventre e do ato do nascimento.
- Morte de um ente querido: desejo de que a pessoa em questão venha a morrer.
- Sonhos de estar despido: sonhos de exibição.
- Reis, príncipe, princesa ou personalidades: pais do sonhador.
- Chama (fogo), gravata, meninos pequenos, cobra, peixe, caracol, rato, aviões, foguetes, número 3,edificios, torres, igrejas, monolito, mirantes, armas (facas, espadas, etc..), objetos que expelem líquidos (torneiras, fontes, etc..), lâmpadas que pendem do teto, batom extensível, telescópios, antenas de automóvel, lápis, canetas, lixas de unhas, foguetes, balões, papagaios, pássaros, cogumelo, trevo de quatro folhas : símbolo sexual masculino, penis.
- Estojos, caixas, estufas, cavernas, paisagens, bosques, barcos, habitações, máquinas, aparelhos, chapéu ou agasalho feminino, peles, moitas, grupo de árvores, barba, portas, “O” zero, “doce”, “pote de mel”, “gatinha”, caracóis, gato, jóias, boca, ferradura, coroa, covas, vasos, garrafas, bolsos, sapatos, chinelos, lareira : corpo feminino, ou seu órgão sexual.
- Várias habitações : harém ou lugar de prostituição.
- Duas habitações : teoria infantil da cloaca ( quando o menino supõe que o órgão sexual feminino se confunde com o ânus).
- Subindo ou descendo uma escada : ato sexual
- Paredes e muros lisos pelos quais subimos: lembrança infantil de subir pelas pernas dos pais.
- Muros lisos : homens.
- Mesas, tábuas e madeira: mulheres
- Cama e mesa ; ato de comer alimentos: matrimonio.
- Brincar com crianças pequenas, dar-lhes golpes, acariciá-las, etc.…: masturbação
- Calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação : complexo de castração.
- Lagartixa, quando um dos símbolos penianos aparecem mutilados: medo preventivo da castração.
- Animais pequenos e parasitas: irmãozinhos pequenos que vieram perturbar com o seu nascimento.
- Número 9,Corpo invadido por parasitas, tumor, canguru, gambá, vaca, hipopótamo, camelo : gravidez
- O caminho direito: deve seguir
- O caminho esquerdo, urinar sobre uma fogueira, fantasia da falta de lactação: homossexualidade, incesto.
- Animais selvagens: instintos ou paixões perversas.
- Loteria (um estado de felicidade de curta duração): casamento
- Água : símbolo de gente, multidões.
- Serpentes enroscada: grandes fezes.
- Órgãos sexuais: o próprio sonhador com uma visão pejorativa.
- Armários, fogões, quartos: útero.
- Maçãs, pêras, frutas, irmãos : nádegas.
- Irmãs: seios.
- Roupas íntimas e roupas brancas, flores, : símbolos femininos.
- Abacaxi: seio negado.
- Banana: natureza fálica.
- Planos, mapas, gráficos, diagramas: corpo humano com os órgãos genitais.
- Bagagem: encargo de família.
- Tocar piano, escorregar, desfolhar um galho, número 5: masturbação.
- Dançar, cavalgar, subir ou descer escadas, portas estreitas, escadas altas e íngremes: relações sexuais.
- Ser atropelado, experiências violentas: ameaça com armas.
- Ser machucado, surrado, torturado, baleado, crucificado, assassinado: sadomasoquismo.
- Ouro, ovos: fezes.
- Dinheiro: amor ou pagamento para fazer sexo.
- Aranhas : mãe fálica.
- Nadar: na infância urinava na cama.
- Lugar que acredita já ter estado ali: órgãos sexuais da mãe do sonhador.
- Palidez, viagem, emudecimento, esconder-se, vazio, escuridão, feiúra, desordem, sujeira, excrementos secos de animais: morte
- Viagem: lua-de-mel.
- Viagem ao desconhecido: processo de psicanálise.
- Desejo de matar ou de suicídio: cuidado um sentimento forte de matar ou morrer.
- Placa de veículos: ano do evento.
- Roupas e uniformes: nudez.
- Ônibus: conduz outras pessoas da família ao analista.
- Mártir, santos, demônios : sua neurose.
- Olhar no espelho: olhar para si mesmos.

9.2- ORIGENS DOS NOMES
A
- Abílio: do Latim o significado "apto, capaz", do grego "aquele que é incapaz da vingança".
- Adalberto: do Teutônico "notório fulgurante", este nome apresenta muitas variações, como
Alberto, Etelberto, Oberto.
- Adão: do Hebreu "homem feito de argila vermelha.
- Adelaide: do Teutônico "de linhagem nobre".
- Ademar: do Teutônico "glorioso guerreiro".
- Adolfo: do Teutônico "nobre lobo".
- Afonso: do Teutônico "guerreiro de ânimo combativo".
- Agostinho: do Latim "da família dos Augustos".
- Alan: do Gaelico "gracioso agradável".
- Alessandro(a): variante Italiana de Alexandre.
- Alexandre(a): do Elenico "protetor e defensor do genero humano".
- Alice : do Grego "verídica, autêntica".
- Álvaro: do Teutônico "o que a todos esta atento".
- Amélia : do gótico "trabalhadora".
- Ana: do Hebreu "cheia de graça", "que tem compaixão, clemência".
- Anderson: do inglês "filho de André".
- André: do grego "másculo, varão".
- Angélica: do latim "como um anjo, pura".
- Antônio: provavelmente de origem etrusca, seu significado perdeu-se no tempo.
- Aparecida: homenagem à virgem Maria,que apareceu nas águas de um rio.
- Arlete: do celta "garantia, penhor".
- Augusto: do latim "O venerado", "O sublime", "O máximo".
B
- Baltasar: do Hebraico "Que o deus Baal proteja o rei".
- Bárbara: palavra usada na antiguidade para designar os que não pertenciam ao império greco-romano".
- Basílio: do grego "Rei".
- Batista: do grego "aquele que batiza".
- Beatriz: do latim "bem - aventurada".
- Benedito: do latim "bendito", "abençoado".
- Benjamim: do hebraico "filho da mão direita".
- Bianca: do Teutônico "branca".
- Bruno: do germânico "luminoso, brilhante".
C
- Caio: do latim "feliz, alegre".
- Cândido(a): do latim "puro, alvo".
- Carina: do grego "gracioso, engraçado".
- Carlos(Carla): do latim "homem, viril".
- Carol: variedade de Carlos.
- Cássio(a): do latim "distinto, ilustrado, sábio".
- Catarina: do grego "pura, imaculada".
- Cecília: do etrusco "cega, ceguinha".
- Cíntia: do latim "natural de Cinto".
- Clara: do latim "brilhante, luzente, ilustre".
- Cláudio(a): do latim "coxo, manco".
- Clóvis: do teutônico "guerreiro famoso".
- Cremilda: do germânico "que planeja com capacete".
- Cristiano(a): do grego "Seguidor de Cristo"
D
- Dácio: do helênico "antiga região localizada ao norte do Danúbio".
- Daniel: do hebraico "Deus é meu juiz".
- Davi(d): do hebraico "amado, respeitado".
- Débora: do hebraico "abelha".
- Dirce: do helênico "fonte, água turva".
- Dora: do helênico "Dádiva, presente".
- Douglas: do escocês "rio preto, água escuro".
- Dulce: do latim "doce, tenra, meiga".
E
- Edelina: do alemão "bem humorada".
- Edgard: do alemão "próspero".
- Edson: do inglês "filho de Eduardo".
- Elaine: do inglês “filho de Helena”
- Eli: do hebraico "Jeová".
- Elias: do hebraico "Meu Deus é Jeová".
- Elizabeth: do hebraico "consagrada por Deus".
- Elza: do alemão "a nobre virgem".
- Erica: do norueguês "constantemente possante".
- Estela: do latim "estrela".
- Ezequiel: do hebraico "força de Deus".
F
- Fabiano(a): do latim "fava que cresce".
- Fábio: do latim "fava".
- Fabricio: do latim "o operário, o fabricante".
- Fátima: do árabe "donzela esplendida".
- Fernando(a): do alemão "inteligente, protetor".
- Filipe: "aquele que gosta de cavalos".
- Flávio(a): do latim "louro, cor de ouro".
- Francisco: do latim "francês".
G
- Gabriel: do hebraico "força de Deus".
- George: do grego "agricultor".
- Geraldo(a): do alemão "nobre através da lança".
- Gerson: do hebraico "estrangeiro, peregrino".
- Gilberto(a): do alemão "famoso com a flecha".
- Gisela(e): do alemão "garantia, penhor".
- Guilherme: do alemão "protetor, defensor".
- Gustavo: do sueco "bastão de combate".
H
- Hamilton: do inglês "de aparência orgulhosa".
- Hebe: do grego "juventude, mocidade".
- Heitor: do grego "mantenedor da vitória".
- Helena: do grego "tocha, luz, luminosa".
- Hélio: do grego "sol".
- Heloísa: variante de Luiza.
- Henrique: do alemão "príncipe, poderoso".
- Honório: do latim "que inspira honra".
- Horácio: do latim "visível, evidente".
- Hortênsia: do latim "horticultor".
- Hugo: do alemão "pensamento, espirito, razão".
- Humberto: do alemão "espirito brilhante".
I
- Iara: do tupi "Senhora, dona das águas".
- Ieda: do hebraico "favo de mel".
- Igor: do russo "filho famoso, defensor".
- Inácio: do latim "ardente, fogoso".
- Inês: do grego "pura, casta".
- Iolanda: do grego "violeta, roxo".
- Íris: do grego "anunciar".
- Ivã: do búlgaro "O glorioso".
J
- Jacinto: do grego "nome de uma pedra preciosa".
- Jaime: do espanhol "variedade popular de Jacó."
- Janaína: do tupi-africano "sinônimo de Iemanjá".
- Jerônimo: do grego "nome sagrado ou santo".
- Jéssica: do hebraico "Deus é a salvação".
- Jesus: do hebraico "Deus é a salvação".
- Juca: forma diminutiva de José.
- Juliano(a): do latim "que pertence a Júlio".
- Julieta: diminutivo de Júlia.
- Júlio: do latim "cheio de juventude", do grego "de cabelos pretos, cabelos macios".
K
- Kelly: do irlandês "donzela guerreira."
- Kelvin: do inglês "amigo", do gaélico "rio estreito".
L
- Laís: do grego "a democrática", do hebraico "a leoa".
- Lauro: do latim "vitória, louvor".
- Leandro: do grego "homem-leão".
- Leda: do latim "alegre, contente, jovial, risonha".
- Leonardo: do alemão "homens fortes, forte como o leão".
- Leonel: do francês "leão novo, filhote de leão".
- Leopoldo: do alemão "povo audacioso".
- Letícia: do latim "alegria".
- Lídia: do grego "irmã".
- Lilian :do latim "lírico".
- Lucas: do latim "luminoso".
- Luciano(a): forma derivada de Lúcio.
- Luis(a): do alemão "guerreiro famoso, glorioso".
- Lurdes: do basco "altura escarpada".
M
- Madalena: do hebraico "cidade de torres, cabelos penteados".
- Manuel(a): do hebraico "Deus está conosco".
- Mara: do hebraico "amargosa"
- Marcelo(a): do latim "proveniente de marte".
- Márcio(a): do latim "nome que se envoca Júpiter".
- Marcos: do latim "o grande orador".
- Maria: do hebraico "amargura, mágoa, soberana".
- Mário: do alemão "homem por excelência".
- Maristela: do latim "estrela do mar".
- Marta: do aramaico "senhora".
- Mateus: do hebraico "dádiva de Deus".
- Maurício(a): derivado de Mauro.
- Mauro: do latim "Mouro da Mauritânia".
N
- Nadir: do árabe "vigilante".
- Nair: do árabe "a luminosa".
- Neide: do grego "nadadora".
- Nelson: do inglês "filho de campeão".
- Neusa: do grego "a nadadora".
- Nilton: do inglês "de um novo local".
- Nuno: do latim "pai, avô, peixe".
O
- Odair: o mesmo que Adail.
- Ofélia: do grego "serpente".
- Olga: do nórdico arcaico "santa, sacra".
- Olinda: do latim "cheirosa, odorosa".
- Olívia: do latim "a oliveira, a azeitona".
- Osmar: do anglo saxão "ilustrado pelos deuses".
P
- Paloma: do espanhol "terra das palmeiras".
- Pamela: do grego "doçura".
- Paulo: do latim "pouco, pequeno".
- Pedro: do latim "pedra".
- Priscila(o): do latim "velha antiga".
Q
- Quirino: do latim "lanceiro guerreiro".
- Quixote: do espanhol "peça de arnês destinada a cobrir a coxa".
R
- Rafael(a): do hebraico "curado por Deus".
- Raimundo(a): do gótico "protetor poderoso".
- Raul: do inglês "combatente".
- Regina: do latim "rainha".
- Reinaldo: do alemão "variante de Reginaldo".
- Renato: do latim "renascido".
- Ricardo: do alemão "poderoso, senhor".
- Rita: do italiano "forma popular de margarida".
- Rodrigo: do alemão "famoso pela glória".
- Rosa: do latim "designa a flor".
- Rosana: do inglês "rosa graciosa".
- Rui: do alemão "forma apocopada de Rodrigo".
S
- Sabrina: do latim "antigo povo itálico".
- Salomão: do hebraico "prosperidade".
- Samanta: do aramaico "ouvinte".
- Samuel: do hebraico "ouvido por Deus".
- Sandra: forma reduzida de Alessandra".
- Sebastião: do grego "sagrado, reverenciado".
- Silvana(o): do latim "das selvas".
- Sílvia(o): do latim "da selva".
- Solange: do francês "solene, majestosa".
- Soraia: do árabe "estrela da manhã".
T
- Tadeu: do aramaico "o corajoso".
- Talita: do aramaico "menina, donzela".
- Tarcísio: do grego "confiança, coragem".
- Teresa: do grego "ceifeira, caçadora".
- Tiago: forma vernácula de Jacó.
- Túlio: do latim "levar, levantar".
U
- Ulisses: do grego "o irritado, o colérico".
- Urbano: do latim "civilizado, bem educado".
V
- Vágner: do alemão "aquele que faz vagões".
- Valesca: do eslavo "soberana, gloriosa".
- Valter: do alemão "comandante do exército".
- Vanessa: nome ligado a borboletas.
- Vera: do latim "verdadeira, primavera".
- Vitor: do latim "triunfo, vitória".
W
- Wilson: do inglês "filho de William".
- Wilton: do inglês "fazenda da primavera".
X
- Xavier: do espanhol "casa nova".
Y
- Yara: variante de Iara.
- Yuri: do russo "correspondente a Jorge".
Z
- Zacarias: do hebraico "o lembrado de Deus".
- Zélia: do grego "bela".
- Zuleica: do persa "estrela de ouro".


10-BIBLIOGRAFIA

FREUD, SIGMUND A Interpretação dos Sonhos, Edição C. 100 anos, Imago-RJ.1999

FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0
Volume VII - O quadro clínico,o primeiro sonho,o segundo sonho,posfácio.
Volume VI - Determinismo, crença no acaso e supertição – alguns pontos de vista.
A dinâmica da transferência.
Volume XIV- A história do movimento psicanalítico.
Volume XIV- Sobre o narcisismo : uma introdução.

SILVA, Dr. HEITOR ANTONIO DA Interpretação de Sonhos. Isbn.RJ.2000

LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise – Martins Fontes, SP-2000

NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000

INTERNET -http:// www.epoca.com.br/edic/ed190499/almana.htm
Introdução A interpretação dos sonhos- Freud

INTERNET - http://www.comciencia.br/reportagens/psicanalise/frameset/silsai.htm
Sonho, o despertar de um sonho
Pré-história do sonho

INTERNET- http://www.ebp.org.Br Cronologia.