segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Harold Lloyd, o Homem de Óculos


Harold Lloyd, Buster Keaton e Charles Chaplin: três dos maiores comediantes da história do cinema, conhecidos hoje como a santíssima trindade da comédia americana. Escrevo este post, sobretudo, em nome do primeiro deles, tão importante como os outros dois e, no entanto, pouquíssimo lembrado pelo grande público na atualidade.
Interpretando um “americano médio” do início do século tentando vencer na vida de maneira desastrada, Lloyd conseguiu se firmar, por algum tempo, como o comediante mais incensado do cinema hollywoodiano, desbancando até mesmo Chaplin e Keaton. O “homem de óculos” - ou “personagem de óculos”-, como ficou conhecido, era exposto durante o cotidiano de uma sociedade em franco crescimento aos mais diversos obstáculos que se possa imaginar. Sempre com esperança, ele via seus dias se transformarem em amontoados de situações complicadas e inusitadas, nas quais revelava uma atuação precisa.
Lloyd atuou em 206 filmes, a maioria durante o período do cinema mudo. Em 1923, interpretou “o garoto” de O homem mosca (Safety Last), que acabou se tornando seu maior sucesso. Nesse filme, o protagonista, vindo do interior, enfrenta as dificuldades da cidade grande, vendo sua experiência culminar em uma escalada a arranha-céu.
Em 1953, o ator - que também produziu e dirigiu alguns filmes - recebeu um oscar honorário, sendo reconhecido como um dos grandes mestres da comédia.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

INCUBUS, SUCUBUS OU "A FORÇA"


Li muitos relatos sobre essas criaturas (no seu site) e fiquei sem entender o que são por isso estou mandando essa matéria para as pessoas entenderem e lutar contra isso. INCUBUS/SUCUBUS : O incubus era uma figura demoníaca intimamente associada ao vampiro. Era conhecida pelo hábito de invadir o quarto de uma mulher à noite, deitar-se sobre ela para que seu peso ficasse bem evidente sobre seu peito, forçando-a a fazer sexo. O sucubus, a contra-parte feminina do incubus, atacava os homens da mesma maneira. A experiência do ataque de um destes seres variava do extremo prazer ao absoluto terror. O incubus/sucubus se parecia com um vampiro, na medida em que atacava as pessoas durante a noite enquanto dormiam. Freqüentemente atacava a mesma pessoa noite após noite, como o vampiro dos ciganos, deixando suas vítimas exaustas. Entretanto era diferente do vampiro, no sentido de que não sugava sangue e não roubava a energia vital. O incubus parece Ter se originado na antiga prática de incubação, onde uma pessoa ia ao templo de uma divindade e lá pousava. No decurso da noite, a pessoa teria um contato com a divindade. Muitas vezes esse contato envolvia relações sexuais, ou na forma de sonho ou com um dos representantes da divindade. Muitas vezes esses contatos envolviam relações sexuais, em sonhos, ou um representante humano. Isso estava na raiz de diversas práticas religiosas, incluindo a prostituição nos templos. A religião de incubação mais bem sucedida estava ligada a Esculápio, um deus da cura que se especializara, entre outras coisas, em curar a esterilidade. O cristianismo, que comparou as divindades pagãs aos seres demoníacos, encarava essa prática de relações com uma divindade como uma forma de atividade demoníaca. Através dos séculos duas principais correntes de opinião sobre as origens dos incubus e sucubus competiam uma contra a outra. Alguns a viam como sonhos, invenções de uma vida fantasiosa da pessoa que experimentava tais visitações. Outros argumentavam a favor da existência objetiva dos espíritos malignos. No século 15 os líderes religiosos, especialmente os que estavam ligados à inquisição, preferiam esta última explicação, ligando a atividade destes seres com a bruxaria. O grande instrumento dos caçadores de bruxas, Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) supunha que todas as bruxas se submetiam voluntariamente aos incubus.

OVNI EM ITAREMA??


O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e engenheiro José Agobar, membro da Associação dos Ufólogos Independentes do Brasil, confirmou, em entrevista ao Jornal Alerta Geral, da Rede SomZoom Sat, a aparição de um objeto voador não identificado (OVNI) no Município de Itarema, Região do Baixo Acaraú, e definiu o fenômeno como muito grave.Uma criança, que testemunhou a presença do OVNI, foi vítima de perfurações e chegou a sofrer uma cirurgia. A criança sofreu um corte que pegou nove pontos. O professor José Agobar alertou a população para ter cuidado porque novos objetos voadores não identificados podem aparecer. Segundo Agobar, esse fenônemo se repete a cada 10 anos.
A população das localidades de Córrego Salgado e Alegre, no município de Itarema, têm presenciado nos últimos dias, a visita de um objeto voador não identificado (OVNI), o que está levando pânico aos moradores, que evitam sair de suas residências no período noturno. Segundo testemunhas, o objeto geralmente sobrevoa as localidades por volta das 18:00 horas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Minha homenagem a Blumenau


SANTA ORLEAN´S


Nelson Silva


Coberta de água
fétida água
caída do dilúvio moderno
a doce cidade.

Sua arca não foi construída a tempo
não saiu sequer do estaleiro
os animais arrastados pela correnteza
no instante do efêmero raio
no estrondo primeiro.

Vêem caos seus barqueiros
nem sinal dos bons companheiros.

A doce cidade é terra arrasada
debaixo do aguaceiro
a boneca da menina molhada
soterrada pelo atoleiro.

Que frio cortante que faz
na doce cidade
que noite é essa que traz chuva
choro e tantos vendavais ligeiros.

Lágrimas são mais que águas.
Pútridas águas.

Se antes havia ali um mundo
então acabou.
Se antes havia ali um soturno traço de medo
na face do pesado e obscuro céu
então desabou.

Não dá mais para chamar de doce cidade.

Vêem caos os ensopados, ilhados, desolados barqueiros.


12/08




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O BOTICÁRIO FERREIRA




Antonio Ferreira Rodrigues - O boticário Ferreira – assim tratado por todos que o conheciam, nasceu no ano de 1804, na cidade de Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói – Rio de Janeiro. Filho de Antônio Rodrigues Ferreira e Marcolina Rosa de Jesus.
“Em 1824, recrutado para servir na Cisplatina, desertou e conseguiu embarcar para o Recife, onde o acolheu e protegeu, o negociante português Manuel Gonçalves da Silva. Conheceu em casa deste um comerciante rico e importante de Fortaleza, - Antônio Caetano de Gouveia, cônsul de Portugal, que o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro, por volta de 1825 – ano terrível de seca no Ceará e da luta política da República do Equador”.
Com 21 anos de idade, ainda em sua terra natal, obtivera muita prática em farmacologia, cujas receitas salvaram de difícil parto, a mulher do seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco, licença para instalar botica no trecho da antiga Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo – onde funcionou a Farmácia Boticário Ferreira, Farmácia Galeno, do farmacêutico Joaquim (Yoyô) Studart da Fonseca, filho de Leonísia Studart da Fonseca, irmã do Barão de Studart, casada com João da Fonseca Barbosa, tesoureiro do Banco Cearense, em cujo local mais tarde se instalou a Loja de Variedades, hoje Loja Milano.
Em 1902, o cel. Guilherme Rocha, Intendente à época, deu nova feição à praça arborizando-a, cercando o centro com grades de ferro – construindo o Jardim 7 de Setembro.
Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.
Em 1914 – na gestão do prefeito Rdo. de Alencar Araripe, a praça foi inteiramente reformada, recebendo iluminação moderníssima com cabos condutores subterrâneos.
Nova reforma se deu em 1920, o prefeito Godofredo Maciel mandou demolir os quiosques e retirar as grades centrais que constituía o Jardim 7 de Setembro, e, construir um pouco deslocado para o lado Sul, o coreto para os músicos das bandas das Polícias do Estado e do Município, levando efeito semanalmente às tradicionais e concorridas retretas que eram do agrado público.
Dentre outros melhoramentos, o prefeito Raimundo Girão, em 1932, autorizou demolir o coreto, e em substituição erigir a “Coluna da Hora”, com relógio de quatro faces que servia de orientação para toda a cidade, cuja inauguração ocorreu no dia 31 de dezembro de 1933.
Hoje, no mesmo local, relógio com estrutura de ferro aos moldes do antigo relógio (montado sobre alvenaria) ao lado de antigo cacimbão, existente desde o início do logradouro.
A praça foi e será sempre a sala de visita da cidade para nós fortalezense e, para todos que aqui chegam. Sua posição geográfica, lembranças históricas e conhecida como cidade hospitaleira e agradável aos visitantes e adventícios que por aqui aportavam sob intenso calor, mas recebem, à noite, a aragem que vem do “Aracati”, amenizando o calor do dia, tornando suave as noites e aprazíveis os momentos de descanso para aqueles, sentados nos bancos da praça.
Ainda gravada na lembrança, a chegada à praça, no quarteirão da Rua Major Facundo, em frente a Farmácia Pasteur, dos bondes que faziam diversas linhas, onde eram vistas pessoas que se despediam para subir ou descer do transporte, que rodeando a praça, seguiam itinerários diversos, carregando o lirismo de um adeus ou até logo... à exceção dos que faziam as linhas da Praia de Iracema e Prainha, porque seguiam percurso pela Rua Floriano Peixoto.
As casas comerciais à época e as lojas de hoje
O comércio centralizado na praça se diversificava na proporção da escolha dos produtos procurados e predominava o comércio varejista. Ainda hoje permanece o comércio diverso em toda a sua extensão.
Começando pela quadra do lado Oeste, na rua Major Facundo, esquina com a rua Guilherme Rocha, o edifício do Excelsior Hotel, considerado o primeiro arranha-céu do Ceará. Entrou para história como primeiro hotel de nível internacional da Região Nordeste. Construído em 1927, à base de argamassa e cal, com oito andares, pelo arquiteto Emilio Hinko, casado com Sra. Pierina Rossi Hinko, viúva do milionário Plácido Carvalho; inaugurado em 31 de dezembro de 1931; o hotel foi edificado no lugar de um sobrado de três andares que pertencia ao comendador José Antônio Machado.
Ao lado da entrada e parte térrea do edifício Excelsior - Rua Guilherme Rocha - onde funcionou por muitos anos o hotel mais chic e equipado da cidade; esquina com a Major Facundo, existiu a Farmácia Francesa, hoje Ótica Hora Certa e Disco & Cia.
Em direção à rua Major Facundo para a Rua Liberato Barroso, bem na esquina ficava o café Riche, depois Loja Broadway, de Alberto Bardawil, hoje, loja Tok Discos; vizinho com uma porta estreita, onde funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, hoje Rei das Canetas; a seguir as Lojas Sloper (com matriz no Rio de Janeiro) – era loja freqüentada pela alta camada da sociedade; os dirigentes vinham do Sul, e, as vendedoras eram moças de gradas famílias, que elegantemente vestidas, portavam até chapéus e luvas; nesse mesmo local se instalou à Flama -símbolo de distinção - assim era o slogan da loja, hoje Banco Mercantil do Brasil; A seguir vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luiz, geminado ao prédio que serviu de escritório à Empresa Ribeiro, de propriedade de Luís Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral que dá acesso à Rua Barão do Rio Branco. Nesse local às tardes, era ponto de encontro de respeitáveis senhores “jovens há mais tempo”, que para ali se dirigiam para tirar “dois dedos de prosa” e botar olhar godê ou olho de mormaço para as moças em flor que ali passavam.
Poderiam ser vistos meu estimado primo, engenheiro de acabamento do Edifício São Luiz, José Euclydes Caracas, os senhores Vinícius Ribeiro, Edgar e Humberto Patrício, Dr. Belo da Mota, Gen. Eurípedes Ferreira Gomes e seu cunhado, meu compadre Thomaz Pompeu Gomes de Matos; Mais adiante a Pharmacia Pasteur – Estabelecimento Eduardo Bezerra, hoje Lojas Marisa e Farmácia Avenida.
O Cine Majestic e Bar com cadeiras de pés de ferro e pequenas mesas de mármore, com música a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados amigos Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloísa Diogo Ribeiro, freqüentado por expoentes da cidade, como Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto e outros. Imponente edifício de quatro pavimentos que pegou fogo na década de 1940, após a demolição, a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´s Burger; Farmácia Oswaldo Cruz – de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz – o escritório por mais de 50 anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do meu amigo Olinto Filho). Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos – Walmir Pontes, Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, no imóvel que pertencia à Pierina Hinko; vizinho casa térrea de duas portas – o Foto Sales, de Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores; em imóvel de igual formato de rótula – a famosa Garapeira Mundico com refresco de pega pinto, aluá, e, refresco de erva quebra-pedra, côco-babão, refresco de erva vassourinha, muito procurado pelos visitantes da cidade por ser medicinal. Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira, Bem-Bem, especialista na excelente bebida conhecida por “jinjibirra” ou “gengibirra”, muito apreciada por todos, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, acido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no Nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido Bem-Bem; vizinho ao Mundico, o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços e objetos masculinos. Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo – a mais célebre farmácia da cidade a antiga farmácia do Boticário Ferreir. Mais tarde – segundo familiares, nesse estabelecimento se instalara a Pharmacia Galeno, do farmacêutico Joaquim Studart da Fonseca, cuja sociedade em parceria com Silvino Silva Thé, hoje Lojas Milano; o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristais coloridos das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada do cinema; depois lojas Samasa, de Sebastião Arrais, hoje Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco. Esquina da Rua Major Facundo com a Liberato Barroso, de um lado, existiu nas décadas de 1940/60, o café Sporte, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos, foram meus patrões na firma Emygdio & Irmãos, hoje Lojas Esquisita, de Pio Rodrigues, pai da querida amiga Edir Rolim; do outro lado, na Rua Liberato Barroso com Major Facundo, foi Farmácia Modelo, depois Casa Veneza, hoje o local está desocupado.
No quadrilátero da Praça do Ferreira, lado Sul, lado que correspondia antes ao Beco do Cotovelo, que além das denominações oficiais, a praça, na época, era também popularmente conhecida por “Praça da Municipalidade”, por situar-se defronte do prédio da Intendência Municipal, onde também funcionava a sala do júri. No local, onde existiu o Abrigo Central, construído na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha.
A Rua Dr. Pedro Borges, situada na ala Sul da praça, esquina com Major Facundo – onde hoje se ergue o Edifício Torres, existiu a Casa Maranhense, depois a Loja Rainha da Moda, Pastelaria Chinesa, hoje Casa Amazônia – ao lado da escada que dava entrada para o Foto Ribeiro; vizinho à Loja Ceará Chic – de Irajá Vasconcelos; A Miscelânea, mercearia de primeira ordem, do Sr. Frota; Farmácia Belém, hoje Casa Pio; Posto Mazine, do Sr. Falcão – primeiro revendedor do fogão a gás, depois Grupo Edson Queiroz, hoje Farmácia Pague Menos, do meu amigo Deusmar Queirós, proprietário da maior rede de farmácia do Brasil, homem generoso e de convicta religiosidade, pai do genro Mário Queirós, também avô de Pedro Henrique.
A Sapataria Clark, depois Salão Lord, hoje Roscel Jeans; Sorveteria Odeon, hoje Óticas Itamaraty, de Pantaleão Cavalcante; Leão do Sul, de Dimas de Castro e Silva, pai do meu amigo, Marçal Pinto de Castro; e na esquina da Rua Floriano Peixoto a Casa Maranguape, depois Lojas de Artigos Masculinos, de Agenor Costa, hoje Farmácia Avenida.
Do lado Leste, esquina com a Rua Dr. Pedro Borges, existiu a Casa Blanca, de J. Ary – Jean e Emilio Ary (irmãos), hoje ainda armazém de tecidos de C. Rolim; vizinho à antiga Padaria Lisbonense, de Pelágio Oliveira, hoje Shopping Lisbonense.
Inicio com o outro lado o Armazém de tecidos Leblon, hoje Lojas Leblon; seguia-se da Loja Oriano – engraxataria e polimento de calçados, hoje Lojas Otoch; assim como os demais, o prédio com pavimento superior do italiano Salvador Cunto – com alfaiataria; Loja Central, de Pedro Lazar e seu primo Adir Lazar o Bar e Sorveteria dos Jangadeiros, de Luis Frota Passos; a Farmácia Faladroga, todas hoje, onde estão as Lojas Otoch; Livraria Alaor, hoje Óticas Mariz; Bar da Brahma – dos irmãos Coelho, onde serviam as deliciosas unhas e patas de caranguejo e o queijo flamengo com fatias de pão, local de encontro dos senhores de meia-idade que todas as tardes se reuniam para saborear a cerveja Boock Alen, depois Armazém do Povo, hoje Mundial Video Bingo; Farmácia Globo, hoje C. Rolim; Farmácia Santo Antônio, de Dalmário Cavalcante Albuquerque, hoje Bingo Cidade; Farmácia Humanitária, hoje café L’Escale; Sorveteria El Dourado, do estimado amigo e festejado homem de negócios – Figueiredão – Antônio Montenegro Figueiredo, hoje Farmácia Avenida; Caldo de Cana “O Merendinha”, Quezado, da Dona Zenaide Quezado de Aurora, hoje Lojas Helga; e Palacete Ceará, o Clube Iracema, mais tarde Rotisserie, casa de jogo de bilhar, do árabe Sr. Abraão, hoje agência da Caixa Econômica Federal. Ainda do lado Leste, na Rua Floriano Peixoto, numa diagonal, foi plantado uma muda de cajueiro, na administração Juraci Magalhães, simbolizando o lendário “cajueiro da mentira”, hoje com placa assentado ao lado com os seguintes dizeres: “Neste local existiu um frondoso cajueiro que, por frutificar o ano todo, era apelidado de “cajueiro botador” ou, por se realizarem, sob sua copa, cada 1º de abril, as eleições para o maior “potoqueiro” do Ceará, era também chamado de “cajueiro da mentira.

VULTOS DA FORTALEZA ANTIGA


João Cordeiro


Dentre os cearenses notáveis do passado, poucos vieram intensamente quanto João Cordeiro. Após infância e adolescência empobrecidas, venceu na vida e já em 1877 foi eleito presidente da Associação Comercial do Ceará. Em função que foi convocado pelo presidente da província o conselheiro Estelita, para comissariar a luta contra a Cólera que então, virulentamente, se alastrava no Ceará, em plena seca de 1877/88/89. A partir de 1880, liderou o movimento abolicionista. Depois foi industrial em Baturité. Onde envolveu-se ativamente na luta pela instauração da República. Proclamada esta, recebe telegrama do Rio de Janeiro nomeando-o presidente da Província. Não aceitou porém honrosa incumbência, em respeito e fidelidade ao cel. Ferraz, que havia aclamado para as funções e as assumido. Limitou-se aceita ser vice de Ferraz , assumindo o governo por duas vezes. A seguir, vai residir no Rio de Janeiro voltando a atividade industrial. É eleito senador pelo Ceará. Foi ajudante de ordens do marechal Floriano Peixoto. Esteve preso em Fernando de Noronha, sendo solto 45 dias depois, graças a habeas-corpos requerido por Rui Barbosa. Ao regressar ao Rio, volta aos negócios de sua fábrica, mas, falindo, entregou aos credores tudo o que possuía. Após Senador, se elege deputado federal, quando vai nomeado, por Nilo Peçanha seu amigo, Governador do Acre. Aos 87 anos, quase cego, voltou a ser caixeiro da Casa Boris...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A SAGA DE ORSON WELLS EM FORTALEZA







Fortaleza em 1942 apresentava um pouco mais de 150 mil habitantes. Dormia-se cedo, por volta das 21 horas. A beira-mar era vazia, não havia edifícios, somente casas de pescadores. O Mucuripe era de difícil acesso.No início dos anos 40, quatro pescadores brasileiros se lançaram ao mar para uma viagem que entrou para a história dos jangadeiros cearenses, da navegação, do Estado Novo e do cinema. Tão arriscada foi ela, que até na imprensa americana ganhou espaço nobre. Num artigo intitulado Four Men on a Raft (Quatro Homens numa Jangada), a revista Time (8/12/1941) reproduziu toda a odisséia de Manoel Olímpio Meira (Jacaré), Raimundo Correia Lima (Tatá), Manuel Pereira da Silva (Mané Preto) e Jerônimo André de Souza (Mestre Jerônimo), que a bordo de uma jangada singraram os 2.381 km que separam Fortaleza do Rio de Janeiro, sem bússola ou carta náutica.Foram mais de 61 dias de viagem pelo mar...Os jangadeiros queriam chamar a atenção do País e do governo para o estado de abandono em que viviam os 35 mil pescadores do Ceará.Até que....então...Na primeira semana de dezembro de 1941, folheando a Time, Orson Welles tomou conhecimento da proeza de Jacaré & cia., e teve um estalo: ali estava o segundo episódio brasileiro de It's All True, o filme pan-americano que o governo Roosevelt há pouco lhe encomendara.Welles chegou ao Brasil em 8 de fevereiro de 1942, filmou o carnaval carioca, e em 8 de março fez uma viagem de reconhecimento a Fortaleza. Lá chegou num vôo especial da NAB (Navegação Aérea Brasileira) e foi recebido como "um Napoleão do cinema". Hospedada no Excelsior Hotel, no centro da cidade, a entourage It's All True (Welles levou seis acompanhantes, entre os quais Morel, seu fiel assistente Richard Wilson e a tradutora Matilde Kastrup). Dois meses mais tarde, Jacaré e seus três companheiros foram trazidos de avião até o Rio e hospedados no hotel Copacabana Palace. Por 500 mil réis semanais, participariam de algumas cenas do episódio carnavalesco, ao lado de Grande Otelo, rodariam no aeroporto a despedida do Rio e reconstituiriam, numa praia da Barra da Tijuca, a triunfal chegada da jangada ‘São Pedro’ à Baía de Guanabara. Nessa ordem. Várias tomadas da chegada ao Rio chegaram a ser feitas, no dia 19, mas uma manobra infeliz da lancha que rebocava a jangada a teria virado na praia de São Conrado, jogando ao mar agitado os seus quatro tripulantes. Três se salvaram. O corpo de Jacaré desapareceu e nunca foi encontrado. Ainda assim, Welles foi em frente. As coações, quase sempre veladas, da ditadura getulista o perturbavam bem menos que o assédio crescente da RKO e do governo americano, que o acusavam de gastar dinheiro a rodo.Do Rio, novamente Welles desembarcara na Base Aérea de Fortaleza às 15h30 do dia 13 de junho. Apesar do que ocorrera com Jacaré, foram acolhidos com enorme simpatia. Para assegurar maior tranqüilidade aos trabalhos, estabeleceram-se nas areias do Mucuripe e ali rodaram a história de amor do jovem pescador (José Sobrinho) com uma bela morena (Francisca Moreira da Silva, então com 13 anos), o casamento dos dois, a morte do jangadeiro e seu enterro nas dunas, a conseqüente revolta dos pescadores pelas suas precárias condições de vida e a decisão política do reide até o Rio de Janeiro. No papel de Jacaré, puseram seu irmão Isidro. Em Fortaleza, Welles revelou-se um homem radicalmente diferente do garotão farrista e mulherengo que os cariocas conheceram. Não deixou de ir a festas (chegou a marcar quadrilha num folguedo junino), nem de freqüentar o Jangada Clube, mas parou de beber e deu um duro danado nas seis semanas que lá passou, correndo contra o relógio e fazendo malabarismos com o orçamento. Sempre alegre, passou a viver com os pescadores, que o tratavam de "galegão legal" e admiravam o seu desprendimento de confortos materiais e sofisticações culinárias. Dormia numa cabana rústica, mal protegida dos raios solares, e à noite, depois de encarar um portentoso prato de feijão com arroz e peixe, recolhia-se para escrever madrugada adentro.


Fonte: Estadão

AS LINHAS QUE TRAFEGAVAM NA ANTIGA IGREJA DA SÉ


Antiga Sé (Catedral) de Fortaleza. Segundo Nirez, "no dia 11/09/1938 foi rezada a última missa na velha Catedral e em seguida ela foi demolida juntamente com seu cruzeiro cujos santos que o enfeitavam estão hoje no Museu São José do Ribamar, no Aquiraz."Bondes que trafegavam no local. Adolpho Quixadá lembra que duas linhas passavam pela praça - Prainha e Praia de Iracema. Nirez confirma: "Existiam duas linhas que passavam por ali, uma era a "Prainha", que ia até o pé da subida da ladeirada Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha, hojeem frente ao Centro Cultural Dragão do Mar, logo após aCapitania dos Portos; a outra linha era da Praia de Iracema,que seguia pela atual Avenida Pessoa Anta."
Um viajante inglês registrou a existência de bondes em Fortaleza na década de 1870, mas outras fontes afirmam que a primeira linha de bondes puxados por cavalos, entre a estação ferroviária e o centro de Fortaleza, foi inaugurada pela Companhia Ferro-Carril do Ceará (FCC) em 25/4/1880, usando bitola de 1.400 mm a mesma usada pela Trilhos Urbanos na linha de bondes a vapor em Recife. A Ferro Carril do Parangaba abriu uma linha para o lado Sul da cidade em 18/10/1894 e a Ferro Carril do Outeiro (FCO) iniciou sua linha no lado Leste de Fortaleza em 24/4/1896. A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da FCC e da FCO e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, agora com bitola de 1.435 mm. A linha Parangaba foi fechada em 1918 e não chegou a ser eletrificada. Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo.

OS BONDES NA PAISAGEM DE FORTALEZA


Já a imagem abaixo, da mesma época, mostra o bonde elétrico, na Floriano Peixoto, aberto prefixo 76, na linha do Outeiro, passando ao lado de uma bomba de gasolina. Reparem na arquitetura dos prédios... Banco do Brasil, na época...(por volta dos primeiros cinco anos da década de 1930)

OS BONDES NA ANTIGA FORTALEZA


Na foto abaixo (da coleção do pesquisador Allen Morrison, de New York),um bonde elétrico no centro da capital cearense,em meados do século XX. Na altura do depósito, o bonde dobrava à esquerda e, depois de cerca de 50 metros,na rua 24 de Maio, parava na esquina da rua Castro e Silva.Virava a lança, voltava e parava de novo ao lado da Estação Central, para dar embarque (serviço inverso de quandovinha trazendo passageiros para os trens urbanos)aos passageiros que haviam chegado ou outros usuários que demandavam o centro da cidade.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Marmotas da Fortaleza Antiga


Tempos bons aqueles em que ...

Boneca era CALUNGA
A revista era FON-FON",
Calcinha era SUNGA
E soutien, CALIFON
Da circunspecta CEROULA
Da rapadura com feijão,
Da paçoca comcebola
E do sunga de cordão.
Tempos bons.
Dos velhos bondes da "light",
Da goiabada cascão,
Em que o ditado era "ALL-RIGHT"
Da anágua e da combinação.
Da velha praia de Iracema,
Das "soirés" do São Luís
Do canto da seriema
E das bolinhas de aniz.

Do gostoso doce gelado
De abacaxi, cajá e nata.
Do amendoim bem torrado
E do fino doce de lata.
Tempos bons em que...
O chic era usar gravata
Sapato de bom verniz,
O relógio era de prata
E o homem era feliz.

O pó de arroz era "DORLY",
Cafona era canelau.
A revista era o "GIBI"
E ladrão era LALAU...

Do velho abrigo central,
Dos pastéis do "MARECHAL",
Da Praça da Escola Normal,
Do Ginásio Municipal.

Da Igreja de São Benedito
Do Pastoril da Imperador,
Onde se cantava "BENDITO"...
Do Narcélio e do Bianor !
Do saudoso "MAJESTIC",
Cine Centro, cine Rex.
Do Moderno, um cine chic,
Do tropical "SUPER-PITEX.
Tempos saudosos aqueles em que...
Empregada era "PIRÃO FRIO",
Resfriado era defluxo,
Só se viajava de navio.
Pro pulmão era mastruço.
Tempos bons .
Das retretas da "Lagoinha",
Onde havia uma distinção:
No centro, as moças de linha,
Por fora, as "chofer de fogão".

Do pegapinto do Mundico,
Com pão doce ou tapioca
Do caldo de Cana caiana
Moída ali na engenhoca.
Tempos bons...
Em que não havia assalto,
Violência ou trombadinha,
E o único sobressalto
Era o ladrão de galinha.

Do penico de porcelana,
Da escarradeira na sala,
Em que cílio era pestana
E o guarda-roupa era a mala

Do jaquetão tipo saco,
Da calça boca de sino
Colarinho indeformável,
Sapato salto argentino.
Tempos bons aqueles...
Da cabeleira bem penteada
Oleada para brilhar,
Com óleo Glostora e perfumada
Com brilhantina "Royal Briar"
Em que...
Papo furado era lero-lero,
A gente brincava de pião,
A dança da moda era bolero
E não existia "sapatão"...

Moça fina usava pastinha,
Sáia godê, blusa rendada
E, quando caía a noitinha,
Se sentava na calçada.

Tempos saudosos em que...
Bromil era expectorante,
Asseptol, uma panacéia.
Capivarol, fortificante,
Chá de goma pra diarréia...
Tempos saudosos aqueles...
Do galo cantando no quintal
Em que se jogava bola de meia.
Das frutas do Mercado Central
E em que surra era peia...

Da velha Farmácia Teodorico
Do "papagaio" sineiro da SÉ.
Em que fofoca era fuxico
E charrete cabriolé.

Do terno de linho acetinado
Da Irlanda ou Inglaterra importado
Sempre impecavelmente engomado,
Botão do colarinho dourado.

Do sapato esporte "fanabor",
Da roupa do melhor rayon,
Do gostoso café de coador
E do sapato branco e marron.
Da esquina do pecado famosa,
Onde a rapaziada, às tardinhas,
Ficava pra ver o vento subir
A saia rodada das menininhas...

Recordação e muitas saudades
Do sortido "Bazar Alemão",
Da antiga "Loja de Variedades",
Da "Espingarda" do Damião.

Da Loja "O Gabriel", sortida,
Que vendia artigos sagrados,
Com a porta garantida
Por vinte e dois cadeados...

Da famosa "Casa Elefante",
Que vendia tudo barato,
Ao pobre ou ao mais pedante,
Penico, xícara ou prato.

"Casa Sloper, "Ceará Chic",
casa das jóias "Meziano",
do elegante carro "Buick",
do fino chocolate Gardano.

Do embarque na ponte metálica,
Aos vagalhões do mar azul,
Nos velhos navios da "Costeira",
Única via de acesso ao sul.
Tempos bons em que...
Murro chamava-se bofete,
O homem de posses ia a Roma
E, em vez do nocivo chiclete,
Mascava-se bombom de goma.

Tomava-se água de quartinha,
Merendava-se um bom chibé,
Na sobremesa, rapadurinha
E, pras visitas, era café.
Saudades...
Do rádio Philco muito afamado
Potente e todo valvulado,
Modelo moderno quadrado,
Com o dial todo iluminado.

Da famosa "Cama Patente",
Da legítima "Faixa Azul",
Que era luxo pra pouca gente,
Importada lá do sul...

Da coluna da hora imponente,
Testemunha de emoção do povo,
Com seu badalar estridente,
Anunciando a entrada do Ano Novo.

Do conhecido "Posto Mazine",
Da esquina do "Rotisserie",
Das finas calças de gabardine
E dos frondosos pés de oiti.
Da famosa bolacha "fogosa",
Do fino biscoito "Facão",
Em que a praia chic era a "Formosa"
E sáia rodada era balão...

Da "A Cearense" do Aprígio,
Loja Chic, em grande progresso,
Ditando a moda, com prestígio,
Ali, no Quarteirão Sucesso".
Do magazine "A Cruzeiro",
Líder de roupa masculina,
Que , durante o ano inteiro,
Ditava a moda mais grã-fina.

Do criado mudo em casa de rico,
Guardando, nas horas diurnas,
O sempre asseado penico,
Pras necessidades noturnas.

Da tabuada na palmatória,
Método reputado imperfeito
Crestomatia na compulsória
Mas, aprendia-se e havia respeito.

Lembranças dos tipos pitorescos...
A Teresa do "puxa-puxa",
Zé Tatá, Siri, Raimundão,
Casaca Preta, Bode Iôiô,
Jararaca, Chica Pilão.

Feijão Sem Banha, Chico Dudu,
Zé Guela, Chico da Mãe Isa,
O "Mamãe Dorme Só, o Napu,
O "Pedão da Bananada".
Na Fortaleza antiga...
Rádio Patrulha era "Madalena",
Avião era aeroplano,
Pobre só tinha rádio a galena,
E moça tocava piano.

Aparecia o "Cão da Itaoca",
Assombrando a população,
Tomava-se café com tapioca,
Como primeira refeição.
Saudades...
Da Rua Franco Rabelo,
Do velho "curral" da praia,
Do Matadouro Modelo,
Das brincadeiras de arraia...

Dos "Prefect" do "Posto Cinco",
Dos automóveis "Citroen",
Dos prédios de teto de zinco
E dos cigarros Araken.

Piqueniques em Messejana
Cada qual levando farnel,
Frito de galinha, banana,
Farofa de carne e pastel.

Do beco do "rasga sunga",
Escuro que nem breu!
Onde se ouvia um funga-funga,
Ali, pertinho do Liceu.

Dos programas de rádio gostosos
"Divertimentos em Seqüência",
Novelas, cantores famosos,
"Bazar de Músicas"... Que audiência"

Do animado carnaval de rua,
Com muito confete e serpentinas,
Maracatus, "Bando da Lua",
O corso com muitas meninas.
Do cloretil, muito perfumado,
Infalível no "flirt" inocente,
Com seu jato muito gelado,
Deixando um odor envolvente...

Das retretas do Passeio Público,
Desfiles na praia ao luar,
"Sereno" no Cine Diogo,
Banhos na ponta do quebramar...
Tempos bons aqueles em que .
Morim era mandapulão,
Cachaça, "cascorobil",
Toda casa tinha oitão,
Pra lombriga, "Ferrovermil".

Presepada era marmota,
Confusão, inguirisia,
Em que mentira era lorota,
E perder missa era heresia.
Sabonete fino era de sândalo,
Pra dar sorte, pé de coelho,
E considerado grande escândalo
Moça mostrar o joelho.

Casamento era coisa séria,
Não havia separação,
Em que Quitéria era Quitéria,
Em que João era João...
Em que não havia fila,
Muito menos inflação,
Bola de gude era bila
E bermuda era calção.

Saudades...
Do carrossel, que era óla,
Da gostosa mariola,
Do sapato de crepe sola,
E da música de vitrola.

Do namoro na janela,
Singelo e sem nenhum sarro,
Sob as vistas da mãe dela,
Que, foi não foi, dava um pigarro...

Das serenatas românticas,
Músicas apaixonadas,
Violões e bandolins,
Nas noites enluaradas.

Do feijão com carne velha,
Cozido em panela de barro,
Do refresco de groselha,
Servido na mesa em jarro.

Do paletó de casimira,
Calça de fina flanela,
Camisa de seda palha,
Botão de rosa na lapela.

Da cambica de murici,
Do mocororó de caju,
Do aluá de abacaxi,
Das bolinhas de comaru.
Da Ladeira da Prainha,
Do velho Poço da Draga ,
Da Rua do Seminário,
Do Monsenhor Tabosa Braga.

Eu sou do tempo em que...
Rede se chamava fianga,
Havia fartura de manga,
Todo jardim tinha pitanga,
Usava-se ouro e não miçanga...

Da Cera do Doutor Lustosa,
Do Chá de Sena com maná,
Pílula de Matos famosa,
Do Lambedor de Jatobá...

Do Elixir de Inhame,
Do chá de folha de mamão,
Do depurador de velame,
Do gargarejo de agrião.

Do pote no pé da janela,
Da tina dágua no banheiro,
Do arroz doce com canela,
E da caneta de tinteiro.

Da braguilha de botão,
Calça de seis bolsos e bainha,
Suspensório e cinturão.
Da tinta de escrever "Sardinha".

Em que era uma tradição,
Cultivada por inteiro,
Na primeira comunhão,
Usar roupa de marinheiro.

Da rua da Conceição,
Outeiro, Praça de Pelotas,
Prado, Campo de Aviação,
Beco dos Pocinhos, Varjota.

Soares Moreno, Praínha,
Praça da Sé, Hotel Bitu,
Pajeú, Rua da Escadinha,
Alagadiço, Guajiru.
Em que era obra do Satanás,
O homem sério e de linha,
Usar paletó lascado atrás,
Capanga, brinco e pulseirinha.

Eu sinto saudades do tempo em que...
Havia muito mais recato,
Mais sinceridade e pudor,
Muito mais respeito no trato.
Mais fidelidade no amor.
Saudades imensas...
Da nossa Fortaleza Antiga,
Sem asfalto e poluição,
Muito mais humana e amiga
E com muito mais coração"

Tudo isso, "Coisas Que O Tempo Levou",
como diria o saudoso José Lima Verde,
um dos maiores cultores da memória da nossa querida cidade

sábado, 25 de outubro de 2008

CONTO DESTAQUE VENCEDOR DO XI PRÊMIO DE LITERATURA IDEAL CLUBE 2008

Na foto acima, o escritor laureado ao lado do Secretário de Cultura do Estado do Ceará, professor Auto Filho, que estava representando o governador Cid Gomes no evento.


CITIES IN THE SKY
Nelson Silva

Por essa época, todos os conflitos militares entre nações haviam cessado completamente nos quatro cantos da Terra. Embora atentados terroristas continuassem a sacudir grandes cidades da Europa e dos Estados Unidos sem retaliação aparente, guerras travadas por estados devidamente constituídos era coisa que não se ouvia falar haviam duas dúzias de anos.
Sob este prisma, como se poderia supor, o mundo definitivamente achava-se desfrutando de um período sem precedentes em sua história. Uma era em que, finalmente, o insólito astro azul não se encontrava empapado em sangue.
Tal convicção não soaria absurda de todo, uma vez que os orçamentos militares das superpotências haviam sido suprimidos drasticamente. Gastos com armamentos simplesmente desapareceram da mesa de negociações de governantes declaradamente belicistas.
Inimigos ancestrais - políticos e religiosos - selavam a paz e assinavam acordos de cooperação mútua onde antes só havia ódio e intolerância milenares.
Restavam combates étnicos isolados e homens-bomba que efetivamente explodiam aqui e ali, mas já nem mesmo eles sabiam bem porque estavam indo pelos ares.
A estranha ausência de hostilidades acabou convencendo até aos analistas mais céticos, defensores da teoria do ovo da serpente, aquele que eclode em ‘inocentes’ períodos de paz, como sucedera na Paz Armada antes do primeiro conflito e no entreguerras de 18-39.
Circunstâncias históricas à parte, a nova era mostrava-se promissora, uma vez que as fabulosas quantias que nutriam a máquina da guerra poderiam enfim ser empregadas em causas bem mais nobres, negligenciadas que foram pelos incontáveis mensageiros da morte que conduziram a civilização humana em sua tenebrosa trajetória através dos tempos.
O axiological dream world de Morus, a sociedade equilibrada e perfeita aparentemente tornara-se palpável para a maioria da população terrestre.
Foi então que passou-se a exigir do G-7 investimentos maciços em produção de alimentos, construção de moradias e escolas, pesquisa e fabricação de remédios empregando os bilhões de dólares que antes financiavam o aparelho bélico e irrigavam as veias dos vampiros das trevas que insistiam em sujar de sangue as páginas da história.
Falava-se mesmo em erradicação da fome, da miséria e de muitas doenças, do controle eficaz de todas as epidemias e da igualdade social entre os povos como algo perfeitamente possível de se realizar e em um intervalo de tempo relativamente curto.
Curioso pois, era observar a misteriosa apatia dos líderes que conduziam os países mais abastados, em nítido contraste com o entusiasmo global. Também requeria um traço de suspeição se fossem levadas em conta suas constantes evasivas quando interpelados sobre a aplicação dos formidáveis recursos em um plano de paz mundial tão ansiosamente aspirado.
O mundo não tardaria a descobrir, contudo, o que estava por trás das enigmáticas fisionomias de reis, presidentes, ditadores, primeiros-ministros, cardeais, senhores do capitalismo e chefes de religiões.
Reunidos em uma assembléia na ONU e sob protestos veementes dos representantes das nações mais pobres, eles surpreenderam a humanidade ao revelar um segredo de estado que estava sendo gestado há anos: um gigantesco projeto que iria consumir bem mais do que apenas o orçamento de suas forças armadas, dizimando completamente toda aquela fábula de sociedade perfeita.
Uma espetacular estação espacial com dimensões estapafúrdias de centenas de quilômetros em fase final de construção há tempos pairava sobre o planeta, naquela que seria a maior aventura tecnológica da espécie.
A novidade causou alvoroço e incredulidade nos outrora entusiasmados articuladores do chamado “Really Peace”, que era como o movimento em prol da nova era ficou conhecido.
Todos os grandes conglomerados industriais concentraram seus esforços para suprir as necessidades do voraz monstro espacial, suspenso na estratosfera, a doze mil quilômetros de altitude.
Visível a olho nu, a estrela metálica, com seu arrogante brilho prateado, remetia a um cometa portador de mau agouro, conforme acreditavam os anciãos das tribos primitivas desde o princípio da civilização. E, como se sabe, corpos celestes travestidos de deuses sempre exigiam rituais de sacrifício humano.
Logo, tudo o que o mundo produziria a partir dali embarcaria nos foguetes que partiam, céleres, para a estranha estrutura cósmica. O projeto inicial há muito fora expandido e os limites da estação pareciam convergir aos confins do universo.
Paralelamente às rotineiras decolagens das aeronaves, fatos intrigantes se desenrolavam na superfície.
Os estados há muito haviam abdicado de seus intrínsecos papeis fundamentais. O poder constituído isolara-se em torno de si e uma feroz instituição policial foi implantada, protegendo os governos e punindo com a morte toda e qualquer insurreição popular.
Uma grande parcela de trabalhadores fora aglutinada em áreas fechadas ou em campos de trabalhos forçados – que em muito lembravam a política do Gulag soviético – com o fim de produzir alimentos e um sem-número dos mais variados artigos, que eram rapidamente levados à NASA e às bases do Casaquistão, de onde embarcavam em ônibus espaciais em direção ao arranha-céu estelar, a essa altura já habitado por centenas de pessoas.
Um enorme elevador espacial – um cabo feito de fibra de nanotubos de carbono com uma força de tensão essencialmente alta – estendia-se por mais de vinte e cinco mil quilômetros espaço adentro, fixado em satélites geoestacionários, permitia que carregamentos, passageiros, contêineres e cargueiros de provisões contendo sementes de plantas, árvores e gêneros alimentícios desenvolvidos sob medida pela engenharia genética fossem içados para fora da gravidade terrestre com energia fornecida do solo. O resto da viagem era realizado por um foguete nuclear de baixa propulsão até o desembarque final no inacreditável aparato sideral.
Com a informação sob controle não era possível saber o que raios estava acontecendo. Comentava-se que os cientistas haviam descoberto uma nova forma de sobrevivência no espaço e, para viabilizar as pesquisas, estavam convidando os poderosos e a elite mundial para vivenciar a extravagante experiência, desde que desembolsassem, obviamente, uma quantia de muitos milhões de dólares.
À medida que reis, rainhas, presidentes e magnatas citados na Forbes começaram a ascender aos céus em vôos espaciais diários, a mentira oficial começou a ruir como um castelo de cartas.
Apesar da tenaz repressão aos órgãos de comunicação, sobretudo na rede mundial de computadores, alguns heróis mártires – como aqueles que se opuseram ao Führer na aurora do III Reich – conseguiram denunciar a farsa e suas imagens clandestinas não deixavam dúvidas de que havia uma fuga em andamento, embora muitos deles tivessem que pagar com a própria vida a descoberta sem precedentes nos anais de nossa epopéia.
De que fugiam afinal, os dirigentes mundiais? Era a retumbante pergunta que o mundo fazia.
Os semblantes aparvalhados dos desertores, metidos em ridículas roupas de cosmonautas lembravam condenados subindo ao patíbulo, revelando sua notória apreensão, como se não tivessem certeza do seu destino, os olhos esbugalhados.
Quando o Papa e seu séqüito tomaram assento em um desses veículos espaciais, ficara evidente que um perigo iminente rondava a Terra.
As miseráveis criaturas repudiadas estabeleceram, cá embaixo, um sistema em que prevaleciam saques, linchamentos, suicídios e um amplo leque de atrocidades. Não foram capazes de se organizar como sociedade tendo em vista o risco de um fim tão próximo.
Há muito haviam sido julgados por seus líderes. Restava agora saber de que forma de morte morreriam. E se existia alguma chance de sobrevivência.
Por enquanto, estavam absorvendo o choque da forma mais humana possível: a da guerra contra o seu semelhante.
No alto, a estrela artificial cintilava, patética e reluzente.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CONTO VENCEDOR DO XI PRÊMIO IDEAL CLUBE DE LITERATURA 2008


CITIES IN THE SKY
Nelson Silva

Por essa época, todos os conflitos militares entre nações haviam cessado completamente nos quatro cantos da Terra. Embora atentados terroristas continuassem a sacudir grandes cidades da Europa e dos Estados Unidos sem retaliação aparente, guerras travadas por estados devidamente constituídos era coisa que não se ouvia falar haviam duas dúzias de anos.
Sob este prisma, como se poderia supor, o mundo definitivamente achava-se desfrutando de um período sem precedentes em sua história. Uma era em que, finalmente, o insólito astro azul não se encontrava empapado em sangue.
Tal convicção não soaria absurda de todo, uma vez que os orçamentos militares das superpotências haviam sido suprimidos drasticamente. Gastos com armamentos simplesmente desapareceram da mesa de negociações de governantes declaradamente belicistas.
Inimigos ancestrais - políticos e religiosos - selavam a paz e assinavam acordos de cooperação mútua onde antes só havia ódio e intolerância milenares.
Restavam combates étnicos isolados e homens-bomba que efetivamente explodiam aqui e ali, mas já nem mesmo eles sabiam bem porque estavam indo pelos ares.
A estranha ausência de hostilidades acabou convencendo até aos analistas mais céticos, defensores da teoria do ovo da serpente, aquele que eclode em ‘inocentes’ períodos de paz, como sucedera na Paz Armada antes do primeiro conflito e no entreguerras de 18-39.
Circunstâncias históricas à parte, a nova era mostrava-se promissora, uma vez que as fabulosas quantias que nutriam a máquina da guerra poderiam enfim ser empregadas em causas bem mais nobres, negligenciadas que foram pelos incontáveis mensageiros da morte que conduziram a civilização humana em sua tenebrosa trajetória através dos tempos.
O axiological dream world de Morus, a sociedade equilibrada e perfeita aparentemente tornara-se palpável para a maioria da população terrestre.
Foi então que passou-se a exigir do G-7 investimentos maciços em produção de alimentos, construção de moradias e escolas, pesquisa e fabricação de remédios empregando os bilhões de dólares que antes financiavam o aparelho bélico e irrigavam as veias dos vampiros das trevas que insistiam em sujar de sangue as páginas da história.
Falava-se mesmo em erradicação da fome, da miséria e de muitas doenças, do controle eficaz de todas as epidemias e da igualdade social entre os povos como algo perfeitamente possível de se realizar e em um intervalo de tempo relativamente curto.
Curioso pois, era observar a misteriosa apatia dos líderes que conduziam os países mais abastados, em nítido contraste com o entusiasmo global. Também requeria um traço de suspeição se fossem levadas em conta suas constantes evasivas quando interpelados sobre a aplicação dos formidáveis recursos em um plano de paz mundial tão ansiosamente aspirado.
O mundo não tardaria a descobrir, contudo, o que estava por trás das enigmáticas fisionomias de reis, presidentes, ditadores, primeiros-ministros, cardeais, senhores do capitalismo e chefes de religiões.
Reunidos em uma assembléia na ONU e sob protestos veementes dos representantes das nações mais pobres, eles surpreenderam a humanidade ao revelar um segredo de estado que estava sendo gestado há anos: um gigantesco projeto que iria consumir bem mais do que apenas o orçamento de suas forças armadas, dizimando completamente toda aquela fábula de sociedade perfeita.
Uma espetacular estação espacial com dimensões estapafúrdias de centenas de quilômetros em fase final de construção há tempos pairava sobre o planeta, naquela que seria a maior aventura tecnológica da espécie.
A novidade causou alvoroço e incredulidade nos outrora entusiasmados articuladores do chamado “Really Peace”, que era como o movimento em prol da nova era ficou conhecido.
Todos os grandes conglomerados industriais concentraram seus esforços para suprir as necessidades do voraz monstro espacial, suspenso na estratosfera, a doze mil quilômetros de altitude.
Visível a olho nu, a estrela metálica, com seu arrogante brilho prateado, remetia a um cometa portador de mau agouro, conforme acreditavam os anciãos das tribos primitivas desde o princípio da civilização. E, como se sabe, corpos celestes travestidos de deuses sempre exigiam rituais de sacrifício humano.
Logo, tudo o que o mundo produziria a partir dali embarcaria nos foguetes que partiam, céleres, para a estranha estrutura cósmica. O projeto inicial há muito fora expandido e os limites da estação pareciam convergir aos confins do universo.
Paralelamente às rotineiras decolagens das aeronaves, fatos intrigantes se desenrolavam na superfície.
Os estados há muito haviam abdicado de seus intrínsecos papeis fundamentais. O poder constituído isolara-se em torno de si e uma feroz instituição policial foi implantada, protegendo os governos e punindo com a morte toda e qualquer insurreição popular.
Uma grande parcela de trabalhadores fora aglutinada em áreas fechadas ou em campos de trabalhos forçados – que em muito lembravam a política do Gulag soviético – com o fim de produzir alimentos e um sem-número dos mais variados artigos, que eram rapidamente levados à NASA e às bases do Casaquistão, de onde embarcavam em ônibus espaciais em direção ao arranha-céu estelar, a essa altura já habitado por centenas de pessoas.
Um enorme elevador espacial – um cabo feito de fibra de nanotubos de carbono com uma força de tensão essencialmente alta – estendia-se por mais de vinte e cinco mil quilômetros espaço adentro, fixado em satélites geoestacionários, permitia que carregamentos, passageiros, contêineres e cargueiros de provisões contendo sementes de plantas, árvores e gêneros alimentícios desenvolvidos sob medida pela engenharia genética fossem içados para fora da gravidade terrestre com energia fornecida do solo. O resto da viagem era realizado por um foguete nuclear de baixa propulsão até o desembarque final no inacreditável aparato sideral.
Com a informação sob controle não era possível saber o que raios estava acontecendo. Comentava-se que os cientistas haviam descoberto uma nova forma de sobrevivência no espaço e, para viabilizar as pesquisas, estavam convidando os poderosos e a elite mundial para vivenciar a extravagante experiência, desde que desembolsassem, obviamente, uma quantia de muitos milhões de dólares.
À medida que reis, rainhas, presidentes e magnatas citados na Forbes começaram a ascender aos céus em vôos espaciais diários, a mentira oficial começou a ruir como um castelo de cartas.
Apesar da tenaz repressão aos órgãos de comunicação, sobretudo na rede mundial de computadores, alguns heróis mártires – como aqueles que se opuseram ao Führer na aurora do III Reich – conseguiram denunciar a farsa e suas imagens clandestinas não deixavam dúvidas de que havia uma fuga em andamento, embora muitos deles tivessem que pagar com a própria vida a descoberta sem precedentes nos anais de nossa epopéia.
De que fugiam afinal, os dirigentes mundiais? Era a retumbante pergunta que o mundo fazia.
Os semblantes aparvalhados dos desertores, metidos em ridículas roupas de cosmonautas lembravam condenados subindo ao patíbulo, revelando sua notória apreensão, como se não tivessem certeza do seu destino, os olhos esbugalhados.
Quando o Papa e seu séqüito tomaram assento em um desses veículos espaciais, ficara evidente que um perigo iminente rondava a Terra.
As miseráveis criaturas repudiadas estabeleceram, cá embaixo, um sistema em que prevaleciam saques, linchamentos, suicídios e um amplo leque de atrocidades. Não foram capazes de se organizar como sociedade tendo em vista o risco de um fim tão próximo.
Há muito haviam sido julgados por seus líderes. Restava agora saber de que forma de morte morreriam. E se existia alguma chance de sobrevivência.
Por enquanto, estavam absorvendo o choque da forma mais humana possível: a da guerra contra o seu semelhante.
No alto, a estrela artificial cintilava, patética e reluzente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Meu personagem RADKANA estréia


EU VI O CÉU DE N.Y.



Eu vi o céu de Nova York

no filme do horário nobre

tocando rock na metrópole

um bluesman no Village People.


Fazia frio chovia forte

é tão vazio

eu tive sorte

e vi a morte no meio do caminho.


Baby, eu me lembro de você mais jovem

me dando o toque que tinha se perdido

baby, eu já sei pra onde todos fogem

e as flores são fotos, corações partidos.


Nelson Silva

1989

domingo, 19 de outubro de 2008

A SEGUNDA VINDA DE JESUS É CERTA


Muitas são as promessas registradas na Bíblia, mas com toda segurança, a mais lembrada e esperada nos últimos dois mil anos pelos cristãos do mundo inteiro é a seguinte:
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver estejais vós também" (João 14:1-3). [a]
Jesus Cristo, depois de sua morte e ressurreição no ano 31 de nossa era, subiu aos céus prometendo que voltaria para destruir a maldade e instaurar seu reino onde a paz e a felicidade eternas serão estabelecidas. [b] Será possível conhecer a data deste evento? O próprio Jesus responde:
"Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai... Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis"(Mateus 24:36,43,44).
É por esta razão que não devemos nos deter em especulações quanto às datas, que Deus não revelou. Jesus nos disse que vigiemos, mas sem fixar uma data definida. Não podemos nos assegurar que Jesus regressará dentro de um, dois ou cinco anos, nem tampouco devemos atrasar sua vinda dizendo que talvez não se produza nem em dez, nem em vinte anos [c]
Contudo é claro que nenhum ser humano sabe o momento exato da vinda de cristo, Deus o sabe e não permitira que este acontecimento chegue sem aviso para aqueles que o estejam esperando:
"Porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como ladrão"(1 Tessalonicenses 5:2-4).
Por quê razão este grupo não permanece em trevas? O que lhes permite conhecer o que o resto do mundo ignora?
"E temos, mui firme, a palavra dos profetas, a qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro..." (2 Pedro 1:19).
Segundo o ensinado pelo Senhor Jesus Cristo, estar atento à palavra dos profetas é o que nos permitirá conhecer quão perto se encontra o dia de seu segundo advento:
"Aprendei, pois, esta parábola da figueira: quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, às portas" (Mateus 24:32-33).
Que coisas? Há aproximadamente dois mil anos os discípulos preocupados com este mesmo assunto consultaram a seu mestre, que lhe revelou as mais importantes. Esta conversa está registrada na Bíblia para nosso conhecimento.
"E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. E ouvireis de guerras e rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores" (Mateus 24 3-8).
Se você é daquelas pessoas que gostam de estar em dia com as notícias certamente verá nesta declaração de Jesus Cristo, uma impressionante descrição do que está acontecendo agora mesmo no mundo. Se você comprar o jornal de hoje é muito provável que encontre informações acerca de `seres iluminados' que asseguram que são a encarnação de Cristo e que vieram para salvar o mundo. Também lerá sobre as últimas guerras suscitadas no Oriente Médio e outras zonas de conflito. Lerá acerca dos últimos rumores de guerras anunciadas por astrólogos lendários como Nostradamus ou outros videntes modernos, se inteirará dos milhares de mortos e milhões de feridos deixados pelo último terremoto em algum lugar do planeta, se informará da última epidemia coletiva nos países europeus e do novo vírus letal criado por acidente em um laboratório de prestigio em manipulação genética. Tomará consciência da desolação na Etiópia, onde seus habitantes morrem por falta de alimentos. Lerá sobre a crise econômica mundial e da terrível taxa de desemprego que está fazendo que cada vez mais pessoas tenham fome, mesmo nos países mais industrializados.
Apesar do incrível cumprimento das palavras de Cristo, devemos levar em conta que embora elas anunciem que Ele vem, estes sinais não são os últimos nem os definitivos. Se leres esta passagem com cuidado notarás que Jesus Cristo disse: "mas ainda não é o fim" e "tudo isto é só o princípios das dores". [d] Isto mostra que ainda faltam algumas coisas por vir, quais são? Leia com atenção a continuação do sermão pregado pelo Senhor Jesus aos discípulos:
"Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim" (Mateus 24:9-14).
Observe a diferença da primeira parte de seu sermão, neste trecho Jesus faz alusão direta aos eventos que devem acontecer pouco antes do fim do tempo, pois termina com as palavras "e então vira o fim". Resumamos estes eventos:
O povo de Deus será entregue à tribulação. Se levantará um ódio generalizado contra eles e lhes perseguirão até a morte.
Os homens odiarão uns aos outros, a maldade multiplicará e o amor de muitos se esfriará.
Falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos.
O evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações.
Embora muitos intérpretes citem estes quatros pontos como se tratassem de fatos isolados, o contexto mostra que eles na realidade, fazem parte de uma mesma profecia, pois o ódio e o desamor dos habitantes da terra, somados à obra dos falsos profetas darão como resultado a perseguição e morte daqueles que se levantam para pregar o evangelho do Reino de Deus. Esta conclusão é completamente confirmada por Jesus no livro de Apocalipse:
Advertência: O que é descrito na passagem seguinte não é literal em todos os seus aspectos. Apenas mostra, por meio de símbolos, os personagens e os eventos implicados no grande conflito que se desencadeará antes da vinda de Cristo.
"6 E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, 7 dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. 8 E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu babilônia, aquela grande cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição! 9 E os seguiu o terceiro anjo, dizendo com grande voz: se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber o sinal na testa ou na mão, 10 também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. 11 E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia de noite, os que adoram a besta e a sua imagem e aquele que receber o sinal do seu nome. 12 Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. 13 E ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam. 14 E olhei, e eis uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, um semelhante ao Filho do Homem, que tinha sobre a cabeça uma coroa de ouro e, na mão, uma foice aguda. 15 E outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao que estava assentado sobre a nuvem: Lança a tua foice e sega! É já vinda a hora de segar, porque a seara da terra está madura! 16 E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua foice à terra, e a terra foi segada" (Apocalipse 14:6-16).
Note que esta passagem de Apocalipse menciona os mesmos elementos de Mateus 24 com uma semelhança impressionante. Comparemos em detalhes as duas passagens:
Mateus 24:9 diz: "então os entregarão à tribulação, os matarão, e sereis odiados por todos por causa do meu nome" e Apocalipse 14: 12,13. Refere-se aos que tem a fé de Jesus. "Aqui está a paciência dos santos... Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor". A causa de sua morte tem relação direta com a adoração da "imagem" do versículo 9, pois segundo Apocalipse 13:15 a esta haveria de permitir que falasse e fizesse matar a todo o que não a adorasse.
Mateus 24:9,12 assegura que para esta época se haverá "multiplicado a iniqüidade" e que o povo de Deus será odiado por "todos". Apocalipse 14:9 fala de uma entidade chamada "a besta", a qual aparece em Apocalipse 13:6-8 "blasfemando contra Deus" e fazendo "guerra contra os santos". E embora pareça inacreditável, "todos os habitantes da terra" chegarão a estar de acordo com ela (vs. 8).
Mateus 24:11 diz que "muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos." Apocalipse 14:9 fala acerca da imposição da "marca da besta" e da adoração a esta entidade "e a sua imagem" fatos que precisamente terão sua origem na obra de um falso profeta: "... o falso profeta, que, diante dela, fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua imagem"(Apocalipse 19:20).
Mateus 24:13 diz que "o que perseverar até o fim será salvo". Apocalipse 14:12, falando do povo de Deus diz: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus".
Mateus 24:14 falando da pregação da última mensagem de misericórdia, diz: "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo". Apocalipse 14:6 diz: "... o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo e língua, e povo".
Mateus 24:14 diz que imediatamente depois de pregar-se o Evangelho a todas as nações "virá o fim". Apocalipse 14:16 apresenta esta mesma verdade ao dizer "... e a terra foi segada"; pois o Senhor Jesus ensinou em Mateus 13:39 que "a ceifa é o fim do mundo".
Todo o anterior confirma que Apocalipse é, em si mesmo uma extraordinária ampliação dos eventos expostos pelo Senhor Jesus em Mateus 24:9-14 e que na realidade são uma mesma profecia, por meio da qual podemos saber com exatidão quão perto ou quão distante se encontra o "fim do mundo".
É importante ressaltar que apesar da vinda de Jesus estar muito perto, ainda não está "às portas". Somente quando o mundo inteiro se unir contra o povo de Deus, quando se decrete a morte sobre os que se negam prestar adoração a besta e a sua imagem (lembre que são símbolos), poderemos saber com certeza que a vinda de Cristo é iminente.
Amigo leitor, não permita que seu coração se angustie e desanime com o que diz esta profecia. É certo que os que se neguem a adorar a besta e a sua imagem serão perseguidos até as últimas conseqüências, mas também é certo que Deus é nosso Pai, nos ama e não nos deixará sozinhos na prova:
"Dizei aos turbados de coração: Esforçai-vos e não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; Ele virá e vos salvará." (Isaías 35:4).
Ainda se necessário fosse dar a vida por causa da pregação do evangelho, ou se nosso corpo sofresse dor, e aflição nosso coração, tão pouco devemos temer, pois se cultivamos nossa amizade com Jesus e fazemos dele o centro de nossas vidas, finalmente venceremos:
"Porque qualquer um que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho esse a salvará" (Marcos 8:35).
"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês tu nisso? (João 11:25,26).
A Bíblia nos diz, também, que não será necessário que todos os filhos de Deus percam a vida, pois haverá um grande número deles que serão protegidos durante este tempo e verão Cristo voltar sem terem conhecido a morte. O apóstolo Paulo descreve esta verdade de modo que nos anima a colocar nossa esperança no glorioso destino que espera aos que permaneçam firmes e constantes:
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tessalonicenses 4:16-18).
• Os personagens que intervirão no conflito final já estão presentes e apenas esperam a oportunidade para tomar seu papel no último grande drama da história deste mundo. É importante que todo aquele que crê na palavra bíblica como única regra de fé e prática, investigue com diligência a quê ou a quem se referia Jesus Cristo nas passagens proféticas de Mateus 24 e Apocalipse.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

POESIAS INÉDITAS DE NELSON SILVA


DO CÉU DO PORTO
Os velhos acadêmicos da poesia estão errados
Poesia é um velho passeando de bicicleta
Não algo tão formal quanto um soneto.

Uma barca subindo a cebeceira do rio
Uma velha comprando alimentos.

Poesia não são compêndios, datas
Rótulos em talentos
Nem aldrava gigantesa na porta gasta do tempo.

É o próprio tempo.

É o que me ensinaram meus avós
A respeito dos quatro elementos.

Quando da chuva em fuga
Brotava um sol pequeno, sem brilho, sem gás
Mas ainda assim mesmo imenso.

Poesia é o cair do pano preto da noite
Furado de estrelas e de corpos, algures, resplandecentes.

É o amor novo
Brotando do sexo da semente.

Poesia não é um professor cansado
Um mestre em desalento
Que sabe decifrar Lusíadas mas não sabe dar conta do vento.

Invisível e sardônico vento.
Os velhos acadêmicos da poesia estão todos ferrados!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

POESIAS INÉDITAS DE NELSON SILVA


TEMPO VELHO
O tempo velho está passando
Carcomido, lança um libelo
Contra o arrebol do novo acontecimento.

O tempo velho
Unge um mar de mistério
Faz-se perpétuo
Embora não viceje em mais do que um inverno
Na fúria pulsante do advento.

Ademais, o que é o tempo
Esse velho senhor
Sentado em seu templo
Invisível no ar
Sábio em seu intento:
Levar flores às pradarias
Neve e ranger de portas aos conventos
Sem grandes constrangimentos.

Que horror infligiu, sutil,
Em outras eras, às primaveras
E ao remanso das tardes quentes.

Poderia ser calmaria
Tornou-se porém, valente.

O tempo velho se esquiva
E viva o velho tempo.


Nelson Silva

terça-feira, 14 de outubro de 2008

NO CALDEIRÃO DA IDOLATRIA


Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus" (Levítico 26.1).


Enquanto estacionávamos nosso carro ao lado do hotel, na cidade do Juazeiro do Norte, observávamos que apesar das fortes chuvas de janeiro que tinham caído nos últimos dias, o céu azul-anil com nuvens brancas não tardou em reaparecer no Cariri cearense. Após o check-in, subimos para o primeiro andar e, ainda no corredor, caminhando em direção ao nosso apartamento, pude avistá-la ao longe, branquinha, lá no topo da Serra do Horto: era a estátua do renomado padre cuja vida estudei nas últimas quarenta madrugadas. Esse homem foi o motivo de minha esposa e eu termos viajado 615 quilômetros, do Recife até o Juazeiro do Norte, onde passamos quatro dias pesquisando junto aos seus romeiros e investigando in loco um pouco mais sobre a vida desse "santo padre do Juazeiro".
Esse sacerdote católico era de baixa estatura, pele clara, olhos azuis, acompanhado sempre de seu cajado, usava uma batina preta e um chapéu redondo da mesma cor. "Foi detentor de um fortíssimo carisma, sobre as massas populares".[1]
Quem é esse homem-ídolo? Ninguém menos do que o padre Cícero Romão Batista (1844-1934), mais conhecido por estas paragens como o "Meu Padrinho Padre Cícero", carinhosamente chamado de Padim Ciço, uma das pessoas que mais marcaram a história e a vida do povo nordestino.
Juazeiro do Norte: Santuário da Idolatria ao Padre Cícero
"Viveu menino pobre às margens do rio salgadinho, cresceu na ribanceira o homem santo de Cristo. Seu nome percorre veredas no sertão pernambucano, Alagoas, Paraíba, Sergipe e Bahia. O Ceará exalta o nome do seu filho mais querido. No altar dos santos divinos é um deus-menino jamais esquecido. E quem é ele? E quem é ele? É o padre Cícero Romão, do Juazeiro do Norte, meu padim, sua bênção!". (Trecho da canção "Deus Menino", Chico Silva).
Localizada a cerca de 540 quilômetros ao sul de Fortaleza, Juazeiro do Norte é a segunda maior cidade do Ceará, com cerca de 250 mil habitantes. Sustenta-se do turismo religioso que atrai centenas de milhares de fiéis do "santificado" Padre Cícero. Durante algumas épocas festivas, a cidade chega a receber dois milhões de romeiros, vindos de todo o Brasil, e alguns do exterior, só para ver, fazer um pedido ou adorar esse mito nordestino.
Na residência que foi do Padim Ciço, hoje transformada em Museu Padre Cícero, nossa guia turística contou-nos que o pároco costumava relatar para seus amigos mais íntimos que a cidade do Juazeiro do Norte era santa e enfeitiçada. Dizia que, caso houvesse uma guerra, um manto cobriria toda a cidade, deixando-a invisível aos olhos dos inimigos que nunca conseguiriam atacá-la. Pensei: Puxa, essa coisa de manto deixando objetos e pessoas invisíveis é típico da série Harry Potter.
Diariamente, igrejas, monumentos, praças, procissões, novenas, peregrinações e missas louvam, agradam e idolatram o "Meu Padim Padre Ciço."
Apesar da Igreja Católica não considerar o Padre Cícero Romão Batista um santo, ela não censura os milhões de devotos que o consideram um santo homem de Deus. Baseado nas missas que assisti, posso afirmar que a Igreja Católica em Juazeiro não apenas apóia, mas incentiva os romeiros a venerarem o Padrinho. Qualquer político que ousar dizer que o Padre Cícero não é santo, dificilmente será bem votado na região do Cariri.
As romarias ao Padre Cícero são vantajosas para todos. A Igreja Católica, os empresários, os políticos e todos os setores da sociedade juazeirense são beneficiados pelo grande fluxo de dinheiro trazido pelos consumidores desse sacerdote que literalmente abarrotam as ruas e praças dessa cidade.
A imagem do Padim Ciço é reverenciada e está à venda em cada esquina, seja em suvenires, fotografias, chaveiros, chapéus, esteiras, chinelos, jarros, pôsteres, cerâmicas, talhas, bolsas, broches e muitas outras bugigangas. O artesanato é uma das principais atividades do Juazeiro e também gira em torno do Padre Cícero. Encontra-se imagens do padre em miniaturas e até em tamanho natural. Elas estão em pé ao lado das portas de entrada de centenas de residências e de muitas lojas, sem mencionar as de cera no Museu Vivo.
Até os telefones públicos têm um formato de um cajado com um chapéu redondo preto. Certa noite, durante o jantar, um dos gerentes do hotel nos revelou que naquele estabelecimento havia sessenta funcionários fixos e quase trinta porcento deles tinham como seu primeiro nome Cícero ou Cícera.
Em Juazeiro do Norte até os telefones públicos lembram o seu "santo padre".
O Padre Cícero está presente em cada recôndito desta cidade, semelhante a O Grande Irmão, do clássico 1984, de George Orwell, a observar todos os habitantes.
Também vimos algumas estátuas do Padrinho Ciço espalhadas pela cidade: no alto da Serra do Horto há uma monumental, toda em concreto, de 25 metros de altura, sendo 17 metros de estátua e 8 metros de pedestal. Na então Praça Almirante Alexandrino de Alencar, hoje Praça Padre Cícero, na região central da cidade, há uma em bronze em tamanho natural (inaugurada pelo próprio Padre Cícero em 1925).[2] Na frente da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde o pároco está sepultado, há mais uma protegida por uma caixa de alvenaria com vidro na frente. No jardim diante do edifício Balcão SEBRAE há mais outra em tamanho natural...
Estátua do Padre Cícero em bronze, na Praça Padre Cícero. No quesito de monumento à sua própria pessoa, o Padre Cícero é o Saparmurad Niazov do Cariri.
No quesito de quantidade de monumentos a uma só pessoa, Juazeiro do Norte é a Ashgabat* brasileira e o Padre Cícero Romão Batista é o Saparmurad Niazov do Cariri. E no quesito de devoção cega ao seu líder espiritual, Juazeiro do Norte é a Teerã nordestina.
Vendo a cidade entregue à idolatria, pudemos sentir um pouquinho do incômodo que o apóstolo Paulo sentiu ao visitar Atenas (Atos 17.16).
As Romarias ao Juazeiro do Norte
"Do mundo inteiro vão pro Juazeiro milhares de romeiros fazer sua oração. Vão pulsar em fé e ajoelhar aos pés do Padre Cícero Romão. [...] Meu Padim Ciço, meu Padim Ciço, somos romeiros pedindo a sua bênção. Meu Padim Ciço, meu Padim Ciço, somos romeiros sofredores do sertão". (Trecho da canção "A Bênção do Padre Cícero", J. Farias e Banda e do poeta compositor João Caetano).
São várias as romarias feitas a essa "Meca" nordestina durante o ano, porém o maior fluxo de romeiros concentra-se nos meses de fevereiro, setembro e novembro. A grande leva de romeiros chega a Juazeiro de ônibus ou de caminhão pau-de-arara. Os miseráveis vêm a pé mesmo, pelas estradas esburacadas, engolindo poeira e sendo escaldados pelo sol quente do sertão. Durante as romarias, os fiéis alugam "ranchos", que são pequenos quartos com banheiro em que cabem duas pequenas camas.
Uma parte de uma das "salas de promessas". Devotos deixam objetos como gratidão ao Padrinho por bênçãos alcançadas.
A quase totalidade dos romeiros e dos juazeirenses é composta de um povo pobre e economicamente sofrido, mas que acredita que dias melhores virão e, baseado nessa esperança, continua vivendo. Esperam um milagre do Padrinho. Muitos deixam tudo o que lhes resta aos pés do Padre Cícero. "A Casa dos Milagres", ao lado da Igreja do Perpétuo Socorro, e as "Salas das Promessas" no Museu Padre Cícero são alguns dos pontos turísticos da cidade. Lá observei vários objetos e centenas de retratos deixados pelos devotos como agradecimento por supostas bênçãos alcançadas através do Padre Cícero Romão.
Muitos foram ao Juazeiro e decidiram nunca mais retornar para suas casas. Vivem hoje amontoados em barracos nas periferias dessa cidade, mas felizes por estarem próximos do seu "santo padre". Muitos humildes retornam para seus lares famintos. Dentro de suas geladeiras quebradas encontram-se caçarolas vazias, sobre os fogões a lenha apenas panelas de feijão requentado, e seus filhos estão desnutridos. Mas no próximo semestre retornarão ao Juazeiro. São esses fiéis ingênuos que alimentam e enchem os bolsos daqueles que promovem a "indústria" de Padre Cícero.
A Romaria a Nossa Senhora das Candeias
"Bendita e louvada seja a luz que mais alumeia. Valei-me meu Padrinho Ciço e a Mãe de Deus das Candeias. [...] os romeiros vão chegando e é noite de lua cheia". (Trecho da canção "Bendita e Louvada Seja", Clemilda).
Estivemos em Juazeiro durante as festividades e a romaria de Nossa Senhora das Candeias (também conhecida como Nossa Senhora da Purificação).
Uma mulher coloca temporariamente seu chapéu na cabeça de uma estátua do Padre Cícero. A outra coloca flores na mão da estátua.
A tradição judaica ensina que o filho varão deveria ser levado ao templo quarenta dias após o seu nascimento. Já a mãe, por ser considerada impura após o parto, tinha de passar por uma cerimônia de purificação. Nas procissões católicas, o povo leva candeias ou luzeiros ou velas acesas para supostamente iluminar esse trajeto de Maria levando Jesus ao templo.
Na verdade, essa história de candeias acompanhando a procissão tem sua origem na mitologia romana, mas foi incorporada à celebração da Purificação de Maria pelo Papa Gelásio I (que foi papa de 492 a 496).
A mitologia romana relata que Proserpina, filha de Ceres, foi raptada por Plutão para ser sua companheira no império dos mortos (inferno). O povo romano da Antigüidade recordava essa cena levando luzeiros para supostamente acompanhar o sofrimento da Mãe Ceres até às portas do inferno.
O dia de Nossa Senhora das Candeias é apenas mais uma festividade pagã adotada pela Igreja Católica Romana. Outros chamados "dias santos" para os católicos também têm origens pagãs, a saber: "o dia de todos os santos" e o de "finados", entre outros. Mas isso é uma outra história. Voltemos ao Padre Cícero, do Juazeiro.
Em se tratando do Juazeiro do Norte, independente do santo ou da santa conduzidos no andor, o grande homenageado acaba sempre sendo o "Meu Padim Padre Ciço".
Aos Pés da Estátua no Alto do Horto
"Olha lá, no Alto do Horto! Ele está vivo, Padim não está morto! Olha lá, no Alto do Horto! Ele está vivo, Padim não está morto! Viva meu Padim, Viva meu Padim, Ciço Romão". (Trecho da canção "Viva Meu Padim", Luiz Gonzaga).
Enquanto nos aproximávamos do início da ladeira do Horto, notamos que no cume da montanha pequenos raios surgiam com certa freqüência próximos à estátua mais famosa do Padre Cícero (no Brasil, apenas a do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e a do Frei Damião, em Guarabira, Paraíba, são mais altas do que ela).
"Que coisa estranha! E nem está chovendo!", comentei com minha esposa.
O autor subindo a Serra do Horto. Ao fundo a maior estátua do Padre Cícero.
Ao chegarmos ao estacionamento do topo, fomos rapidamente cercados por vendedores de fogos. Observamos que o que pensávamos ser raios, eram na verdade fogos:
– "O senhor tem de soltar seis fogos antes de fazer seu pedido ao santo e mais seis quando estiver indo embora", falou-me um entusiasmado vendedor enquanto nos mostrava alguns rojões de fogos.
– "Não obrigado", disse rapidamente.
– "Se o senhor desejar ou se tiver medo, pode comprar e eu solto os fogos pelo senhor. No momento dos estouros dos fogos o senhor pensa nos seus pedidos", disse-me um outro solícito vendedor.
– "Não precisa. Não quero. Muito obrigado", repliquei enquanto subia a rampa de acesso à estátua.
Algumas pessoas trajavam batinas pretas semelhantes às do Padre Cícero. Perguntei a uma delas se fazia parte de algum movimento eclesiástico ou de alguma seita. Ela me olhou estranhamente e disse que estava apenas pagando promessa.
Muitas barracas vendendo vários suvenires estavam nos dois lados da rampa que ia lotando de romeiros à medida que progredíamos. Em muitas delas eram vendidos CDs e fitas cassetes piratas com músicas de romarias e benditos, além de blusas e artesanato. O som alto das músicas, os gritos dos vendedores, o cheiro forte de frituras e rapaduras permeavam a rampa e davam um toque bem regional.
Aos pés da estátua do Padre Cícero. Fiéis dando três voltinhas ao redor do cajado da estátua.
Subimos os degraus e nos posicionamos aos pés da estátua que estava lotada de romeiros. Pessoas demonstravam sua devoção: algumas senhoras se esfregavam com as costas na parte inferior da estátua pedindo que o Padim curasse suas dores lombares. Outras suspendiam seus bebês em direção à estátua e os forçavam para que a beijassem. Muitos escreviam seus nomes na estátua enquanto choravam. Alguns rezavam ou cantavam cânticos de louvores ao Padrinho. Entre o cajado e a batina do Padre há um espaço que dá para passar uma pessoa de cada vez. O romeiro emocionado dá três voltas em torno do cajado enquanto faz seu pedido (havia uma fila enorme esperando para realizar esse ritual).
Imaginei Moisés retornando do Monte Sinai com as tábuas dos Dez Mandamentos e vendo o povo adorando um bezerro de ouro. Aquela multidão em Juazeiro e aquele povo de Israel no deserto estavam tão próximos de Deus e simultaneamente tão longe dEle. Tinham a Luz ao seu alcance, mas optaram por rituais das trevas.
Ali, aos pés da estátua não me contive e chorei discretamente para que ninguém percebesse. Enquanto isso, alguns metros adiante, havia um palanque armado onde um sacerdote católico com chapéu de palha (para se identificar melhor com os romeiros) fazia algumas colocações absurdas comparando o Padre Ciço com Jesus Cristo.
Dei a volta por trás do palanque e adentrei o Museu Vivo onde existem algumas imagens do Padim em cera, em tamanho natural, retratando cenas do seu cotidiano.
Uma sala dentro do Museu Vivo me chamou mais a atenção. Lá havia aproximadamente oito filtros de barro, com alturas que variavam de um metro a um metro e meio, e várias canecas de alumínio penduradas em um fio no teto. Muitos romeiros acreditam que a água é milagrosa e, sem qualquer receio de contrair alguma doença, pegam as canecas, enchem-nas com água do filtro, bebem e se banham com roupa e tudo. Alguns, mais criteriosos passam água nas regiões do corpo que necessitam de cura. Ao meu lado, um senhor idoso e de aparência bem humilde derramou um pouco d’água dentro da calça enquanto murmurava baixinho: "É minha próstata, Padim! É minha próstata, Padim!" Falei para ele que quando retornasse para sua cidade deveria se consultar com um bom urologista. Ele apenas me olhou abusado.
Minha esposa estava ficando bastante enauseada com tudo que viu, ouviu e cheirou. Por isso, resolvemos descer o morro e retornamos à cidade.
O Padre Cícero e o Milagre do Juazeiro
"Meu Padim Cícero, do Juazeiro, tão milagreiro, sou romeiro do sertão. Meu Padim Cícero, do Juazeiro, tão milagreiro, a minha grande devoção". (Trecho da canção "Canção de Fé", José Idelfino).
Mas, qual foi o fato que transformou um simples pároco de um pequeno povoado do interior do Nordeste em uma celebridade internacional? O "milagre" que transformou esse padre, natural do Crato, em um dos brasileiros mais biografados e comentados, aconteceu quando o mesmo tinha 45 anos.
Havia uma beata juazeirense, analfabeta e costureira de profissão, chamada Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo,[3] mas conhecida como Maria de Araújo. "Foi acometida de meningite infantil (espasmo), sofria de ataques de epilepsia, e levava uma vida de jejum, oração e trabalho humilde. Havendo bem cedo perdido os pais, foi morar ainda menina, na casa do Padre Cícero".[4]
Em uma manhã de março de 1889, quando o Padre Cícero Romão Batista pôs a hóstia na sua boca, Maria de Araújo teve um transe tão intenso que sangrou a língua e a hóstia ficou avermelhada de sangue. Esse fato se repetiu outras vezes no período de dois anos e a população local começou a espalhar a notícia de que se tratava do "derramamento do sangue de Jesus", portanto, de um milagre.
O próprio Padre Cícero comentou acerca do que ocorreu naquele dia:
"Quando dei à beata Maria de Araújo a Sagrada Forma, logo que a depositei na boca, imediatamente transformou-se em porção de sangue, que uma parte engoliu, servindo-lhe de comunhão, e outra correu pela toalha, caindo algum no chão; eu não esperava e, vexado para continuar com as confissões interrompidas que eram muitas ainda, não prestei atenção e por isso não apreendi o fato na ocasião em que se deu; porém, depois que depositei a âmbula no sacrário e vou descendo, ela vem entender-se comigo, cheia de aflição e vexame de morte, trazendo a toalha dobrada, para que não vissem, e levantava a mão esquerda, onde nas costas havia caído um pouco e corria um fio pelo braço, e ela com temor de tocar com a outra mão naquele sangue, como certa de que era a mesma hóstia, conservava um certo equilíbrio para não gotejar sangue no chão".[5]
Dentro do Museu Vivo, as estátuas em cera do Padre Cícero e da beata Maria de Araújo.
Na verdade, a beata pode ter mordido consciente ou inconscientemente a língua ou a mucosa oral e provocado o sangramento. Ou, quem sabe, ter tido uma crise convulsiva (bem provável, uma vez que tinha epilepsia) e mordido a língua? Ou uma discreta hemorragia digestiva?
É prudente deixar registrado que em outras cidades nordestinas, envolvendo personagens diferentes dos do Juazeiro, aconteceram fatos semelhantes onde a hóstia se transformou em sangue.[6] Graças a Deus, esses outros padres não tornaram-se também milagreiros e nem objetos de adoração.
Fico meditando... todo o Novo Testamento insiste em afirmar que Jesus Cristo ofereceu o Seu corpo como sacrifício e derramou o Seu sangue remissor apenas uma vez e para sempre (veja Hebreus, capítulos 9 e 10). Essa história de "vários derramamentos do sangue de Jesus Cristo" através da beata Maria de Araújo está diametralmente oposta às Escrituras Sagradas. Ou os devotos do Padre Cícero estão enganados, ou a Bíblia está errada.
Bem, o fato é que o reboliço foi tanto que o pequeno povoado transformou-se em lugar de romaria.
O bispo cearense Dom Joaquim José Vieira e até o Papa Leão XIII, em Roma, tiveram de investigar o fenômeno do Juazeiro. O Padrinho chegou a ser recebido pelo papa no Vaticano. Outros padres foram enviados ao Juazeiro e entregaram a hóstia a Maria de Araújo e nada de anormal ocorreu. O bispo cearense e o papa não reconheceram o milagre e o Padre Cícero Romão foi punido com uma suspensão.
Assim, o Padim Ciço tornou-se um santo milagreiro. Apesar de proibido de celebrar missas, sua residência passou a ser freqüentada por romeiros e por várias autoridades.
Aproveitando-se do seu prestígio, aliou-se aos grandes fazendeiros cearenses e, apoiado por eles, tornou-se prefeito do Juazeiro em 1911 e, posteriormente, vice-presidente do Ceará.
As Atuações Ambíguas do Padre Cícero Romão
"Foi a ele que muitas vezes, Lampião se ajoelhou, aos seus pés contou histórias, pediu perdão e chorou. Bendito seja o romeiro que na fé e na oração, exalta o santo padroeiro no samba, no coco, no xote e no baião". (Trecho da canção "Deus Menino", Chico Silva).
a) Amizade Com o Coronelismo
O Padim Ciço realizou boas ações para a população menos favorecida. Organizou mutirões e conseguiu construir pequenos postos de saúde, escolas e orfanatos, além de reformar e construir algumas igrejas católicas.
Por outro lado, ele era amigo do peito de vários latifundiários da região, conhecidos como "os coronéis". Esses senhores ilustres eram opressores dos pobres, marginalizavam os sertanejos, excluindo-os do direito à saúde, aos alimentos e até à vida. Pasme, o Padim Ciço pertencia a essa espécie de liga de coronéis do Ceará e a defendia . O Padim chegou a estimular seus devotos a serem mão-de-obra barata na construção de açudes e na colheita de algodão nas terras da família Acioly, a mais poderosa do Ceará.[7]
O "coronelismo" era a política exercida pelos latifundiários com prestígio político local, que tinham notável poder, mandavam na região e nos seus eleitores, que eram tratados como gado. Suas zonas eleitorais eram conhecidas como "currais eleitorais" e ai do eleitor que ousasse votar contra o candidato do "coronel".
Quando Hermes da Fonseca, então presidente da República, enviou interventores ao Ceará e depôs as oligarquias repressoras lideradas por esses coronéis, o Padre Cícero ficou irado.
Rapidamente o clero católico promoveu e assinou o chamado "pacto dos coronéis" com dezessete dos principais chefes políticos da região do Cariri, objetivando assegurar a permanência da família Acioly no governo cearense. E mais: esses fazendeiros armaram centenas de sertanejos e os enviaram à capital, porém foram detidos pelas forças federais. Esse episódio ficou conhecido na história como a "Revolta do Juazeiro".
O Padim Ciço só aquietou-se quando a velha oligarquia da família Acioly foi restabelecida ao poder. O Padre Cícero Romão foi, sem dúvida, um exemplo de fidelidade às oligarquias poderosas do Ceará.
b) Negociata com Lampião
Enquanto o Padim Ciço destacava-se no Ceará com sua influência político-religiosa, o cangaceiro Lampião e seu bando amedrontavam os poderosos dos sertões nordestinos.
O sertanejo pernambucano Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), vulgo Lampião, era também um personagem controvertido. Para muitos, era visto como um bandido que incendiava vilarejos, torturava, estuprava e matava pessoas. Para outros, era um justiceiro que tirava dos ricos para doar aos flagelados da seca. Em 1931, o jornal The New York Times chegou a chamá-lo de Robin Hood do sertão.
O "Rei do Cangaço" era devoto do Padre Cícero, do Juazeiro, e às vezes usava uma foto desse sacerdote no seu peito. A religiosidade de Lampião era alicerçada nas orações de corpo-fechado, nos santos da Igreja Católica e no Padre Cícero. No livro, Lampião, o Rei dos Cangaceiros, Chandler relata "que a vida da mulher de um policial de Jatobá, em Pernambuco, foi salva quando um velho pegou um retrato do padre do Juazeiro e o colocou entre a faca soerguida de Lampião e o seio da mulher. Lampião levava sempre consigo seus livrinhos de orações, guardava santinhos em sua carteira de dinheiro, e pregava retratos do Padre Cícero em sua roupa".[8] Isso mostra o respeito e a devoção que Lampião nutria por esse padre.
Em companhia do seu bando, Lampião costumava recitar algumas orações para, supostamente, fechar o corpo. O escritor Piragibe de Lucena, no seu livro Lampião, Lendas e Fatos, descreve algumas dessas orações. Leia um pequeno trecho de uma delas e analise a importância do Padre Cícero na vida desse cangaceiro:
"Justo juiz de Nazaré, filho da Virgem Maria, que em Belém fostes nascido entre as idolatrias. Eu vos peço senhor, pelo vosso sexto dia, e pelo amor do meu padrinho Pe. Cícero que meu corpo não seja preso, nem ferido, nem morto, nem nas mãos da justiça em volta.
Pax tecum, pax tecum, pax tecum. Cristo assim disse: aos seus inimigos, se vierem para prender-me terão olhos, não me verão, terão ouvidos, não me ouvirão. Com as armas de São Jorge, serei armado. Com a espada de Abraão, serei coberto. Com o leite da Virgem Maria, serei borrifado.
Na arca de Noé, serei arrecadado. Com a chave de São Pedro serei fechado, onde não me possam vê, nem ferir, nem matar, nem sangue do meu corpo tirar. [...]"[9]
O Padre Cícero articulou para que o cangaceiro Lampião recebesse a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos.
Por volta de 1926, Padre Ciço já era mais político do que religioso, sendo anti-comunista de carteirinha. Aproveitando a fidelidade do bandoleiro à sua pessoa, o pároco juntou-se com seus amigos fazendeiros e doaram armas e munição para o cangaceiro e seu bando atacarem "o revoltoso" Luiz Carlos Prestes e sua famosa "Coluna". Padim Ciço também articulou para que o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchôa, que era inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, entregasse a Lampião a patente de Capitão das Forças Patrióticas.[10],[11] Lampião não atacou a "Coluna Prestes", preferiu manter suas erranças pela caatinga. Dizem que essa foi a única vez que Lampião desobedeceu ao "santo" Padre do Juazeiro. Uma coisa é certa: Lampião ostentou com muito orgulho o título de Capitão enquanto viveu.
O curioso é que (dizem que a pedido do próprio Padim Ciço) Lampião nunca atacou os coiteiros ricos, os fazendeiros safados e os políticos corruptos do Ceará. Isso é que é amizade fiel!
Apesar da amizade do Padim Ciço com o coronelismo cearense e suas negociatas com Lampião estarem registradas em vários livros, biografias, documentários, teses e filmes, existem alguns devotos do Padrinho que negam que isso tenha acontecido. Movidos mais pela emoção do que pela razão, declaram que essas atuações ambíguas do Padre Cícero não passam de calúnias.
Convenhamos: sob o ponto de vista mundano, isso é que é saber viver! O Padim Ciço vivia de mãos dadas com Satanás e pretendia morrer nos braços de Jesus! Como se diz por estas bandas sertanejas: Eita Cabra esperto!
Padim Padre Ciço: Um Ídolo do Lar
"[...] não vos desvieis de seguir o Senhor, mas servi ao Senhor de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são" (1 Samuel 12.20-21).
Ser contra a idolatria é uma unanimidade não apenas entre as igrejas cristãs genuínas, mas também ao longo de toda a Bíblia Sagrada. Todas as denominações tradicionalmente evangélicas são contra a idolatria. O judaísmo também não suporta a idolatria. Já o catolicismo prega a não-adoração a ídolos e imagens, mas na prática o que se vê é um descompasso entre o que se faz e o que se fala. Infelizmente, não é preciso ir ao Juazeiro do Norte para se constatar que a igreja do papado é verdadeiramente idólatra.
Fiéis cantam e choram ao redor de uma das camas usadas pelo Padim Ciço.
O Padim Ciço, do Juazeiro do Norte, é um ídolo nos lares de milhões de católicos. Em algumas casas, ele está presente no móvel da sala-de-estar, na penteadeira do quarto, na parede do corredor e em cima do refrigerador da cozinha. Para sermos mais honestos, o Padim Ciço, o "Santo Antônio", o "São Jorge", a "Ave Maria" e o Frei Damião (veja o artigo Misericórdia! Querem Canonizar o Frei Damião) são parte do imenso esquadrão de supostas divindades católicas presentes em milhões de residências brasileiras.
"Ídolos do lar" são coisas antigas e são mencionados logo no primeiro livro da Bíblia (Gênesis 31.19 e 30). Eles eram de vários tamanhos e alguns deles, quando colocados deitados na cama e cobertos por um manto, passavam por uma pessoa dormindo (1 Samuel 19.13). A esses ídolos, chamados em hebraico de terafins, confiava-se a guarda das casas e dos bens.
Acreditar que um "ídolo do lar" possa proteger sua família é muita presunção. Veja a história do rei Saul:
Feitiçaria e idolatria foram as gotas d’água para que Deus rejeitasse o rei Saul. O profeta Samuel sentenciou ao monarca: "Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei" (1 Samuel 15.23). Na Edição Revista e Corrigida, lê-se o nome "porfia", no lugar de "obstinação". Na Bíblia de Jerusalém (católica), "presunção" substitui "obstinação". Parafraseando esse texto, diria: a obstinação, a porfia, o orgulho, a presunção, a teima, a cabeça-dura é como a idolatria e o culto a ídolos do lar. A idolatria está incluída entre as obras da carne e não no fruto do Espírito (Gálatas 5.20).
No Velho Testamento, o primeiro e o segundo mandamentos são um "não" à idolatria (Êxodo 20.3-6). E mais: o idólatra deveria ser morto (Deuteronômio 17.1-7). Já no Novo Testamento, a punição é a morte eterna: "Quanto, porém, [...] aos idólatras [...] a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte" (Apocalipse 21.8). Entre aqueles que ficarão fora da Cidade Celestial estão os idólatras (Apocalipse 22.15).
Sem dúvida, ao nos despedirmos do Juazeiro do Norte, vendo a cidade se distanciando pelo retrovisor, pudemos entender que a idolatria é uma cegueira espiritual, mas sobretudo uma tentação bastante sedutora. A Bíblia nos alerta a resistir ao Diabo, mas também a fugir dessa tentação: "Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Coríntios 10.14).
Padre Cícero Romão Batista (1844-1934). Um dos ídolos dos lares católicos nordestinos.
Concluímos nossa visita ao Cariri cearense com os olhos marejados e uma mistura de sentimentos paradoxais: tristeza e alegria. A insatisfação é a imagem dos milhões de católicos que ainda precisam ser alcançados pela única Verdade, Jesus Cristo. A satisfação é que vimos templos de algumas denominações evangélicas nessa cidade. Esses irmãos em Cristo são como sal em uma terra espiritualmente insossa: levam a única Luz do mundo a um povo submerso nas trevas espirituais.
Irmãos, assimilemos o mesmo consolo e a mesma recomendação contida no final da Primeira Epístola de João: "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1 João 5.20-21).