quarta-feira, 15 de abril de 2009

A FORTALEZA DA BELLE ÉPOQUE


Na segunda metade do século XIX, Fortaleza foi palco de efervescentes movimentos sociais e culturais como a campanha abolicionista, o movimento republicano e a agremiação literária Padaria Espiritual. A cidade se modernizava rapidamente. Idéias de civilização, progresso e europeização inspiravam a elite fortalezense.Nesse período, o intendente (prefeito) Antonio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira) encomendou ao engenheiro Adolfo Herbster a elaboração da "Planta Topográfica de Fortaleza e Subúrbios" para atualizar o traçado urbano na forma de xadrez esboçado, em 1918, por Silva Paulet.A cidade se aformoseava. Junto com a planta, vieram bondes de tração animal, iluminação a gás carbono, linhas de navios da Europa e do Rio de janeiro, biblioteca, jornais, clubes para lazer, fábricas de tecidos, a Santa Casa de Misericórdia, mercado público, caixas postais, estradas de ferro, telégrafo, telefone, entidades intelectuais e cemitérios.Enfim, o sopro da modernidade mudava a face da antiga cidade peovincial. Fortaleza evoluiu de uma acanhada capital, para o verdadeiro centro político, econômico e social de todo o Ceará.A elite fortalezense, constituída por comerciantes, bacharéis e profissionais liberáis, tinha notória influência do exterior, em especial da França. O "chic" era usar palavreado francês e saber a última moda parisiense. Esse período ficou conhecido como "Fortaleza Belle Époque".A nossa cidade respirava ares cosmopolitas, mas a influência francesa era predominante. Enquanto boa parte da população falava "oxente", "arre égua", "rebolar no mato" ou "apertar o biloto", a elite enfeitava o seu vernáculo com expressões gaulesas como "bonjour" ou "au revoir". A elegância exigia ternos e vestidos longos mesmo com tórrido calor; lojas ganhavam nomes estrangeiros e os mais abastados viajavam para a Europa.Entre os pontos de destaque desses tempos, pode-se citar a Praça do Ferreira. Sua importância cresceu, em grande parte, pela ação do Boticário Ferreira, que promovia entrudos e arrumava mil e um pretextos para que pessoas viessem à praça onde se localizava a sua farmácia.Com o tempo, a burguesia começou a desejar entidades de lazer exclusivas para ela. Então, no ano de 1867, foi fundado o Clube Cearense, frequentado apenas pela elite fortalezense e onde havia festas suntuosas, jogos de recreação, novas danças e atividades culturais para o seleto grupo de associados, composto pelos mais notáveis homens de negócios locais e estrangeiros.A atitude seletiva do Clube fez com que um grupo de burgueses emergentes, irritados por não poderem participar dele, criasse outra sociedade, o Clube Iracema. A partir daí os dois clubes começaram a disputar para ver qual organizava os maiores eventos.Provavelmente, o mais notável ponto de encontros, contatos e namoros desses grupos era o Passeio Público, inaugurado em 1880 (em frente à sede do Clube Cearense), onde se localizava a antiga Praça dos Mártires, que foi remodelada com bancos, canteiros, jardins, réplicas de esculturas clássicas e três avenidas onde se dividiam os grupos sociais.Na primeira, a formosa Avenida Caio Prado, onde, com o contraste da bela vista ao mar, desfilavam os homens e mulheres da elite, com seus ternos bem cuidados e seus grandes vestidos; já a segunda e terceira avenidas, Carapinima e Mororó, eram por onde pesseavam as pessoas da classe média e baixa da cidade.Parece que essa divisão era "espontânea", pois não havia regulamentação oficial nesse sentido. No entanto, é preciso considerar que tal separação ocorreu por conta de uma espécie de segregacionismo social. Em outras palavras, o Passeio Público "era um local para todos... mas separadamente" (PONTE, 2004, p.170).A Praça do Passeio Público, com suas árvores centenárias, sua vista magnífica e estrutura imponente, atraía cada vez mais visitantes para suas belas avenidas, tornando-se um verdadeiro cartão de visitas de Fortaleza. Assim, parece-me que o Passeio Público constitui um importante patrimônio histórico e pode ser novamente a maior Praça de Fortaleza, local de encontro, de trocas sociais, de redescoberta do centro da cidade e de suas tantas histórias...

Lucas Aquino Ferreira / Foto: Don Raffaè Pajata