segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Queda de Wosley


Essa é uma história da corte de Henrique VIII, narrada por Shakespeare, semelhante a uma história que está ocorrendo no Brasil no presente momento. É a história da queda do cardeal Wolsey, prestigiadíssimo primeiro-ministro de Henrique VIII e seu dileto amigo.
Wolsey montou uma estrutura de poder gigantesca que escapa ao controle do rei e dos outros ministros. O longo período de exercício do cargo o tornou uma pessoa que misturou os seus negócios com os do próprio Estado, chegando mesmo a cunhar moedas com sua própria efígie.
Wolsey está roubando o erário inglês, e muito. Fato que é do conhecimento do duque de Norfolk, um de seus adversários, que trabalha para levar esses crimes ao conhecimento do Rei. Para ele: “ Wolsey está atolado na desgraça e não pode mais levantar-se”.
E as conversas eivadas de verdade chegam aos ouvidos de Henrique VIII, o homem das seis esposas, o mesmo que mandou matar Thomas More, seu ex-primeiro-ministro, por motivos bem menores que esses. E assim se pronuncia Henrique VIII: “Que montes de riquezas acumulou em proveito próprio e que gastos parecem correr através de suas mãos a qualquer hora! Em nome de que lucro pode ele acumular tudo isto?... Será meus lordes que vistes o cardeal”?
Norfolk responde ao rei, fazendo um brilhante relato: “Meu Senhor, estávamos aqui a observá-lo. Uma estranha comoção parece existir em seu cérebro. Morde os lábios e estremece: pára, de repente, fixa os olhos no chão, depois coloca o dedo na testa: de repente passa a andar com passos largos, depois, pára, novamente, bate violentamente no peito e, daí a pouco, levanta os olhos para a lua. Nós o vimos colocar-se nas mais estranhas posturas.” Shakespeare nos presenteia aqui com o comportamento de um homem muito apreensivo, de um corrupto pego em pleno vôo. E é o próprio rei que nos informa dos crimes de Wolsey: “Não é de surpreender: um motim existe em seu espírito. Hoje de manhã enviou-nos alguns papéis de Estado que eu lhe havia pedido. Por minha fé, encontrei inadvertidamente um inventário contendo as diversas baixelas de prata, seu tesouro, tapetes e móveis de sua casa, o qual ascende, segundo meus cálculos, a uma cifra tão alta que vai muito além das posses de um súdito”. Pronto, os abusos de Wolsey foram descobertos!
A cova está cavada, ciente de seus crimes só resta a Wolsey se despedir do poder: “Adeus! Um longo adeus a toda minha grandeza!... quando acha que atingiu a plena maturidade de sua grandeza, a geada queima a sua raiz e então ele cai, como eu. Eu me aventurei por um mar de glória a uma distância em que perdi o pé; meu orgulho, cheio de vento, acabou arrebentando debaixo de mim e agora ele me abandona, esgotado e envelhecido pelo trabalho, a mercê de uma torrente impetuosa que vai devorar-me para sempre. E quando cai, cai como Lúcifer, desesperado e para sempre.” Devemos acrescentar: e que vá para o inferno!
Situações iguais a esta de Wolsey que ocorreram na Inglaterra do século XVI, estão se repetindo no Brasil nesse momento.Wolsey nós sabemos quem é, falta achar o intérprete de Henrique VIII! Que, aliás, o Brasil todo sabe quem é!

Theófilo Silva é Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno