quarta-feira, 31 de março de 2010

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: DOMINGOS OLÍMPIO

Nasceu em 18 de setembro de 1850 em Sobral e faleceu em 6 e outubro de 1906, no Rio de Janeiro. Advogado e jornalista.

Por sua composição "Luzia-Homem", publicada em 1903, é considerado um clássico, enquadrando-se no gênero "Ciclo das Secas", da Literatura Nordestina. Compôs várias peças teatrais, tendo se realçado também na carreira jornalística. Fundou e dirigiu a revista "Os Anais", onde publicou o romance "0 Almirante", deixando incompleto "Urapuru", também romance.

Alguns de seus romances são realistas, de cunho regionalista como se observa nos tipos e cenas que descreve. Sua prosa é exuberante, dúctil e pitoresca. É considerado o precursor do moderno romance brasileiro.


LUZIA-HOMEM

A ação de Luzia-Homem transcorre no Ceará, em 1878. A protagonista que confere título à obra, reúne qualidades físicas de homem e a beleza plástica de mulher. Integrada num grupo de retirante, logo sua figura soberba chama a atenção de homens diametralmente opostos: Crapiúna, soldado de maus bofes, e Alexandre, honesto e trabalhador.

Crapiúna, a fim de conseguir as boas graças de Luzia, arma uma calúnia contra Alexandre, e este é preso sob acusação de roubo. Graças à interferência de Teresinha, pobre desgraçada mas ainda animada por uns restos de virtude, tudo se esclarece e Crapiúna acaba sendo levado para a cadeia em lugar de outro.

Assim, Luzia e Alexandre podiam realizar seu sonho: ir para a praia com a mãe dela, velha entrevada, casar-se. Em caminho, Luzia, enveredando por um atalho, topa com Crapiúna, que fugira da prisão para vingar-se de Teresinha. Lutam, e o soldado apunhala a moça, em seguida despenca no precipício.

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: ADOLFO CAMINHA - 29/5/1867-1º/1/1897

Um dos principais representantes do naturalismo no Brasil, sua obra, densa, trágica e pouco apreciada na época, é repleta de descrições de perversões e crimes.
Adolfo Ferreira Caminha nasce na cidade de Aracati. Ainda na infância se muda com a família para o Rio de Janeiro. Em 1883 ingressa na Marinha de Guerra, chegando ao posto de segundo-tenente. Cinco anos mais tarde se transfere para Fortaleza, onde é obrigado a dar baixa, depois de seqüestrar a esposa de um alferes, com a qual passa a viver. Trabalha como guarda-marinha e começa a escrever.

Em 1893 publica A Normalista, romance em que traça um quadro pessimista da vida urbana, "esse acervo de mentiras galantes e torpezas dissimuladas". Vai para os Estados Unidos e, das observações da viagem, resulta No País dos Ianques (1894).

No ano seguinte provoca escândalo, mas firma sua reputação literária ao escrever Bom Crioulo , obra na qual aborda a questão do homossexualismo. Colabora também com a imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Já tuberculoso, lança o último romance, Tentação, em 1896. Morre no Rio de Janeiro.

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: MANUEL DE OLIVEIRA PAIVA (l861-l892).

Escritor cearense, Manuel de Oliveira Paiva morreu muito jovem, sem ter publicado qualquer obra. Apenas sessenta anos depois, graças à crítica Lúcia Miguel-Pereira, é que veio à luz o seu interessantíssimo romance, Dona Guidinha do Poço (1952). O relato antecipa os grandes textos sobre o mundo rural produzidos pelos romancistas de 1930. Com vigoroso realismo, o autor registra a vida no sertão do Ceará, inclusive fixando uma situação de seca. Não se detém, contudo, na paisagem física, preferindo examinar a psicologia dos personagens em função do meio. Desta forma, em sua ficção, ambiente e análise psicológica sintetizam-se esplendidamente.

O assunto da narrativa é um drama passional: Dona Guidinha do Poço, uma fazendeira poderosa, senhora do Poço da Moita, legítima matriarca em sua região, temida inclusive pelo marido, o major Quim, apaixona-se por um sobrinho do esposo (Secundino) e comete adultério. O major descobre a traição e tenta obter o divórcio, mas Dona Guidinha contrata um assassino para liquidá-lo na cidade, em plena luz do dia. O criminoso realiza sua ação, porém é preso e confessa quem era a mandatária do assassinato. Dona Guidinha então é detida. Ninguém fica abertamente a seu lado, até porque o partido Liberal, que ela apoiava, estava fora do poder. E a mesma população que a venerava, como se ela fosse uma senhora feudal, agora a despreza e a vaia, enquanto conduzem-na para a prisão.

Margarida, a Guidinha, foco central do relato, surge na aridez do sertão com uma sutileza psicológica, uma vontade de dominação, uma capacidade para o amor e o ódio que a transformam numa das maiores personagens femininas da ficção brasileira do século XIX. Flávio Loureiro Chaves anota as contradições(extremamente verossímeis) dessa mulher: “Ela é ao mesmo tempo boa e má, forte mas duvida de si mesma, é feminina em seu amor e terrível em seu componente de sertaneja barbarizada.” Expressiva também é a utilização que Manuel de Oliveira Paiva faz do linguajar sertanejo cearense, apresentando-o detalhadamente através da fala dos personagens populares: vaqueiros, agregados e demais trabalhadores rurais. Um longo glossário acompanha as edições da obra para auxiliar o leitor urbano na decifração desta história de paixão e violência.

Vamos enterrar o rock

Afinal, o gênero é a sombra de um passado que teve Jimi Hendrix como herói da guitarra

Na cultura pop, mais vale um cadáver jovem que um velho vivo. Sobretudo se o jovem deixou um legado brilhante no auge da fama. O ancião que remoi o próprio passado é um ser desprezível que espera a morte. Aplicar tal axioma ao rock é um exercício tentador. Basta soltar o demônio da analogia e relacionar mortos e vivos célebres do gênero. Por exemplo, John Lennon e Paul McCartney. John foi morto aos 40 anos e o temos como gênio, ao passo que Paul vai completar em breve 68 anos e nos cansamos dele, tanto tempo está conosco, exigindo atenção. No Brasil, quem quer ainda ouvir Roberto Frejat? Apesar de seus esforços, ele passou à história como o parceiro de Cazuza, que morreu em 1990 aos 32 anos, no ápice da rebeldia. Cazuza é o gênio. O cinqüentão Frejat, o sobrevivente chato.

O mesmo processo de santificação dos jovens e satanização dos velhos se dá quando pensamos nos guitarristas. Jimi Hendrix morreu com 27 anos, enquanto Pete Towshend continuou a viver – e a encher nossas paciências. A tendência é considerar Hendrix uma fera indomável, e ouvir Townshend como um ancião hoje domesticado. E não adianta observar que Townshend inaugurou a quebradeira de guitarra à frente da banda The Who, e que Hendrix o imitou nisso e em muitas outras coisas. Um é genial, outro, banal, porque vai gerar um cadáver célebre, porém decadente. Por este raciocínio, vamos chegar a uma constatação que soa óbvia, mas talvez seja questionável: o rock morreu e o que se vê hoje são os tiranossauros do gênero, repetindo as fórmulas ad nauseam. Quando assisto a um show dos Rolling Stones, Iggy Pop e Aerosmith, consigo até me sentir mais jovem que o cadáver de Jim Morrison, o vocalista e compositor da banda The Doors, o último mártir das drogas da geração de Jimi Hendrix. Dela fazem parte outros mortos ilustres, como Janis Joplin e Brian Jones.




GENIAL
Jimi Hendrix se apresenta em programa da TV alemã, em 1967Jimi Hendrix morreu em 18 de setembro de 1970 asfixiado com o próprio vômito de vinho no quarto de porão de um daqueles hotéis vitorianos caiados de Notting Hill em Londres. Foi uma morte acidental, e certamente devido a uma overdose de LSD ou de heroína, drogas que o músico consumia abertamente. A música que produzia era dependente da droga que consumia. Com ou sem droga, trata-se de música de primeira ordem. Mesmo o material que refugou e se manteve inédito até agora soa melhor que quase tudo o que se produz no rock atual.

Por isso, o álbum Valleys of Neptune (Sony Music), de Hendrix, pode ser considerado um dos grandes lançamentos do ano. O que não deixa de soar irônico, pois compreende um material antigo, feito 41 anos atrás. São 12 faixas inéditas do guitarista e seu trio, o Jimi Hendrix Experience. Desde a parimeira faixa, você ouve a turbulência armada pela guitarra virtuosística, a bateria elástica, o baixo disciplinada e a voz anárquica do vocalista. O álbum é impressionante. O disco foi gravado em vários estúdios de Londres e Nova York nos primeiros quatro meses de 1969. Hendrix vivia um período de desavenças dentro da banda. Apesar de se dar bem com o baterista Mitch Mitchell, ele discutia com o baixista Noel Redding, que não gostava de repetir os takes até uma suposta perfeição, exigência de Hendrix que lhe parecia absurda. No meio das gravações, Hendrix substituiu Redding por Billy Cox, um baterista acostumado com a cena country de Nashville. Mas o ouvinte não nota a diferença. Faixas soladas e cantadas por Hendrix como “Stone free” e “Lullabay for the summer”, a canção-título tema “Valleys of Neptune” e canção “Lover man” soam hoje como obras-primas. Hendrix não quis lançar as gravações, até porque em seguida ele fundaria novos grupos. Em agosto daquele ano, ele fundou a banda Gypsy Suns and Rainbows, para fazer sua célebre queima de guitarra durante o festival de Woodstock. Em 1970, criou o Band of Gypsies pensando em revolucionar novamente a música para guitarra elétrica. As sessões agora lançadas foram refugadas, e permaneceram 40 anos escondidas no espólio do músico. Graças ao produtor e biógrafo de Hendrix, John McDermott, dezendas de gravações jamais lançadas começam a vir à tona. Valleys of Neptune é apenas um entre os vários projetos. Hendrix talvez achasse que não passavam de fragmentos malfeitos. Mas, para os padrões de hoje, os registros são jóias. Esses restos de Jimi Hendrix são melhores que qualquer coisa feita hoje. Até porque os padrões de produto eram bem mais elevados nos anos 60. Era preciso chegar a uma excelência musical para vender um disco de vinil, produto caro. Em agosto de 1970, semanas antes de morrer, Hendrix foi pioneiro em fundar um estúdio seu, o Electric Lady, na rua 8 no Village em Nova York. Foi um acontecimento porque o estúdio era superequipado e dotado de decoração psicodélica (até hoje está lá, para quem quiser visitar).

Hoje qualquer cabeça de bagre possui um estúdio em casa, e pode gravar o que quiser. Talvez aí resida a mediocridade reinante. Ninguém mais se importa com elaboração nem respeita estúdios. Shows e discos de rock geram hoje desempenhos estereotipados e em geral de baixa qualidade musical. O que há de aproveitável no rock de hoje? Só os velhinhos (além dos já citados não nos esqueçamos de Jimmy Page, Robert Plant, AC/DC e Lou Reed) e meia dúzia de esforçados epígonos, desprovidos de real talento para a música. E o resto é bobagem.

Daí a pensar que o rock morreu é um pequeno salto para o fã. Basta lembrar de Hendrix. Ele morreu aos 27 anos, quando se preparava para mais uma aventura que o levaria, talvez, a universos sonoros jamais alcançados, como dono de um estúdio. Se ele virou um cadáver jovem e com isso garantiu a posteridade, a tragédia também leva a outra constatação, que hoje é mais clara do que nunca: a mortes de Hendrix e outros músicos brilhantes de sua geração – de Jim Morrison, Brian Jones e Janis Joplin – obstruiu a via mais experimental do rock, que conduziria o gênero para campos inimagináveis. Outros músicos igualmente talentosos daquela geração continuaram. Mas algo se rompeu então. Os mais exagerados, os mais criativos e viscerais se ofereceram ao sacrifício da História.

Assim, penso que os vultos jovens do rock ajudaram menos a manter a mitologia pop que enterrar a boa música. Artistas como Hendrix são mitos paralisantes, e não exemplo. De tão geniais, eles estancaram o futuro. Neste mundo pop/rock de medíocres à sombras dos gênios do passado, convido os leitores para seguirmos o carro mortuário, até baixar o rock à sepultura, ao som de “Valleys of Neptune”. Há 40 anos, convivemos com um cadáver, querendo acreditar que ele ainda respira e faz música.

Luís Antônio Giron
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV