segunda-feira, 13 de outubro de 2008

CENTENÁRIO DE CARTOLA


Angenor de Oliveira, assim com "n" mesmo, nasceu no bairro do Catete, no Rio, fruto de uma família de classe média baixa. Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira tinham sete filhos para sustentar, e Angenor era o quarto deles. Aos 11 anos teve seu primeiro contato com o morro - por problemas financeiros a família se mudou para a favela da Mangueira. Angenor adorava carnaval e futebol - torcia fervorosamente pelo Fluminense. Essa poderia ser a vida de qualquer cidadão comum, mas, nesse caso, é a história de Cartola, o primeiro grande compositor de samba carioca, que completaria 100 anos neste sábado (11).
Ao contrário do que muitos pensam, o samba de Cartola nasceu no asfalto. Desde criança já escrevia poesias, mesmo tendo estudado apenas até o primário. Cartola jamais conseguiu se integrar ao mercado de trabalho, e passou sua vida trabalhando em bicos, como pintor de paredes, lavador de carros e vigia de prédio.
A imagem do sambista malandro tem origem curiosa: o chapéu não foi incorporado à imagem de Cartola somente por charme. Quando o artista, que sempre foi muito vaidoso, ainda era desconhecido, trabalhava como pedreiro e se irritava com a presença do cimento em seus cabelos. Por isso passou a usar sempre o adereço e ganhou o apelido famoso de seus amigos.
No início da carreira, Cartola vendia sambas, muitos em parceria com o até então também desconhecido, Noel Rosa. O primeiro samba da parceria, "Que infeliz sorte" (1927), arrematou trezentos contos de réis e foi gravado pelo cantor de sucesso da época, Francisco Alves.
Uma carreira de altos e baixos
A trajetória artística de Cartola foi marcada por épocas de glória e ostracismo. Ao mesmo tempo em que o sambista lançou seu disco "Cartola", em 1974, e sua fama atingiu o auge, também terminou seus dias pobre, morando em uma casa doada pela prefeitura. Os altos e baixos foram normalmente determinados por fatores pessoais, como desilusões amorosas ou brigas com a escola de samba que ele ajudou a fundar em 1928: A Estação Primeira de Mangueira.
A escola foi criada em uma reunião de amigos. Além de Cartola, estavam também figuras que se tornariam lendárias no samba, como Heitor dos Prazeres, o mano Heitor; Pedro Caim, o Pedro Paquetá; e Marcelino José Claudino, o Massu. Cartola era diretor de harmonia e um dos compositores dos sambas escola.
O amor, uma inspiração
Como é possível perceber nas letras de Cartola, o sambista era romântico. O grande amor de sua vida foi Dona Zica, posteriormente mais conhecida como Dona Zica da Mangueira, figura ilustre na escola de samba. Foi ao lado dela que Cartola compôs alguns de seus sambas mais conhecidos, como o homônimo "As Rosas Não Falam", e "Nós Dois", que conta a trajetória dos dois ao altar: "Nada mais nos interessa/ Sejamos indiferentes/ Só nós dois, apenas dois/ Eternamente", escreveu o sambista.
Cartola morreu aos 72 anos, em 30 de outubro de 1980, por culpa de um câncer. Nas palavras do também sambista da Mangueira, Nelson Sargento, "Cartola não morreu, foi um sonho que a gente teve".