terça-feira, 23 de setembro de 2008


ANO: 1979PAÍS: EUA
DURAÇÃO: 116 minutos
DISTRIBUIDORA: Fox Vídeo DIREÇÃO: Ridley Scott
ELENCO: Tom Skerritt; Sigourney Weaver; Veronica Cartwright; Harry Dean Stanton; John Hurt; Ian Holm; Yaphet Kotto; Bolaji Badejo
CARACTERÍSTICAS: Colorido; Legendado - Terror/Ficção


"Nada acaba, nunca!" - Alan Moore


Há 25 anos chegava às telas um dos grandes sucessos da história do cinema moderno, o filme "Alien", protagonizado pela atriz Sigourney Weaver. Esse filme praticamente redefiniu um gênero (ou sub-gênero, segundo alguns críticos de nariz torcido), criando toda uma nova cultura do gênero terror.Mas trata-se de que tipo de filme? Um filme de FC? Certamente, pois envolve elementos comuns a esse gênero, como as viagens interplanetárias, vida extraterrestre, etc. Mas é bem mais do que isso. É um filme de terror, obviamente, pelo crescente horror a que o espectador é submetido. Convenhamos: não se fazem mais filmes assim tão apavorantes. Mas ele retrata também alguns aspectos bem interessantes através de seus personagens: o medo do desconhecido, o casulo protetor da mãe, a maturidade e o crescimento. Na história temos, em um futuro não especificado, uma gigantesca nave de transporte de cargas chamada Nostromo, pilotada por 7 tripulantes humanos, homens e mulheres, que viajam em hibernação induzida em casulos, durante a maior parte do tempo da viagem. Durante esse período, os mesmos ficam aos cuidados de um computador chamado carinhosamente pelos tripulantes de "mãe". É essa "mãe" que os protege e alimenta, e em suma é responsável pela vida deles. Mas algo acontece para interromper toda essa calma. Em certo ponto antes do regresso à Terra, a tripulação é despertada pela "mãe", para atender um sinal de emergência em um planeta próximo a sua rota. Efetuado o pouso, a tripulação de "recém-nascidos" encontra uma nave alienígena no planeta. A nave em questão é realmente alienígena, e tem essa aparência, graças ao seu visual "orgânico" baseado em esboços de HQ's francesas do artista Jean Giraud "Moebius", e esse é um ponto a favor do filme: sua primorosa, bem cuidada e moderna parte visual. A nave alienígena lembra um útero, o que dá a concepção de nascimento. Na nave alienígena encontram-se os restos de um antigo viajante espacial que fora vitimado por alguma "coisa" desconhecida. Essa coisa não demora a se manifestar: há centenas (ou milhares) de ovos de alguma criatura alienígena, sendo que um deles libera uma pequena criatura com formato de mão (ou aranha) que ataca um dos astronautas, ficando unida ao rosto dele numa simbiose macabra. Levado à bordo (contra os regulamentos, que exigem uma quarentena) graças a um dos tripulantes que abre as portas. Pode-se traçar um paralelo entre o nascimento e a primeira infância, na qual são inseridos uma série de medos com o despertar da tripulação e a entrada do alienígena na nave. A criatura não pode ser removida, pelo perigo de matar o tripulante, mas logo ela sai sozinha, sendo encontrada morta. Já o tripulante desperta, para morrer em seguida: uma nova criatura "nasce" de dentro dele, e foge, escondendo-se na nave. Não iremos nos ater ao formato da criatura, que segundo alguns é totalmente fálico e representa a sexualidade humana, etc. O terror se instala na nave. A criatura adquire rapidamente grandes proporções (não me pergunte como, mas também não me interessa), e mata os integrantes um a um. Nessa parte do filme fica evidente a claustrofobia e o medo do desconhecido, tão comuns na obra de H. P. Lovecraft, que é uma forte referência e mesmo de outros autores como Edgar Allan Poe. Os corredores da "mãe" são como labirintos escuros e intermináveis, e o espectador é irremediavelmente colocado de frente com o medo em seu estado puro: o medo do escuro, da solidão e do desconhecido. Como na infância, a proteção da mãe não é suficiente para proteger o homem desses medos, a "mãe" nave também não proporciona segurança, pelo contrário, colabora para aumentar o clima de pavor. Há ainda a paranóia. Um dos membros da equipe, o que justamente trouxera o alienígena à bordo, é um "traidor", auxiliando a criatura a se esconder e sobreviver. Claro que aí, descobre-se que ele é um andróide, programado para auxiliar na condução do alienígena à Terra, onde é esperado por militares. Descobre-se o jogo: tudo havia sido programado, desde o despertar prematuro da tripulação, o pouso, enfim, para que a criatura fosse levada à Terra, não importando o custo da operação, ou seja, as vidas dos tripulantes. Repare-se que em nenhum momento a Terra é mostrada no filme (nem mesmo na série, salvo no quarto filme, em uma seqüência excelente), nem os militares, que seriam no esquema americano, os vilões. Com o "traidor" descoberto (e desativado), os sobreviventes decidem, como única alternativa a sobrevivência, abandonar a nave, destruindo-a, junto com a criatura. Ocorre a morte da "mãe", que por tanto tempo os mantivera vivos, e a emancipação dos sobreviventes, como filhos que após terem sido cuidados com carinho, já adolescentes sentem-se prisioneiros e sufocados, não restando alternativa, senão deixar o lar, numa morte simbólica da mãe e conseqüente abandono dos medos primitivos. Mas apenas um passageiro escapa. A oficial Ripley em um módulo de salvamento. A filha abandona a mãe, o lar, os medos e parte para o desconhecido. Está começando a sua independência. E pela primeira vez ela se revela uma mulher, o que fica claro na tela, quando a bela atriz fica seminua. Durante todo o filme, os astronautas foram seres assexuados como crianças, com seus uniformes iguais, como se fossem sobrinhos do pato Donald. Somente no final, o sobrevivente, que escapara do controle da mãe e dos medos revela-se um ser sexual, na figura de uma bela mulher. Mas os medos na forma da criatura resistem. O alienígena escapa da explosão infiltrando-se no módulo de salvamento. Dá-se uma breve batalha. A criatura é expulsa da pequena nave num engenhoso plano da heroína, que como que diz: "Esse espaço é meu, você deve ficar lá fora e para trás." Apesar disso, o filme não tem um "final feliz". Também não é um "final triste", mas simplesmente fica em aberto: a tripulante adormece novamente na espera de um resgate pouco provável, mas possível. Como numa vida normal, não há finais felizes ou infelizes. Não há fim.