sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

História da Propaganda por Luci Bonini


A propaganda comunica a eficácia de um produto, de um serviço ou ainda pode esclarecer a população em casos de certos riscos que ela pode correr. Se é arte ou não, hoje em dia , isso é discutível. Na verdade ela nasce a partir das artes figurativas, da pintura, para ser mos mais exatos.Se uma natureza morta, ou um retrato são capazes de mostrar como são belas as coisas ou pessoas ali representadas, a pintura pode ser uma das mães da propaganda. Uma delas, pois a outra é a palavra, ou a arte de combinar as palavras de modo a convencer o ouvinte, ou o leitor de que o produto, ou o serviço é realmente bom e necessário.Nem pintura, nem poesia. A propaganda tem suas características próprias hoje, mas até chegar onde chegou, se equilibrou na corda bamba entre uma e outra. A palavra combinada a imagem é uma atitude remota no homem, para termos uma idéia, no homem antigo combinar símbolos e gravuras era uma prática comum, por exemplo, entre os gregos que desenvolveram uma escrita fonética e muitos símbolos a fim de elucidar certas fórmulas e pensamentos mais abstratos. No homem contemporâneo essa prática pode ser encontrada entre os copistas da Idade Media, os alquimistas, os artistas, muitos deles desenhavam algo sobre o que falavam ou experiências que faziam. Nas enciclopédias vemos as iluminuras, os desenhos que enfeitavam as letras iniciais dos capítulos dos livros.Por falar em enciclopédias, elas surgem num período denominado Iluminismo, ou Século das Luzes, o século XVIII. Século das Luzes porque a luz estava ligada à razão, vai daí que iluminado, ilustrado são palavras ligadas à cultura e à sabedoria.Podemos chegar, então no século XIX : Em virtude da Revolução Industrial, da multiplicidade de bens postos à venda, veio também a necessidade de se divulgar esses produtos. Advindos da reprodução em série esses produtos eram abundantes e havia a necessidade de divulgá-los para que fossem consumidos. As propagandas surgem então, primeiro com cartazes pintados a mão, depois impressos em preto e branco, depois coloridos. Vale lembrar também a publicidade oral, e o homem sanduíche, que coloca um cartaz nas costas e outro no peito e anuncia em voz alta um remédio que cura todos os males, um elixir da longa vida, um aparelho que faz mil coisas e funciona apenas com uma simples volta de manivela. De tudo isso, podemos concluir que ela nasce da necessidade de se chamar a atenção de alguém para determinado produto.Em qualquer parte do Mundo ela surgiu da mesma forma, e se fortaleceu à medida que a Industrialização avançava.Os arautos eram homens que na Idade Média davam as notícias do palácio, os publicitários e jornalistas descendem desses arautos cumprem sua função , enquanto os últimos falam de fatos, os primeiros anunciam cada vez mais alto os produtos, as mercadorias.A Propaganda no Brasil quando nasce , nasce oral e passa a ser escrita quando surge o jornal. A venda de escravos, a busca de escravos foragidos, com desenhos das marcas dos proprietários, a chegada de um remédio novo, ou um tipo de chapéu ou vestido, tudo isso era motivo para ser publicado jornais, primeiramente como forma de notícia, posteriormente em forma de publicidade.A propaganda muitas vezes vem, no século XIX no Brasil, aliada à poesia; poetas como Casimiro de Abreu e Olavo Bilac viram ilustradas suas trovas para vários anúncios: remédios, roupas, casas, retratistas, cocheiros, joalheiros, esse tipo de publicidade surge em decorrência das várias necessidades da burguesia nascente no nosso país.
Alguns exemplos nos darão uma idéia:
"EXCELENTE ESCRAVO: Vende-se um crioulo de 22 anos, sem vício e muito fiel: bom e asseado cozinheiro, copeiro, boleeiro. Faz todo o serviço de arranjo de casa com presteza (....) esse anúncio como podemos observar traz muitas qualidades do 'produto' que se desejava vender, esse anúncio data de 1878 e foi veiculado no jornal A província de S.Paulo
O DIA DAS JANELAS!! Se V. Ex.a. aproveitar os lindos padrões de cretones estampados que acabamos de receber de Londres, As janelas de sua residência poderão ser elegantemente vestidas, apenas com pequeno dispêndio. - As nossas cortinas, além de serem as mais modernas e econômicas, são muito duráveis. Faça uma visita ao nosso Palacete Modelo! Mappin Stores Anúncio publicado em 1900 na Revista da Semana em 27 de Maio, neste texto podemos notar a linguagem exuberante e cordial de um texto publicitário do início do século, vemos que a cordialidade em excesso ou o abuso de adjetivos torna o texto, ou pelo menos acreditava-se, que tornava o texto persuasivo.
ESTRELLA DE PAYSANDU - "...está aprontando uma excelente luz, e sala de espera independente de sua moradia; apresentará aos seus fregueses uma bonita galeria de fotografia, ambrótipo, porcelanótipo, melanótipo espera a concorrência de seus patrícios, tendo em vista a modecidade de preços, perfeição e asseio(...) (...) os retratos só serão postos a exposição com o consentimento de seus donos; não se dá nem se vende retratos alguns sem a prévia licença por escrito, ainda mesmo que seja de pessoas pertencentes a família dos retratados." Como podemos ver esse é um anúncio publicitário de um retratista, muito meticuloso na descrição de todos os seus trabalhos e cuidadoso no sentido de não permitir que a reprodução em série descaracterizasse sua obra.
Na primeira década do século XX, com a industrialização crescente no eixo Rio-S.Paulo, surge a Castaldi & Bennaton, a primeira agência publicitária.
Alguns produtos ficaram famosos, a partir desta década, um deles teve sua campanha idealizada por Monteiro Lobato. O personagem Jeca Tatu, enfraquecido pela verminose, toma Biotônico Fontoura e se fortalece, Jeca Tatu será símbolo do homem brasileiro resistindo à falta de estrutura governamental que desse conta dos problemas sociais e econômicos da época, que afligiam muitos escritores, inclusive Lobato, homem que viveu no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, e bem conheceu suas vicissitudes. Esse autor , também se arvorou em outras campanhas publicitárias entre elas podemos destacar a campanha de esclarecimento público sobre o petróleo brasileiro; convencido de que o subsolo brasileiro era rico em petróleo Monteiro Lobato fez alguns cartazes e publicou artigos e manifestos no jornal.
Outros produtos também ficaram conhecidos do público, principalmente por meio de almanaques que proliferavam nas primeiras décadas do nosso século, entre eles o Óleo de Fígado de Bacalhau, e o Xarope São João.


Luci Bonini é Graduada em Letras pela Universidade Braz Cubas (1979), Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992) e Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997). Atualmente é professora adjunta da Universidade de Mogi das Cruzes e professora titular da Universidade Braz Cubas. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, educação a distância, literatura, campanha publicitária e poesia. Atualmente é secretária Geral da Sociedade Brasileira dos professores de Lingüística e Membro da Comissão de Avaliadores do MEC- INEP É autora de livros didáticos, um dos quais, Série Brasil - Alfabetização, da Editora Ática, Avaliado entre os livros do PNLD 2006.