sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A NOVA ORDEM MUNDIAL


Recentemente, tendo em vista a queda do comunismo, foi feita uma declaração sobre uma Nova Ordem Mundial, muito embora por várias décadas a literatura islâmica tenha criticado tanto o comunismo como o capitalismo, pois nunca esperou que pudessem durar. Trabalhos comparativos foram feitos para demonstrar onde cada um deles erra quando comparado com um sistema independente derivado dos ensinamentos do Islam.
Seria bastante temerário concluir que o colapso do comunismo é um atestado da competência do capitalismo. Na verdade, ambos partilham o inconveniente de serem ideologias materialistas, provisionando bens que são mais do que o lado material. Ambos cometeram erros ainda que em direções opostas e que são a suposição de que indivíduo e sociedade estão em conflito irreconciliável. O comunismo aniquilou o indivíduo em favor da sociedade. Mas, o que é a sociedade senão indivíduos multiplicados? O resultado foi uma sociedade inevitavelmente aniquilada.
O capitalismo, por outro lado, exaltou a individualidade, superprotegendo-a das reivindicações da sociedade. O indivíduo imbuiu-se de um egoísmo justificado e quando foi projetado para o exterior, manifestaram-se suas várias expressões como o classismo, o corporativismo, o nacionalismo, o racismo, a escravidão e o colonialismo. A pedra angular do capitalismo é que a única função e destino exclusivo do capital é crescer e continuar crescendo sem limites. Quando os mercados locais estão saturados é preciso buscar novos mercados além mar e no Terceiro Mundo. Existe uma cegueira (talvez deliberada) para o fato de que é impossível alcançar crescimento infinito em um mundo finito. Na corrida febril por dólares e mais dólares, associada ao estímulo planejado e ativo de padrões de consumo e obsolescência - não para a satisfação das necessidades e sim para a satisfação de confortos, prazeres e luxos - fontes naturais, muitas não renováveis, são violadas em passos acelerados. Esta sobrecarga atingiu não só os recursos mas também o Terceiro Mundo como o mercado vital e a vaca sagrada.
Recursos naturais exauridos e matéria-prima comprada a preços irrisórios (se comparados com os preços exorbitantes que são pagos pelos produtos industrializados), impedem de cumprir projetos que poderiam melhorar sua sorte e torná-los menos dependentes das importações do Primeiro Mundo. Para impedir a morte total doTerceiro Mundo por inanição, eles injetam regularmente capital novo sob a forma de empréstimos e ajudas, a fim de manter seu poder de compra, para favorecer o capital ocidental. Ai! somente uma fração mínima desta ajuda é destinada para as necessidades do povo. A maior parte vai para a elite local que forma a classe governante e seu séquito, e que se comprometem em manter o status quo. Impedem o debate público sobre os termos e condições dos empréstimos e ajuda, bloqueiam qualquer tentativa de supervisão de sua administração e estabelecimento de responsabilidades pelos seus desvios, oprimem o trabalho honesto e permitem procedimentos negligentes e mantêm uma proibição total sobre o combate à corrupção que se tornou marca registrada dos governos do Terceiro Mundo, inclusive em muitos países do mundo islâmico. Isto parece explicar dois paradoxos: o primeiro é que no Oriente Médio, onde o ocidente mais bombeia dinheiro, é onde estão os países mais pobres e a dívida mais profunda; o segundo é a traição das democracias aos movimentos democráticos que parecem perto de alcançar o poder através de um justo processo democrático. Invariavelmente, as democracias apoiam os ditadores contra as aspirações democráticas de suas populações e quando necessário até com o uso do poder militar. A expressão "estabilidade", que é a meta declarada de toda intervenção ocidental, na verdade significa a manutenção das melhores oportunidades exploradoras para o capital estrangeiro mesmo que isto implique em ser o pior para as massas. Elas e as futuras gerações herdarão uma dívida elevada que o PIB será incapaz de honrar o serviço quanto mais pagar toda a dívida. Este estado de coisas é conhecido e sentido pelo povo. Eles vêem seus resultados em suas casas, famílias e filhos. Eles chamam a isto de injustiça e bem que tentam mudar mas são brutalmente reprimidos. As políticas ocidentais participam desta repressão e para justificá-la aos olhos de seu povo, têm fórmulas e terminologias pré-fabricadas (erosão da estabilidade ou manifesta agressão aos nossos interesses nacionais). Até recentemente era conveniente chamar essas pessoas de "comunistas". Desde que acabou o comunismo, o novo rótulo é "fundamentalista islâmico".
Com a imensa máquina da mídia de propriedade das grandes corporações e dotada de grande capital, projetada para manipular e moldar a opinião pública, as massas do ocidente facilmente engolem a isca, e de boa fé, sancionam os meios e as formas de fazer essa política. E contudo, isto não é o pior sobre a natureza insuspeita e submissa das pessoas no ocidente. O que elas agarram aos poucos é o apetite voraz do capital e sua prática gananciosa no Terceiro Mundo não está limitda áquelas regiões habitadas por pessoas estranhas e exóticas, pois não hesitam em fazer o mesmo em casa e aos seus próprios cidadãos sempre que estimulados pelos ditames daquele princípio sagrado: crescimento e mais crescimento, capital e mais capital, dólares e mais dólares! O que mais pode explicar a transferência de grandes nacos de indústria para o sudeste asiático e outros lugares, onde o trabalho mais barato (tanto financeio como humano) pode produzir um produto final mais barato o qual, no entanto, não será vendido por preço mais barato quando de volta para a América. Durante o processo, milhões de trabalhadores americanos são descartados e vão compor as fileiras de desempregados.
Este caminho do capitalismo selvagem não pode continuar indefinidamente e todas as evidências mostram que terá um triste final, evidências que têm sido ignoradas e diminuidas e atacadas e pressionadas, mas estão lá, gostem ou não seus opositores. O ganso dos ovos de ouro dos recursos naturais e a vaca sagrada do Terceiro Mundo não sobreviverão por muito tempo. A menos que haja uma mudança radical de curso, antes que seja muito tarde, este planeta deixará de ser sustentável!
O que sentimos deveria ser pedir, no entanto, não uma mudança de governantes e sim uma mudança de corações. Enquanto a velha mentalidade do materialismo reinar não há esperança exceto um tratamento sintomático que poderia retardar o inevitável por um curto período mas não o impediria. Enquanto o pensamento dominante permanecer em termos de nós contra eles, norte contra sul, explorador contra explorado, rico contra pobre, branco contra negro e senhores contra escravos (pelo menos servos), não há esperança no futuro. O barco da humanidade afundará até enquanto os passageiros das cabines de primeira classe acumulam valores e luxos. Parece pouco provável que os políticos e financistas do mundo terão a visão, sabedoria e capacidade de empreender uma mudança deste porte. Também é uma pena vê-los neste caminho sinistro e levando ahumanidade à beira do abismo. A única esperança é uma campanha educacional maciça do público que, como eleitores são os árbitros no final do dia. Se for criada demanda por um novo caminho os políticos também mudarão ou serão expulsos do caminho das mudanças.
O que o Islam tem a ver com tudo isto? Os estudiosos e pensadores islâmicos (não os terroristas e extremistas que a mídia se agarra como uma máscara fixa em tudo o que é islâmico) durante muito tempo esboçaram as características de um sistema islâmico baseado na shari'ah islâmica e naturalmente não uma cópia de fórmulas que poderiam ter servido em épocas e circunstâncias anteriores. Nem devem ser consideradas exclusivamente islãmicas ou prescritas só para os muçulmanos, pois o bem estar da humanidade é uma preocupação comum e em nosso encolhido mundo interativo todos enfrentamos o mesmo destino. Os principais aspectos deste sistema sâo:
1) o homem não é o ser supremo deste universo, e sim está submetido ao Ser Supremo, Deus! Sem Deus tudo se torna possível, conforme Dostoyevski disse, e tudo pode ser racionaolizado e justificado. Quando o homem destronou Deus, ele resvalou para a auto-adoração. O papel do homem neste universo é o de vice-gerente e curador de Deus, portanto, equipado com todos os requisitos que o habilitam a exercer um mandato total sobre a natureza, mas de acordo com as instruções do Criador e não em obediência aos seus impulsos e tentações. Nem a ciência (um instrumento ainda em sua infância) nem a arrogância (uma armadilha fatal) devem levar o homem a imaginar que pode agir como Deus ... ainda que ele fosse sábio o bastante.
2) O domínio final é de Deus pelo fato de Ele ser o Criador. Nosso domínio sobre as coisas está em segundo plano. Enquanto tivermos consciência de que o capital tem seus direitos mas também seus deveres, somos livres, quase que ilimitadamente, para possuir e aumentar nossa riqueza por intermédio de meios lícitos. A função do capital não é só crescer ad infinitum mas também a de cumprir suas obrigações para com a sociedade. A afirmação (tanto pelo comunismo como pelo capitalismo) de que existe um conflito inevitável entre o indivíduo e a sociedade não existe no Islam, onde a premissa é o equilíbrio entre um e outro para que todos sejam felizes. Este equilíbrio não é mantido só pela força da lei mas, o que é mais importante, para satisfação de Deus, que cria a felicidade em dar. Deus está sempre nesta equação e é uma realidade viva, e que, na ideologia materialista é uma noção sem qualquer significado. Esta nova filosofia é factível e acessível mas não submetida a um valor independente do sistema educacional, a onda sísmica da doutrinação midiática, ou a uma sociedade tolerante com as injustiças. A sociedade é tão intercomplementar e integrada que ninguém pode viver isolado seja no topo das riquezas ou nas profundezas da pobreza.
Há mais de 14 séculos atrás, Omar, o segundo califa do Islam, decretou que se um homem de uma cidade morresse na pobreza os cidadãos teriam que pagar um resgate, como se eles o tivessem matado. A comunidade é como "um corpo ...quando um órgão adoece os outros se reunem em torno para ajudá-lo", conforme disse pelo profeta. Cada cidadão tem o direito de viver um nível determinado de conforto (não só o da subsistência) e, considerando que viver da caridade é desestimulado, deduz-se que os direitos individuais compreendem o direito a um emprego remunerado. A tecnologia substitutiva de mão-de-obra é permitida como uma resposta à escassez de trabalho mas nunca para poupar empregos e levar os trabalhadores ao desemprego. O homem tem prioridade sobre a máquina e a norma jurídica é o bem-estar coletivo sobre o bem-estar pessoal. Isto não significa embaraço ao progresso tecnológico mas sim que deve andar de mãos dadas com a avaliação das consequências. Os trabalhadores são permitidos e estimulados a comprar ações desuas companhias para diminuir a polarização entre capital e trabalho e para que se interessem pelo progresso da companhia.
No Islam a premissa é a de que Deus encaminhou o sustento do pobre para a riqueza do rico ... e numa nova ordem mundial o princípio pode ser levado a proporções internacionais. Uma outra regra no Islam é que o dinheiro como instrumento não pode gerar dinheiro, a não ser que atrelado a algum tipo de atividade produtiva. Deste ponto de vista, a usura é ilícita no Islam. Nas recentes décadas muito se escreveu sobre os juros bancários e na verdade vários bancos, não só nos países islâmicos mas na Europa também, participaram da experiência.
3) A SINGULARIDADE da humanidade como uma única família compartilhando o parentesco comum com Adão e Eva, deve ser enfatizada e ensinada às crianças desde a mais tenra idade, juntamente com a igualdade inata dos seres humanos. Infelizmente tanto a ciência como a religião foram mal utilizadas na Europa (e na América) para forjarem provas da superioridade natural da raça branca (ariana) sobre as outras raças. Tais evidências agora estão mortas e enterrradas, mas seu legado continua. Até hoje em muitas igrejas do ocidente, Jesus é mostrado como um homem branco de olhos azuis e não como o resto dos palestinos. A evidência do racismo do ocidente praticamente permeia todos os aspectos da vida e ousamos dizer que a vontade de mudar tudo isto ainda aguarda o seu momento. A crescente batalha pelos direitos civis na América continuou nas décadas passadas apesar do progresso visível não se pode dizer que o gosto amargo da escravidão tenha se dissolvido. Igualdade não é um conjunto de especificações legais e sim, antes de mais nada, um estado de espírito.
Até agora, o homem negro ainda não ouviu a palavra "desculpa" do homem branco pelo histórico de escravidão que tinge a história da civilização branca (os americanos amarelos - japoneses - receberam um pedido de desculpas e reparações por causa do confinamento durante a II Guerra Mundial). As tensões raciais continuam a explodir e, embora lamentável, muitas vezes eles encontram justificativas como a dos tumultos em Los Angeles, em passado recente. A todo momento há uma convocação e alguns esforços para melhorar a sorte dos negros; ainda que seja uma boa iniciativa, falta identificar a etiologia do problema. Nem as balas ou os dólares serão soluções permanentes e verdadeiras. Somente quando se sentir e acreditar profundamente que todo ser humano é um irmão ou irmã igual e querido é que pode ocorrer uma mudança real. E isto não será decretado por qualquer lei, pois esta é uma função da educação. Há vários motivos, e não só para esta questão racial, para uma revolução educacional nas escolas e em todos os canais educacionais para restruturar a mentalidade humana em novas bases que possam criar uma nova humanidade mais unificada e misericordiosa, colocando a vida em nossos slogans de liberdade, fraternidade e igualdade, não dentro de fronteiras nacionais mas em escala global (e ao inferno com os outros).
Isto deve ser acompanhado de um esforço verdadeiro para o desenvolvimento do Terceiro mudno. Estima-se que o subsídio que a Europa paga a seus fazendeiros é suficiente para provocar uma transformação no Terceiro Mundo, assim como para eliminar o problema da fome no mundo todo. Esta idéia foi sumariamente ridicularizada em um encontro (filantrópico) que aconteceu na Europa, de ex-ministros e primeiros-ministros de vários países. Tanto a suspensão do subsídio como o desenvolvimento do Terceiro Mundo foram considerados uma opção de vida, a primeira um expediente político e o último uma estratégia política.
4) Uma outra faculdade humana que rapidamente se deteriorou e precisa ser restabelecida é a faculdade de automoderação. Embora esta seja a principal diferença entre o homem e o animal, a mentalidade dos tempos modernos parece ter provocado estragos. Um rapaz que foi preso por atirar em carros que passavam em uma estrada e matar algumas pessoas só teve a seguinte explicação a oferecer "Senti como se matasse alguém". Este não um exemplo isolado. Estatísticas sobre crime mostram claramente que isto se tornou um fenômeno social em lugar de uma exceção. A leitura de boletins e documentos a respeito confirmam isto. A falta de um sistema de valores saudável e a aterradora falta de resistência ante os impulsos e tentações são fatores determinantes e a chave para a mudança pode ser encontrada na educação e na mídia. Se houver um Dia do Juízo, como os muçulmanos e outros acreditam, então não se pode invejar os retardados da mídia quando tiverem que responder pela publicação e promoção da violência, pornografia e licenciosidade. Falar do idescritível, então falar do indescritível e naturalmente isto se torna descritível. Nossos jovens então exploram e experimental até se tornarem viciados sociais.
Infelizmente, alguns estados estão lançando de forma sutil para a sua juventude o exemplo do recurso do poder da nudez, principalmente quando eles são fortes além dos limites e o adversário é fraco além dos limites. A folha da figueira chamada valores e princípios sempre cai quando o gigante militar esmaga qualquer agressão com todo o seu poder, praticamente sem encontrar resistência; quando sobrevém uma agressão pior, o mesmo gigante recua porque "a tarefa não será fácil". Olhar para a vida humana é insondável, seja quando a atacamos ou quando nos abstemos de protegê-la. Uma das coisas mais poderosas e reveladoras que foram ditas por ocasião da Guerra do Golfo foi a de um líder militar: "Não é de nosso ofício contar corpos", mas é claro que aquilo significava os corpos do outro lado.
5) Guerra e Paz - As normas da guerra no Islam são muito claras e foram delineadas explicitamente pelo profeta Mohammad. Primeiro ela deve ser de natureza defensiva, ou para acabar com a opressão onde quer que ela possa estar, o que hoje é chamado de justa causa. A aliança para parar com a agressão está expresso no versículo alcorânico: "Se duas partes dentre os fiéis combaterem entre si, façam a paz entre eles; mas se um deles provocar o outro, então combatam (todos) aquele que provoca até que se cumpra o mandamento de Deus. Mas, se cumprirem (os mandamentos) então façam a paz com justiça e sejam sinceros, porque Deus ama aqueles que são justos." (Alcorão 49:9). A aliança com não muçulmanos por uma causa justa é correto. Um exemplo é o tratado com os judeus de Medina para a defesa da cidade contra os descrentes na época do profeta. Um outro exemplo é a referência feita pelo profeta ao tratado bem antes do Islam entre as tribos de Meca para se juntarem no apoio aos oprimidos e seu comentário "Foi uma aliança antes do Islam mas se - no Islam - eu tivesse sido convidado para me juntar a eles eu teria aceitado." As instruções explícitas do profeta aos seus exércitos eram rigorosas no sentido de que eles só poderiam combater os beligerantes e não as mulheres, crianças e velhos. Como instruções de guerra, os religiosos não muçulmanos em suas ermidas ou casas de adoração, não deveriam sofrer qualquer dano e nem as árvores dos inimigos deviam ser cortadas ou queimadas, os animais não deveriam ser alvejados ou mortos a não ser para alimento. Quando se analisa estas condições fica claro que elas não são podem ser factíveis nas condições de guerra atuais. Talvez a I Guerra Mundial tenha sido a última onde lutar ficou restrito ao pessoal militar. Na Guerra Civil Espanhola, nos anos 30, os governantes começaram a mudar, ficando mais evidente na II Guerra Mundial, na Guerra da Coréia e na Guerra do Vietnã. As duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasakifalam por si sós, assim como o tapete de bombas da Guerra do Vietnã e suas "zonas de fogo", matando não pessoas, animais e plantas mas o solo também.
Algumas pessoas poderiam achar que esta ética islâmica para a guerra agora seja teórica e não se aplique à época atual, talvez como muitos outros preceitos islâmicos. A lógica dessas pessoas é óbvia. Os muçulmanos e outros, no entanto, encaram a questão de uma outra perspectiva. Uma vez que a guerra moderna é tão devastadora, então ela deve deixar de ser uma opção de solução de conflito. A guerra deve ser obsoleta, como a escravidão! Certamente a humanidade, no auge de uma civilização jamais alcançada antes, e à medida em que entra o segundo milênio e anuncia e comemora uma Nova Ordem Mundial, é capaz de divisar um outro insturmento de se fazer a paz que não seja a guerra. Talvez tribunais de justiça independentes possam resolver as diferenças entre as nações. Em passado recente, Egito e Israel lutaram por causa do Sinal. Quando um pedaço disputado de terra se mostrou como obstáculo, este foi resolvido pacificamente através de arbitragem internacional, sem derramamento de uma gota de sangue. Afinal de contas, a guerra não faz diferença entre o certo e o errado, apenas mostra quem é o mais forte, quem possui o poder destrutivo maior. É um mau presságio que a Nova Ordem Mundial tenha sido anunciada por ocasião de um acontecimento militar esmagador. As decisões que se seguiram levantam a suspeita de que o novo na Nova Ordem Mundial nada mais era do que a velha ordem, só que presidida sobre um adversário ao invés de dois.
Certamente não é um bom negócio criar tribunais judiciários capazes de resolver conflitos (isto exclui a ONU e seu Conselho de Segurança). O sucesso de tal idéia gira inteiramente em torno de um eixo, o de que os países civilizados decidirão ser ... civilizados! Isto é verdade e ninguém jamais diria que eles estão contra a verdade, mas eles estão. A verdade é um valor; e lamentavelmente a política não faz muito caso de valroes, e esta é que é a verdadeira ameaça que o mundo enfrenta. Os fortes cederão à justiça na conformidade da lei, ou continuarão insistindo que poderiam fazer o correto? O complexo industrial-militar abandonará a doutrina de viver sob um sistema de guerra que tem que se justificar com uma guerra aqui e outra ali? A justiça pode ser incluída na distribuição do bolo dos recursos mundiais e no custo de seu suprimento? É claro que não, seria uma blasfêmia para os donos da ordem atual, a menos que as coisas mudem e as mudanças não virão de cima. Elas virão de baixo, das origens.
(6) A Ecologia - A fim de gerar dólares para comprar comida, pagar as dívidas, armar seus exércitos e polícia para proteger seus ditadores e satisfazer o apetite insaciável da elite e dos governantes, o lado mais pobre da humanidade dos países em desenvolvimento estão tendo seus recursos naturais esgotados. O lado opulento da humanidade, e com o mesmo objetivo de fazer mais dólares para que o rico fique mais rico, aumente seus padrões consumistas, os luxos e a satisfação de seus prazeres, o mundo industrializado está violando, envenenando, poluindo e matando a ecologia. Isto acontece numa época onde nossa ciência e teconologia são capazes de influenciar a biosfera de uma forma dramática sem precendentes. E isto acontece em tempos de paz, não contando com o dano devastador e permanente que a guerra moderna é capaz de provocar. Estamos tirando do futuro, a uma taxa extravagante, levando em conta estimativas razoáveis que nos dizem que estamos incorrente em um débito para as gerações futuras que não seremos capazes de pagar. Medidas paliativas e sugestões factíveis foram prescritas, mas o obstáculo, como esperado, são sempre aqueles que têm as rédeas do poder, os curadores do capitalismo desenfreado, ganancioso, egoísta, glutão. Como diz o Alcorão "Entre os homens há aquele cujo discurso sobre o mundo encanta a todos e ele pede que Deus seja sua testemunha do que está em seu coração, no entanto ele é o mais encarniçado dos inimigos. Mas, quando ele predomina, então percorre a terra espalhando a traição e destruindo as colheitas e o gado, e Deus não estima a traição." (2:204-5)
No entanto, de real importância, é que o movimento ecológico fora da esfera da política está ganhando impulso. No Dia da Terra, em 1990, 1 milhão de pessoas de 140 países se mostraram na maior demonstração jamais acontecida antes. Essas pessoas não podem ser ignoradas pelos políticos ou então perdem seus votos. Talvez seja tempo de se criar uma organização ecológica internacional, que contaria com a participação dos governos mundiais que concordariam previamente em acatar as recomendações, recomendações, é claro, que não seriam indiferentes à questão da justiça.de acordo prévio
(7) Questões de População - A população mundial está crescendo a uma taxa que ultrapassa a dos recursos disponíveis. Portanto, as preocupações com relação à explosão demográfica são bastante legítimas e, uma vez que o aumento populacional acontece no Terceiro Mundo, este tem sido acusado de comportamento irrespondável e considerado culpado pelo ocidente. Açóes disciplinares foram consideradas e vários países que fornecem ajuda, inclusive os Estados Unidos, acolheram a idéia de ligar a ajuda a avanços nos programas de fertilidade e planejamento familiar. Pior do que isto, em um artigo intitulado "Maquiavel seria um guia melhor para os médicos do que Hipócrates?" (World Health Forum, vol. 14, 1993 p. 105), o dr. Jean Martin revê algumas opiniões ocidentais que questionam a conveniência de alguns programas de vacinação e outros no Terceiro Mudno, uma vez que eles permitem que as crianças vivam, provoquem efeito nos recursos e repetem, finalmente, o ciclo de fome e morte; em outras palavras, existe uma chamada para estabelecer limites na redução da mortalidade infantil no Terceiro Mundo. Parece lógica mudança do humanitarismo para o "pragamatismo", daí a inclusão do nome de Maquiavel no artigo.
Existe um problema que ninguém pode negar. É o de que há necessidade de aproveitar as famílias que queiram usar (sem coerção) de métodos contraceptivos seguros, confiáveis e acessíveis, o que também é um fato e o Islam não tem dúvida em relação a isto. Nossa única reserva é, que colocando a culpa do problema populacional unicamente nos países do Terceiro Mundo, não se está dizendo toda a verdade, porque a questão é realmente multifacetada. Ignora o fato de que o nascimento de uma criança nos Estados Unidos "impõe mais de cem vezes pressão sobre os recursos mundiais e meio-ambiente do que um nascimento em Bangladesh, por exemplo", escreveu Paul e Anne Ehrlich, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Stanford, na revista National Geographic. Eles chamaram a atenção para a distinção de que enquanto os problemas populacionais das nações pobres os mantêm apenas pobres, os problemas populacionais das nações ricas destrói a capacidade da terra de proteger a civilização. (Michael Henderson: Hope for a Change. Grosvenor Books, Salem U. S. A., 1991, p.24).
A forma de reduzir o crescimento populacional no Terceiro Mundo foi debatido (principalmente na World Population Conference, realizada em Bucareste, em 1974). Embora precedente histórico (estudando o que aconteceu na Europa que baixou as taxas de fertilidade) e o bom senso (um fenômeno conhecido é que a insegurança é um estímulo natural da fertilidade) tenham indicado que o desenvolvimento é causa e não resultado da fertilidade reduzida (desenvolvimento é a melhor pílula), no entanto os países capitalistas puseram uma ênfase desproporcional na regulação da fertilidade no Terceiro Mundo. A questão é, na verdade, mais do que filantrópica ou um olhar altruísta para o bem-estar da humanidade. Na edição de verão de 1991, do Foreign Affairs, um relatório (originalmente preparado pelo exército americano) do dr. Nicholas Eberstadt, do American Enterprise Institute, adverte sobre as implicações do aumento proporcionalem números das nações terceiro-mundistas para a ordem política internacional e o equilíbrio do poder mundial. Após três gerações, observa ele, oito biavós do ocidente terão apenas 4 ou 5 descendentes, contra mais de 300 para grande parte da África e Oriente Médio; portanto, os principais países de hoje serão os países menores de amanhã.
O National Security Study Memorandum 200, um estudo das "implicações do Crescimento Populacional do Mundo para Segurança dos Estados Unidos e Interesses Além-Mar" (datado de 10/12/74, classificado por Harry C. Blaney III, declassificado em 3/07/89, pela ordem executiva 12358, Liberado para os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, em 26/06/90) é um documento muito educativo, que revela as complexas implicaçãos econômicas, políticas e militares e as sólidas realidades do mundo em que vivemos. Os fatores populacionais poderiam ser as sementes de ações revolucionárias e da expropriação ou limitação dos interesses econômicos estrangeiros. Pobreza, crescimento populacional e população jovem exigem desenvolvimento, induzem à revisão dos termos e condições dos investimentos estrangeiros e até influencia no crescimento militar, desde que o recrutamento militar seja visto como uma alternativa viável para o desemprego. Algumas vezes, o documento divulga o sentimento de que os países industrializados já estão iniciando uma guerra redentora contra os países subdesenvolvidos.
Parece-nos que a Nova Ordem Mundial deve se voltar para as necessidades de nossa aldeia glogal, porque é nisto que o planeta está se transformando. Isto não deve pressupor a inevitabilidade de dividir o mundo em "metades" e "não haveres", e, portanto, a inevitabilidade de uma luta de morte entre elas. Isto exige do rico que seja humilde, que fique satisfeito e que queira abandonar os luxos incorporados por seu estilo de viva. Tais luxos não são necessidades vitais. A recompensa é a felicidade em prover as necessidades vitais da maior parte da família humana. O que mais pode proporcionar felicidade maior? Deus deve ser introduzido nesta equação!


Louay M. SafiLouay M. Safi