quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Poema para escrever no asfalto


Agora eu sei o quanto basta à ceia do coração

e o quanto sobra do naufrágio

das nossas utopias.

Agora eu sei o que significa a fala dos mortos

e esta parábola soterrada

que jorra das veias da pedra.

Agora eu sei o quanto custa o ouro das palavras

e este pacto de sangue

com as metáforas do tempo.

Agora eu sei o que se passa no coração de treva

e do homem que morre mendigando

a própria liberdade.

Agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido

com a nossa pobreza

e com a solidão de ninguém.

Agora eu sei que é preciso agarrar a vida

como se fosse a última dádiva

colocada em nossas mãos.


Francisco Carvalho