terça-feira, 21 de julho de 2009

Histórias de Walt Disney


O gênio da animação era fanático por trabalho, resgatava a infância em seus filmes e acabou alcoólatra no fim da vida


Inventor do moderno cinema de animação, o magnata Walt Disney (1901-1966) era tão popular nos EUA que chegava a ser reconhecido nas ruas até por crianças - nada mais justo, aliás, porque foi para elas que ele dedicou o seu talento e a sua vida. Um dia, numa festa, um garoto tomou coragem e se dirigiu ao "tio Walt". Não queria um autógrafo, queria mesmo é que ele lhe desenhasse a sua maior criação, o ratinho Mickey, cujo nascimento nos anos 1920 foi o pontapé inicial do maior império de entretenimento do mundo.

Com a desenvoltura habitual, Disney passou a caneta e o papel para o seu empregado, o animador Ub Iwerks (quem na verdade deu vida a Mickey) e ordenou que ele esboçasse o bichinho. Depois Disney o assinaria e daria para o menino, testemunha da cena constrangedora. "Desenhe o seu próprio Mickey", teria dito o artista, dando as costas para o chefe. Essa passagem está descrita na biografia Walt Disney: o triunfo da imaginação americana (Novo Século, 944 págs., R$ 89,90), de Neal Gabler, que não economiza em detalhes no retrato de uma personalidade sob a qual ainda pairam muitos mistérios e controvérsias.


TRECHO DO LIVRO

"Walt adorava bancar o maquinista. Ele punha um boné e uma camisa quadriculada, sentava no carro de trás da locomotiva e acendia a máquina. Os convidados eram invariavelmente chamados para dar uma volta no trem, uma lista que incluía a cantora Dinah Shore e até Salvador Dalí"



Disney não foi o criador de Mickey e Iwerks até ameaçou processá-lo. Que Disney era anticomunista é um fato sabido e ele nunca fez questão de ocultar. Em 1947, testemunhou perante o Comitê de Atividades Anti-Americanas, acusando de esquerdista a Liga de Mulheres Eleitoras. Pelo fato de ter recebido em seu estúdio a cineasta nazista Leni Riefenstahl e ter colocado um lobo judeu em Os três porquinhos, ainda hoje se discute se ele foi também antissemita.

Outra dúvida: ele realmente poderia ser considerado o autor de clássicos como Branca de Neve e os sete anões e Fantasia, já que apenas supervisionava sua fábrica de animações? Afora essas e outras lacunas a respeito de sua vida, Disney manipulou muito a sua própria história. A biografia de Gabler leva uma certa vantagem sobre outras existentes porque ele passou sete anos pesquisando nos próprios arquivos dos Estúdios Disney. Leu de tudo: de memorandos a cartõespostais. O que revela do homem que, segundo o renomado crítico de arte Robert Hughes, antecipou em anos a pop art já é suficiente para se mergulhar em sua caudalosa narrativa.


TALENTO PRECOCE:Na infância, Disney fugia de casa para brincar de teatro com um amigo. Tome-se, por exemplo, a infância do pequeno Walt, passada entre Kansas City e a minúscula cidade de Marceline, que ele não cansava de citar como fonte de sua prodigiosa imaginação. Esses anos teriam sido paradisíacos, não fosse um porém: seu pai era um carrasco. Movido pelas ideias socialistas (o que explicaria, mais tarde, a posição conservadora do filho rebelde), Elias Disney apostava em negócios que nunca davam certo.

Em Kansas City, decidiu investir na entrega de jornais. Mas quem tinha de acordar às três da manhã para sair de casa em casa jogando os matutinos era o pequeno Walt. No inverno, a atividade tornavase um suplício, já que o menino tinha de depositar o jornal em cada varanda e não apenas atirá-lo da rua. Algumas vezes, encontrava no canto um brinquedo abandonado: deixava os jornais de lado e esquecia do tempo se divertindo.No Natal, ganhou não um trenzinho, mas um par de botas com biqueira de metal para enfrentar as invernadas: "Não tinha uma hora em que pudesse brincar."

O hábito do trabalho precoce fez dele um workaholic. "O estúdio era o sexo. Os orgasmos estavam todos lá", disse Ward Kimball, um de seus conhecidos desenhistas. Na época de Branca de Neve, quando ele varava dias, noites e fins de semana no trabalho, sua mulher, Lillian, quase pediu o divórcio. "Ninguém jamais pagará um centavo para ver um filme de anões", praguejava. Ela se enganou, claro. Mais tarde, cansado dos filmes, Disney buscou a realização em empreendimentos como a Disneylândia e em hobbies extravagantes, como a construção de uma estrada de ferro em miniatura em sua nova casa.

"Comprei para mim um presente de Natal, algo que quis durante toda a minha vida - um trem elétrico", escreveu. Ao final da vida, doente de câncer e alcoólatra, aquele que sempre foi acusado de ter infantilizado a cultura americana costumava se lembrar da infância, segundo os mais próximos, com um "suspiro lamentoso". A imagem que vem à mente é a do personagem de Cidadão Kane e seu trenó, Rosebud. Orson Welles, é sabido, inspirouse em outro magnata, William Randolf Hearst, para fazer sua radiografia do "self made man" americano. Mas bem poderia ter se mirado em Disney.

Ivan Claudio, de Istoé Independente direto para o Mensageiro da Realidade.

Beco da Poeira: empresa escolhida foi a maior doadora da campanha de Luizianne em 2008



Escolha de Beta S/A para obra foi feita sem licitação

A construtora Beta S/A, escolhida sem licitação para fazer a reforma do prédio da antiga fábrica Thomaz Pompeu, local previsto para a instalação do novo Beco da Poeira, foi a maior doadora da campanha da prefeita Luizianne Lins (PT), no ano passado. Quem traz a denúncia é o jornal O Povo, em sua edição desta terça-feira.

O valor, R$ 900 mil, só foi doado 18 dias após a confirmação da reeleição da Prefeita. Dispensada a licitação, a empresa já iniciou a obra de R$ 3,2 milhões. O jornal afirma que, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura, foram levantados orçamentos de três empresas para a obra e a Beta S/A apresentou a melhor proposta para a reforma do balcão, no valor de pouco mais de R$ 3,2 milhões. A confecção dos boxes ficou a cargo da Meta Tecnologia & Concreto Ltda, com o valor de R$ 2.555.665,04.

Em conversa com a redação da Tv Jangadeiro, o Procurador do município, Martônio Mont`Alverne, disse que tudo foi feito dentro da legalidade, conforme o artigo 24 da lei de licitações. Já a empresa Beta S/A não quis se pronunciar sobre o assunto.

Na última sexta-feira (17), a deputada estadual Tânia Gurgel (PSDB) entrou com pedido de investigação no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) sobre a dispensa de licitação feita pela Prefeitura de Fortaleza. Tânia não teria concordado com a justificativa de que haveria uma situação emergencial, já que, para ela, o imbróglio envolvendo os comerciantes do local não é recente.

Do Portal Jangadeiro direto para o Mensageiro da Realidade
Charge: Newton Silva

Existe um estilo tardio?

O que a proximidade do fim da vida representa para a obra de um artista



Dizem que idade e sabedoria caminham juntas. Tenho lá minhas dúvidas. Vi muito ancião tolo ou criança genial. O dramaturgo norueguês Henryk Ibsen (1828-1906) aloprou no fim da vida e produziu a grotesquerie Quando os mortos acordam, uma peça que ficaria bem como obra juvenil – mas que parece meio ridícula na imaginação de um homem de 70 anos. Do outro lado está o poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891). Aos 19 anos, ele já tinha realizado toda a sua obra exuberante e iconoclasta. Mas o padrão dominante na cultura e na vida é o juízo chegar com a maturidade. De fato, a proximidade da morte infunde um senso de urgência no indivíduo, em especial no artista. Ele é capaz de iluminar a totalidade da vida e da obra, como uma coda ou um epílogo justificador.

O acasalamento da ansiedade e da consciência da finitude daria à luz o “estilo tardio”. Como pode ser definido esse estilo? A resignação perante a morte; a transcendência, a superação dos sentidos e da vida em um mundo que deve ser deixado pra trás; o rompimento intransigente com os padrões sociais e artísticos – tudo parece caber na etiqueta de estilo tardio, a resposta final sob a forma de obra de arte. Continuo a achar a noção bem duvidosa.

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É preciso entender a expressão. Ela parece óbvia na música, na pintura e na literatura. A Décima Sinfonia, que o compositor austríaco Gustav Mahler deixou incompleta, ou as derradeiras telas de Tiziano e Rembrandt são exemplos de obras sombrias e maduras geradas nos últimos estertores dos artistas. William Shakespeare evocou a sabedoria dos velhos (e a converteu em obra de arte) em A tempestade e o O conto de inverno. Aos 86 anos, muito doente, o português José Saramago exibe energia em um blog formatado como testamento. Uma condição biológica – a velhice, ou a consciência do fim – parece se intrometer na forma e no método usados pelos artistas. A vida e a arte no fim das contas se influenciam entre si. Assim, o estilo tardio faz todo sentido.

O conceito foi empregado pela primeira vez pelo filósofo alemão Theodor Adorno no ensaio O estilo tardio de Beethoven, de 1937 – e retomado pelo ensaísta palestino Edward Said no livro Estilo tardio (Companhia das letras, 192 páginas, tradução de Samuel Titan Jr, R$ 43,50). Adorno analisou os seis últimos quartetos de Ludwig van Beethoven como o exílio do artista. A esse terceiro período da criatividade do compositor alemão pertenceriam a Missa soleminis, a Nona Sinfonia e as cinco últimas sonatas para piano. Com heroica teimosia, Beethoven teria se elevado em relação a seu tempo, criando peças musicais que desafiaram o público e os padrões de julgamento da crítica. Entre o mundo real e o novo universo sintetizado, o artista maduro não tem dúvida de optar pelo segundo. O estilo tardio seria então a vitória da arte sobre o tempo histórico – elevando a obra sobre a própria vida.

Ora, o salto transcendental que envolve o estilo tardio soa como pura metafísica. Said trata de colocar o conceito em perspectiva, pare despi-lo dos fantasmas. Para ele, o estilo tardio não passa de um impulso, para o bem ou para o mal. "Gostaria de explorar a experiência de um estilo tardio que tem a ver com uma tensão despida de harmonia ou serenidade, com uma produtividade coscientemente improdutiva, do contra...", afirma Said. Ele diz ainda que o estilo tardio a um tempo faz parte e está à parte do presente: “São poucos os artistas e pensadores capazes de levar seu ofício tão a sério a ponto de perceber que também ele envelhece e deve enfrentar a morte, sem poder recorrer senão à memória e aos sentidos em decadência”. As obras tardias, em uma palavra, carregam uma única mensagem: que todos vamos morrer, e que a morte deve ser encarada nos olhos. É a dramatização da lucidez in extremis. Said analisa então as obras finais de Mozart e Jean Genet, e a retirada de cena do pianista canadense Glenn Gould. Este "virtuose intelectual" se exilou dos concertos e dedicou seus últimos anos de vida (morreu aos 50, em 1982) à negação do mundo em nome da criação de gravações insuperáveis.

Edward Said estava às voltas com essas reflexões quando, numa terça-feira de manhã, em 25 de setembro de 2003, morreu, vitimado por um câncer. Planejava concluir o ensaio dali a três meses. Seu aluno em Princeton, Michael Wood, encarregou-se de prefaciar e organizar o material. Said tinha 67 anos e, segundo Wood, não viveu o suficiente para desesenvolver seu próprio “estilo tardio”. O texto de Said, um militante da intifada palestina, professor na Universidade de Columbia e pianista de concerto, soa como uma obra de um jovem virtuose. Se ele foi assombrado pela ideia do estilo tardio, acossado pela luta contra o câncer, nada indica que tenha sido levado por uma urgência a concluir o trabalho. E assim o próprio Said refuta a noção que tentou elaborar sem concuir. O estilo tardio, pelo menos com ele, não aconteceu. Seu temperamento não praticou essa operação, diferentemente de Beethoven ou Glenn Gould. Lamentável e ironicamente, Said deixou essas questões apenas esboçadas.

Isso me faz pensar que o estilo tardio não passa do resultado da imaginação e do inconsciente do artista. Ao divisar a morte se aproximando, ele precisa se reinventar como um sujeito que não tem mais tempo – e só lhe resta pensar grande. Em muitos casos, porém, só é possível compreender essa modalidade de estilo quando a vida e a obra do autor convergem para o mesmo final. Talvez sejam as obras incompletas as que melhor representem a condição humana. E nunca é tarde para um fragmento.

Luís Antônio Giron
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV