quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Longanimidade de Deus



O estudo mais impressionante e grandioso feito pelo homem é o da Divindade. A contemplação das perfeições divinas aquecerá as profundezas do coração, contanto que sejamos, naturalmente filhos Seus, nascidos do Seu Espírito. Deus é uma Pessoa perfeitamente equilibrada. Todos os Seus atributos operam harmoniosamente para o louvor de Sua glória. Cada um de nós, por causa do pecado, é de uma maneira ou de outra desequilibrado. Por natureza somos semelhantes ao filho pródigo que teve que tornar a si, antes que dissesse: "Levantar-me-ei e irei a casa de meu Pai". O pecado é uma forma de insanidade. Na conversão recebemos uma mente sã. Todos os atributos divinos são perfeitamente harmoniosos, fazendo dEle o grande e glorioso ser que é e sempre será. Deus é tão grande que só podemos estudar uma de Suas perfeições ou atributos de cada vez.

Deus não pode ser achado pela busca humana. Pode-se atravessar os céus límpidos e subir às alturas desconhecidas, mas não encontrará a Deus que "estende os céus como cortina". Isaías 40:22.

Pode-se viajar pelos mares todos e rodear o globo sem encontrar Aquele que se assenta sobre o globo da terra e que mediu as águas na palma de Sua mão. Pode-se estudar as flores e os insetos e ainda ser ignorante do Deus que os criou. Pode-se levar amostras de Suas obras ao laboratório e examiná-las, sem vir a conhecer o Criador, aquele que sendo conhecido é vida eterna. Deus não pode ser encontrado através dos sentidos físicos.

Todas as obras de Deus testemunham de Sua existência, mas nada dizem de Seu caráter nem perfeições morais. Suas obras nos dizem que Ele é (existe), mas nada dizem do que Ele é. Deus, em Seu caráter, só pode ser encontrado onde Ele já se revelou, isto é na Sua Palavra, a Bíblia. Os céus declaram Sua glória e o firmamento mostra a obra de Suas mãos, mas não falam dEle como legislador moral. No estudo do que a Bíblia diz a respeito dEle, vemos que o atributo da paciência ou longanimidade pertence à Sua natureza.

DEUS SE REVELOU A MOISÉS

Quando Deus deu as tábuas da lei a Moisés pela segunda vez, Ele desceu sobre o monte e proclamou o Seu nome, isto é, Ele descreveu Seu caráter no governo moral. Foi isto o que Deus disse a Moisés: "O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. Deus não Se revelou em forma física, antes revelou Suas perfeições como Espírito. Quando Israel pecou ao murmurar contra Deus, e Deus ameaçou exterminá-lo e fazer de Moisés uma nação maior, Moisés como mediador típico, rogou pelo caráter de Deus que lhe fora revelado no monte. Foi isto o que Moisés disse a Deus: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça, como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia". Números 14:17-18. Deus como governante moral é paciente ou longânimo.

LONGANIMIDADE

A longanimidade de Deus é uma qualidade da natureza divina que O faz tardio ao tratar com Seus inimigos. Deus não tem um ataque de ira quando provocado. A palavra hebraica, que às vezes é traduzido como "longânimo" ou às vezes "tardio em se irar," significa literalmente "com nariz longo" ou "respirar". Ira é indicada pela respiração rápida e violenta pelas narinas e o oposto é a longanimidade ou tardio em irar-se. Um touro bufante é um emblema de ira colérica. Mas Deus não Se assemelha a um touro, pronto a atacar, na obra do julgamento. Deus não Se apressa a punir Seus adversários. Ele não é como um ditador cruel e nervoso, impaciente para ver Seus inimigos mortos ao romper do dia. Deus é paciente com os rebeldes e esta paciência pertence a Sua natureza. Uma redenção geral ou universal não é necessária para acertar as contas pela longa demora da punição duma raça perversa e rebelde. O diabo, como também o homem, desprezou a Deus em todos os tempos, e ainda continua a desprezá-lO, não porque Cristo morreu pelo diabo, mas porque Deus é longânimo. Deus está esperando julgar, não quando Sua paciência Se esgotar, mas quando o cálice da iniqüidade do mundo se encher. A hora do julgamento fica por conta da Sua vontade e não depende de maneira alguma da Sua paciência. Ele é infinito em paciência e o julgamento não será um ato de impaciência, mas de severa justiça.

O PODER DO AUTOCONTROLE

A longanimidade pode ser definida como o poder divino do autocontrole. Era isto que Moisés queria dizer com as palavras: "que a força do meu Senhor se engrandeça, como tens falado, dizendo: !O Senhor é longânimo?". O grande poder de Deus é visto não somente ao controlar de Suas criaturas, mas a Si mesmo também. Deus não é rápido para Se irar; Ele não perde a cabeça. Ele tem pose perfeita e equilibrada. Ele não conhece a impaciência. Sua justiça, certamente é implacável, mas Ele não tem pressa em julgar Seus inimigos. Ele espera em perfeita paciência para vingar Sua honra e satisfazer Sua justiça. A. W. Pink diz: "A paciência divina é o poder que Deus exerce sobre Si mesmo, fazendo-O a suportar os perversos e demorar a puni-los". E Charnock, um dos mais nobres puritanos, disse: "Os grandes homens ao mundo são ligeiros em se irar, e não tão prontos a perdoar uma injúria, nem suportar um ofensor, como a um de nível mais perverso. É o desejo de poder sobre si próprio que faz o homem agir de modo inconveniente quando provocado. Um príncipe que controla a si mesmo é rei sobre si mesmo como também de seus súditos. Deus é tardio em Se irar por causa da grandeza de Seu poder. Ele tem tanto poder sobre Si mesmo quanto sobre Suas criaturas".

ILUSTRAÇÕES

Há muitas ilustrações sobre a paciência divina na história bíblica como também na observação dos acontecimentos em geral. A paciência de Deus já foi observada através de séculos de rebelião satânica e humana.

1. No tempo de Noé, a longanimidade de Deus foi grande. Lemos que a paciência de Deus esperou nos dias de Noé. 1 Pedro 3:20. Aqueles foram dias de perversidade, mas Deus foi tardio em puni-los. Mesmo após ter anunciado Seu plano de destruição do mundo, Ele esperou cento e vinte anos para cumprir Seu propósito de mandar o dilúvio. Aqueles eram dias quando a imoralidade sexual reinava; dias quando as ameaças divinas eram ignoradas; dias de zombaria ao pregador da justiça de Deus; mesmo assim Deus esperou para puni-los, pois Ele é o Deus paciente.

2. O período inteiro da época do Velho Testamento foi um tempo de longanimidade divina. Em Romanos 3:25, vemos que os pecados desse período foram remidos sob a paciência de Deus. Os pecados dos salvos do Velho Testamento foram tolerados até que Cristo viesse pagar pelos mesmos. Deus não puniu os pecados deles, pois estava esperando puni-los na pessoa de Cristo. Os pecados deles foram remidos antes de serem pagos. Foi assim: Cristo, na eternidade passada, tornou-Se o penhor daqueles que Lhe foram dados pelo Pai no concerto eterno, concordando em assumir a natureza humana, pagar seus débitos, satisfazendo assim a justiça divina pelos seus pecados. Isto foi anunciado imediatamente após a queda do homem. Gênesis 3:15. Mas passaram-se quatro mil anos antes da plenitude dos tempos, quando, Cristo, o penhor de um testamento melhor, viesse para obter a redenção das transgressões que se encontravam debaixo do primeiro concerto (testamento). Hebreus 9:15. E todo este tempo intermediário foi de paciência ou longanimidade. Deus não Se irou de maneira a executar o julgamento sobre os pecadores, pois isto reservara para o Seu Filho, o penhor. E enquanto esperava pela vinda do penhor para a satisfação da justiça, Ele ordenou os sacrifícios de animais, que não podiam satisfazer a justiça nem remir o pecado.

3. O tratar de Deus com Faraó é outro exemplo de Sua longanimidade. Paulo defende Deus contra críticas em seu tratar com Faraó quando diz: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição". Romanos 9:22 . A vontade divina a que se refere esta passagem é a de propósito. A vontade divina de propósito, em relação aos vasos da ira, tem a finalidade de demonstrar Sua ira e poder no julgamento dos mesmos, mas em longanimidade Ele os tolera até que pelos Seus próprios pecados sejam merecedores da destruição.

"Quantas vezes os homens se surpreendem pelo fato de Deus tolerar tanto mal quanto existe no mundo. Porque Deus não corta duma vez aos transgressores? A resposta é que Ele os suporta para a Sua própria glória e Ele será glorificado na condenação destes. Aos mortais, que sofrem de miopia, parece que seria melhor se Deus cortasse na infância os que pela Sua previsão visse como continuadores na iniqüidade. Mas Deus os suporta mesmo até a velhice e mesmo até aos limites extremos da iniqüidade para a honra e glória de Seu nome". Robert Haldane.

4. O tratar de Deus com Paulo demonstra Sua paciência com os "vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou". Romanos 9:23. Paulo mesmo nos explica tal fato: "Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna". 1 Timóteo 1:16. Dentre todos os judeus incrédulos, a conversão de Saulo de Tarso parecia ser a menos provável, pois antes era blasfemador, perseguidor e injurioso. 1 Timóteo 1:13. Mas no propósito divino ele era um vaso de misericórdia dantes preparado para glória, e no tratar com o mesmo Deus nos dá um padrão de Sua longanimidade.

E Pedro estava pensando nestes vasos de misericórdia quando explicou a demora do retorno do Senhor. Ele explica que não é por Deus relaxar em Sua promessa da segunda vinda, "mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se". 2 Pedro 3:9. Mas certamente nesta referência é a Sua vontade de propósito que nenhum dos são chamados "nos" pereçam. O "nos" deste texto é o mesmo "amados" do versículo um e são distintos dos "escarnecedores" do versículo três. E o versículo quinze pondera esta interpretação: "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor". A longanimidade de Deus opera na salvação dos vasos de misericórdia. É assim: Nós que somos salvos, éramos por natureza filhos da ira, do mesmo modo que os outros, e precisávamos nos arrepender. Se Cristo houvesse retornado antes de nos arrependermos, teríamos perecido. Quando Ele retornar, o dia de salvação será findo, e começará o julgamento, e se Ele tivesse vindo cinco ou dez anos passados, muitos dos que agora são salvos teriam perecido em seus pecados e a vontade de Deus teria sido frustrada. Sabemos que isto não pode acontecer nunca.

A PACIÊNCIA DE DEUS É GRANDEMENTE MALTRATADA E ABUSADA

O exercício deste atributo leva os homens a pecarem com mais audácia. "Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal". Eclesiastes 8:11. Os homens confundem a paciência de Deus com a crença de Sua não existência. Pelo fato de pecarem e não serem imediatamente punidos, concluem que não existe um legislador moral a quem darão conta. Um fazendeiro pensava ter provado a não existência de Deus. Tomou certa porção de suas terras para uma experiência. Preparou o solo num domingo, plantou num domingo, todo o cultivo foi feito aos domingos e no primeiro domingo de outubro ele colheu uma ceifa maior desta porção de terra do que de todas as outras. O fazendeiro, então, escreveu ao editor dum jornal mandando os resultados da experiência, escarnecendo da idéia dum Deus. O editor respondeu com poucas palavras, mas acertadamente: "Lembre-se de que Deus não ajusta as contas no primeiro domingo de outubro".

Bob Ingersol pensava ter demonstrado a não-existência de Deus dando cinco minutos contados para matá-lo. Quando um grande pregador da Inglaterra ouviu sobre isto, replicou: "Será que este senhor americano pensa em esgotar a paciência de Deus em cinco minutos"?

Se o crente não entender este atributo da longanimidade de Deus, ele ficará frustrado por Deus não esmiuçar nem exterminar tanta maldade quanto existe. Bendito seja o Seu nome! Certamente tudo isso acontecerá, mas Deus espera em Sua longanimidade pelo amadurecimento de Seus propósitos. Enquanto Ele espera, alguns se preparam para a justa destruição e outros por Sua graça, estão sendo modelados a serem vasos de glória. Em humildade e gratidão digamos como o poeta:

"Senhor, muito temos maltratado Teu amor, longo tempo passamos no pecado, nossos corações sangram em ver, com dor, quão rebeldes fomos".


terça-feira, 28 de abril de 2009

Congresso Uma farra aérea com o nosso dinheiro


Virou agência de viagem


Deputados usam cota de passagem aérea doCongresso Nacional para passeios com namorada,esposa, filhos, parentes, amigos e até para negócios



Nas democracias tradicionais, o mau uso do dinheiro público é considerado pela sociedade algo repugnante, imperdoável, um crime hediondo que merece desprezo e severas punições para os responsáveis. No Brasil, ao contrário, alguns políticos ainda se comportam como se estivessem na pré-história do desenvolvimento moral e, sem nenhum pudor, promovem uma verdadeira farra com os recursos recolhidos do contribuinte. Flagrados, não se constrangem, mentem e inventam desculpas estapafúrdias para tentar minimizar o caso. Fora os eleitores potiguares, pouquíssima gente já tinha ouvido falar do deputado Fábio Faria, do PMN. Jovem, rico e boa-pinta, ele está no Congresso desde 2007 e, na semana passada, credenciou-se como o mais novo membro do clube da patuscada. Com uma atuação parlamentar insignificante, Faria era conhecido apenas pelo excelente desempenho com belas modelos e atrizes famosas. O jovem deputado também tinha o hábito de usar passagens aéreas da cota de seu gabinete para deliciosos passeios – um deles, a Miami, em companhia da apresentadora de televisão Adriane Galisteu, então sua namorada. Bom moço, o parlamentar também descolou passagem para a futura sogra.
Antes de se eleger deputado, Fábio Faria era popular no Rio Grande do Norte na função de promoter de festas de Carnaval. Seu camarote sempre foi disputado por políticos e celebridades locais. Em 2007, já deputado, a festa contou com a presença dos artistas da Rede Globo Samara Felippo, Sthefany Brito e Kayky Brito. O custo das passagens foi debitado na conta da Câmara dos Deputados. Denunciado pelo portal Congresso em Foco, o deputado teve a reação típica: primeiro negou, depois disse que não havia nada de ilegal e, por fim, devolveu 21 000 reais – o valor correspondente às passagens dos artistas, da sogra e de alguns amigos que pegaram carona na farra. Com relação aos sete bilhetes que emitiu em favor de Adriane Galisteu, Fábio Faria disse que não via necessidade de devolver o dinheiro, já que a apresentadora era sua companheira e não havia nada de mais em a Câmara bancar as viagens dela no Brasil e no exterior. "Foi um erro pontual", explicou Faria. É chocante a desfaçatez do nobre deputado diante do caso. Porém, mais chocante ainda é a amplitude da indignação vista no Congresso: nenhuma. E por uma razão elementar: o jovem deputado potiguar apenas fez o que a maioria de seus colegas habitualmente faz – como tem ficado evidente diante dos escândalos dos últimos dois meses.

O uso de passagens oficiais para fins pessoais é mais um capítulo do festival de malandragens que alguns parlamentares dos mais diferentes partidos promovem com o nosso dinheiro. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), por exemplo, foi para Bariloche, na Argentina, com a mulher e a filha. Seu colega Inocêncio Oliveira (PR-PE), que até o início do ano era o corregedor da Câmara, uma espécie de fiscal do bom comportamento dos outros, pagou viagem da mulher, das filhas e de uma neta para os Estados Unidos e a Europa. Para pegar o bonde, ou melhor, o avião do Congresso, nem precisa estar no exercício do mandato. Três deputados que estão licenciados para ocupar o cargo de ministro – José Múcio, das Relações Institucionais, Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, e Reinhold Stephanes, da Agricultura – viajaram 64 vezes à custa da Câmara em companhia da mulher, filhos e parentes, isso apesar de terem à disposição jatinhos da Força Aérea Brasileira. No Senado, não é diferente. Político influente e respeitado, além de milionário, Tasso Jereissati gastou 500.000 reais de dinheiro público para alugar jatinhos utilizados em compromissos partidários. Sem limites, há até exemplos de parlamentares que vendem as passagens e embolsam o dinheiro. O Ministério Público investiga denúncias assim e já identificou pelo menos dois casos, envolvendo os deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Fernando de Fabinho (DEM-BA). Dependendo do estado de origem, a cota do parlamentar pode chegar a 18 000 reais mensais. Um belo complemento de renda.
Bons salários, benefícios e alguns privilégios existem no Legislativo de todas as grandes democracias do mundo. "O problema no Brasil é que se tenta manter tudo secreto", diz o cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Os parlamentares, além do salário de 16 500 reais, têm direito a uma verba de 50 000 reais para contratar assessores, 15 000 reais para despesas de manutenção, 3 000 reais de franquia telefônica e mais 3 000 reais de franquia de correios. Até o início do ano, nada disso estava sujeito a algum tipo de fiscalização. Usava-se o dinheiro para contratar empregadas domésticas e empresas de amigos, entre outras falcatruas. "A principal instância representativa do país foi apropriada pelos deputados para fins privados. Para a instituição ser utilizada dessa maneira escusa, é vital a falta de transparência", avalia o filósofo Denis Rosenfield, professor de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na semana passada, no vácuo das denúncias, a Câmara anunciou corte de 20% nas despesas de passagens aéreas e normatizou o uso da cota. As medidas, porém, apenas legalizam parte do que fez o deputado Faria e outros colegas. "O ato de devolver o dinheiro é um reconhecimento de que o deputado não agiu de forma adequada. Não posso deixar de considerar que houve no mínimo um descuido", analisa o corregedor da Câmara, o deputado ACM Neto. "Eu não tinha a menor ideia da procedência do dinheiro que pagaria as passagens. Jamais teria saído da minha casa se soubesse desse absurdo", disse a atriz Samara Felippo. "Achei o fim do mundo. Estou longe de ser uma mulher ingênua, mas jamais vou saber a procedência de um presente", afirma Adriane Galisteu. Em todos os meus namoros, sempre presenteei e ganhei presentes sem ter de me preocupar com isso. Mas nunca tinha namorado um político. É duro, né?" É.


Otávio Cabral - Direto de VEJA para o Mensageiro da Realidade

quinta-feira, 23 de abril de 2009

10 ANOS SEM KUBRICK

Para alguns abnegados, “impossível” não passa de uma palavra num dicionário, um conceito abstrato, que está aí para ser desafiado. O cineasta Stanley Kubrick era uma dessas pessoas raras. O projeto de cinema que o cineasta nascido em Nova York levou a cabo, em treze longas-metragens, não tem paralelo. Normalmente, a obra de todo grande diretor de cinema possui um fio condutor, um tema ou característica estética que se desdobra por diversos filmes, por mais diferentes que eles pareçam. Kubrick subiu ao panteão máximo da atividade sem obedecer a este postulado. A rigor, o único elo entre os trabalhos que ele dirigiu na maturidade está na vontade obsessiva de ir mais longe do que qualquer outro cineasta que o antecedeu.
Obsessão é a palavra-chave para entender quem foi Stanley Kubrick. No documentário “Imagens de uma Vida”, o veterinário da família conta uma história que dá a medida exata de como o cineasta era maníaco por detalhes. Ele diz que certa vez pediu a Kubrick que medisse a quantidade de água bebida por um dos gatos da casa, então doente. O diretor respondeu ser impossível, já que todos os felinos – ele tinha vários – bebiam da mesma tigela. No dia seguinte, quando o médico já esquecera o incidente, recebeu um telefonema de Kubrick. Ele descobrira uma maneira de conseguir a informação: passara o dia inteiro na cozinha, a contar quantas lambidas o gato doente dava na água. Calculando também a quantidade de água absorvida por cada lambida, chegara à quantidade correta.
Kubrick passeou pelos gêneros mais díspares. Fez filmes de guerra (“Glória Feita de Sangue”, “Nascido para Matar”), noir (“O Grande Golpe”), ficção científica (“2001 – Uma Odisséia no Espaço”), comédia (“Dr. Fantástico”), aventura futurista (“Laranja Mecânica”) e de época (“Barry Lyndon”) e até horror (“O Iluminado”). O objetivo era sempre o mesmo: produzir a obra-prima – o filme perfeito – de cada gênero. Qualquer pessoa comum que outorgasse a si próprio tal projeto pareceria arrogante e megalomaníaca. Só que Kubrick não tinha nada de comum. Ele foi, talvez, o único cineasta de todos os tempos a justificar tamanha megalomania com o mesmo tanto de talento. Não à toa, seu nome está inscrito no seleto grupo de realizadores – junto com Griffith, Welles, Fellini e talvez Bergman – que mudou a cara do cinema, justificando o título de Sétima Arte recebido pela atividade.
Ao contrário de muitos colegas de profissão, Kubrick tinha consciência exata do tamanho do talento que possuía. Como um autêntico superdotado, a escola lhe dava tédio – e as notas baixas forçaram a família a deixá-lo abandonar as salas de aula, antes de completar o Segundo Grau. Adolescente, foi ganhar a vida jogando xadrez a dinheiro, em tabuleiros no Central Park, em Nova York. Sua paixão, no entanto, era a imagem. Usando uma máquina fotográfica presenteada pelo pai, Kubrick vendeu sua primeira foto para a revista Look aos 16 anos. Um ano e vários trabalhos mais tarde, já estava empregado. Mas a carreira de fotógrafo não lhe entusiasmava tanto quanto o cinema (“o melhor trenzinho que uma criança pode ganhar”, segundo a célebre definição de Orson Welles). Fez o primeiro curta-metragem aos 22 anos. Em 1953, aos 25, dirigiu o primeiro longa, “Fear and Desire”. O pai, sempre botando fé no gênio do filho, penhorou uma casa para bancar a película. O resultado, porém, não agradou a Kubrick, que retirou o filme de circulação um ano depois. O trabalho jamais seria lançado novamente, em qualquer formato.
Dois anos depois, ainda no sistema independente, Kubrick fez “A Morte Passou por Perto”, um autêntico noir, que chamou a atenção da crítica pela sinistra seqüência no clímax, com dois homens lutando dentro de uma sala cheia de manequins. Foi com “O Grande Golpe” (1956), porém, que o diretor chamou a atenção de Hollywood. A narrativa labiríntica sobre um grupo de ladrões espertos que arma assalto sofisticado a um hipódromo mostrou ao mundo que ali estava um cineasta completo. Kubrick, porém, ensaiava vôos mais altos. Ele tinha consciência de que precisava adquirir conhecimento cinematográfico, e usou os três filmes como aprendizado, fazendo de tudo. Além de dirigir, também escreveu os roteiros, fez a direção de arte, fotografou, montou e editou o som dos longas. Tudo isso lhe permitiria, futuramente, inovar em virtualmente todas as áreas do cinema, da produção de cenários às técnicas avançadas de efeitos especiais.
“Glória Feita de Sangue” (1957) é considerado o primeiro grande filme de Stanley Kubrick. Trata-se de um drama de guerra estrelado por Kirk Douglas e ambientado nas batalhas do primeiro grande conflito mundial (1914-1918). Era o início do projeto de cinema de Kubrick. Pela primeira vez, o cineasta se sentia suficientemente seguro para desobedecer as convenções de um gênero e reinventá-lo por completo. Até então, todo filme de guerra que se preze narrava a história de um herói. “Glória Feita de Sangue”, pelo contrário, usava a covardia para analisar friamente as ambições políticas e as tendências destrutivas do comportamento humano. O resultado foi tão bom que levou Kirk Douglas a convidar Kubrick para assumir seu filme seguinte, “Spartacus” (1960).
O primeiro épico sobre o Império Romano sem a presença de Jesus Cristo como coadjuvante elevou o nome de Kubrick ao posto de gênio do cinema. A experiência, porém, desagradou ao cineasta. Nos sets, demitiu atores e teve uma briga homérica com o experiente fotógrafo Russell Metty. Este último pediu para ter o nome retirado dos créditos porque Kubrick, teimoso e dominador, o obrigava a usar lentes e iluminar as cenas de um modo que Metty considerava inadequado. Meses depois da estréia, acabou empunhando o Oscar de melhor fotografia, com um dos maiores sorrisos amarelos da história do prêmio. Esta briga, contudo, não foi a mais famosa entre as diversas travadas durante as filmagens.
Na pós-produção, Kubrick deu uma demonstração definitiva de que não tinha limites, nem mesmo éticos, para atingir objetivos. Sabedor de que o roteirista Dalton Trumbo não podia assinar a obra (ele estava proibido de trabalhar em Hollywood, por ter se recusado a dedurar comunistas durante o MacCarthismo), o diretor sugeriu ao astro e produtor, Kirk Douglas, que o deixasse levar crédito pelo roteiro. Douglas, furioso, recusou – e contribuiu para derrubar a censura em Hollywood ao pôr o nome de Trumbo na abertura. Depois do episódio, Douglas e Kubrick cortaram relações. Anos depois, ao ser questionado sobre o cineasta, o ator foi incisivo: “Você não precisa ser boa pessoa para ser um gênio. Stanley Kubrick é um gênio e um idiota”.
Insatisfeito com a falta de liberdade experimentada em uma grande produção, Stanley prometeu a si mesmo que jamais faria novamente um filme em que não tivesse controle criativo total sobre o processo. Deu, então, uma reviravolta definitiva na carreira. Mudou-se para uma casa de campo na Inglaterra, tornou-se um recluso – raramente dava entrevistas, e quase nunca fazia aparições públicas – e assinou um contrato de exclusividade com a Warner. O estúdio, reconhecendo o gênio inovador de Kubrick, lhe oferecia carta branca para fazer qualquer filme que desejasse, na época em que desejasse, com o elenco que desejasse. Até o fim da vida, Kubrick jamais trabalharia para outro estúdio, desfrutando de uma liberdade criativa que nenhum outro cineasta de sua época obteve. Também jamais deixaria a Inglaterra.
O primeiro projeto dentro deste contrato, porém, deixou os executivos da Warner de cabelo em pé. “Lolita” (1962) adaptava o polêmico romance de Vladimir Nabokov, sobre um professor que nutre uma paixão explosiva por uma menina de 12 anos. Kubrick foi obrigado a aumentar a idade da personagem para 14 anos, e a escalar uma atriz para o papel que não tivesse seios desenvolvidos. Qualquer referência à prática de sexo entre os personagens deveria ser sumariamente excluída. Ao final das filmagens, o diretor reclamaria do resultado, julgando que as imposições o haviam impedido de fazer o filme que desejava. Mesmo assim, criou uma das cenas de erotismo mais vibrantes que o cinema havia visto até então: o momento em que o professor, siderado de desejo, pinta as unhas do pé da ninfeta, praticamente babando na gravata.
A seguir, Kubrick partiu para a comédia. “Dr. Fantástico” (1964) satiriza a Guerra Fria com senso de humor mordaz, ao mostrar como um militar de miolo mole podia, sozinho, dar início a um apocalipse nuclear. A interpretação magistral de Peter Sellers (em três papéis completamente diversos entre si) e o clímax impagável, com o piloto caubói que “monta” a bomba atômica como se fosse um cavalo, dão o tom de ironia feroz. Era a preparação para a maior ousadia do cineasta. O épico sci-fi “2001 – Uma Odisséia no Espaço” tinha a pouco singela ambição de discutir o lugar do homem no universo. As reações foram, como se hábito, polêmicas. Pauline Kael, maior autoridade entre os críticos durante a virada dos anos 1960/70, liderou o bombardeio, chamando-o de “filme amador mais caro já feito”.
Woddy Allen, que detestou o longa ao vê-lo pela primeira vez, talvez seja o autor do melhor raciocínio sobre ele. Muitos anos depois, ao revê-lo, Allen começou a mudar de opinião. Na terceira revisão da obra, capitulou: “É uma das raras vezes em que tenho que engolir que um diretor está muito à frente de mim”, anuncia, no documentário “Imagens de uma Vida”. Com “2001”, além da fama de polêmico, Kubrick ganhava também o rótulo de visionário. Afinal de contas, ele havia feito um filme sobre o espaço antes que o homem saísse da atmosfera terrestre. Quando isso aconteceu, alguns meses depois, o mundo inteiro viu que Kubrick havia previsto o espaço com impressionante riqueza de detalhes. A visão da Terra que se tinha de lá, por exemplo, era exatamente aquilo que se vê na tela.
“Laranja Mecânica” (1971) não contribuiu em nada para melhorar a fama de recluso e polêmico do diretor. A sátira futurista escancara de vez o pessimismo de Kubrick em relação ao futuro da humanidade – e as radicais alterações na trama do romance de Anthony Burgess levaram o escritor a declarar ódio mortal ao cineasta, algo que já havia acontecido também com Nabokov. Kubrick não deu muita bola. Em “Barry Lyndon” (1975), aplicou ao passado a mesma abordagem meticulosa que havia dedicado ao futuro. Sua obsessão em detalhes chegou ao auge. Em busca da representação mais fiel possível da realidade, Kubrick obrigou a figurinista Milena Canonero a passar dois anos freqüentando leilões de roupas do século XVI, de forma que todos os figurinos usados pelos atores fossem mesmo roupas reais de 300 anos antes. Para poder filmar à noite usando apenas a luz de velas, o diretor usou uma lente do telescópio Hubble, emprestada pela Nasa, capaz de captar imagens em condições mínimas de iluminação.
Por tudo isso, a fama de excêntrico de Kubrick só fazia crescer. Para “O Iluminado” (1980), ele construiu todos os cenários simultaneamente. Ao acordar, decidia de supetão, baseado no estado de espírito, que cena iria filmar. Tratava aos berros a atriz principal, Shelley Duvall, porque queria que ela estivesse permanentemente sob tensão, com os nervos em frangalhos, já que era assim que a personagem permanecia durante quase toda a narrativa. Kubrick ainda voltaria à guerra (“Nascido para Matar”, de 1987) e faria uma incursão sombria pelas obsessões sexuais de um burguês (“De Olhos Bem Fechados”, de 1999), antes de morrer de ataque cardíaco, durante o sono, em 7 de março de 1999. Fazia apenas três dias que ele acaba de editar o último filme. É bem provável que tenha usado sua habilidade no xadrez para jogar uma partidinha com a Morte, de modo a ganhar tempo e finalizar o trabalho. Para Stanley Kubrick, é bom lembrar, nada era impossível.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Morre o escritor J.G. Ballard, autor de 'O Império do Sol'

Ele também ficou conhecido pelo romance 'Crash', transformado em filme por David Cronenberg.

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- O escritor britânico J.G. Ballard morreu na manhã deste domingo, aos 78 anos, após "ter passado muitos anos doente", segundo sua empresária, Margaret Hanbury. Filho de um executivo britânico, James Graham Ballard nasceu em Xangai, na China, e cresceu na comunidade de expatriados da cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando era adolescente, ele passou três anos em um acampamento administrado pelo Exército japonês. A experiência foi relatada no livro semi-autobiográfico O Império do Sol, transformado em um filme dirigido por Steven Spielberg, e que tornou Ballard conhecido mundialmente. Entre seus 15 romances e dezenas de contos, está o polêmico Crash: Estranhos Prazeres, que conta a história de um grupo de pessoas com fascinação sexual por acidentes de carro, e que foi levado às telas pelo também controverso diretor David Cronenberg em 1996. Seu último romance foi O Reino do Amanhã, de 2006. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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Da BBC Brasil para o Mensageiro da Realidade

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Reforma da Lei Rouanet

MinC disponibiliza espaço para sugestões e comentários sobre a proposta de reformulação
Jornal iTEIA
O Ministério da Cultura deverá encaminhar ao Congresso Nacional, no próximo ano, proposta de reformulação da legislação federal de financiamento à Cultura, que será elaborada a partir de ampla consulta pública.
A legislação - atualmente baseada nos mecanismos Mecenato e Fundo Nacional de Cultura - necessita de ajustes que considerem a diversidade da cultura brasileira, levem a uma melhor distribuição regional dos recursos e ampliem o apoio a atividades que promovam a inclusão sociocultural da população.
Desde o início do Governo Lula, o MinC tem promovido séries de debates com a sociedade para o aprimoramento da Lei Federal de Incentivo à Cultura: o Seminário Nacional Cultura para Todos, em 2003 e 2004, que resultou no Decreto nº 5.761/2006; o Fórum Nacional de Financiamento da Cultura, que vem sendo realizado em todas as regiões brasileiras; e, mais recentemente, os Diálogos Culturais nas principais capitais do país.
A série Diálogos Culturais conta com uma apresentação do ministro da Cultura, Juca Ferreira, que traz um balanço das ações do MinC nos últimos seis anos, mostra as distorções provocadas pelo atual modelo determinado pela Lei Rouanet e as linhas gerais da proposta para dinamizar e democratizar o acesso ao financiamento da Cultura.
Para divulgar todas essas iniciativas, o Ministério da Cultura criou o Blog da Reforma da Lei Rouanet, no qual foi disponibilizada a apresentação dos Diálogos Culturais (www.cultura.gov.br/dialogosculturais), além dos documentos, dados e propostas de alteração elaborados tanto pelo MinC quanto pela sociedade nos diversos fóruns de debates.
O Blog da Reforma da Lei Rouanet também é um espaço voltado para receber sugestões e comentários sobre a proposta de reformulação da legislação de fomento à Cultura. Confira no seguinte endereço eletrônico:
blogs.cultura.gov.br/reformadaleirouanet.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A FORTALEZA DA BELLE ÉPOQUE


Na segunda metade do século XIX, Fortaleza foi palco de efervescentes movimentos sociais e culturais como a campanha abolicionista, o movimento republicano e a agremiação literária Padaria Espiritual. A cidade se modernizava rapidamente. Idéias de civilização, progresso e europeização inspiravam a elite fortalezense.Nesse período, o intendente (prefeito) Antonio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira) encomendou ao engenheiro Adolfo Herbster a elaboração da "Planta Topográfica de Fortaleza e Subúrbios" para atualizar o traçado urbano na forma de xadrez esboçado, em 1918, por Silva Paulet.A cidade se aformoseava. Junto com a planta, vieram bondes de tração animal, iluminação a gás carbono, linhas de navios da Europa e do Rio de janeiro, biblioteca, jornais, clubes para lazer, fábricas de tecidos, a Santa Casa de Misericórdia, mercado público, caixas postais, estradas de ferro, telégrafo, telefone, entidades intelectuais e cemitérios.Enfim, o sopro da modernidade mudava a face da antiga cidade peovincial. Fortaleza evoluiu de uma acanhada capital, para o verdadeiro centro político, econômico e social de todo o Ceará.A elite fortalezense, constituída por comerciantes, bacharéis e profissionais liberáis, tinha notória influência do exterior, em especial da França. O "chic" era usar palavreado francês e saber a última moda parisiense. Esse período ficou conhecido como "Fortaleza Belle Époque".A nossa cidade respirava ares cosmopolitas, mas a influência francesa era predominante. Enquanto boa parte da população falava "oxente", "arre égua", "rebolar no mato" ou "apertar o biloto", a elite enfeitava o seu vernáculo com expressões gaulesas como "bonjour" ou "au revoir". A elegância exigia ternos e vestidos longos mesmo com tórrido calor; lojas ganhavam nomes estrangeiros e os mais abastados viajavam para a Europa.Entre os pontos de destaque desses tempos, pode-se citar a Praça do Ferreira. Sua importância cresceu, em grande parte, pela ação do Boticário Ferreira, que promovia entrudos e arrumava mil e um pretextos para que pessoas viessem à praça onde se localizava a sua farmácia.Com o tempo, a burguesia começou a desejar entidades de lazer exclusivas para ela. Então, no ano de 1867, foi fundado o Clube Cearense, frequentado apenas pela elite fortalezense e onde havia festas suntuosas, jogos de recreação, novas danças e atividades culturais para o seleto grupo de associados, composto pelos mais notáveis homens de negócios locais e estrangeiros.A atitude seletiva do Clube fez com que um grupo de burgueses emergentes, irritados por não poderem participar dele, criasse outra sociedade, o Clube Iracema. A partir daí os dois clubes começaram a disputar para ver qual organizava os maiores eventos.Provavelmente, o mais notável ponto de encontros, contatos e namoros desses grupos era o Passeio Público, inaugurado em 1880 (em frente à sede do Clube Cearense), onde se localizava a antiga Praça dos Mártires, que foi remodelada com bancos, canteiros, jardins, réplicas de esculturas clássicas e três avenidas onde se dividiam os grupos sociais.Na primeira, a formosa Avenida Caio Prado, onde, com o contraste da bela vista ao mar, desfilavam os homens e mulheres da elite, com seus ternos bem cuidados e seus grandes vestidos; já a segunda e terceira avenidas, Carapinima e Mororó, eram por onde pesseavam as pessoas da classe média e baixa da cidade.Parece que essa divisão era "espontânea", pois não havia regulamentação oficial nesse sentido. No entanto, é preciso considerar que tal separação ocorreu por conta de uma espécie de segregacionismo social. Em outras palavras, o Passeio Público "era um local para todos... mas separadamente" (PONTE, 2004, p.170).A Praça do Passeio Público, com suas árvores centenárias, sua vista magnífica e estrutura imponente, atraía cada vez mais visitantes para suas belas avenidas, tornando-se um verdadeiro cartão de visitas de Fortaleza. Assim, parece-me que o Passeio Público constitui um importante patrimônio histórico e pode ser novamente a maior Praça de Fortaleza, local de encontro, de trocas sociais, de redescoberta do centro da cidade e de suas tantas histórias...

Lucas Aquino Ferreira / Foto: Don Raffaè Pajata

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A ESPADA NEO-LIBERAL QUE DIZIMA O HOMEM

Ainda estou absolutamente estarrecido com duas notícias da realidade de nosso país que me fizeram perder o sono e até verter lágrimas em cima do pano da bandeira de nossa pátria. Creio que não só eu mas todos os homens e mulheres com um pingo de decência nas veias sentiram este supremo e doloroso golpe.
Senão vejamos: uma instituição de combate a pobreza de uma universidade local divulgou um estudo que reitera, com base nos dados colhidos, uma assustadora conclusão: nada mais nada menos do que 92% da populaçao do Estado do Ceará encontram-se, ou em extrema indigência (vivendo com um oitavo do salário mínimo por mês) ou em indigência (vivendo com um quarto do salário mínimo por mês) ou classificados como pobres (vivendo com a metade de um salário mínino por mês). E, a despeito dessa aterradora notícia, estampada em letras garrafais em um periódico local, certos setores da política anunciaram a aprovação quase total (apenas um parlamentar votou contra) da construção de uma aquário na Praia de Iracema que vai sugar dos cofres públicos 250 milhões de reais, sob o pretexto de incrementar o turismo. Detalhe: o estudo a que me referi calculou em 240 milhões de reais o valor necessário para minimizar o sofrimento dos 92% dos deserdados do Estado do Ceará. Veja bem, minimizar e não sanar. Ou seja, menos do que a verba destinada a sandice do tal aquário, numa verdadeira afronta à população que paga a maior carga tributária deste velho planeta nos turbulentos dias atuais. Não estamos diante de um Império Romano moderno, quando a política do pão e circo enganava a fome do populacho, sufocando com tributos exorbitantes seus cidadãos e carregando às arenas lotadas a ralé no vil espetáculo da matança dos gladiadores, eles mesmos comprados do seio da cidadela?
Recentemente mudei-me para o Centro de minha amada cidade de Fortaleza e passei a constatar com meus próprios olhos a credibilidade deste estudo. Não tem uma esquina onde eu não dê de cara com um miserável ou uma miserável pedindo esmola, comendo lixo, dormindo ao relento, morrendo nas ruas ou empurrando aqueles carinhos de reciclagem que já figuram como cartões-postais de Fortaleza. Não tem hospital, não tem moradia, não tem política social, não tem emprego. Não tem nada. O Estado só quer arrecadar. A espada do neo-liberalismo está lá, na garganta do nosso povo. Tais fatos me levam a refletir sobre a quantas anda a cabeça de nossos representantes nos parlamentos, nas câmaras, nas assembléias e no Senado Federal, este atingido por um mar de bosta tamanho que me dá asco. Estes caras atuam em benefício próprio, eles não tem sensibilidade e enquanto isso, o Big Brother Brasil atua como se fosse um novo espetáculo de gladiadores, alienando a massa. Já não consigo mais escrever. Depois volto a falar deste assunto.

Mensageiro da Realidade

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A PAIXÃO DE CRISTO: POR QUÊ?


Por que Jesus derramou Seu sangue na cruz?


"Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação [um sacrifício que paga a culpa] em virtude da vida" (Levítico 17.11).
"Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão [perdão dos pecados]" (Hebreus 9.22).
Por que a crucificação foi tão traumática?
"Certamente, ele [Jesus] tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões [pecados] e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Isaías 53.4-5).
De quem foram os pecados que pregaram Jesus na cruz?
"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade [pecado] de nós todos" (Isaías 53.6).
A morte brutal de Cristo foi profetizada?
"Como pasmaram muitos à vista dele [Jesus] (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens)" (Isaías 52.14).
Obediência
Por que a crucificação de Cristo foi necessária?
"E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado [na cruz], para que todo o que nele crê tenha a vida eterna" (João 3.14-15).
O que Jesus quis dizer ao clamar "Está consumado!"?
"Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo [templo], não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção" (Hebreus 9.11-12).
Jesus é o único caminho para Deus?
"Respondeu-lhe Jesus. Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14.6).
O que Deus pensou da crucificação do Seu Filho?
"Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos" (Isaías 53.10).
Perdão
Qual foi o resultado do derramamento do sangue de Jesus?
"No qual [em Jesus] temos a redenção [resgate da culpa do pecado], pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça" (Efésios 1.7).
Por que a crucificação de Cristo é importante?
"Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito" (1 Pedro 3.18).
O sacrifício individual de Cristo é suficiente?
"E ele [Jesus] é a propiciação [satisfação da justiça de Deus] pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro" (1 João 2.2).
O sacrifício de Cristo deve ser repetido?
"Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação" (Hebreus 9.28).
Por que a cruz provoca divisões?
"Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus" (1 Coríntios 1.18).
Sua resposta
Qual será a sua decisão em relação a Jesus?
Essa é uma pergunta que apenas você pode responder. Deus lhe dá o privilégio de conhecer Seu plano completo de salvação. Ele lhe oferece a vida eterna através daquilo que Jesus Cristo fez por você: Ele morreu [pelos seus pecados], foi sepultado e ressuscitou [para lhe dar nova vida]. Você admite humilde e submissamente diante de Deus que necessita de Jesus Cristo em sua vida?
"Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai" (Filipenses 2.9-11).
Como você pode responder a Jesus?
Volte (arrependa-se): "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados" (Atos 3.19).
Confie (creia): "Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa" (Atos 16.31).
Receba (obedeça): "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome" (João 1.12).


"Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26.39)
Jesus estava disposto ao sacrifício
Jamais poderemos avaliar a profundidade dessa oração de Jesus no Getsêmani. Não que Jesus não quisesse seguir o caminho da morte como Cordeiro de Deus. Nesse sentido Ele já tinha tomado Sua decisão, que anunciou previamente aos Seus discípulos: "Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá" (Mt 20.18-19). Nessa única frase Jesus predisse de maneira compacta todos os acontecimentos da Paixão e da Páscoa. Através da Sua concordância com a vontade de Deus em seu aspecto mais central, Ele mesmo tornou-se o centro da vontade divina.
A salvação da humanidade tem seu fundamento na concordância de Jesus em caminhar em direção ao Calvário. Para Ele e o Pai não havia outro caminho para a salvação de pecadores ímpios. Mas esse caminho tinha de ser assim tão penoso e horrível para o amoroso, puro e inocente Filho de Deus? Gostaríamos de tê-lO poupado desses grandes sofrimentos! Seu discípulo Pedro também pensava assim: "E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens." (Mt 16.22-23). Esta passagem mostra de maneira extremamente nítida o abismo, provocado pela queda, entre a forma de pensar humana, afetada pelo pecado, e os desígnios de Deus. A maneira humana de pensar, que ficou sujeita à influência de Satanás, rejeita caminhos de sofrimento. Temos de aprender a pensar conforme a maneira de Deus, da forma como ensinam as Escrituras. Foi a vontade de Deus que Seu Filho bebesse até a última gota o amargo cálice do sofrimento, suportasse o maior escárnio e as mais profundas dores físicas e emocionais. E Jesus concordou com esse caminho, dizendo "Sim, Pai!" Somente esse caminho levava à nossa salvação e à Sua maior glória e plenitude de poder. Por mais profundamente que uma pessoa tenha caído, se pedir perdão pelos seus pecados, recebê-lo-á. Jesus não oferece uma graça barata, sem valor, porque conquistou-a com Seu sangue. E qual foi a resposta que Deus, o Pai, deu a Seu Filho quando este orou: "...todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres"? – Nenhuma! Deus se calou nessa hora. Não houve mais resposta. Essa foi a provação mais forte pela qual Jesus teve de passar: não receber mais resposta de Deus quando mais precisava dela. Jesus poderia ter desesperado nessa hora; Ele, que sempre foi um com o Pai, que podia dizer: "eu sabia que sempre me ouves" (Jo 11.42). Deus se calou, e o Filho seguiu pelo caminho do sacrifício mesmo quando a comunicação com o Pai foi interrompida. Não podemos avaliar o significado mais profundo desse fato. Uma missão assim tão difícil só podia ser confiada ao Filho amado de Deus. E Ele seguiu esse caminho por amor a você e a mim. Só dessa maneira Deus pôde salvar as pessoas da impiedade delas. Nessa hora, nossa salvação estava em jogo.
Representação profética do sacrifício de Jesus
Sacrifício significa duas coisas:
– Comunhão de quem faz o sacrifício com Deus.
– Homenagem, gratidão e expiação.
Percebemos isso já nos sacrifícios oferecidos por Caim e Abel. O sacrifício sincero agrada a Deus, o sacrifício insincero é rejeitado por Ele. "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não desprezarás, ó Deus" (Sl 51.17). "Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros" (1 Sm 15.22). Jesus honrou a Deus com obediência, e com Sua vida ofereceu um sacrifício perfeito: "muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb 9.14).
Abraão
Deus testou a sinceridade e fidelidade de Abraão pedindo que ele sacrificasse em holocausto seu filho Isaque, que Abraão amava e que Deus havia dado a ele, cumprindo Sua promessa. Será que isso significava que Isaque deveria ser morto e queimado no fogo? Sim, foi exatamente o que Deus pediu a Abraão. Abraão não consultou ninguém, nem mesmo sua própria esposa Sara, que havia dado à luz a Isaque, mas pela fé foi a Moriá com seu filho Isaque, "porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou" (Hb 11.19). Esse foi um dos mais importantes "tipos" proféticos, pois aponta para o Calvário. O sangue de Isaque não precisou correr em Moriá porque Deus falou a Abraão: "Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho" (Gn 22.12). Ao invés de Isaque, um carneiro teve que morrer em seu lugar.
A atitude de Abraão revela seu caráter, seu coração. Se você ou eu tivéssemos estado em seu lugar, como teríamos agido? Um sacrifício legítimo não é uma cerimônia superficial, que não custa nada! Do mesmo modo Isaque, que se deitou para ser sacrificado, é uma representação profética simbólica de Jesus, que voluntariamente derramou Seu sangue por nós no Calvário. Isaías viu isso profeticamente: "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca" (Is 53.7). Abraão é um símbolo de Deus, o Pai, e Isaque simboliza Jesus Cristo. Meditar sobre o sacrifício vai nos mostrar mais claramente o profundo significado da salvação e vai conduzir-nos à adoração. O objetivo de Deus é conduzir à vida através da morte.
O sangue nas portas
Antes da saída de Israel do Egito, Deus ordenou aos hebreus que sacrificassem um cordeiro sem defeito. Ele devia ser macho de um ano de idade, e as vergas e ombreiras das portas tinham de ser aspergidas com seu sangue. "O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êx 12.13). Também esse é um "tipo" profético de Jesus, o Cordeiro de Deus que morreu no Calvário.
A cruz como símbolo do sacrifício
Hoje em dia usa-se com orgulho uma cruzinha delicada, se possível de ouro, como enfeite e adorno pendurado no pescoço. Quem o faz, poderia usá-la com alegria, se debaixo da cruzinha batesse um coração em que Jesus habita. Em certos lugares, cruzes artisticamente moldadas são usadas como decoração. Mas, quem lembra atualmente que esse símbolo foi instrumento de tortura e execução? Só os piores criminosos condenados à morte eram dependurados ou pregados em uma cruz, como alerta e sinal de sua rejeição. Ela também lembra da crueldade humana. Poucos dos que usam cruzes como adorno se lembram do pavor desse tipo de pena de morte. Deus diz em Deuteronômio 21.23: "O seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o Senhor, teu Deus, te dá em herança." Gálatas 3.13 repete: "Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro." A cruz é símbolo de maldição? Sim, é o que diz a Sagrada Escritura. Mas devemos observar todo o texto de Gálatas 3.13, pois a cruz é também símbolo de salvação: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)." Gravemos profundamente em nossos corações: Jesus levou voluntariamente sobre Si na cruz a maldição do pecado, que deveria cair sobre nós. Lá, onde nós deveríamos estar dependurados, Jesus esteve em nosso lugar, pagando o preço da nossa salvação. Assim fomos libertos da maldição. Em 1 Pedro 2.24 lemos o mesmo com as seguintes palavras: "Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados." Mas Ele não o fez apenas simbolicamente, Ele o fez de maneira real. Ele o fez por todas as pessoas, para que ninguém tivesse de se perder, a não ser quem rejeitar essa oferta. Jesus teve de fazer esse sacrifício porque todos os incontáveis sacrifícios de animais na Antiga Aliança não podiam tirar os pecados, mas apenas cobri-los. Já que a expiação de nossa culpa exigiu um preço tão elevado, nunca conseguiremos levar o pecado suficientemente a sério, realmente temos de odiá-lo e evitá-lo! Jesus, com Seu sacrifício no madeiro maldito, cumpriu o que havia prometido: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (Jo 10.11).
Estamos dispostos ao sacrifício?
Jesus ofereceu-se em sacrifício voluntariamente. Ele não vacilou, mas seguiu Seu caminho firmemente decidido: "Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26.39). Jesus espera de Seus seguidores essa mesma disposição ao sacrifício. "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3.16). Tão longe pode ir a exigência de Jesus a você ou a mim, e ela não deve ser atenuada. Mas só Ele sabe de quem pode exigi-lo em cada caso concreto. Sabemos de pessoas em prisões que, sob ameaças de morte, deveriam delatar outros cristãos e mencionar os nomes de seus irmãos na fé, mas que permaneceram firmes e não os denunciaram. Perguntemo-nos: quão genuíno é nosso amor a Jesus e a nossos irmãos no Senhor?
Recentemente recebi um relato sobre cristãos chineses:
O devotamento e o espírito de sacrifício dos servos de Deus na China é muito impressionante. O que pode parecer chocante aos ouvidos ocidentais, também dos cristãos – a disposição de sofrer por Jesus, de ir para a prisão, de eventualmente deixar a vida – em muitos grupos de igrejas caseiras é mais uma honra e uma distinção do que vergonha e humilhação. Mas esses cristãos não devem de forma alguma ser vistos como fanáticos, extremistas ou imaturos. Pelo contrário, poder-se-ia dizer que eles apresentam um caráter simples, humilde, manso, espiritual e muito maduro. Eles falam de si mesmos o mínimo possível – para não tomarem de alguma forma a honra que só pertence a Deus –, falando mais das grandes obras de Deus, do Seu nome, louvando os Seus feitos.
E nós, cristãos ocidentais, como demonstramos nossa fé? Não deveríamos tomar esses cristãos chineses como exemplo? Eles deveriam ter a oportunidade de evangelizar no Ocidente! Não estamos praticando um cristianismo insípido, descompromissado, acomodado, que busca a prosperidade, um cristianismo que perdeu sua força de convicção? No centro não está mais o sacrifício, a entrega a Jesus, mas sim o nosso próprio bem-estar. Pensamos que antes de nos dedicar ao Senhor de maneira completa, precisamos ter nossas necessidades materiais atendidas. Logicamente não gostamos de ouvir que não somos bons ofertantes. Damos nossas ofertas (de nossas sobras!) para este e aquele projeto e chamamos isso de sacrifício. O Evangelho é adaptado à nossa filosofia de vida liberal e pluralista. Deus deve-se adaptar a nós e ficar satisfeito conosco. Pregadores e pastores não devem nos importunar com "exigências bíblicas ultrapassadas e fora de moda". Quem se firma fielmente na Palavra de Deus é considerado sectário excêntrico. Assim, a cruz passou a ser novamente um escândalo e um tropeço, que atrapalha o nosso sossego. E o pior: nas tendências da vida moderna nem notamos que estamos nos afastando do centro da vontade de Deus, tornando-nos inimigos da cruz. Com isso Satanás consegue alcançar o que sempre quis: a negação do sacrifício do Calvário.
O sacrifício do Calvário é perfeito
O primeiro Adão trouxe o pecado e a perdição ao mundo. O último Adão nos trouxe, com Sua morte, a libertação do poder do pecado e da morte. Ele o sabia, e por isso morreu com as palavras vitoriosas "Está consumado!" em Seus lábios. Assim Ele fez tudo o que Deus exigia e pagou o preço pelos nossos pecados. O véu rasgado no templo abre o acesso ao Santo dos Santos, ao coração do Pai. Pela vitória alcançada no Calvário, nem a morte conseguiu retê-lO. Só aceitando e recebendo pessoalmente o sacrifício perfeito do Calvário é possível viver uma vida cristã de alegria e vitória na fé. Jesus Cristo, o início e o fim, é e continua sendo o centro de nossa salvação, pois Ele continuamente intercede por nós, e por Ele recebemos propiciação pelos nossos pecados: "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas" (Hb 10.10). Todos os que buscam refúgio no sacrifício perfeito de Jesus tornam-se justos pelo Seu sangue e passam a fazer parte de Seu Reino. Nessa posição devemos permanecer, mas também avançar na santificação! O apóstolo Paulo nos exorta com muita insistência: "Por isso, celebremos a festa (da Páscoa) não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade" (1 Co 5.8).


(Burkhard Vetsch - http://www.ajesus.com.br)/Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, abril de 2000.

ESPECIAL ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA: ARTIGOS DE PERSONALIDADES


O POVO É O CENTRO

De uma forma geral, quando se fala no centro da Cidade, nas iniciativas de revitalização do centro, etc., lembramos apenas os prédios, o comércio, os pedintes, os ambulantes, os veículos, etc. Mas o problema é muito mais complexo. Temos que pensar além do citado, na limpeza urbana, no cuidado com a higiene, com os esgotos, com a pavimentação, com a educação dos comerciários, com o problema da moradia no centro, com a poluição visual, com a distribuição dos sinais de trânsito, com as paradas e estacionamentos de coletivos, com estacionamento de carros, com a poluição sonora oriunda de diversas fontes, como escapes de carros e motos, alto-falantes em postes, caixas de som em portas de estabelecimentos, serviços de som em carros, aparelhos de amplificação com religiosos e ambulantes, etc. Além disso temos que pensar na cultura, no lazer, na segurança e na saúde. O Centro precisa voltar a ter hotéis para trazerem os turistas, fazendo com que eles conheçam a Fortaleza Real, que é seu Centro. E como trazer hotéis e pessoas para morarem no centro se não damos condições? Como morar no centro se o barulho não deixa? Como manter hotéis no centro se o excesso de volumes nas festas, caixas de som, carros, lojas comerciais não permitem?Temos que encarar a situação como um todo, onde não se exclua nada nem ninguém, lembrando que o direito de um termina quando começa o de outro e também que talvez o maior problema seja a impunidade. i, a impunidade que faz com que o infrator de uma lei pequena faça com que surjam grandes problemas. É preciso que se crie uma consciência, que haja um consenso para que se possa pensar em um centro mais digno, melhor para todos.Mas o centro deixou de ser aquele "miolo" que era antigamente. Não é mais somente a Praça do Ferreira. Pode-se hoje considerar como centro da cidade coisas tão afastadas antigamente como o Centro Artístico Cearense, alguns prédios da Aldeota, do Jardim América, Benfica, Fátima, etc. Assim é que vamos encontrar em nossa exposição*, fotografias antigas de nossa querida Fortaleza, de locais antes considerados suburbanos mas que agora estão classificados como componentes do centro, ou pelo menos estarão dentro de pouco tempo.O Arquivo Nirez entra com sua colaboração trazendo ao público algumas imagens antigas de nossa Cidade no seus bons tempos, quando existia tranqüilidade, sossego, paz, e quando todos os seus habitantes conheciam todos.


Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo)

ESPECIAL ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA: ARTIGOS DE PERSONALIDADES


FORTALEZA SEM ROSTO

A Praça do Ferreira foi concebida em 1842 para substituir a Praça da Carolina, onde ficava o Mercado de Ferro (no atual espaço dos Correios, Bando do Brasil e Palácio do Comércio).
Teve diversos nomes, como Feira Nova, Beco do Cotovelo, Largo das Trincheiras, Praça Pedro 11 e, a partir de 1851, Praça do Ferreira (quando do falecimento do Boticário Ferreira). O nome só foi oficializado 20 anos depois.
A principio era somente um areal com uma cacimba no centro e, posteriormente, um cajueiro no lado da Floriano Peixoto. Sua primeira planta (de Adolf Herbster) data de 1859.
Em 1886, surgiu o primeiro café, o Java, de Manoel Ferreira dos Santos, o "Mané Côco". Nele, em 1892, foi finda a badalada "Padaria Espiritual" (movimento supermodernista que antecedeu em 30 anos a também badalada Semana da Arte Moderna, de São Paulo, em 1922). A propósito, segundo análise feita á revista Veja, de 27 de setembro de 1995, pelo respeitado historiador Nelson Werneck Sodré, "o movimento modernista é muito menos do que se apregoa. A Semana de 1922 foi organizada com apoio oficial. Foi uma brincadeira do pintor Di Cavalcanti. O principal colaborador foi Oswald de Andrade, um magnífico autor de blagues que, como escritor, obra importante não deixou". Apesar desta constatação, a mídia continua alardeando a "importância" da Semana da Arte Moderna.
Voltando à fisionomia da Praça do Ferreira: em cada canto do areal havia um café: Java, Iracema, Do Comércio e Elegante.
Em 1902, ao ajardinar a Praça do Ferreira, o intendente Guilherme Rocha mandou fechar a cacimba. O tal jardim chamou-se "7 de setembro
De 1904 a 1920, era costume afixarem-se os nomes dos políticos enganadores (os verborrágicos) e dos comerciantes inadimplentes no tronco do cajueiro da Praça, o qual ficou conhecido como "Cajueiro da Mentira". Atualmente, do jeito que as coisas ficaram, tornou-se imperativo que cada bairro tenha o seu "Cajueiro da Mentira".
Em 1920, quando o Prefeito Godofredo Maciel ladrilhou a praça, além de demolir os quatro cafés, convenientemente ordenou que se pusesse abaixo aquele cajueiro denunciador de falcatruas. Em 1925, Maciel mandou construir um coreto para bandas de música
Em 1933, o Prefeito Raimundo Girão mandou derrubar o coreto e em seu lugar erguer a Coluna da Hora que, por sua vez, também seria demolida em 1968, pelo Prefeito José Walter. Em 1991, Juracy Magalhães mandou que se erguesse (no mesmo local) uma imitação tupiniquim da tal Coluna da Hora.
Como se vê, Fortaleza não tem rosto arquitetônico, posto que, de tempos em tempos, sua fisionomia é alterada, a fim de atender não a melhoria de vida de seus habitantes, e sim aos interesses dos que querem enriquecer derrubando e construindo prédios públicos Para lembrá-los ficam somente as fotos antigas, quando conservadas.
Este procedimento irresponsável dos nossos homens públicos (enganando a população, dizendo que assim agem em nome da "modernidade" é que é a causa da destruição de nosso patrimônio histórico-arquitetônico. E isto vem acontecendo em todas as cidades brasileiras (numas mais, noutras menos). Em qualquer capital européia há a parte nova e a parte antiga. Aqui, não: aqui, o antigo é sinônimo de velharia, enquanto que na Europa, é cultura.
O mesmo engenheiro-arquiteto que, lá faz questão de ser fotografado ao lado de um prédio centenário, se fosse aqui, ele mandaria por abaixo, taxando-o de "velharia ultrapassada".
Desse mesmo modo também agem os herdeiros dos personagens ilustres de nossa terra, destruindo seus patrimônios arquitetônicos sob a alegação de falta de dinheiro para pagar os impostos Como se vê, a depredação é total.
Assim foi que consentiram em destruir, em 1938, a Igreja da Sé (terminada em 1854) alegando que suas paredes estavam rachadas. A ironia é que a ordem da demolição partiu do próprio Arcebispo de Fortaleza, o baiano Dom Manoel da Silva Gomes, o qual haveria de se arrepender amargamente deste seu impensado ato (segundo suas próprias palavras).
Destruíram a Fênix Caixeiral, o Museu Histórico (que ficava na esquina da Praça Caio Prado, popularmente chamada de Praça da Sé, pertinho de minha casa, onde na minha infância e adolescência eu ia beber História); o Palácio do Plácido na Aldeota, a Casa de Rodolpho Theóphilo, o Cine Moderno e o Abrigo Central (na Praça do Ferreira), o mini-sitio Itapuca, da família Salgado (em Jacarecanga), o Pavilhão Atlântico (na entrada da Ponte Metálica, na Praia de Iracema). Desfiguraram a Praça Visconde de Pelotas (comumente chamada de Praça da Bandeira e,hoje, Praça Clóvis Beviláqua e o Passeio Público.
Há sete anos puseram abaixo casas e árvores centenárias da Avenida Alberto Nepomuceno (inclusive o casarão sobrado em que se criou, desde um ano de idade Dom Helder Câmara para a construção dessa horripilância arquitetônica a que deram o pomposo nome de Marcado Central, cuja estrutura (em algumas partes) já está comprometida. O mesmo aconteceu à algumas residências defronte à Igreja da Prainha, a fim de se construir uma imitação tupiniquim do Centro Pompidou, de Paris, chamando-o de Centro Cultural Dragão do Mar, sala de visitas para os artistas de fora, enquanto os de Fortaleza são marginalizados. E isto, apesar de o mesmo haver sido construído com o dinheiro dos fortalezenses.
As próprias praias de Fortaleza foram destruídas O fortalezense é um praiano que não tem praia. Antigamente, havia uma Lei do Código de Postura que proibia a construção de qualquer edificação na orla marítima com mais de três andares. Isto só durou até surgir a especulação imobiliária. Puseram a tal Lei abaixo (em nome da modernidade) criando outra que permitia a construção de edifícios de apartamentos ria orla marítima. Estes espigões de cimento armado tiraram toda a amenidade do clima de Fortaleza.
O pior de tudo é constatar, com tristeza, que nossos "historiadores" batem palmas para este tipo de vilania que alimenta cada vez mais, seu "complexo de Caramuru".
Se lêssemos enumerar tudo o que já foi destruído (ou está para sê-lo) este artigo-denúncia viraria um livro. Alguns estão lucrando com tudo isto... a população é que não... Aliás, no Brasil, 3% da população não tem do que reclamar, enquanto os outros 97% não têm a quem reclamar...
Na realidade, o que os políticos têm feito, ao longo dos anos, é modernizar a miséria. Amazônia que se cuide com estes entreguistas, perto dos quais, Al Capone e seus asseclas são aprendizes...


Christiano Câmara - Pesquisador e Historiador

ESPECIAL ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA: ARTIGOS DE PERSONALIDADES


Preservar o existente, recuperar o possível: O Centro Antigo de Fortaleza


A urbanização acelerada do chamado "Terceiro Mundo" tem sido, ao longo deste século, um fenômeno extremamente deletério. Já em 1929, em sua viajem a Argentina, Le Corbisier, refletindo sobre o assunto, sentenciou, em famosa conferência "Não existe nada em Buenos Aires, exceto o erro". É bem verdade que a capital portenha soube reagir ao protesto do arquiteto e, atualmente, conserva rico e belo patrimônio urbanístico para desfrute das atuais e futuras gerações. No entanto, o mesmo não ocorreu em outros lugares. Ainda hoje parece pesar sobre a maioria das metrópoles do mundo subdesenvolvido esta maldição: só há perdurabilidade do erro. Em Fortaleza tem sido assim. Os riachos de nossa história, como o Pajeú, foram transformados em esgotos. Os rios são aprisionados em pequenas calhas, cercadas de favelas e poluídos pelos esgotos. As lagoas são aterradas pela especulação imobiliária ou transformadas em reservatórios de lixo e dejetos, com o consentimento ou silêncio do poder público.A devastação de nossa cidade não se limita aos crimes contra o meio ambiente. A destruição do seu pequeno mas bonito patrimônio arquitetônico, já denunciada na década de sessenta por Liberal Castro, fica dramaticamente exposta nessa mostra seletiva sobre o centro antigo*. A maioria das edificações mostradas nas fotos foi derrubada para dar lugar a prédios comerciais, e outras tantas, como registra Blanchard Girão, em sua elegante crônica aqui publicada, permanecem encobertas por "grotescos tapumes ou biombos modernosos" das lojas. Uma pequena parte ainda permanece em pé, graças à resistência dos materiais, mas abandonada pela incúria pública ou privada.Nossa intenção maior é convocar a cidadania para reagir a esse deplorável estado das coisas, na esperança de reverter a tendência dessa urbanização destrutiva em marcha, produto da anárquica lógica da acumulação capitalista. A esperança não é vã, já que em outras metrópoles do mundo, inclusive do Brasil, os movimentos citadinos têm conseguido resultados animadores, seja na esfera da preservação, seja na esfera da recuperação dos patrimônios naturais e construídos, pondo-os à disposição da coletividade como bens voltados para a melhoria da qualidade de vida presente e futura das cidades.Se a lógica do capital tem mantido a hegemonia na condução da política urbana de Fortaleza, também é verdade que uma contra-lógica, que tenho denominado pedagogicamente de lógica da cidadania, começa a ganhar expressão pública, influenciando algumas ações do governo (como mostra Blanchard Girão) e da própria corporação empresarial (Como é o caso do Projeto de Revitalização da CDL).A formulação desse projeto de intervenção para o Centro de Fortaleza exige, como pré-condição inarredável, a mais ampla e democrática participação de todos os interessados numa efetiva prática cidadã no terreno da política urbana. Combina a militância ativa dos sindicalistas e o conhecimento científico-técnico da intelectualidade independente, hoje abrigada nas universidades, institutos de pesquisa e na imprensa. Envolve necessariamente uma inteligente política de parceria entre todos os agentes do processo sócio-urbano, do parlamento e do executivo.A melhor política de intervenção urbana para o Centro de Fortaleza é uma combinatória de políticas urbanas. É preciso preservar o patrimônio existente, proporcionando-lhe as condições indispensáveis para a retomada de sua função tradicional ou desfrute estético por todos. Em alguns casos, redefinindo seu uso, noutros, intensificando a ocupação lúdico-cultural ou dotando-os de condições para funcionar como espaços de celebração pública. É preciso recuperar, e recuperar dentro de um plano que considere a totalidade da cidade, muitos dos equipamentos e edificações semi-destruídos, redesenhando sa geografia do centro com ousadia e criatividade, sempre com base no interesse público, no respeito ao meio ambiente e na preservação da memória.Nesse sentido, algumas ações se destacam como prioritárias e imediatas: a preservação do Cine São Luiz**, do Excelsior Hotel (como hotel residência), do Museu das Secas *** (com sua abertura à visitação pública), do prédio da Secretaria de Segurança (com nova finalidade), do prédio da 10ª Região Militar (Como Museu da Cidade); a recuperação do Prédio da Sociedade Artística Cearense (e sua entrega a outra entidade operária), do Teatro da antiga Emcetur (hoje fechado), do Prédio da Santa Casa e do próprio Forte de Nossa Senhora da Assunção (voltando ao seu desenho original); a construção da Avenida Parque Pajeú (com retirada da central atacadista do centro); a ligação do centro ao mar, com a transformação da Estação João Felipe e seus galpões num sistema de equipamentos culturais; a ligação entre as praças José de Alencar e Lagoinha (com a reordenação e dignificação do atual comércio ambulante ali mal instalado); a criação de um programa de moradia com a adaptação dos muitos prédios e sobrados hoje abandonados. Nunca é demais enfatizar: isso só será possível se a cidadania resolver tomar em suas mãos o destino da própria cidade. O ponto de partida é criar uma consciência preservacionista. Esperamos que esta exposição de fotografias sobre o Centro antigo* funcione como um grito de alerta e ajude a sensibilizar mentes e corações para a necessidade e a urgência desse desiderato.


Auto Filho
Secretário de Cultura do Estado do Ceará


* Exposição "O Centro Antigo de Fortaleza: Álbum de fotografias" realizada em 1997 por Nirez.
** O Cine são Luiz foi adquirido pelo SESC (agora SESC Luiz Severiano Ribeiro), e atualmente mantém a programação de cinema.*** O Museu das Secas foi tombado pelo IPHAN e encontra-se em reformas.

ESPECIAL ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA: CONHEÇA NOSSA HISTÓRIA






Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção



O nome da cidade vem do fato de ter começado como uma vila nos arredores da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, antigo forte Schoonemborch, construído pelos holandeses às margens do Richo Pajeú em 1649 e "re-conquistado" pelos portugueses em 1654.
Apesar de já existirem inúmeros aldeamentos nativos e pequenos povoamentos de colonizadores, a primeira vila cearense foi criada pela carta régia de 13 de fevereiro de 1699, período em que o Ceará estava sob domínio de Pernambuco. A carta determinava a criação da vila mas não especificava onde deveria situar-se o pelourinho (símbolo da autonomia municipal).
Depois de muitas disputas entre "Vila Velha" (Barra do Ceará), a "Aldeia do Forte" (Fortaleza de N. S. Assunção) e Iguape (Aquiraz), o governador de Pernambuco determinou que este deveria situar-se junto à Fortaleza, estabelecendo-se assim, em 1700 a Vila de São José do Ribamar. Contudo, as disputas entre Fortaleza e Aquiraz para sediar a vila continuaram até 1726, quando em 13 de abril, foi definitivamente transferida para a "Aldeia do Forte". A data passou a ser o aniversário oficial da Cidade.
Fortaleza, foi crescendo ás margens do Riacho Pajeú. Durante muito tempo, Fortaleza continuou sendo uma cidade pequena. Em 1810, o Inglês Henry Koster, em viagem à Fortaleza, estimou a população da cidade em 1.200 habitantes. No dia 17 de março de 1823, por força de um decreto imperial, Fortaleza foi promovida à categoria de cidade. Nesse tempo, a cidade não possuía ruas pavimentadas. Não havia meio de transporte, a não ser os animais. Não havia serviço de água nem de iluminação pública - durante a noite, as ruas eram iluminadas apenas pela luz da lua. As casas se iluminavam graças ao azeite de peixe.
Entra então em ação o plano de urbanização engenheiro Silva Paulet, que incluía a retificação das ruas para uma expansão disciplinada. A partir daí, vias públicas passaram a obedecer o novo sistema: rigorosamente paralelas e cortando-se em ângulo reto. As casas de taipa passaram a ser gradativamente substituídas pelas de alvenaria e tijolo, e os primeiros parapeitos somente surgiram por volta de 1840.
Naquele tempo, Fortaleza se resumia ao atual centro da cidade, e de fato, ainda hoje é possível observar no centro e bairros vizinhos, a regularidade das ruas, sempre paralelas ou perpendiculares. A única exceção é o trecho da rua Sena Madureira (Continuação da Rua Conde d'Eu), um dos primeiros logradouros da cidade (ainda do período colonial), cujas edificações seguiram a sinuosidade do Riacho Pajeú, que viu Fortaleza nascer e hoje está canalizado, poluído e esquecido pela população.
Somente em 1848, quando Fortaleza tinha por volta de 5.000 habitantes, foi instalada a iluminação pública, a azeite de peixe, e somente em 1867 a cidade passou a contar com uma iluminação pública a hidrogênio carbonado.
Em 1863, segundo levantamento do Senador Pompeu, Fortaleza tinha cerca de 16.000 habitantes, distribuídos em 906 casas e 80 sobrados. O recenseamento de 1872 apontava 21.372 habitantes, em 4.380 casas e 1178 casebres.
Somente em 1880, coincidentemente ano de inauguração da Estação Central João Felipe, teve início o serviço de transporte público coletivo - Privilégio de Tomé A. da Mota, proprietário da Ferro Carril do Ceará, empresa que colocou a disposição dos fortalezenses 25 bondes a tração animal (puxados por burros), que só seriam substituídos pelos bondes elétricos da Caerá Light and Tamways Power Co., em 1913. Os primeiros telefones datam de 1883, serviço prestado pelo comerciante Confucio Pamplona, cujo escritório situava-se na Rua Major Facundo, 59.
Em 1895, Antônio Bezerra descreve Fortaleza como uma cidade de 985.000 km² com 54 ruas no sentido Norte-Sul, 27 ruas no sentido nascente-poente e 14 praças. O senso de 1900 aponta uma população de 48.369 habitantes.
Nos anos de 1920, Fortaleza começa a sofrer uma expansão rumo ao leste, para a "Aldeiota" e para a Praia do Meireles. Na "Aldeiota" começam a surgir residências grandes, modernas e em lotes maiores que abrigavam as famílias mais abastadas. No início, a Aldeota acompanhava a Av. Santos Dumont e extendia-se até onde hoje fica a Av. Barão de Studart - ponto onde final da linha do bonde. No Meireles foram erguidas as sedes dos clubes sociais da alta sociedade, como o Náutico, o Clube Ideal, Clube dos Diários, entre outros.




Ceará de Luz - História e Cultura do Ceará

terça-feira, 7 de abril de 2009

Conheça as decisões do Encontro do G-20 em Londres

Pacote de 1,1 biliões de dólares para recuperar a economia

O G20 acordou a criação de um pacote de 1,1 biliões de dólares (818 mil milhões de euros) que chegará à economia mundial através do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outras instituições. Com este plano e os pacotes de estímulo fiscal de cada país, o G20 conta injectar cinco biliões de dólares (3,71 biliões de euros) na economia até 2010.

Mais regulação para o sector financeiro

Os líderes mundiais acordaram reforçar a regulação do sistema financeiro para recuperar a confiança dos investidores. A decisão abarca ‘hedge funds' e as agências de ‘rating'.

Limitar os salários dos executivos

Para evitar novos escândalos como a AIG, o G20 celebrou um acordo no sentido de impor limites aos salários dos executivos, bem como aos riscos assumidos pelo sector financeiro.

Promover o comércio internacional e combater o proteccionismo

O G20 avançou com um apoio de 250 mil milhões de dólares ao comércio internacional e promoveu a mensagem de que o proteccionismo não é o caminho para combater a crise.

Divulgar uma lista negra de Paraísos Fiscais

Será publicada uma lista negra de Paraísos Fiscais, uma reacção aos problemas causados por sociedades ‘offshore' durante esta crise financeira.

Agendada uma nova reunião do G20

Para avaliar o andamento das medidas tomadas em Londres, o grupo das 20 maiores potencias mundiais vai encontrar-se novamente ainda este ano.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A intrusa chamada Apple


Com o crescimento dos smartphones, empresas de software roubam espaço e as receitas que até pouco tempo pertenciam às operadoras de telefonia celular

A batalha das operadoras pela liderança no mercado brasileiro de telefonia móvel foi, durante muito tempo, repetitiva e monótona, com praticamente os mesmos competidores e poucas variações de concorrência. As empresas alternavam posições no mercado seguindo a tradicional tática para conquistar clientes: oferecer o modelo mais moderno de celular e reduzir as tarifas. Quem conseguisse equilibrar os dois fatores teria, em tese, mais chance de se posicionar na liderança. Recentemente, a disputa ficou menos óbvia. O quarteto Claro, Oi, TIM e Vivo ganhou competidores que não vêm do setor de telecomunicações. Agora, são empresas de tecnologia e internet que desafiam a posição confortável das operadoras também em software, vídeos e músicas que rodam no celular.
Não faz tanto tempo assim que as operadoras viviam no que se convencionou chamar de "jardim murado". A expressão era usada para descrever o ambiente fechado criado pela AOL. O modelo pregava uma regra muito simples: todo e qualquer conteúdo oferecido na AOL tinha de ser aprovado pela empresa. O sistema funcionou muito bem durante os anos 90, mas não resistiu à expansão da web aberta - e a queda do muro quase representou o fim da AOL. As operadoras celulares sempre tiveram privilégios semelhantes. Fornecedores de conteúdo ou de software tinham de pagar pedágio para chegar até a telinha dos usuários. Mas, agora, esse modelo está em xeque. O maior exemplo dessa mudança na concorrência é a Apple. A empresa tornou-se uma grande distribuidora de conteúdo, alavancada pela loja móvel App Store - que traz hoje mais de 25 000 tipos de programa, muitos deles gratuitos, que podem ser baixados para o iPhone. Criada em julho do ano passado, a loja já contabiliza mais de 800 milhões de downloads. Em outras palavras: o poder de escolha que estava nas mãos das operadoras está evaporando rapidamente.


Por Camila Fusco - Da Revista Exame direto para o Mensageiro da Realidade

sábado, 4 de abril de 2009

A Inigualável Paixão de Jesus Cristo

Se os cristãos não fossem tão familiarizados com estas coisas, devido aos 2000 anos de tradição e liturgia, eles poderiam sentir quão absolutamente improvável seria que a morte de Jesus se tornasse a base de uma fé mundialmente transformadora. Como poderia um convicto, condenado e executado pretendente ao trono de Roma desencadear, nos três séculos seguintes, um poder para sofrer e para amar, que modelaria o império?
A resposta cristã é que a paixão de Jesus Cristo foi absolutamente única, e sua ressurreição dentre os mortos, três dias após, foi um ato de Deus para confirmar o que sua morte consumou. A singularidade não está necessariamente no tamanho ou intensidade da dor física. Ela foi inefavelmente terrível. Mas eu não gostaria de minimizar os horrores de outros que também morreram horrivelmente. A singularidade descansa em outro lugar.
Divindade Inigualável
A paixão de Jesus Cristo foi única porque ele era único. Quando perguntado “És tu o Cristo [=Messias], Filho do Deus Bendito[=Deus]?”, Jesus disse “Eu sou”. Era uma afirmação quase inacreditável. Esperava-se que o Messias fosse poderoso e glorioso. Mas ali estava Jesus, pronto para ser crucificado, dizendo abertamente o que ele freqüentemente apontava durante seu ministério: Eu sou o Messias, o Rei de Israel . Ele falou abertamente no exato momento em que havia menos chances de ser acreditado. E então, ele adiciona palavras que explicam como um Cristo crucificado reinaria como Rei de Israel: “Vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Marcos 14.62). Em outras palavras, ele espera reinar à direita de Deus e algum dia voltar à Terra em glória.
Ele era mais que um mero homem. Não menos. Ele era, como o antigo Credo de Nicéia diz: “verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”. Cristo existia antes da criação. Ele é co-eterno com Deus o Pai. Ele não foi criado. Não houve um ponto quando ele não existia. Desde a eternidade, antes do princípio dos séculos, Deus existe com uma essência divina em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Este é o testemunho daqueles que o conheciam e escreveram textos inspirados por Ele para explicar quem Ele é.
Por exemplo, o apóstolo João refere-se a Cristo como o “Verbo” e escreve:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (João 1.1-3,14)
O próprio Jesus disse coisas que só fazem sentido se ele fosse ao mesmo tempo Deus e homem. Por exemplo, ele perdoou pecados: “Filho, perdoados estão os teus pecados” (Marcos 2.5). Este tipo de atitude foi o que finalmente o matou. A resposta furiosa era compreensível: “Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Marcos 2.7).
É uma reação compreensível. C.S. Lewis, o professor britânico que escreveu clássicos infantis e excelentes defesas do Cristianismo, explica: “Se alguém me rouba dois quilos numa balança, pode ser possível e é razoável para eu dizer: ‘Bem, eu perdôo ele, nós não falaremos mais sobre isso'. O que você diria, se alguém tivesse roubado de você os dois quilos, e eu dissesse: ‘Está tudo bem. Eu o perdôo'?” [1] . Pecado é pecado porque é contra Deus. Se Jesus não era um lunático, então ele perdoou pecados contra Deus porque ele era Deus.
Isto é o que suas palavras e ações apontavam. Uma vez ele disse: “Eu e o Pai somos um”, o que quase o levou a ser apedrejado (João 10.30-31). Em outra ocasião, ele diz: “antes que Abraão existisse, Eu sou” (João 8.58). As palavras “Eu sou” não sinalizam apenas sua existência antes de Abraão, que viveu 2000 anos antes, mas também se referem ao nome que Deus deu a si mesmo no Antigo Testamento. “E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3.14).
Jesus previu sua própria traição como se soubesse o futuro tanto quanto o passado, e então explicou o que isto significava com outra afirmação assustadora: “Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou” (João 13.19). Jesus era o “EU SOU” – o Deus de Israel, o Senhor do Universo em forma humana. Este é o porquê a sua paixão é sem paralelos. Somente a morte do divino Filho de Deus poderia consumar o que Deus pretendia fazer por esta morte. Inocência Inigualável
A paixão de Cristo também foi única porque ele era totalmente inocente. Não apenas inocente dos crimes de blasfêmia e rebelião, mas de todo pecado. Ele perguntou certa vez aos seus inimigos: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (João 8.46). O que quer que pensassem, eles sabiam que não havia nada contra Jesus. Seu discípulo, Pedro, que sabia seu próprio pecado tão bem, disse que a morte de Jesus foi a morte “de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pedro 1.19). A recusa de Jesus em lutar contra a forma como ele foi injustamente condenado e morto fortaleceu a convicção de seus seguidores de que ele era sem pecado.
Pedro expressou isto depois: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pedro 2.22-23). A razão da morte de Jesus levar todos os sacrifícios judaicos de animais a um fim é que ele se tornou o próprio sacrifício definitivo e “se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus” (Hebreus 9.14). Sua morte foi inigualável porque ele não tinha pecado. Desígnio Inigualável
A paixão de Cristo foi sem paralelos na história humana porque ela foi planejada e predestinada por Deus, para nossa salvação. Apesar de toda a controvérsia sobre quem realmente matou Jesus, a verdade mais profunda é: Foi Deus quem planejou e viu o que iria acontecer. Quando os terríveis eventos aconteciam na noite antes dele morrer, Jesus disse, “Tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas” (Mateus 26.56). Todos os detalhes, desde o fato de terem lançado sortes por suas vestes (João 19.24) e ser perfurado por uma lança, ao contrário de quebrarem suas pernas (João 19.36) – tudo isto foi planejado pelo Pai e predito nas Escrituras.
A igreja primitiva resumiu isto em sua pregação: “Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (Atos 4.27-28). A verdade de que Deus enviou seu Filho para morrer é central ao cristianismo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). A morte de Jesus foi única porque havia um único Filho e um único plano divino para salvação. Autoridade Inigualável na Morte
A paixão de Cristo foi única também porque Jesus não somente se submeteu desejosamente ao plano de seu Pai (“Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” Lucas 22.42); ele também o abraçou e prosseguiu por sua própria autoridade divina. Uma das mais emocionantes palavras ditas por Jesus foi sobre sua morte e ressurreição: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (João 10.17-18). Ninguém jamais falou sobre sua vida e morte desta forma. O grande testemunho do Novo Testamento é que a controvérsia sobre quem matou Jesus é irrelevante. Ele escolheu morrer. Seu Pai ordenou. Ele aceitou. Um ordenou todas as coisas, o outro obedeceu. A autoridade estava nas mãos de Deus. E estava nas mãos de Jesus. Porque Jesus é Deus. Significado Inigualável para o Mundo
Finalmente, a paixão de Cristo foi inigualável porque foi acompanhada de eventos únicos, cheios de significado para o mundo. Primeiro, temos as palavras de incomparável amor e autoridade na cruz. Nenhum homem crucificado, morrendo em agonia, falaria como Cristo. Um dos ladrões, que estava crucificado com Jesus, finalmente arrependeu-se e disse, desesperadamente: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Que momento para ver um reino ser estabelecido! Jesus não o corrigiu. Ao contrário, ele disse “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23.43). Esta era a voz de quem decide onde os ladrões passarão a eternidade.
O ladrão não foi o único que recebeu a misericórdia de Cristo enquanto ele morria. Jesus olhou para aqueles que o crucificaram e disse “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). Eles poderiam fazê-lo sangrar e gritar, mas não poderiam fazê-lo odiar.
E quando o momento de sua morte estava próximo, Jesus gritou “Está consumado!” e, inclinando a cabeça, entregou o espírito (João 19.30). Com essas palavras, ele quis dizer mais que “minha vida acabou”. Ele quis dizer “cumpri plenamente o trabalho redentor que meu Pai me enviou para fazer”. Uma vida inteira de obediência imaculada a Deus, seguida de um sofrimento horrendo e morte – o motivo pelo qual ele veio. Estava consumado.
O significado do que ele consumou foi simbolizado por um surpreendente evento em Jerusalém. No lugar santíssimo do templo judeu, onde somente o sumo-sacerdote poderia ir e encontrar Deus uma vez por ano, a cortina se rasgou quando Jesus morreu. “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mateus 27.50-51). O significado disto: quando Jesus morreu – quando sua carne foi rasgada – Deus rasgou (de alto a baixo) a cortina que separava as pessoas ordinárias de Si mesmo. A morte de Jesus abriu o caminho para o mundo ter uma íntima, santa, pessoal, perdoada e alegre comunhão com Deus. Nenhum mediador humano é necessário. Jesus abriu o caminho para o acesso direto a Deus. Ele se tornou o único Mediador necessário entre os homens e Deus. A igreja primitiva disse “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne... Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé”. (Hebreus 10.19-22). Cumprimento Inigualável
O trabalho de redenção foi terminado. O preço da reconciliação entre Deus e o homem foi pago. Agora somente restava a Deus confirmar a consumação ressuscitando Jesus dos mortos. Esta é a forma que Jesus predisse e planejou. Mais de uma vez, ele disse: “Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito; pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-o açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará” (Lucas 18.31-33).
Aconteceu três dias depois (partes de dias são consideradas como dias: Sexta, Sábado e Domingo). No começo da manhã de domingo ele se levantou dos mortos. Por quarenta dias apareceu numerosas vezes aos discípulos antes de sua ascensão ao céu. O médico Lucas, que escreveu o livro que leva seu nome, disse que “Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1.3).
Os discípulos demoraram a crer no que realmente havia acontecido. Não havia precedentes. Eles eram pescadores terrenos. Eles sabiam que pessoas não se levantam dos mortos. Ao ponto de Jesus insistir em comer peixe para provar-lhes que não era um fantasma.
“Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; o que ele tomou, e comeu diante deles.” (Lucas 24.39-43).
Não foi a ressurreição de um cadáver. Foi a ressurreição do Deus-Homem, para uma indestrutível nova vida de majestade à destra de Deus. A igreja primitiva o aclamou como Senhor do Céu e da Terra. Eles diziam “Havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hebreus 1.3). Jesus terminou o trabalho inigualável que Deus lhe deu para fazer, e a ressurreição foi a prova de que Deus ficou satisfeito.

por John Piper

NOTAS:
[1] - C. S. Lewis, “What Are We to Make of Jesus Christ?” em C. S. Lewis: Essay Collection and Other Short Pieces, ed. Lesley Walmsley (London : HarperCollins, 2000), 39.
Traduzido por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr. Revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto