quarta-feira, 31 de março de 2010

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: DOMINGOS OLÍMPIO

Nasceu em 18 de setembro de 1850 em Sobral e faleceu em 6 e outubro de 1906, no Rio de Janeiro. Advogado e jornalista.

Por sua composição "Luzia-Homem", publicada em 1903, é considerado um clássico, enquadrando-se no gênero "Ciclo das Secas", da Literatura Nordestina. Compôs várias peças teatrais, tendo se realçado também na carreira jornalística. Fundou e dirigiu a revista "Os Anais", onde publicou o romance "0 Almirante", deixando incompleto "Urapuru", também romance.

Alguns de seus romances são realistas, de cunho regionalista como se observa nos tipos e cenas que descreve. Sua prosa é exuberante, dúctil e pitoresca. É considerado o precursor do moderno romance brasileiro.


LUZIA-HOMEM

A ação de Luzia-Homem transcorre no Ceará, em 1878. A protagonista que confere título à obra, reúne qualidades físicas de homem e a beleza plástica de mulher. Integrada num grupo de retirante, logo sua figura soberba chama a atenção de homens diametralmente opostos: Crapiúna, soldado de maus bofes, e Alexandre, honesto e trabalhador.

Crapiúna, a fim de conseguir as boas graças de Luzia, arma uma calúnia contra Alexandre, e este é preso sob acusação de roubo. Graças à interferência de Teresinha, pobre desgraçada mas ainda animada por uns restos de virtude, tudo se esclarece e Crapiúna acaba sendo levado para a cadeia em lugar de outro.

Assim, Luzia e Alexandre podiam realizar seu sonho: ir para a praia com a mãe dela, velha entrevada, casar-se. Em caminho, Luzia, enveredando por um atalho, topa com Crapiúna, que fugira da prisão para vingar-se de Teresinha. Lutam, e o soldado apunhala a moça, em seguida despenca no precipício.

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: ADOLFO CAMINHA - 29/5/1867-1º/1/1897

Um dos principais representantes do naturalismo no Brasil, sua obra, densa, trágica e pouco apreciada na época, é repleta de descrições de perversões e crimes.
Adolfo Ferreira Caminha nasce na cidade de Aracati. Ainda na infância se muda com a família para o Rio de Janeiro. Em 1883 ingressa na Marinha de Guerra, chegando ao posto de segundo-tenente. Cinco anos mais tarde se transfere para Fortaleza, onde é obrigado a dar baixa, depois de seqüestrar a esposa de um alferes, com a qual passa a viver. Trabalha como guarda-marinha e começa a escrever.

Em 1893 publica A Normalista, romance em que traça um quadro pessimista da vida urbana, "esse acervo de mentiras galantes e torpezas dissimuladas". Vai para os Estados Unidos e, das observações da viagem, resulta No País dos Ianques (1894).

No ano seguinte provoca escândalo, mas firma sua reputação literária ao escrever Bom Crioulo , obra na qual aborda a questão do homossexualismo. Colabora também com a imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Já tuberculoso, lança o último romance, Tentação, em 1896. Morre no Rio de Janeiro.

SÉRIE ESCRITORES CEARENSES: MANUEL DE OLIVEIRA PAIVA (l861-l892).

Escritor cearense, Manuel de Oliveira Paiva morreu muito jovem, sem ter publicado qualquer obra. Apenas sessenta anos depois, graças à crítica Lúcia Miguel-Pereira, é que veio à luz o seu interessantíssimo romance, Dona Guidinha do Poço (1952). O relato antecipa os grandes textos sobre o mundo rural produzidos pelos romancistas de 1930. Com vigoroso realismo, o autor registra a vida no sertão do Ceará, inclusive fixando uma situação de seca. Não se detém, contudo, na paisagem física, preferindo examinar a psicologia dos personagens em função do meio. Desta forma, em sua ficção, ambiente e análise psicológica sintetizam-se esplendidamente.

O assunto da narrativa é um drama passional: Dona Guidinha do Poço, uma fazendeira poderosa, senhora do Poço da Moita, legítima matriarca em sua região, temida inclusive pelo marido, o major Quim, apaixona-se por um sobrinho do esposo (Secundino) e comete adultério. O major descobre a traição e tenta obter o divórcio, mas Dona Guidinha contrata um assassino para liquidá-lo na cidade, em plena luz do dia. O criminoso realiza sua ação, porém é preso e confessa quem era a mandatária do assassinato. Dona Guidinha então é detida. Ninguém fica abertamente a seu lado, até porque o partido Liberal, que ela apoiava, estava fora do poder. E a mesma população que a venerava, como se ela fosse uma senhora feudal, agora a despreza e a vaia, enquanto conduzem-na para a prisão.

Margarida, a Guidinha, foco central do relato, surge na aridez do sertão com uma sutileza psicológica, uma vontade de dominação, uma capacidade para o amor e o ódio que a transformam numa das maiores personagens femininas da ficção brasileira do século XIX. Flávio Loureiro Chaves anota as contradições(extremamente verossímeis) dessa mulher: “Ela é ao mesmo tempo boa e má, forte mas duvida de si mesma, é feminina em seu amor e terrível em seu componente de sertaneja barbarizada.” Expressiva também é a utilização que Manuel de Oliveira Paiva faz do linguajar sertanejo cearense, apresentando-o detalhadamente através da fala dos personagens populares: vaqueiros, agregados e demais trabalhadores rurais. Um longo glossário acompanha as edições da obra para auxiliar o leitor urbano na decifração desta história de paixão e violência.

Vamos enterrar o rock

Afinal, o gênero é a sombra de um passado que teve Jimi Hendrix como herói da guitarra

Na cultura pop, mais vale um cadáver jovem que um velho vivo. Sobretudo se o jovem deixou um legado brilhante no auge da fama. O ancião que remoi o próprio passado é um ser desprezível que espera a morte. Aplicar tal axioma ao rock é um exercício tentador. Basta soltar o demônio da analogia e relacionar mortos e vivos célebres do gênero. Por exemplo, John Lennon e Paul McCartney. John foi morto aos 40 anos e o temos como gênio, ao passo que Paul vai completar em breve 68 anos e nos cansamos dele, tanto tempo está conosco, exigindo atenção. No Brasil, quem quer ainda ouvir Roberto Frejat? Apesar de seus esforços, ele passou à história como o parceiro de Cazuza, que morreu em 1990 aos 32 anos, no ápice da rebeldia. Cazuza é o gênio. O cinqüentão Frejat, o sobrevivente chato.

O mesmo processo de santificação dos jovens e satanização dos velhos se dá quando pensamos nos guitarristas. Jimi Hendrix morreu com 27 anos, enquanto Pete Towshend continuou a viver – e a encher nossas paciências. A tendência é considerar Hendrix uma fera indomável, e ouvir Townshend como um ancião hoje domesticado. E não adianta observar que Townshend inaugurou a quebradeira de guitarra à frente da banda The Who, e que Hendrix o imitou nisso e em muitas outras coisas. Um é genial, outro, banal, porque vai gerar um cadáver célebre, porém decadente. Por este raciocínio, vamos chegar a uma constatação que soa óbvia, mas talvez seja questionável: o rock morreu e o que se vê hoje são os tiranossauros do gênero, repetindo as fórmulas ad nauseam. Quando assisto a um show dos Rolling Stones, Iggy Pop e Aerosmith, consigo até me sentir mais jovem que o cadáver de Jim Morrison, o vocalista e compositor da banda The Doors, o último mártir das drogas da geração de Jimi Hendrix. Dela fazem parte outros mortos ilustres, como Janis Joplin e Brian Jones.




GENIAL
Jimi Hendrix se apresenta em programa da TV alemã, em 1967Jimi Hendrix morreu em 18 de setembro de 1970 asfixiado com o próprio vômito de vinho no quarto de porão de um daqueles hotéis vitorianos caiados de Notting Hill em Londres. Foi uma morte acidental, e certamente devido a uma overdose de LSD ou de heroína, drogas que o músico consumia abertamente. A música que produzia era dependente da droga que consumia. Com ou sem droga, trata-se de música de primeira ordem. Mesmo o material que refugou e se manteve inédito até agora soa melhor que quase tudo o que se produz no rock atual.

Por isso, o álbum Valleys of Neptune (Sony Music), de Hendrix, pode ser considerado um dos grandes lançamentos do ano. O que não deixa de soar irônico, pois compreende um material antigo, feito 41 anos atrás. São 12 faixas inéditas do guitarista e seu trio, o Jimi Hendrix Experience. Desde a parimeira faixa, você ouve a turbulência armada pela guitarra virtuosística, a bateria elástica, o baixo disciplinada e a voz anárquica do vocalista. O álbum é impressionante. O disco foi gravado em vários estúdios de Londres e Nova York nos primeiros quatro meses de 1969. Hendrix vivia um período de desavenças dentro da banda. Apesar de se dar bem com o baterista Mitch Mitchell, ele discutia com o baixista Noel Redding, que não gostava de repetir os takes até uma suposta perfeição, exigência de Hendrix que lhe parecia absurda. No meio das gravações, Hendrix substituiu Redding por Billy Cox, um baterista acostumado com a cena country de Nashville. Mas o ouvinte não nota a diferença. Faixas soladas e cantadas por Hendrix como “Stone free” e “Lullabay for the summer”, a canção-título tema “Valleys of Neptune” e canção “Lover man” soam hoje como obras-primas. Hendrix não quis lançar as gravações, até porque em seguida ele fundaria novos grupos. Em agosto daquele ano, ele fundou a banda Gypsy Suns and Rainbows, para fazer sua célebre queima de guitarra durante o festival de Woodstock. Em 1970, criou o Band of Gypsies pensando em revolucionar novamente a música para guitarra elétrica. As sessões agora lançadas foram refugadas, e permaneceram 40 anos escondidas no espólio do músico. Graças ao produtor e biógrafo de Hendrix, John McDermott, dezendas de gravações jamais lançadas começam a vir à tona. Valleys of Neptune é apenas um entre os vários projetos. Hendrix talvez achasse que não passavam de fragmentos malfeitos. Mas, para os padrões de hoje, os registros são jóias. Esses restos de Jimi Hendrix são melhores que qualquer coisa feita hoje. Até porque os padrões de produto eram bem mais elevados nos anos 60. Era preciso chegar a uma excelência musical para vender um disco de vinil, produto caro. Em agosto de 1970, semanas antes de morrer, Hendrix foi pioneiro em fundar um estúdio seu, o Electric Lady, na rua 8 no Village em Nova York. Foi um acontecimento porque o estúdio era superequipado e dotado de decoração psicodélica (até hoje está lá, para quem quiser visitar).

Hoje qualquer cabeça de bagre possui um estúdio em casa, e pode gravar o que quiser. Talvez aí resida a mediocridade reinante. Ninguém mais se importa com elaboração nem respeita estúdios. Shows e discos de rock geram hoje desempenhos estereotipados e em geral de baixa qualidade musical. O que há de aproveitável no rock de hoje? Só os velhinhos (além dos já citados não nos esqueçamos de Jimmy Page, Robert Plant, AC/DC e Lou Reed) e meia dúzia de esforçados epígonos, desprovidos de real talento para a música. E o resto é bobagem.

Daí a pensar que o rock morreu é um pequeno salto para o fã. Basta lembrar de Hendrix. Ele morreu aos 27 anos, quando se preparava para mais uma aventura que o levaria, talvez, a universos sonoros jamais alcançados, como dono de um estúdio. Se ele virou um cadáver jovem e com isso garantiu a posteridade, a tragédia também leva a outra constatação, que hoje é mais clara do que nunca: a mortes de Hendrix e outros músicos brilhantes de sua geração – de Jim Morrison, Brian Jones e Janis Joplin – obstruiu a via mais experimental do rock, que conduziria o gênero para campos inimagináveis. Outros músicos igualmente talentosos daquela geração continuaram. Mas algo se rompeu então. Os mais exagerados, os mais criativos e viscerais se ofereceram ao sacrifício da História.

Assim, penso que os vultos jovens do rock ajudaram menos a manter a mitologia pop que enterrar a boa música. Artistas como Hendrix são mitos paralisantes, e não exemplo. De tão geniais, eles estancaram o futuro. Neste mundo pop/rock de medíocres à sombras dos gênios do passado, convido os leitores para seguirmos o carro mortuário, até baixar o rock à sepultura, ao som de “Valleys of Neptune”. Há 40 anos, convivemos com um cadáver, querendo acreditar que ele ainda respira e faz música.

Luís Antônio Giron
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV

terça-feira, 30 de março de 2010

O Legado de Armando


A frase é do poeta americano Ezra Pound: literatura é a notícia que permanece notícia. E explica um pouco por que a morte de Armando Nogueira encerra uma era na crônica esportiva nacional. Armando sempre enxergou além. Como Nelson Rodrigues e, antes dele, Mário Filho… Armando nunca viu o esporte como algo frio e objetivo. Sempre observou o drama – a dimensão profunda atrás de cada disputa.


Armando escreveu que se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola. Armando, se escrevesse sobre si mesmo, talvez fizesse analogia afim. Algo como… Armando, se não tivesse nascido homem em Xapuri há 83 anos, teria nascido pena. Pena, sim, não caneta. Pois Armando sempre pareceu pertencer a outra era. Foi um romântico, um otimista, capaz de enxergar como esteta a pelada da esquina.


No aniversário de 25 anos da morte de Nelson Rodrigues, Armando escreveu um texto para lembrar do amigo. Um parágrafo desse texto resume sua visão – e seu legado esportivo:


“A meu juízo, o jornalismo esportivo se divide em três categorias profissionais: o repórter, que lida com informação; o comentarista, que se ocupa da análise dos fatos; e, por fim, o cronista, que não tem maiores compromissos com a realidade”


Essa categoria Nelson elevou a enésima potência – e Armando seguiu seus passos. E por conta deles, podemos dizer que não fazemos feio diante da frase de Pound. Pelo contrario, fazemos bonito. Podemos ler uma crônica de Nelson sobre a Seleção de 1958, hoje, e sentir que estamos lendo algo novíssimo. Ou ler uma crônica de Armando sobre a Seleção de 1970… e ter aquela sensação de novidade – ou de peculiaridade – de conhecer a visão única e subjetiva de uma história. Jornalismo literário – num passo além de Gay Talese.


O drama esportivo de Armando Nogueira sempre foi mais lírico do que épico. Por vezes era hiperbólico, como Nelson. Mas, mais frequentemente, era poético e minimalista. Vez por outra, claro, havia a epopéia, a glória, a conquista. Mas, no geral, Armando observava a bola como um objeto especial, o passarinho perdido nos dribles de Garrincha, a sutileza oculta em cada drible. Era capaz de vislumbrar poesia num passe de três dedos, de encontrar arte num bloqueio de voleibol.


O melhor Armando era irônico e doce – aquele que dizia que copiar o bom era melhor do que inventar o ruim. Com seu desaparecimento, a crônica-esportiva-como-ela-era perde uma espécie de último mosqueteiro. Reforço para o time literário-esportivo lá de cima – onde craques como Albert Camus, Nelson Rodrigues, Mário Filho, João Saldanha, Paulo Mendes Campos dividem uma mesa-redonda que deixa as nossas, aqui embaixo, num amplo e irrecorrível chinelo.

Gustavo Poli - Rede Globo

quarta-feira, 24 de março de 2010

25 Anos de Nova República: Prisioneiros da democracia

Sejamos todos cativos da democracia. É a única prisão que presta tributo à liberdade. Repudiemos a sugestão de que menos democracia pode implicar mais justiça social

O Brasil comemora hoje os 25 anos da Nova República. Isso quer dizer que celebra um quarto de século de estabilidade política e de plena vigência do Estado de Direito, o mais longo período da fase republicana com essas características. Na primeira década da restauração da normalidade institucional, a democracia de massas firmou-se e afirmou-se no bojo da nova Constituição. E isso se deu apesar da morte do presidente eleito Tancredo Neves, da superinflação, do sufoco externo e do impeachment do primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960.
A partir da estabilidade de preços conquistada pelo Plano Real, a credibilidade externa foi sendo reconquistada, nosso setor produtivo tornou-se mais competitivo interna e externamente, as fronteiras do comércio se expandiram e, acima de tudo, deflagrou-se um processo cumulativo de acesso das camadas mais pobres a um nível mínimo de bem-estar social. E essa mudança não caiu, como diria alguém, da árvore dos acontecimentos. Foi uma construção.
Durante muito tempo, a imagem do Brasil como o país do futuro foi para nós uma bênção e uma condenação. Se ela nos ajudava a manter a esperança de que um dia transformaríamos nosso extraordinário potencial em felicidade vivida, também nos condenava a certo conformismo, que empurrava, sempre para mais tarde, os esforços e sacrifícios necessários para a superação de limites. Durante um bom tempo, o gigante que um dia acordaria serviu mais à má poesia do que à boa política. E tivemos de dar o primeiro passo, aquele que, pode-se dizer agora, decorridos 25 anos, foi um ato de fato inaugural. E não que a fronteira tenha sido rompida sem oposições de todos os lados.
Certo convencionalismo pretende que a história dos povos se dê numa alternância mecânica de ruptura e acomodação; a primeira engendraria mudanças que acelerariam a história, conduzindo a um patamar superior de civilização; a segunda concentraria as forças da conservação ou mesmo do reacionarismo, sendo fonte de perpetuação de injustiças.
A nossa história de país livre não endossa esse mecanicismo. Sucedendo à monarquia constitucional, a República entrou em colapso em menos de 40 anos. Somente nos anos 90 tivemos o primeiro presidente Fernando Henrique Cardoso que, eleito pelo voto universal, transmitiu o poder a um presidente igualmente escolhido em eleições livres e que concluiu seu mandato. Em pouco mais de um século de República, o Brasil teve dois presidentes constitucionais depostos, um que se suicidou para evitar a deposição, um que renunciou e outro que foi afastado de acordo com as disposições da Constituição no período, o país experimentou duas ditaduras: a do Estado Novo e a militar.
Como se nota, experimentamos mais rupturas do que propriamente acomodação e boa parte delas não pode ser considerada um bem. Enquanto aquele futuro mítico nos aguardava, as irresoluções foram se acumulando. Quando o Brasil, na década de 80, se reencontrou com a democracia, era visto como uma das sociedades mais desiguais do planeta, com uma dívida externa inadministrável, uma economia desordenada e uma moeda que incorporara a inflação como um dado da paisagem.
A Nova República teve a coragem da conciliação sem, no entanto, ceder nem mesmo os anéis ao arbítrio. E isso só foi possível porque o povo brasileiro não se deixou iludir pela miragem de uma mudança por meio da força. Entre a democracia e a justiça social, escolhemos os dois. Nem aceitamos que a necessidade da ordem nos impedisse de ver as óbvias injustiças nem permitimos que, para corrigi-las, fossem solapadas as bases da liberdade. O povo ficou ao lado das lideranças que tiveram a clarividência de escolher a transição negociada. Aqueles eventos traumáticos que marcaram os 10 primeiros anos da Nova República não chegaram nem sequer a arranhar a Constituição. Ao contrário: curamos as dores decorrentes da democracia com mais democracia; seguimos Tocqueville e respondemos aos desafios da liberdade com mais liberdade.
Essa vitória da mudança gradual sobre as ilusões da ruptura não se fez sem lutas. Milhões de brasileiros foram para as ruas, em ordem e sem provocações, exigir o voto popular direto para a Presidência e para todos os cargos eletivos. O movimento das Diretas-Já não foi imediatamente vitorioso, mas mostrou sua legitimidade e levou setores que apoiavam o "antigo regime" a perceber que uma nova ordem estava nascendo: a ordem democrática.
Assistimos à Constituinte, às eleições diretas e à plena restauração da soberania popular. Esse tripé da consolidação democrática, com seus corolários alternância no poder e transição pacífica , são a base institucional que distingue o Brasil do presente daquele da fase da instabilidade. Foi a crença nesses valores que nos permitiu superar a ilusão de soluções radicais e imediatistas. A democracia, tornada um valor inegociável, permitiu que os sucessivos governos pudessem aprender com os erros de seus antecessores e os seus próprios, corrigindo-os, o que concorre para o aperfeiçoamento das políticas públicas.
Não foram erros pequenos nem triviais. Alguns foram monumentais, como o confisco da poupança e a tentação, de um cesarismo doidivanas, de acabar com a inflação "num só golpe", confiscando a poupança popular. A democracia que nos permitia errar de modo fragoroso também nos permitiu um acerto histórico: a implementação, nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique, do Plano Real. Ele nasce, sem dúvida, de uma engenharia econômica ímpar, de um rigor técnico até então desconhecido no Brasil nos planos de estabilização, mas acredito que uma das razões de seu sucesso nunca foi suficientemente considerada: ele foi amplamente negociado com a sociedade, com um razoável período de transição entre os dois regimes monetários. Mais uma vez, o gradualismo mostrava a sua sabedoria. A inflação não morreu com um golpe. Ela morreria com inteligência e democracia.
O significativo avanço das condições sociais e a redução do nível de pobreza no Brasil, hoje exaltados em várias línguas, só se deram por conta de políticas que foram se aperfeiçoando ao longo de duas décadas, como a universalização do Funrural, os ganhos reais no salário mínimo e os programas de transferência de renda para famílias em situação de extrema pobreza. O atual governo resolveu reforçar essas políticas quando percebeu que "inovações" como o Fome Zero e o Primeiro Emprego fracassaram. Também é um dado da realidade que as balizas da estabilidade, cuja régua e compasso são o Plano Real, foram mantidas (mais no primeiro do que no segundo mandato).
O crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar não são manifestações divinas. Não estão garantidos por alguma ordem superior, a que estamos necessariamente destinados. Existem em função das escolhas que fazemos. Sou muito otimista sobre as possibilidades do Brasil. Se, antes, parecíamos condenados a ter um futuro inalcançável, hoje já se pode dizer que temos até um passado bastante virtuoso. Mas é preciso cercar as margens de erro para que continuemos num ciclo virtuoso. Dados recentes divulgados pelo IBGE demonstram que voltamos a ter um déficit externo preocupante e que a taxa de investimento está bem abaixo do desejável especialmente no caso do setor público para assegurar no futuro a expansão necessária da economia e do consumo. Afinal, os desafios que o Brasil tem pela frente ainda são imensos.
Com a Nova República, o Brasil fez a sua escolha pela democracia e pelo Estado de Direito. É essa a experiência que temos de levar adiante, sem experimentalismos e invencionices institucionais. Porque foi ela que nos ensinou as virtudes da responsabilidade inclusive a fiscal. Fazemos, sim, a nossa história; fazemos as nossas escolhas, mas elas só são virtuosas dentro de um desenho institucional estável.
Sejamos todos cativos da democracia. É a única prisão que presta seu tributo à liberdade. Assim, repudiemos a simples sugestão de que menos democracia pode, em certo sentido, implicar mais justiça social. Trata-se apenas de uma fantasia de espíritos totalitários. Povos levados a fazer essa escolha acabam ficando sem a democracia e sem a justiça.

José Serra
Governador de São Paulo

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Caverna de Elias

A caverna é uma gruta, onde muitos a usavam como um lugar de refúgio, de abrigo, onde muitas pessoas se escondiam. Quando fugiam de alguém, encontravam nessas grutas proteção, como no caso de Davi, que ficou um bom tempo escondido do rei Saul, na gruta de Adulão, e com ele cerca de 400 homens (I Sm 22:1,2). Nesse capítulo citado deixa claro que todo aquele que procurava a caverna, era pessoa de espírito triste, endividada, estava em apertos, ou seja, estavam em dificuldades passando por algum problema.
Quero me prender ao fato do profeta Elias em I Rs 19:9 que diz: “E ali entrou numa caverna e passou ali à noite; e eis que a palavra do Senhor veio a ele e lhe disse: Que fazes aqui Elias”? Durante a minha caminhada no evangelho, e em especial, no meio pentecostal, tenho ouvido muito a seguinte expressão: Estou na prova, estou na luta, estou em uma caverna. E observando esse texto o Espírito Santo me fez entender a diferença de quando você está na prova porque é plano de Deus, ou quando você está porque é o seu plano, é o que você quer, você escolheu entrar na caverna. Esse foi o caso de Elias, observe que ELE ENTROU NA CAVERNA, Deus não o mandou ir pra caverna. Isso fica claro quando Deus lhe pergunta: Que fazes aqui Elias? Ou seja, Deus queria que Elias entendesse que ali não era o seu lugar. Elias dá uma resposta à pergunta de Deus, uma resposta que centralizava a sua pessoa, pois pensava que só ele tinha ficado, que só ele era fiel, que só ele não se curvava a Baal. Quantos acham que são mais crentes que os outros, centralizam os olhares só para as suas vidas, só para as obras que fazem e não pra Cristo.
Davi entrou na caverna porque foi plano de Deus, observe que quando Deus está no negócio, vidas são alcançadas, algo de especial acontece, pois, se ajuntou à Davi várias pessoas com problemas, e Davi como servo de Deus, certamente ajudou aquelas vidas, falando de suas experiências, e do Deus que ele servia.

Elias tentou justificar para Deus o porquê de está ali; só que o senhor sabe de todas as coisas e não está interessado, e nem precisa das nossas justificativas e ordenou que Elias voltasse pro caminho, pro plano que Ele havia traçado. Pois, Elias tinha escolhido um atalho, Deus não aceita que você escolha atalho, ou paliativo para o plano que Ele traçou em sua vida, Ele quer você no centro da vontade Dele.
Que fazes aqui Elias - Quando você encontra alguém em um lugar, onde você não esperava que aquela pessoa estivesse, logo você diz: O que você está fazendo aqui? Não é isso o que acontece? Deus sabia o porquê de Elias está ali, o que ele estava fazendo ali, mas queria que ele saísse dali, por isso lhe fez essa pergunta. Deus lhe perguntou duas vezes o que ele estava fazendo ali, perguntou uma vez, e depois disse: Sai para fora! Elias não obedeceu ainda ficou na caverna, no versículo 13, Deus lhe pergunta de novo: O que fazes aqui? Elias dá à mesma resposta, Deus o manda voltar para o caminho do qual ele havia saído, lhe revela que é nesse caminho, que Deus queria contar com ele, não era na caverna que Deus queria contar com ele, e sim fora dela. Deus lhe revelou que ele não ficou só, que não existia só ele que o servia, ainda existia sete mil que não se dobraram a Baal. O Senhor te pergunta nesta hora: O que fazes aqui? O que fazes nesse lugar que o Senhor não te colocou? Que o Senhor não te ordenou que estivesse? O que fazes nessa posição? Que não foi o Senhor que te colocou, e sim os homens? E o Senhor te diz: volta para o caminho, volta em quanto há tempo. Deus esperou que Elias tomasse uma decisão, tanto é que falou com ele duas vezes, até que Elias decidiu obedecer à voz do Senhor. Observe que Deus não tirou Elias da caverna, o próprio Elias saiu, quando ouviu a voz do Senhor e decidiu obedecer.
Existem vários tipos de caverna, que muitas das vezes, se não estivermos atentos, vigiando, quando damos por conta já estamos dentro delas. Quero me prender somente a três delas: A caverna do medo, do egoísmo, e da falta de perdão. O profeta Elias, homem de Deus, entrou na caverna do medo. Ficou com medo das ameaças de Jezabel, e entrou nessa caverna. A caverna do medo é terrível! De uma hora para outra, você se esquece de quem é, e o pior de tudo, esquece do Deus que você serve. Elias orou e caiu fogo do céu, desafiou os profetas de Baal, e por uma simples ameaça do diabo, ele entrou na caverna do medo, esquecendo-se por um momento, dos grandiosos feitos do Senhor. O medo é uma palavra de satanás para aprisionar vidas, “O verdadeiro amor lança fora todo o medo”. Não devemos esquecer que Deus nos deu poder sobre o diabo e todas as suas ameaças, e sugestões. “Se Deus é por nós quem será contra nós?” Portanto, do que é que você tem medo? Das ameaças dos ímpios? “Mil cairão ao teu lado e dez mil a tua direita e tu não serás atingido” (Sl. 91:7). De ficar desempregado, e passar necessidades? “Os filhos dos leões necessitam e passam fome; mas os que confiam no Senhor de nada tem falta” (Sl 34:10). Ou Tens medo de ficar enfermo? “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e pelas suas pisaduras somos sarados” (Is 53:4,5). Tens medo do diabo? “Eis que vos dou poder para pisardes serpentes e escorpiões (símbolos do diabo) e NADA vos causará dano algum” (Lc 10:19). Amados, não existe nada que devemos ter medo! O nosso Deus é maior que todos os obstáculos e todas as setas do diabo. “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de ousadia” (2 Tm 1:7).
Outros preferem a caverna do egoísmo - se fecham dentro dessa caverna e só se preocupam com a sua vida. Não ama os que estão à sua volta. Diz que ama, mas quando é para por isso em prática, faz como fez o profeta Jonas - Deus lhe deu uma ordem a cerca dos ninivitas e ele achou que aquele povo não merecia a palavra de Deus. Logo em seguida fugiu, mas dentro do navio, Deus tratou com ele. Jonas se acomodou naquele navio quando estava fugindo da ordem de Deus. Todos estavam atônitos, querendo saber o porquê daquela tempestade, mas Jonas acomodado dormia um sono profundo (Jn 1:5). Todos os que dão lugar ao egoísmo agem assim. Levam suas vidinhas, dormem, passeiam, se divertem, e os outros que se lixem. Jonas não estava nem aí pra situação, entrou na caverna do egoísmo, e quem tivesse à sua volta que morresse! Quantos dizem hoje que são servos de Deus, mas não está nem aí pra necessidade do seu próximo. Jonas não queria pregar pra Nínive, pois não queria que essa malvada cidade se arrependesse e tivesse a chance de servir ao seu Deus, pois, a Assíria era inimiga declarada da nação de Israel. Veja só, que sentimento terrível alimentou o profeta Jonas! Não queria que aquele povo tivesse uma chance. Como ele temia, o povo aceitou a Palavra, se arrependeu, e Jonas no capítulo 4 se lamentou diante de Deus, arrasado porque o povo tinha dado ouvido à Palavra do Senhor. Jonas desejou até a morte por causa dessa situação. Queridos, não entre nessa caverna, em nome de Jesus. Sai dela, fuja, pois, isso é terrível! O egoísmo prende a pessoa de tal forma, que ela usa até a Palavra de Deus para tentar da base a esse sentimento e diz: “Cada um dará conta de si mesmo”. Mas dizem isso, querendo dizer que o que importa é se eles estão bem, o resto que se dane. Quem ama e pratica a Palavra de Deus, quer mais que todos cresçam na graça e no conhecimento. Não fica enciumado quando os outros estão crescendo. A seara é do Senhor, só Dele. Hoje, muitos querem ser Senhor da seara, dizendo que alguns estão cortados, quando na verdade não estão. O pior é que usam o nome de Deus, dizendo que foi Deus, quando na verdade não foi. Estão no fundo da caverna do egoísmo e acham que só elas tem Deus. Mas Deus mostrará quem é quem.
Caverna da falta de perdão - essa também é terrível. Já vi pessoas morrendo e dizendo: Não sou Deus para te perdoar! Quantos estão nessa caverna! Odeiam, desejam mal, não perdoam de forma alguma, se apegam a uma falha que a pessoa cometeu e esquecem de todos os bens que tal pessoa lhe fez. Outros, até usam a autoridade de dirigirem uma igreja, e não dão mais oportunidades a certas pessoas. Só porque a pessoa o magoou com certa palavra. Onde está o perdão? Já pensou se Deus tratasse conosco assim? Quantas vezes pecamos, pedimos perdão, Ele nos perdoa e acabamos fazendo à mesma coisa, e Ele continua nos perdoando. Claro que, se não tomarmos uma posição radical, um dia pode ser que não tenhamos mais chance, mas isso só Ele é quem determina, pois, Ele age como quer. O Senhor Jesus nos contou uma parábola em Mateus 18: 23-35, que fala-nos de um rei que fez conta com os seus servos e tinha um que lhe devia, e o homem implorou ao rei que lhe perdoasse a dívida e o rei o perdoou. Logo em seguida esse que foi perdoado encontrou um que o devia, o homem que o devia implorou que o desse mais tempo para ele pagasse a sua dívida; e o tal que recebera o perdão do rei, não perdoou aquele homem que o devia, e agiu muito duro com ele, mas com isso o rei se indignou chamou-o de servo malvado e fez com que ele lhe pagasse tudo o que lhe devia. Queridos, essa parábola é gloriosa! É o retrato do que tem acontecido em nossos dias, em nossas vidas. Se não tivermos cuidado, agiremos iguais àquele mal servo. Deus nos perdoa e nós não queremos perdoar. Mas hoje, em nome de Jesus, vamos dizer não para a caverna da falta de perdão. Se dizemos que servimos a Ele, devemos andar como ele andou. E a respeito daqueles que o traiu Ele disse: “Pai perdoa-os, pois, eles não sabem o que fazem”.

Se você estiver em uma igreja e o pastor dessa igreja usar o púlpito pra jogar piadas, pode ter certeza: essa pessoa está vivendo na caverna da falta de perdão, pois Jesus nos mandou fazer diferente. Ele disse: “Que se o nosso irmão tem algo contra nós devemos ir a ele, falar com ele, e se reconciliar antes de ofertarmos” (Mt 5:23-25). Deus fala do púlpito? Fala! Sabemos quando é a voz de Deus, e quando é piada do homem. Quando Deus revela, é algo que Deus fala direto ao espírito do homem. Quando o homem fala do púlpito algo que lhe chegou ao ouvido, porque alguém lhe contou, ou porque ele viu alguma coisa, isso não é Deus falando - o nome disso é piada. E só quem usa esse artifício são pessoas que estão presas na caverna do egoísmo e da falta de perdão.
Sai da caverna - Deus quis dizer para Elias: sai desse lugar, pois não te quero nele! Essa voz do maravilhoso Deus, que veio a Elias, uma voz mansa e delicada, ainda continua soando, e nos chamando a sair fora dessas cavernas que nós mesmos entramos. Observe que foi Elias que entrou, não foi Deus quem o colocou. O que você está passando é prova de Deus? Ou foi você quem entrou nela? Pense nisso! E saiba discernir o que está acontecendo em sua vida se é de Deus, ou se é da carne, ou do próprio diabo. Sai da caverna do medo, do egoísmo e da falta de perdão, pois, esses são sentimentos que só destruirão a tua própria vida. Se você tem convicção do teu chamado, de que o que você está passando é plano de Deus segue em frente e não olhes para trás. Deus falará contigo, e caminharás seguro. Não dê ouvidos as vozes negativas, mas só a voz do Espírito Santo. Mas, se você detectou que o que você está passando foi você quem procurou ainda há tempo. Sai dessa caverna e Deus será contigo! Mas é necessário sair, só assim o Senhor poderá contar com a tua vida. Não espere Deus te arrancar de lá, Ele te dará a palavra que te dará forças para vencer.

Cristina M. Silvano de Andrade/cris-silvano@hotmail.com

terça-feira, 16 de março de 2010

Glauco: um ícone de uma era

É muito difícil ter que escrever sobre a morte de alguém que a gente admira. Ainda mais quando o cara morre de um jeito tão estúpido e brutal. O Glauco, junto aos comparsas Laerte e Angeli (com quem dividia as tiras dos Los 3 Amigos), ajudou a (de)formar a minha personalidade e a de toda uma geração de leitores e cartunistas.

O humor escroto e o traço anárquico de Glauco deixaram marcas permanentes em quem foi exposto ao trabalho do cara na idade certa. Personagens como Geraldão, Doy Jorge, Dona Marta e o Casal Neuras serviram para dar uma bela entortada nas ideias de muita gente.

A importância do cara para os quadrinhos brasileiros é imensa. O cartunista foi um dos responsáveis pela mudança de rumo do humor gráfico brasileiro no período pós-ditadura militar. Deixando de lado a crítica política para focar em situações comportamentais, ele acabou influenciando o trabalho de trocentos cartunistas.

Entre a segunda metade dos anos 80 e o começo dos 90, durante o boom dos quadrinhos underground brasileiros, Glauco publicou mais de 40 edições da revista Geraldão, pela lendária Circo Editorial (que também lançou Chiclete com Banana e Circo).

Glauco também trabalhou como roteirista da TV Pirata e TV Colosso, da Rede Globo. Nos últimos anos, o cartunista publicava suas tirinhas na Folha de S. Paulo.



O jornalista Gabriel Rocha é fã de HQs desde antes de saber ler. Aqui ele mostra novidades, analisa os principais lançamentos e revisita clássicos da nona arte.

E-mail de contato: gabriel.rocha@rbsonline.com.br

Twitter: http://twitter.com/Quadriteca

quarta-feira, 10 de março de 2010

8 DE MARÇO É DA MULHER

As mulheres do Século XVIII eram submetidas à um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais

O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, está intimamente ligado aos movimentos feministas que buscavam mais dignidade para as mulheres e sociedades mais justas e igualitárias. É a partir da Revolução Industrial, em 1789, que estas reivindicações tomam maior vulto com a exigência de melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade entre os sexos. As operárias desta época eram submetidas à um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais.

Dentro deste contexto, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova Iorque, decidiram paralisar seus trabalhos, reivindicando o direito à jornada de 10 horas. Era 8 de março de 1857, data da primeira greve norte-americana conduzida somente por mulheres. A polícia reprimiu violentamente a manifestação fazendo com que as operárias refugiassem-se dentro da fábrica. Os donos da empresa, junto com os policiais, trancaram-nas no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias de Nova Iorque. A partir de então esta data começou a ser comemorada no mundo inteiro como homenagem as mulheres.