terça-feira, 23 de junho de 2009

Os 10 melhores discos de Rock-Brasil Anos 80

por Bruno Cavalcanti

Se os dez melhores discos do mês passado causou muita confusão por aqui, desta vez parti para uma vertente mais séria do rock nacional, incluíndo os grandes nomes que fizeram a cabeça de uma geração (e, na falta de qualidade de hoje em dia, continua fazendo a cabeça de mais uma de tabela!) e outros que ainda não fizeram, mas pela qualidade, um dia ainda irão fazer...

Diga-se a verdade: grande parte dos melhores discos são de Brasília, e muito se deve ao fato de terem sido, em sua maioria, apadrinhados pela EMI-Odeon, que já tinha anos de conhecimento do assunto (em solo estrangeiro), enquanto as outras gravadoras, principalmente as nacionais, se complicavam para entender o tipo de som que "surgia" por aqui, sem saber exatamente como lançar.

Não inclui aqui gente como Raul Seixas, já que nos anos 80 ele já era um mito, e seus melhores trabalhos datam da década anterior. Também deixei de lado o Lobão, pois está na lista anterior. Também evitei discos genuinamente punks, pois já fiz uma lista exatamente com esse tema. E por aí vai...

E, finalmente, qual o critério que usei na minha seleção? Na edição passada selecionei os dez discos nacionais que te fazem levantar da cadeira, arrastar o sofã, e se descabelar na sala. Já desta vez, são os discos que te levam de volta à cadeira, e te fazem escutar as músicas com atenção.

Com vocês, os 10 melhores discos de rock-Brasil anos 80 (dos que te botam pra pensar...):


Legião Urbana Legião Urbana (1985)

Que melhor forma de se começar uma lista do que com eles? Renato Russo, o melhor vocalista de toda a música brasileira, porém, com um time de músicos ordinários, e todo mundo influenciado por Joy Division, The Smiths e The Cure. O primeiro disco, que iria se chamar "O Futuro Do País" e deveria conter a faixa "Que país é esse?" (limada pela censura da própria gravadora), é um apanhado de sucessos, e foi o grande abre-alas do rock candango. As letras sobre os anseios da juventude definiria a banda como porta-voz da adolescência, alcunha que sempre irritou Renato. Muitos críticos colocariam o cantor no top dos gênios da MPB, o que não significa muito coisa...

Titãs Cabeça Dinossauro (1986)

(A ShowBizz colocou este como o maior disco de rock nacional de todos os tempos. Aí já é demais!) A banda começou com o nome Titãs do Iê-Iê-Iê, gravou dois discos de pop new wave sem tanta inspiração, e, quando tudo indicava que o conjunto estava fadado ao fracasso, lança um disco espetacular! Uma mistura única de punk rock e hard rock, que, aliada à refinada poesia concretista de Arnaldo Antunes, caracterizaria o Titãs como uma das mais originais bandas de rock do país (nos anos 80, claro, quando Arnaldo Antunes ainda estava da banda!) Aqui estão grandes clássicos como "AA UU", "Igreja", "Polícia", "Estado violência", "Bichos escrotos", e a inigualável "Porrada".

Camisa de Venus Batalhões de Estranhos (1985)

Aqui, em seu segundo disco, a maior banda de rock do país flertaria com a new wave, lançando um disco genial. A banda alcançaria as rádios com o atentado às feministas "Eu não matei Joana D'arc" e o hit do malaco injuriado "Hoje". "Cidade fantasma" é um típico ska inglês, e "Batalhões de estranhos" é a trilha sonora ideal para o livro Farenheit 451, de Ray Bradbury. O grito de guerra "Bota pra fudê!" ecoaria pelos quatro cantos do país, e a banda alcançaria sucesso sem precisar fazer playbacks em programas da tevê. Depois deste disco, a banda lançaria o primeiro disco ao vivo do Brasil, o "Viva!", um divisor-das-águas no conceito de censura fonográfica no país.

Plebe Rude O Concreto já Rachou (1985)

O melhor disco da Plebe Rude, com um nível que a banda nunca conseguiria atingir em seus trabalhos decadentes posteriores (salvo, talvez, "Nunca fomos tão brasileiros", de 1987). Com letras excelentes ("Proteção" e "Minha renda") e temas obscuros ("Sexo e karatê" - que muitos dizem se tratar de "Sexo e cocaína" - e "Seu jogo"), este disco foi uma dádiva aos jovens rebeldes de meados dos anos 80 e à EMI, que ganhou uma fortuna em cima dos caras em função de cláusulas de contrato! Deveria ser o único disco da banda, que renderia ao grupo o estigma de mito do rock nacional. Mas não, Philippe Seabra & cia. continuariam por anos, plagiando cada vez mais o Killing Joke...

Ira! Mudança de Comportamento (1985)

Edgard Scandurra foi figura das mais importantes do rock paulista. Formou o Ultraje à Rigor!, tocou no Smack, e fez grande parte das músicas das Mercenárias. Além disso, é um dos grandes guitarristas do país. Nasi também não ficou pra trás, lançando a primeira coletânea de rap do país, nos anos 80. A banda copiou o primeirão do The Jam na cara dura neste disco, e copiaria a carreira-solo de Paul Weller com o Style Council nos discos seguintes. Mas eles foram felizes, principalmente porque se transformaram na grande sensação de mod rock do país. Apesar que a música "Pobre paulista", contra a emigração de nordestinos para sampa, queimou o filme dos caras...

Legião Urbana Dois (1986)

O segundo disco do Legião Urbana deveria se chamar "Mitologia e Intuição" e seria duplo, com as músicas "Mitologia e intuição", "Faroeste caboclo", "Tédio", "Conexão amazônica", "Química", "O Grande inverno da Rússia" e "Juízo final". Mas a EMI achava que ainda não era hora e limou 50% do trabalho dos caras. A capa, o nome e a arte interna perderam o sentido sem a faixa-título, e em última hora montaram uma arte ordinária que resultou no "Dois". No ano seguinte, lançariam "Que País É Esse?", sendo que metade do disco seria composto por essas músicas, além da faixa-título que havia sido censurada do primeiro trabalho da banda. É, coisas de terceiro-mundo...

Patife Band Corredor Polonês (1987)

Umas das coisas mais esquisitas que surgiu nos anos 80. Uma mistura entre samba, funk, jazz, hard rock, punk, num andamento nervoso e ágil, com letras paranóicas e psicóticas. Toda essa insanidade não é por nada, pois a banda tinha em seu front o músico Paulo Barnabé, irmão do tresloucado e famoso Arrigo Barnabé. Ele pegou o experimentalismo "dodecafônico" do irmão mais velho e embalou num formato mais... pop! Não há destaques, pois cada música é melhor que a outra, de tão bizarras que são! Só pra se ter uma idéia da morbidez, "Tô tenso" foi regravada pelo Ratos de Porão, e "Vida de Operário", pelo Pato Fu! Enfim, essencial e obrigatório...

Capital Inicial Capital Inicial (1986)

Esse disco vendeu horrores no ano em que foi lançado, levando até o Disco de Ouro - apesar de que as músicas que emplacaram nas rádios foram justamente as de Renato Russo, feitas com os irmão Flávio e Fê Lemos ("Música urbana" e "Fátima"). As músicas compostas por Dinho Ouro Preto são as mais irrelevantes do disco. Os destaques ficam para "Psicopata", "Veraneio Vascaína" e, principalmente, para a profunda "Tudo Mal". Dinho saiu da banda no meio dos anos 90, gravou um disco solo inútil em 95, e retornou ao grupo em 98. Ele realmente cantava muito bem, mas com o tempo sua voz acabou, e a prova definitiva está no cd Acústico MTV da banda, de 2000.

Inocentes Pânico em SP (1986)

...e então os punks dos Inocentes gravaram um disco pela grandiosa Warner... E daí?!? O que importa nesse momento é que eles conseguiram lançar um bom disco em mini-Lp (formato tão em voga nos anos 80!) Não é pra menos, pois foi produzido por quem entende de música - Branco Mello e Pena Schmidt. A despeito da capa mais horrível que se tem notícia, o som é excelente, e o disco contém as melhores viradas de bateria do punk nacional! Este é o segundo disco da banda, e o mais perto que conseguiram chegar de um bom disco. Os grandes momentos ficam por conta de "Ele disse não" e "Pânico em SP". Faltou só "Desequilíbrio" para se tornar o disco definitivo da banda.

Fellini O Adeus de Felini (1985)

Fellini é aquele tipo de banda que todo mundo já ouviu falar, mas ninguém escutou. Eles sempre foram bem-vindos junto a crítica especializada, mas nunca venderam nada! Eles gravariam ainda três discos até encerrar suas atividades, em 1990, e depois retornarem, alguns anos depois. Esse primeiro disco é o mais criativo de todos, já que o veneno letárgico da banda estava sendo disseminado pela primeira vez. Depois, as coisas foram perdendo a graça, e a banda fez bem em acabar (e porque voltou?) As letras do disco são muito estranhas, e as músicas mais ainda: mistureba seminal entre rock e MPB, em temas rápidos e curtos. Original, realmente, mas pra poucos ouvidos...

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