quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

CLÁSSICOS DE 1986: RÁDIO PIRATA AO VIVO


Em 1984 passamos o ano inteiro rodando as danceterias de Sampa e ensaiando diariamente, então, quando Ney Matogrosso foi nos assistir, ele encontrou uma bandinha muito bem ajeitada, que tocava aquelas músicas de trás pra frente, com pegada e muita segurança. Mas foi ele quem lapidou a pedra bruta, desde nossa postura de palco até o roteiro, passando pelas luzes e pelo uso preciso e econômico do raio laser. Estreamos, ansiosos, um espetáculo ousado, hi-tech, na primeira incursão de uma banda de nossa geração num grande teatro, em horário nobre.
A presença do nosso querido Chacrinha na platéia nos deixou ainda mais nervosos. Mas os ensaios mostraram sua eficiência e tudo correu bem. Por acaso, isto aconteceu na véspera do meu aniversário de 23 anos, no dia 23 de setembro de 1985. Poucos meses, e muita, muita loucura, shows, programas de tv e rádio e várias capas de revistas depois, um acontecimento inesperado mudaria definitivamente o rumo de nossas vidas. A música "London, London", colocada no show por minha sugestão, para criar a dinâmica que o Ney precisava para o roteiro, havia sido gravada no Festival de Atlântida, em Porto Alegre, e estava estourada, numa versão pirata (meta canção!), nas rádios de todo o Brasil, chegando ao absurdo de 70 execuções/dia (para se ter uma idéia, 20 execuções já é considerado um sucesso!).


O desvio de rota passava pelo Palácio das Convenções do Anhembi em SP, onde, em duas apresentações no mês de maio de 1986, gravaríamos "Rádio Pirata Ao Vivo”. Naquela altura, estávamos no auge, pensávamos, e não podíamos imaginar o quanto à coisa ainda iria crescer. Com uma média de cinco shows por semana, éramos uma banda extremamente competente, entrosada, e nosso astral estava lá em cima, com um sucesso ímpar e todos os nossos sonhos mais megalomaníacos se realizando um a um.


As gravações transcorreram tranquilas, dentro daquela espécie de beatlemania que vivíamos, produzidas pelo experiente Mazzola, e dirigida pelo Ney. Com toda aquela bagagem, nada poderia dar errado. Fomos à Los Angeles mixar o disco, em mais uma ação pioneira, e o resultado é o que se sabe: três milhões de cópias vendidas, e ainda a maior vendagem do catálogo da Sony-BMG. O que não sabíamos é que, de certa forma, aquele era o começo do fim.

Mas essa é outra história...


Paulo Ricardo, ex-líder do RPM

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