quarta-feira, 8 de julho de 2009

Esperar convite, insinuar ou convidar?

Por que, nos inícios dos relacionamentos amorosos, tememos revelar a nossa atração pelo parceiro e os programas que queremos fazer com ele? Muitas vezes tudo o que fazemos quando ficamos encantados com alguém é torcer para que ele tome este tipo de iniciativa e ficar “subindo pelas paredes” enquanto isso não acontece. Existem três tipos principais de causas para este tipo de inibição: (1) temer ser rejeitado (por exemplo, ter medo de que o parceiro rejeite um convite porque não está interessado amorosamente em quem o apresenta), (2) temer incomodar (por exemplo, ter medo de telefonar para o parceiro e ele atender de má vontade ou só dar alguma atenção por polidez) e (3) temer perder a importância (por exemplo, ter medo de piorar a imagem que o parceiro tinha devido à manifestação de interesse). Este tipo de temor é captado por expressões populares depreciativas do tipo: “Correr atrás”, “Entregar-se de bandeja”, “Dar uma de oferecido”.

Uma pesquisa publicada na década de 1980, realizada por Charlene Muehlenhard e Richard Macfall, dois pesquisadores americanos, dá uma idéia das dimensões da inibição para revelar o interesse pelo parceiro no início de um relacionamento amoroso. Estes pesquisadores perguntaram para 431 homens e 148 mulheres de um curso introdutório de psicologia (idade média de 19 anos) o que uma mulher interessada em sair com um rapaz deveria fazer caso ele não tomasse a iniciativa de convidá-la para isso. Estes pesquisadores ofereceram três alternativas de resposta para os participantes: esperar o convite, insinuar e convidar. As percentagens de escolhas, apresentadas pelos participantes, para cada uma destas três alternativas foram as seguintes:
o Respostas das mulheres: esperar que ele tome a iniciativa: 34,7%; insinuar: 69,2% e convidar: 2,7%
o Respostas dos homens: esperar que ele tome a iniciativa: 4,3%; insinuar: 62,7 e convidar: 26,5%.

Estes resultados mostram que os homens gostariam que as mulheres fossem mais explícitas e ativas nas manifestações dos seus interesses amorosos. No entanto, um estudo que realizei indicou que quando uma mulher é mais explícita do que o usual quem recebe a iniciativa geralmente pensa que ela é fácil para sexo e encaminha o relacionamento para esta finalidade.

As vantagens de ser eficaz e indireto
Admiro as pessoas que são eficazes para manifestar seus interesses amorosos sem ser explícitas demais. Esta forma de agir deixa espaço para que ambos os parceiros manifestem sutilmente o que querem do outro sem criar uma situação desagradável em que um deles expõe claramente o que se passa com ele e o outro fica pressionado a se declarar também. Esta forma explícita de agir pode deixar marcas difíceis de serem apagadas quando acontece uma rejeição.

Dois pesos e duas medidas
O que complica ainda mais esta questão das revelações do interesse amoroso é que a avaliação do quanto está sendo revelado é bastante subjetiva. Por exemplo: as pessoas que temem a revelação geralmente apresentam uma distorção da percepção do quanto estão revelando. Uma pesquisa que realizei mostrou isto claramente: os tímidos geralmente superestimam aquilo que estão revelando e subestimam as revelações que estão recebendo dos seus possíveis parceiros amorosos. Pedi, nesta pesquisa, para dois grupos equivalentes de tímidos avaliarem quinze tipos de convites. A tarefa era estimar quanto cada um destes convites podia ser interpretado como manifestação de amizade ou como interesse amoroso. Os tímidos de um dos dois grupos deveriam imaginar que estavam apresentando os convite e os tímidos do outro grupo, que estavam recendo os convites de uma pessoa pela qual sentiam muito interesse amoroso. Eles deveriam utilizar uma escala, como a do exemplo abaixo, para avaliar quanto cada convite era amistoso ou amoroso:

O resultado mais interessante desta pesquisa é a constatação de que os tímidos percebem um grau muito maior de revelação de interesse amoroso quando apresentam os convites do que quando os recebem. Por exemplo, quando imaginavam que estavam recebendo um convite para tomar um café durante o intervalo de uma aula, acreditavam que este era um convite quase que totalmente amistoso. Quando eles imaginam que estavam apresentando o mesmo convite, acreditavam que estavam mostrando um alto grau de interesse amoroso. (Se você é tímido pense nisso: você pode estar mostrando muito menos interesse amoroso do que imagina que está!)

O que é moderadamente difícil é mais valorizado
Quase todo mundo já assistiu um daqueles filmes americanos que mostram que as moças daquele país evitam aceitar um convite de última hora para sair com um pretendente. Por exemplo, uma mulher prefere recusar um convite para sair no mesmo dia, mesmo quando desejaria muito sair com quem a está convidando. Este tipo de convite é interpretado como uma espécie de “tapa buraco” ou “quebra galhos”, que é apresentado por aqueles que ficaram sem programa na última hora. Quem aceita este tipo de convite passa um atestado de que está disponível, de que não tem outro programa, de que está “jogada às traças”, que “está à gritos” e que é muito mal cotada no mercado amoroso.

Tudo o que é difícil demais é interpretado como rejeição
Na outra ponta da facilidade extrema está a dificuldade extrema. Na área amorosa um grau muito grande de dificuldade para obter sinais de interesse por parte do parceiro é vista como rejeição. Isto acontece, por exemplo, quando o outro já recusou vários convites para sair. Mesmo quando ele apresenta desculpas para as suas recusas, mas elas não são muito convincentes, isto indica que ele não quer um relacionamento amoroso com quem o está convidando. Quem realmente gostaria de aceitar um convite, mas tem motivos sérios que o obrigam a recusá-lo e não quer passar a mensagem de rejeição, deve mencionar o motivo explícito da recusa e apresentar uma contra-proposta. Por exemplo, deve dizer algo do tipo “Hoje não posso sair porque vou viajar para o Rio para visitar um cliente. Que tal na sexta feira?”

Motivos reais para “não parecer fácil”
Existem evidências de que o medo de revelar muito interesse no início de um relacionamento amoroso não é descabido. Por exemplo, a teoria do apaixonamento de Stendhal afirma que no início de um relacionamento amoroso uma certa dose de insegurança sobre o interesse do parceiro funcional como uma espécie de “catalisador do amor” para quem está inseguro ajuda a provocar o apaixonamento. Outro exemplo: uma pesquisa indicou que as pessoas valorizam mais os parceiros quando têm que lutar um pouco por eles. Neste estudo uma pessoa foi instruída a apresentar para os seus pretendentes todas as combinações possíveis entre ser fácil e ser difícil em dois momentos: no início e depois de algum tempo de relacionamento. Aqueles parceiros que se relacionaram com esta pessoa a valorizavam mais quando ela mostrava uma certa dificuldade no início e depois ficava mais fácil, em comparação às ocasiões em que ela se mostrava sempre fácil, quando se mostrava fácil no início e depois difícil e quando se mostrava sempre difícil.
Este estudo mostrou também que as pessoas que são seletivamente fáceis (“Só é fácil para mim”) também são valorizadas. Por exemplo: o sexo no primeiro encontro é valioso quando representa uma exceção: anteriormente a pessoa com quem você saiu só aceitou sexo mais tarde, quando havia um bom grau de envolvimento afetivo e algum compromisso!

Você está sendo muito fácil ou muito difícil para mostrar interesse amoroso? Pense nisso!

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