quarta-feira, 4 de março de 2009

A Miséria da Publicidade


A mídia, particularmente a eletrônica, somente se interessa pelos pontos do “ibope”. E a publicidade vai atrás. O texto constitucional é letra morta: “A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme parcerias estabelecidas em lei; IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.” (artigo 221 da Constituição Federal – 1988)
Destacamos que foi a publicidade que utilizou de maneira oportunista a questão do seqüestro. (vide propaganda de uma empresa líder de “sabão em pó” na qual donas-de-casa seqüestravam os tintureiros para que estes deixassem suas roupas “mais brancas”; ou a propaganda de uma seguradora de um grande banco que chegava a colocar “um anjo da guarda” no porta-malas do carro.)
A miséria da publicidade pode ser facilmente constatada nas seguintes peças publicitárias:
· Campanha de empresa telefônica na qual três crianças abaixavam as calças;
· Campanha de bronzeador na qual apareciam pessoas completamente nuas, inclusive crianças;
· Campanha de cerveja que utiliza animação (uma tartaruga) para vender o produto. (Note-se que já foi proibida a utilização de personagens infantis nas propagandas de cigarros. Além disso, cerveja não deixa ninguém mais esperto).
· Campanha de calçados infantis na qual menina de 5 anos é exposta (em painéis) em pose sensual utilizando biquíni.
Outra questão perversa da publicidade é a omissão de informações ao cidadão: Alguém informa que os “planos de saúde” (com seus helicópteros e hospitais de primeiro mundo) são totalmente abatidos do imposto de renda? E que tais “isenções fiscais” caracterizam-se como autêntico aparthaid social? Somente a promiscuidade entre mídia e publicidade é que determina a desinformação sobre os direitos dos cidadãos (saúde, educação, moradia e segurança pública).
O título do texto escrito pelo publicitário/empresário (Seqüestro sem metáforas) é muito significativo, principalmente vindo de quem ganha a vida utilizando-se de todos os meios para “dourar a pílula”. Gostaríamos que, após a leitura deste texto, os cidadãos fizessem a seguinte reflexão sobre “Segurança Pública sem metáforas”: Se o aparato policial utilizado no caso deste seqüestro tivesse sido destinado ao Jd. Ângela (por exemplo), quantas vidas teriam sido salvas nestes 50 dias? Nas periferias, onde mora a maioria da população, o seqüestro não é preocupação prioritária. Pergunte a qualquer família e ela lhe responderá sem hesitação: escola para as crianças e postos de saúde para a comunidade.
A nossa solidariedade à vítima é total, mas isto não nos obriga a apoiá-la em outros atos e atitudes que sejam ilegais, imorais ou amorais. Assim como buscamos a Justiça no Estado Democrático de Direito, o qual determina as maiores punições aos crimes de seqüestro, exigimos que o Poder Público puna também as infrações que os poderosos praticam contra a maioria da população. Não admitimos a máxima descrita no livro Papillon: “Quantos anos dura a prisão perpétua na França?” (pergunta do personagem ao juiz francês que o condenara num processo totalmente viciado). No Brasil, as penas somente determinam a reclusão, mas, em várias situações “especiais”, a “pena de morte” é executada nas prisões com a complacência da mídia.
Finalizando, lembramos que a premiadíssima campanha publicitária “Hitler” (para a Folha de S.Paulo) somente foi possível graças a um outro “genial” publicitário: Joseph Goebbels (ministro da propaganda de Hitler).

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